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Marechal Missão de vida

Aos 84 anos, Dona Maria Smaniotto relembra trajetória de 50 anos dedicados à educação

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Com 50 anos dedicados à educação, Dona Maria Smaniotto lembra com muito orgulho da sua trajetória. Peça importante na estruturação do setor em Marechal Rondon, hoje, aos 84 anos, ela fala com carinho da paixão por ensinar e ajudar o próximo, uma missão de vida que, inclusive, inspirou a maioria das suas filhas a seguir o caminho do Magistério (Foto: O Presente)

Não se pode falar de educação sem amor, assim como não se pode falar de Maria Magdalena Smaniotto sem seu amor pela educação.

Diferente de muitos, que passam uma vida inteira sem encontrar o seu grande propósito, desde muito jovem ela já sabia o caminho que queria trilhar.

Sua história como educadora iniciou aos 13 anos, em Palmeiras das Missões, cidade onde nasceu, no Rio Grande do Sul. “Eu estudava em um colégio de freiras e comecei como professora dando aula para índios”, relembra.

Imbuída de preocupação com o outro, a menina gaúcha foi formando seus valores e não demorou a ter certeza que sua vocação estava ligada à educação. E fez dela sua missão!

Do solo gaúcho, Maria continuou a escrever sua história no Paraná. Aos 25 anos, já casada, ela se mudou, juntamente com seu esposo, Abrelino Ferreira Smaniotto (in memoriam), para Capanema, no Sudoeste paranaense, e, posteriormente, para São Clemente, distrito de Santa Helena.

Com atuação que ia além do contexto educacional, tempos depois a educadora foi convidada pelo então prefeito rondonense para auxiliar na estruturação da educação de Marechal Cândido Rondon, quatro anos depois da emancipação do município. “Eu trabalhava nas escolinhas ensinando as crianças, mas também conversava com as pessoas mais idosas que precisavam de apoio. Marechal Rondon ainda estava começando com o ensino quando vim ao recém-emancipado município, a convite de Arlindo Lamb e Werner Wanderer”, conta.

Hoje, aos 84 anos, recém-completados, Dona Maria lembra com muito orgulho da sua trajetória. Peça importante na organização educacional rondonense, ela falou à reportagem de O Presente sobre o carinho por ensinar, ajudar o próximo e sobre a paixão pela educação, uma missão de vida que, inclusive, inspirou a maioria das suas filhas a seguir o caminho do magistério.

 

ENSINO DE ANTIGAMENTE

“Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar”, já dizia Paulo Freire. E foi assim com Dona Maria: ela ensinou aprendendo e aprendeu ensinando, sempre pautada em ajudar e dar o seu melhor ao próximo.

Como grande parte dos profissionais da época, a educadora possuía a Escola Normal, hoje chamada de Magistério. “No Grupo Escolar Marechal Rondon, onde hoje é a Escola Jean Piaget, as salas eram mistas, entre alunos pequenos e mais velhos. Além dos conteúdos normais de escola, ensinava questões morais para os meus alunos, como respeito aos pais, professores e mais velhos, orientava eles a evitar brigas, sempre lembrando da importância dos valores éticos, de valorizar o próximo”, relembra.

Tendo em vista a escassez de profissionais e recursos, quem se atrevia a enfrentar os desafios da docência naquele tempo o fazia com muita disposição e coragem. “Dávamos aulas para os pequenos, mas também para os alunos mais velhos. Muitas vezes, achava que não sabia o suficiente para ensiná-los, pois eu era muito jovem, contudo, sempre deu certo”, enaltece, acrescentando: “Na casa onde eu morava sempre vinham muitas pessoas, viajantes, e eu aprendia muito com as conversas que tínhamos. Essas informações, esse aprendizado, eu compartilhava com meus alunos”.

Ao contrário dos dias atuais, em que as escolas contam com inúmeros materiais e recursos disponíveis para serem usados em sala de aula, Dona Maria recorda que antigamente havia apenas lousa e cartilhas. “Não tinha outro jeito. O ensino era complementado por meio da conversa. Contávamos histórias e experiências de vida”, menciona.

 

Maria Smaniotto: “É gratificante saber que passei pela vida de muitas pessoas. Algumas delas hoje desempenham papel importante na sociedade, ajudando de alguma maneira no desenvolvimento do nosso município. Basta uma conversa para que se lembrem de mim, a professora Mariazinha” (Foto: O Presente)

 

CENÁRIOS DIFERENTES

Ao relembrar as dificuldades de outrora, Dona Maria elogia os alunos daquela época. “As crianças eram obedientes e nós tínhamos o apoio dos pais. Se acontecia alguma coisa errada, nós comunicávamos os responsáveis e o problema se resolvia. Eu nunca gostei que maltratassem os alunos”, evidencia.

Ela diz que o atual cenário educacional tem muitas diferenças do vivido anos atrás. “Hoje em dia os professores recebem críticas de muitos pais. Há alunos que recebem advertências porque merecem e, mesmo assim, os pais não gostam e colocam a culpa nos educadores”, ressalta, pontuando que naquela época a comunicação era mais fluída e os problemas eram resolvidos sem muitos atritos nas turmas.

 

MERENDA ESCOLAR

Com a chegada de novos habitantes em Marechal Rondon e com o desenvolvimento da região Oeste do Paraná, a educação foi ganhando corpo e se estruturando. “Criou-se um departamento de educação e foram sendo destinados nomes para os cargos criados. Eu fui designada a coordenar a merenda escolar. Fiquei neste setor até a minha aposentadoria”, comenta Dona Maria.

Diferente de hoje, ela diz que o alimento demorava a chegar em Marechal Rondon naquela época, sendo necessária uma grande jornada para a busca e entrega dos produtos. “A central da merenda escolar do Paraná era na cidade de Guarapuava. Levava cerca de dois a três dias de viagem até lá, com chuva ou sol, mais a volta e o tempo de distribuir entre os grupos escolares da sede e dos distritos, os atuais e os agora desmembrados, como Quatro Pontes, Pato Bragado, Mercedes e Entre Rios do Oeste”, expõe.

Eram muitos os obstáculos a serem superados, afirma. “Nós íamos até Guarapuava de caminhão e, sob ameaça de chuva e tempestade, parávamos para enlonar a carga. Às vezes, chovia tanto que ficávamos ilhados na estrada, no meio do nada, aguardando o tempo ruim passar”, salienta.

 

ENSINAMENTOS E CURSOS

Dona Maria menciona que quando não estava envolvida em viagens, ocupava-se criando cardápios e visitando as escolas rondonenses. “Eu ensinava as merendeiras a preparar os alimentos, dava cursos e as ajudava. Os alunos menores também recebiam ajuda para aprender a se alimentar. Nós recebíamos leite em pó, macarrão, carne seca, goiabada, feijão, linguiça e outros produtos. Para incentivar as merendeiras, realizávamos um concurso de pratos da merenda escolar, estimulando que as preparações tivessem cada vez mais qualidade e sabor”, enfatiza.

Foram anos de trabalho e dedicação ao setor educacional de Marechal Rondon até a aposentadoria, em 2001. Todavia, os anos passam e as histórias e os desafios do passado seguem vivos na memória de Dona Maria. Quem a conhece sabe que a cada reencontro ela sempre tem algo lembrar e contar.

Como reconhecimento ao seu papel de destaque na educação rondonense, Dona Maria foi homenageada pela Câmara de Vereadores de Marechal Rondon, em 2010, por ocasião das comemorações aos 50 anos do aniversário do município, recebendo o título de Cidadã Honorária.

 

INSPIRAÇÃO PARA OUTRAS PESSOAS

O interesse pela carreira de professor é cada vez menor na atualidade devido aos percalços da profissão e aos desafios na educação, seja na esfera pública ou privada. Dona Maria, contudo, serviu de inspiração para suas filhas. “Tenho seis filhas e um filho adotivo. Destes, cinco delas seguiram a mãe e tornaram-se professoras. Quando eu era pequena, sempre me inspirei nas minhas professoras. Achava aquilo muito bonito, e com as minhas filhas aconteceu o mesmo”, emociona-se, ao lembrar de um conselho que sempre deu às filhas: “para seguir na área é preciso ter consciência da importância da educação, do papel transformador que ela representa, e sempre buscar a melhor maneira de desenvolver as coisas, tendo foco no trabalho. Se no passado conseguimos superar barreiras e dificuldades, hoje em dia também é possível, desde que haja dedicação e empenho”.

Para ela, dom e amor à profissão fazem a diferença na vida de um educador. Já dizia o físico alemão Albert Einstein, “a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”, e Dona Maria amplia: “Educar é libertador”.

 

EX-ALUNOS

A gaúcha de nascimento e rondonense de coração enaltece que constantemente recebe visita de ex-alunos. “É gratificante saber que passei pela vida de muitas pessoas. Algumas delas hoje desempenham papel importante na sociedade, ajudando de alguma maneira no desenvolvimento do nosso município. Basta uma conversa para que se lembrem de mim, a professora Mariazinha. Esse contato é muito bom”, destaca.

 

O Presente

 

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