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Marechal Novo “milagre” da pandemia?

Aumenta procura pela vacina tríplice viral em Marechal Rondon

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(Foto: Divulgação)

Com a promessa de servir como uma espécie de “elixir” contra o coronavírus, a vacina tríplice viral “viralizou” nas redes sociais recentemente. Em Capitais brasileiras, estoques de laboratórios particulares ficaram praticamente zerados diante de tamanha procura pelo imunizante. Isso aconteceu depois de um estudo preliminar da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) apontar que a vacina minimizaria os riscos de complicações da Covid-19 e ganhar os noticiários. O novo “milagre” ganhou ainda mais força após o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, cogitar usar o imunizante no enfrentamento à pandemia.

De acordo com as pesquisas dos professores da UFSC, as respostas do estudo são animadoras, mas ainda não há comprovações sobre a eficácia da tríplice viral contra os sintomas graves do coronavírus, por isso, a indicação é de que as pessoas não se vacinem.

Enfermeira técnica responsável e sócia-proprietária da Clínica de Vacinas Saúde Livre, unidade Marechal Rondon, Flávia Fenner: “As pessoas acreditam em todas as notícias que ouvem ou veem. Muitas vezes leram somente o título ou então não interpretaram as informações corretamente e a partir dessas interpretações questionáveis acontece o efeito manada atrás destes ‘produtos milagrosos’” (Foto: Divulgação)

 

MAIOR PROCURA

Em Marechal Cândido Rondon, clínicas particulares de vacina também perceberam maior procura pelo imunizante depois do estudo da UFSC ter se tornado público.

“Tivemos um aumento considerável na procura desta vacina, porém, seguindo as normativas e recomendações do Programa Nacional de Imunização e da Sociedade Brasileira de Imunizações, orientamos as pessoas que nos procuram sobre a devida indicação do imunizante”, destacou ao O Presente a enfermeira técnica responsável e sócia-proprietária da Clínica de Vacinas Saúde Livre, unidade Marechal Rondon, Flávia Fenner.

De acordo com ela, o laboratório não possui um grande estoque da tríplice viral, visto que ela pouco se diferencia da vacina oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “A diferença está em dois detalhes: o frasco mono dose e o laboratório fabricante”, detalha.

A maior movimentação em busca do imunizante, observa a enfermeira, se deve às informações que têm circulado na internet. “O público que nos procura é bem diversificado, desde jovens e adultos até idosos. Poucos estão interessados nos reais efeitos e indicações da vacina”, pontua.

Vacina tríplice viral deve ser usada a partir dos 12 meses de vida até os 59 anos: aplicação se dá em duas doses com intervalo de dois meses e após os 60 anos em dose única (Foto: Divulgação)

 

REAL INDICAÇÃO

Apesar de supostamente agir contra o coronavírus, a rondonense lembra que a tríplice viral é indicada para prevenir caxumba, rubéola e sarampo. “Trata-se de uma vacina combinada e de vírus vivo”, menciona, acrescentando: “Todos os brasileiros já devem ter tomado uma dose pelo menos uma vez na vida”.

Sobre as indicações “alternativas” que circulam pelo ambiente virtual, Flávia diz que não tem como afirmar se há de fato benefícios na prevenção à Covid-19 ou amenização de sintomas. “É preciso aguardar o resultado do estudo, além de um posicionamento oficial dos órgãos competentes, como o Ministério da Saúde e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), bem como os fabricantes da vacina”, enaltece.

 

RISCOS ENVOLVIDOS

Conforme o Calendário Nacional de Vacinação e o Calendário Vacinal da Sociedade Brasileira de Imunizações, informa Flávia, a vacina tríplice viral deve ser usada a partir dos 12 meses de vida até os 59 anos. A aplicação, aponta ela, se dá em duas doses com intervalo de dois meses e após os 60 anos em dose única.

A enfermeira destaca que os riscos da aplicação em desarmonia com a real indicação da vacina estão relacionados ao fato de ser uma vacina de vírus vivos ou atenuados e, portanto, tem aplicação não permitida para alguns grupos. “Há algumas restrições para mulheres grávidas ou idade fértil, imunossuprimidos por doença ou pelo uso de medicação, alérgicos a ovo, proteína do leite de vaca e lactose ou alérgicos aos demais componentes presentes na vacina”, alerta, emendando: “No geral, é uma vacina de fácil aplicação, pois é subcutânea e as reações adversas mais comuns são as locais, como ardência, vermelhidão e formação de um nódulo”.

 

VACINA EM ALTA

Questionada sobre uma possível mudança no comportamento das pessoas em relação à própria saúde após a ascensão do coronavírus, Flávia diz que é um fenômeno perceptível. “Desde o início da pandemia, a palavra vacina deve ter sido a mais comentada e mais pesquisada pelas pessoas do mundo todo”, expõe.

Segundo ela, até mesmo as vacinas convencionais previstas nos planos de imunização viram sua popularidade aumentar. “Existem distintos tipos de pessoas que procuram por vacinas. Aquelas que estão preocupadas e orientadas a manter o cartão de vacinas atualizado, aquelas que atrasaram os esquemas vacinais por estarem receosos de ir até uma sala de vacinas por conta da pandemia e, ainda, aquelas que pensam que somente crianças precisam ser imunizadas, sem conhecimento sobre as vacinas que devem ser feitas ao longo da vida”, menciona.

 

EFEITO MANADA

Habituada ao trabalho voltado à saúde das pessoas, a enfermeira acredita que a crença e procura pelas soluções mágicas contra a Covid-19 acontecem devido à vontade de que as coisas voltem ao normal. “As pessoas acreditam em todas as notícias que ouvem ou veem. Muitas vezes leram somente o título ou então não interpretaram as informações corretamente. A partir dessas interpretações questionáveis acontece o efeito manada atrás destes ‘produtos milagrosos’, esquecendo do bem mais precioso que é a qualidade da saúde e nem mesmo se atentando aos riscos que podem estar gerando ao seu organismo”, lamenta.

 

UNIVERSIDADE ALERTA: “ESTUDO AINDA NÃO ACABOU”

Diante da enorme repercussão do estudo, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Secretaria de Saúde de Florianópolis emitiram, recentemente, uma nota de esclarecimento sobre pesquisa “Eficácia da Vacina MMR na Prevenção ou Redução da Severidade da Covid-19”. Na nota, as entidades alertam que apesar das respostas animadoras, ainda há etapas fundamentais para que a iniciativa seja aprovada e validada para uso da população. “Na fase atual, há respostas animadoras, mas que ainda dependem de etapas fundamentais para que venha a ser aprovada e validada, para ser utilizada junto à população. A UFSC e a Secretaria Municipal de Saúde alertam para que não haja qualquer movimento de procura junto a postos de saúde e nem autorizam ou recomendam a procura em clínicas privadas, uma vez que, caso haja a definição por seu uso em meio à pandemia da Covid-19, haverá campanhas oficiais dos órgãos sanitários no sentido de orientar devidamente a população sobre grupos, datas e locais de acesso”, diz a nota.

A nota ainda explica que não se trata de um imunizante equivalente àqueles voltados à vacinação preventiva contra o coronavírus, produzidos, por exemplo, pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Butantan, e que não se configura como “tratamento precoce” da doença, do mesmo modo como alguns medicamentos são divulgados, sem contudo terem sua eficácia cientificamente comprovada, se referindo à cloroquina e à ivermectina. “Trata-se de uma pesquisa preliminar, iniciada em 2020, a partir do uso de imunizante constante do calendário regular de vacinação, a vacina tríplice viral (MMR), que, por ora, demonstra resultados animadores na estimulação da imunidade inata, com possibilidade de prevenir a infecção pelo coronavírus ou diminuir sua severidade por diminuição da carga viral”, explica a nota de esclarecimento, que termina com a frase: “Não se deixe levar por notícias falsas ou promessas de tratamento”.

 

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