Marechal Aumento nos atendimentos
Centro de Equoterapia da Unioeste tem potencial para ser referência no Oeste
A Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) está à frente de um dos mais importantes centros de equoterapia na região Oeste do Estado. A unidade está instalada numa área de 2,5 hectares, no Núcleo de Estações Experimentais (NEE) do campus de Marechal Cândido Rondon, resultado de um projeto de extensão vinculado ao Centro de Pesquisas em Equideocultura do curso de Zootecnia.
A terapia está vinculada ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Equinos (Gepequi), coordenado pela professora doutora Ana Alix Mendes de Almeida Oliveira.
A infraestrutura inclui casa de cavalos, chamada de cavalariça, que abriga 11 cavalos (um adquirido pelo campus e os outros frutos de doações), espaço para armazenamento de ração e feno e pista de areia para a prática.
Institucionalizado em 2010, até o momento o projeto recebeu aproximadamente R$ 500 mil em investimentos púbicos, principalmente em 2018, com estruturação da área. O número de atendimentos passou de dez a 15 pacientes/ano para 60, de 2018 para cá. No momento, o serviço está interrompido por causa da pandemia da Covid-19.
Conforme a professora Ana, os atendimentos iniciaram em 2010, mas foi a partir de 2018 que o tratamento ganhou destaque. “Neste ano conseguimos atender mais de 60 crianças e adolescentes com dificuldades de convívio social e de aprendizagem escolar. Nós não estamos atendendo pessoas com doenças motoras, pois não temos parceria com as prefeituras na área de saúde”, expõe.
Atendimentos no centro de equoterapia iniciaram em 2010, mas foi a partir de 2018 que o tratamento ganhou destaque (Foto: Divulgação/Unioeste)
CAMPO DE ESTÁGIO E LEI
Com ações extensionistas e atendimento presencial de crianças e adolescentes com dificuldades psicossociais, o centro é campo de estágio para os cursos de Zootecnia, Agronomia, Medicina Veterinária, Educação Física e Fisioterapia. A ação atende à lei federal 13830/2019, que regulamenta a equoterapia como método de reabilitação de pessoas com deficiência. “Assim, a Unioeste saiu na dianteira e criou um centro mesmo antes de uma legislação brasileira específica à área”, ressalta a coordenadora do Gepequi.
A lei estabelece a terapia como método de reabilitação que utiliza o cavalo em abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação voltada ao desenvolvimento biopsicossocial da pessoa com deficiência.
O tratamento beneficia crianças e adultos portadores de paralisia cerebral e em muitos outros distúrbios de movimento, como, por exemplo, hipotonia, hipertonia, ataxia e atetose, acompanhados ou não de déficits cognitivos e comportamentais, incluindo a crise do pânico.
Com ações extensionistas e atendimento presencial de crianças e adolescentes com dificuldades psicossociais, o centro é campo de estágio para cursos de graduação (Foto: Divulgação/Unioeste)
ETAPAS DE INVESTIMENTOS
Até a sua consolidação, a equoterapia passou por várias etapas. No início, com poucos recursos; hoje, com mais investimentos públicos. Entre estes investimentos estão os R$ 85 mil do Programa Universidade Sem Fronteiras de 2018, aplicados em infraestrutura e na contratação de bolsistas recém-formados em Zootecnia e fisioterapeuta, ambos com experiência na área, além de uma bolsa para estudante de graduação.
Ana comenta que os R$ 350 mil oriundos da Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), em 2014, foram aplicados na construção da casa para os cavalos (cavalariça) e na aquisição de equipamentos para equitação, farmácia, espaço para armazenamento de ração e feno.
Infraestrutura conta com uma casa de cavalos, chamada de cavalariça, que abriga 11 cavalos, um adquirido pelo campus e os outros frutos de doações (Foto: Divulgação/Unioeste)
PLEITO ATUAL
De acordo com a coordenadora do Gepequi, as benfeitorias do projeto só crescem. No momento, segundo ela, o setor pleiteia a construção da cobertura da pista de equoterapia, que viabilizaria o funcionamento das atividades também em dias de chuva. “Chegamos aqui com muito esforço e esperamos que o centro receba mais investimentos para se tornar uma referência em equoterapia”, ressalta.
GRATIFICANTE
Aluna do 5º ano de Zootecnia, Júlia Andressa Boufleur, de 21 anos, sempre escutou no “rádio corredor” da universidade elogios ao trabalho de equoterapia junto ao Núcleo de Estações Experimentais. Foi quando começou a ler e a buscar mais informações a respeito do assunto. “Comecei como voluntária e depois como estagiária”, conta.
Depois de três anos de estágio, Júlia, que está no último ano, quer prosseguir no mesmo segmento em sua carreira. No momento, ela desenvolve seu trabalho de conclusão de curso sobre o fortalecimento da musculatura dos cavalos/ginástica laboral.
Para a acadêmica, o trabalho é gratificante. “O mais gratificante é ver a alegria das crianças durante o tratamento. A gente começa a ver o desenvolvimento do praticante e a sua mudança, desde a primeira sessão. Eles começam com medo, depois evoluem”, menciona.
Terapia com cavalo proporciona ganho físico e social (Foto: Divulgação/Unioeste)
EXPERIÊNCIA POSITIVA
A professora Cristiane Dalposso de Araújo, de 42 anos, mãe de um garoto de sete anos portador de mielomeningocele, também conhecida como espinha bífida aberta, malformação congênita da coluna vertebral da criança em que as meninges, a medula e as raízes nervosas estão expostas, elogiou o trabalho e espera que continue depois da pandemia. “Meu filho passou pelo centro e foi uma experiência bem positiva”, relata.
A terapia com cavalos foi indicada por um profissional e, assim que as atividades estiverem liberadas e forem retomadas, Cristiane quer que seu filho participe novamente do Projeto de Equoterapia. “O atendimento é muito bom. São profissionais incríveis. A atividade com cavalo traz um ganho físico e social imenso em equilíbrio e estabilidade. Devemos lutar para que esse projeto não só se mantenha, mas que se fortaleça atendendo mais crianças com necessidades especiais”, destaca Cristiane, que é mãe de outros dois filhos, de nove e de 22 anos.
FUTURO
A professora Ana diz que existe uma grande expectativa com relação ao futuro da unidade. “Ainda não somos uma referência, pois não conseguimos nos consolidar em relação à infraestrutura e à equipe multidisciplinar na área da saúde. Começamos de forma tímida, atendendo apenas crianças e adolescentes com dificuldades de inclusão social. O trabalho é de cunho psicopedagógico e de poucos atendimentos. Não estamos aptos para sermos ainda um Centro de Equoterapia como os demais do Paraná”, salienta.
A idealizadora explica que a terapia tem como metáfora o desenvolvimento humano, do nascimento à idade adulta. Se comparada às fases que a pessoa leva até a maturidade, passou pela primeira infância, nos anos 2000, e chegou à puberdade, em 2020. Para estar formado, precisa passar pela adolescência até idade adulta.
Unidade está instalada numa área de 2,5 hectares no Núcleo de Estações Experimentais do campus de Marechal Rondon (Foto: Divulgação/Unioeste)
SONHO SE TORNOU REALIDADE
A coordenadora tem uma trajetória de trabalho psicossocial, aliado à inspiração e sonhos de tornar uma ideia possível. Com seu idealismo, já falava em equoterapia antes de ingressar na Unioeste, quando morava em São Paulo.
No currículo, carrega lindas e produtivas experiências na área, como especialização em ciência equina nos Estados Unidos. “Lembro que um colega de trabalho no curso de Zootecnia da Universidade São Marcos sugeriu a construção do setor de equinos na fazenda Experimental em Guararema baseada no papel social do uso cavalo para a comunidade local”, conta.
Após ingressar na carreira docente na Unioeste, seus sonhos foram tomando um contorno real. “Essa proposta se estabeleceu como uma semente e com a minha vinda a Marechal Cândido Rondon pude perceber que a região tinha todas as condições de clima, solo e relevo para criação de equinos, afinal, minha disciplina e área de especialização é a Equideocultura”, relembra.
Segundo ela, com o núcleo de pesquisa cadastrado junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o projeto pronto, o campus rondonense cedeu a mão de obra e as madeiras para as divisórias das pastagens. “Na época conseguimos bolsas de IC, de extensão, que ajudaram a construir e ainda ajudam o Setor de Equideocultura”, enaltece.
A pesquisadora diz ter sido fundamental o apoio do Centro de Ciências Agrárias, do NEE e da direção geral do campus de Marechal Rondon, que cedeu a área e iniciou a construção do Setor de Equideocultura em 2006. “Nós plantamos a grama, conseguimos os cavalos com diferentes parcerias, entre doações, cedências de uso, e projetos de pesquisa Projeto CNPq Universal”, recorda.
Com assessoria
