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Marechal Agricultores animados

Chuvas torrenciais causam problemas pontuais em lavouras da região; ainda assim foram benéficas

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(Foto: Sandro Mesquita/OP)

A maioria das pessoas já deve ter ouvido por aí a afirmação de que “tudo em excesso faz mal”. Por mais primordial que seja, existem situações que quando são em demasia, acabam prejudicando de alguma forma.

A agricultura não foge à regra, afinal, a tão esperada e necessária chuva, indispensável para a desenvolvimento das plantas, enfim, voltou a cair. Mas, apesar de ter chegado na hora certa, logo após o plantio, o grande volume de água em curtos períodos de tempo prejudicou produtores rurais em determinadas localidades de Marechal Cândido Rondon.

Além de casos pontuais relacionados à erosão e à queda de granizo que afetaram algumas lavouras onde as plantas já haviam brotado, em outras propriedades onde o plantio aconteceu posteriormente, o excesso de chuva compactou a terra e dificultou o surgimento da soja.

Foi o que aconteceu na propriedade da família Schock, no distrito rondonense de Curvado. O agricultor Mauri Schock plantou soja em uma área de 12 alqueires no último dia 13. Segundo ele, em poucos dias choveu mais de 400 milímetros, fato que atrapalhou o processo de germinação, pois os brotos ainda não haviam surgido. “A chuva endureceu a terra e prejudicou a saída da soja”, menciona.

 

Benéficas, com variações

O engenheiro agrônomo Cristiano da Cunha destaca a importância das precipitações ocorridas nas últimas semanas, principalmente diante da escassez hídrica que castigava severamente a produção agrícola em quase todo o país. “As chuvas foram extremamente benéficas em certas áreas, porém, com bastante variação”, menciona.

 

“Cascão”

Segundo ele, os casos de compactação do solo, também conhecido como “cascão”, registrados em algumas lavouras, podem estar relacionados a duas condições. A primeira por conta da situação do solo no momento do plantio. “Isso pode acontecer porque o plantio é realizado com a umidade acima do ideal, mas o agricultor acaba plantando assim mesmo porque existe previsão de mais chuva, e caso ele não plante mesmo fora do recomendado, acaba não conseguindo realizar o cultivo”, explica.

A outra situação, acrescenta o profissional, tem relação com as chuvas volumosas em curto espaço de tempo, o que compacta o solo, que pode ter entre dois a quatro centímetros de espessura acima da linha de plantio. De acordo com Cunha, a planta começa a germinar, mas ela não tem a capacidade de romper essa barreira para emergir e continuar se desenvolvendo normalmente. “Essa planta fica retida embaixo desse cascão, obrigando muitas vezes o agricultor a realizar o plantio novamente”, expõe.

 


Engenheiro agrônomo Cristiano da Cunha: “Não tem nada garantido em relação à safra, até porque estamos com menos de 10% do ciclo da cultura em andamento e dependemos de chuva para os próximos três meses” (Foto: O Presente)

 

Ajuda

A família Layter, da Linha Ajuricaba, plantou cerca de 20 alqueires de soja e em parte da área também aconteceu o processo de compactação do solo. Contudo, conforme Daltro Layter, a chuva ocorrida no último fim de semana ajudou no surgimento das plantas. “O solo estava compactado, mas a chuva soltou a terra e como a semente ainda estava fértil, a planta conseguiu emergir”, conta.

 

Pragas

É comum o aparecimento de algumas pragas no início do ciclo da cultura da soja. Essa situação foi percebida na propriedade da família Schock, onde as “vaquinhas” são facilmente vistas se alimentando das folhas da planta. “Elas estão na palhada e acabam estragando um pouco o soja”, menciona Mauri.
De acordo com ele, a aplicação de defensivo agrícola para o controle da praga não estava prevista para o atual momento do ciclo da soja, mas precisará ser realizada. “Não pretendíamos aplicar, mas pelo visto isso terá que ser feito, o que aumentará o custo de produção”, lamenta.

 

Cuidados

O engenheiro agrônomo Cristiano da Cunha diz que as lagartas e as vaquinhas são as mais recorrentes no início do crescimento da planta, mas geralmente a presença das vaquinhas nas lavouras não representam danos consideráveis à soja. Ainda assim, faz uma ressalva: “Quando as plantas se encontram de certa forma debilitadas, por exemplo, em função da energia gasta para emergir devido ao cascão, ela não consegue uma rápida reposição folear”, ressalta.
Nesse caso, de acordo com o profissional, tanto as lagartas quanto as vaquinhas acabam intensificando a deterioração da área folhear restante na planta, o que pode acarretar em prejuízo para o agricultor. “Quando o agricultor percebe que essas pragas estão causando danos econômicos é importante que, com a orientação agronômica, realize a aplicação de um inseticida visando o controle”, orienta.

 

Custo de produção

Se por um lado o preço da saca de soja é considerado bom pela maioria dos agricultores, o custo para produzir a oleoginosa é elevado, principalmente em razão da alta do dólar frente ao real. Quase tudo que se refere à produção agrícola é cotado pela moeda americana, desde os fertilizantes até o diesel usado nos maquinários.

Conforme Layter, o custo de produção aumentou cerca de 100% em comparação à última safra de verão. “A saca de adubo de 50 quilos passou de R$ 82 para R$ 161, o quilo da semente foi de R$ 3,50 para quase R$ 8 e o Glifosato aumentou de R$ 120 para R$ 230 o pacote de cinco quilos”, exemplifica.

Segundo o agricultor, além da elevação dos insumos utilizados nas lavouras, as peças e serviços relacionados à prática agrícola também sofreram aumento de preços. “Está muito caro para fazer qualquer tipo de manutenção”, menciona.

Cunha confirma a elevação dos custos de produção da safra. Ele comenta que, além dos fatores citados, vários outros motivos interferem nesse aumento, entre eles a escassez de matérias-primas importadas pelo Brasil de países que não estão conseguindo atender a demanda do mercado. “E é claro que quanto menos oferta, o preço sobe, e a consequência é a elevação do custo de produção”, ressalta.

 


Agricultor Daltro Layter: “Mesmo com o aumento dos custos de produção, se ao final do ciclo a saca de soja estiver custando o preço atual, estará num patamar bom” (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

Expectativas

Apesar das previsões do tempo não serem muito animadoras em relação às precipitações para os últimos meses do ano, os agricultores da região estão otimistas com a próxima safra de verão.
Mesmo com os problemas causados pela estiagem e outras intempéries registradas na safra 2020/2021, o que comprometeu a produção, na propriedade da família Schock foram colhidas na última safra 125 sacas de soja por alqueire.

A experiência adquirida com o último ciclo da soja fez o produtor rural Mauri optar pelo plantio da variedade que melhor rendeu na safra passada, com a expectativa de colher mais. “Apesar da previsão de chuva até o fim do ano não ser a ideal, esperamos que estejam errados e dê uma boa safra, com cerca de 180 sacas por alqueire”, torce.

Para o agricultor Layter, a expectativa é que a safra deste ano seja tão boa quanto a última, considerada por ele a melhor já registrada na propriedade. “Gostaríamos que fosse igual à do ano passado, mas acredito que isso não se confirme porque tivemos algumas áreas com erosão que precisaram ser replantadas”, relata.


Mauri Schock ao lado do pai Edgar, ambos produtores rurais: “A nossa parte nós fizemos, agora quem decide se a safra será boa ou não é o tempo” (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

Cedo

De acordo com Cunha, apesar do retorno das chuvas ainda é cedo para afirmar que só haverá uma supersafra, considerando que a previsão é de que a partir de novembro a estiagem prevaleça. “Não tem nada garantido em relação à safra, até porque estamos com menos de 10% do ciclo da cultura em andamento e dependemos de chuva para os próximos três meses”, enaltece.

Segundo ele, o grande volume de chuva é fundamental para abastecer reservatórios e restabelecer nascentes que haviam sido prejudicadas pela longa estiagem, no entanto, tão importante quanto isso é a distribuição correta das precipitações. “O ideal seria que tivéssemos uma chuva média por semana até o final do ciclo da soja, mas sabemos que não somos nós que definimos isso, fica por conta da natureza”, conclui.

 


Apesar de causar pequenos danos às folhas, as “vaquinhas” podem acentuar as perdas quando presentes em plantas já comprometidas por conta de outras situações (Foto: Divulgação)

 


97% das lavouras pertencentes a Marechal Rondon já foram plantadas, restando apenas pequenas áreas (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

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