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Marechal “Escola da minha vida”

Com 52 anos de rádio, Dirceu da Cruz Vianna é o comunicador mais antigo em atividade em Rondon

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Foto: Leme Comunicação

Pode ser que nas ruas ele passe despercebido por seus ouvintes, mas basta falar algumas poucas palavras com o vozeirão inigualável que, no mesmo instante, Dirceu da Cruz Vianna é reconhecido. Ou melhor, o “Nhô Jeca”, que todas as tardes traz companhia a muitas pessoas na Rádio Educadora. “Ser reconhecido dessa forma é algo que até me deixa bastante à vontade para conversar com as pessoas. Tenho ouvintes fiéis, que quase todos os dias estão comigo. Seja de Marechal Rondon, de outras cidades próximas, do Mato Grosso, até dos Estados Unidos pessoas me acompanham, é um carinho muito especial”, enaltece.

Aos 76 anos, Vianna é o comunicador mais antigo em atividade no município rondonense. Sua trajetória começou na Rádio Difusora, onde, lembra ele, começou a trabalhar antes mesmo da inauguração. “Fui admitido em 15 de novembro e a rádio começou em 19 de novembro de 1966”, brinca.

Sua paixão pelo rádio veio desde a época em que vivia no Rio Grande do Sul. Quando morava em Ponta Grossa, rememora, acompanhava um colega de trabalho que nas horas fora da empresa realizava transmissões de jogos de futebol. “Como eu não tinha dinheiro para ir ao estádio, eu ajudava a carregar os equipamentos e entrava sem pagar para assistir ao jogo, mas também observava a forma que eles trabalhavam, como era a transmissão, como aquilo acontecia”, relembra.

Já em Marechal Cândido Rondon, onde veio para uma visita casual à família em 1960, na ainda vila de General Rondon, e acabou fixando moradia, ele trabalhou em um serviço de alto-falantes. “O proprietário achou que minha voz ia dar certo, me explicou o que eu tinha que fazer e eu fui”, conta.

A escola

Naquela época, Vianna diz que a Rádio Difusora estava começando a ser montada e foi convidado pelo diretor da emissora, Antônio Maximiliano Ceretta, para atuar como radialista. “Antes da rádio começar a operar, o seu Antônio chamava algumas pessoas para o estúdio e ficávamos praticando, brincando de fazer rádio. Ele me entregava o jornal para ler e ficava só observando”, recorda-se.

Na emissora, acrescenta, aprendeu a fazer de tudo: locução, redação de textos comerciais, notícias e narração de eventos esportivos. “Até café e chimarrão nós fazíamos. Só não pegávamos em balde e vassoura para a limpeza, mas o resto aprendemos a fazer”, brinca.

Para as transmissões de futebol, Vianna diz que era preciso puxar linha e os próprios funcionários da emissora que plantavam os postes. “Existiam cabos da rádio até o Clube Lira, até o antigo campo do Flamengo, onde hoje fica o Supermercado da Copagril, e do Botafogo, onde é mais ou menos o Colégio Frentino Sackser. Puxamos cabos daqui até Quatro Pontes. Era difícil, mas fazíamos porque gostávamos muito”, enaltece.

Pela manhã, ao abrir a rádio, ele comenta que era preciso ligar um motor para prover a energia necessária do local. “A discoteca era diminuta comparado ao que temos disponível hoje. Nos programas brincávamos ‘peça o que quiser, para ouvir o que nós tocarmos’”, brinca.

Gremista inveterado, foi no fim de 1966 que ele comandou o programa “Lenço Colorado”. “Alguns amigos brincavam bastante”, menciona, ao recordar-se que a ideia do nome do programa foi de Ceretta, também gremista, remetendo à peça que compõe o tradicional traje gaúcho. “O programa acontecia à tarde e tocava músicas gauchescas, bandinhas e sertanejas”, expõe.

Em 1978 Vianna deixou a Rádio Difusora, passando a ser sócio-proprietário da Rádio Educadora, onde continua a sua carreira até hoje apresentando diariamente o Programa do Nhô Jeca.

Entre momentos de alegria, emoção, histórias contadas para os ouvintes e compartilhadas por quem acompanha o locutor, uma das quais ele relembra foi o sequestro que marcou a comunidade rondonense em abril de 1995. “No momento em que eu estava entrando no ar com meu programa saiu a informação do sequestro, que os sequestradores estavam na casa do empresário com as sete pessoas reféns”, conta. “Eu coloquei na minha cabeça que só sairia do estúdio quando acabasse o sequestro, mas imaginei que logo a polícia iria entrar e aquilo acabaria, mas acabou durando dias e noites e eu fiquei 132 horas dentro da rádio, no estúdio, sem dormir, sem refeições, só na base de café, chimarrão e lanchinhos”, revela.

A programação foi comandada por ele nas 24 horas e durante o dia havia participação direta do local com Miguel Fernandes (in memoriam). “O Governo do Estado instalou um telefone na minha frente para contatar, quando necessário, o governador e o secretário de Segurança Pública e o apresentador Ratinho montou seu estúdio diretamente da minha sala”, rememora.

Dirceu da Cruz Vianna: “Graças a Deus, quando eu começo o programa, o telefone não para, com pedidos de músicas, homenagens e histórias. É uma interação muito grande” (Foto: Leme Comunicação)

Pendurando as chuteiras

Há tantos anos na profissão, seja comandando programas ou apresentando eventos, aquele que já tornou-se professor de muitos comunicadores afirma que, por vezes, já tentou pendurar as chuteiras e encerrar a carreira de comunicador.

Em uma dessas vezes, uma ouvinte, indignada com a situação, ligou pedindo esclarecimentos sobre os motivos pelos quais ele estaria abandonando sua audiência. “Era uma mulher que eu não conhecia, de Toledo, que pediu se eu estava com problemas de saúde, na empresa, financeiros ou na família. Quando eu disse que não, ela começou a me xingar, nervosa, perguntando o que as pessoas fariam à tarde no horário do programa se eu não o fizesse mais”, afirma, dizendo que, após acalmar a ouvinte, desistiu de encerrar a carreira.

Apesar de estar “na ativa”, Vianna compartilha que já teve problemas de saúde bastante sérios. “Temos cinco dedos em cada mão, mas apenas um coração e justamente esse deu uma pifada”, brinca.

Ele diz que desde que saiu do hospital considera que “está no lucro”, pois Deus o concedeu uma segunda chance para viver. “Decidi que dali para frente faria tudo que pudesse para viver minha vida de uma forma ainda melhor do que já havia vivido até aquele momento”, compartilha.

A nova era do rádio

Ainda comandando os programas com um operador de som, Vianna avalia que o rádio está se reinventando. “Os locutores já vão se criando para apresentar e fazer a operação da mesa de som”, declara.

Ele menciona que quando começou a atuar não contava com os equipamentos sofisticados que hoje estão disponíveis no mercado, por isso o trabalho era bem mais complicado para quem executava. “A rádio foi a escola da minha vida”, frisa.

Hoje, com as possibilidades de cursos superiores de Jornalismo, Marketing e especializações para a área de comunicação e rádio, ele considera que atuar na área de forma especializada e mais dinâmica está mais acessível e descomplicada. “Nós aprendemos apanhando, fazendo errado e corrigindo para chegar onde estamos hoje. Mas, se tivesse que fazer sozinho, o passado me deu a bagagem necessária para conseguir fazer”, enfatiza.

Vianna garante que não abandona o “estilo antigo” de contar com um operador para fazer os programas, principalmente na rádio AM, pela companhia. “Comandar um programa sozinho é algo bastante solitário e quando entra no estúdio você precisa visualizar um auditório na sua frente. Graças a Deus, quando eu começo o programa, o telefone não para, com pedidos de músicas, homenagens e histórias. É uma interação muito grande”, comemora.

Reconhecimento

Cidadão Honorário de Marechal Cândido Rondon, Vianna já foi secretário de Administração do município. Além disso, é integrante do Conselho de Administração do Sicoob e membro do Clube do Senado da JCI, sendo o único benemérito da Câmara Júnior. Também foi fundador do Clube de Campo Roda d’Água e da Loja Maçônica Tiradentes.

Há 24 anos, Vianna participa da diretoria da Associação Comercial e Empresarial de Marechal Cândido Rondon (Acimacar) e, na semana passada, foi homenageado pela entidade, emprestando seu nome ao auditório da Acimacar. “Não esperava pela homenagem. Tenho muitos amigos, como Frentino Sackser, Antônio Maximiliano Ceretta, Írio Welp, Gernot Reuter, entre tantos outros que foram homenageados dessa forma, mas não viram, não sentiram essa emoção, mas eu pude”, ressalta. “É extremamente gratificante, aumenta a minha responsabilidade e me faz até questionar se sou merecedor porque é algo totalmente diferente. Não dá pra explicar o sentimento. É sensacional para mim e para minha família poder compartilhar com meus filhos e netos um momento como esse”, evidencia.

Programa do Nhô Jeca faz sucesso não só em Marechal Cândido Rondon e cidades da região, mas passa por Estados como Mato Grosso e vai até os Estados Unidos e Londres (Foto: Leme Comunicação)

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