Com ações voluntárias, moradores do Boa Vista transformam local que servia de depósito de lixo em atração do bairro

Acordar, abrir a sacada ou a porta de casa e se deparar com as maravilhas da natureza é um privilégio para poucos. Ouvir o cantar dos pássaros, respirar ar puro e se conectar com o verde.

A situação descrita poderia ser muito bem uma cena que representa a pacata vida no campo. No entanto, é uma realidade que acontece no meio urbano, mais especificamente no Loteamento Dorzbacher, no Bairro Boa Vista, em Marechal Cândido Rondon. O local serve de exemplo da típica cidade interiorana, onde prevalecem a harmonia entre vizinhos e a boa convivência em sociedade.

Reserva ambiental

Quando o casal Cleunice e Ruy Novais comprou um terreno no loteamento, em 2014, o que mais chamou a atenção foi a paisagem, considerando que o lote ficava em frente a uma reserva ambiental. “Meu esposo, em vez de pensar em fazer a casa, se interessou em cuidar daquele espaço que poderia ser tornar um lugar de descanso, de ouvir os pássaros e aproveitar a natureza. Ele falava que iria plantar frutas e flores para os netos brincarem lá”, lembra.

Assim, ele trabalhou por um tempo durante os fins de semana para organizar o espaço. Dentre os projetos de melhoria estava a implantação de grama, plantio de árvores frutíferas, ipês e flores, além da construção de dois pergolados. “Como algumas pessoas começaram a estacionar o carro no local e acabavam destruindo as plantas recém-plantadas, meu esposo colocou uma proteção acompanhando o meio-fio com palanques de eucalipto”, comenta Cleunice.

O resultado não poderia ser melhor. Chamou a atenção da vizinhança, que se dispôs, pouco a pouco, a realizar um trabalho voluntário em prol do cuidado do espaço, que se tornou a atração do bairro.

 

“A intenção era torná-lo um ambiente de conforto e contato com a natureza e foi isso o que aconteceu. É um lugar de admiração. Os vizinhos trazem os amigos para conhecer, tirar fotos e aproveitar as frutas direto do pé, também ajudando a cuidar. Isso é gratificante”, considera.

 

Cleunice e Ruy Novais (em memória) foram os idealizados do projeto de tornar o espaço um ambiental agradável (Foto: Arquivo pessoal)

Compromisso enquanto cidadão

A quantidade de pessoas que passavam pelo local e ofereciam mudas de árvore para serem plantadas também foi algo que surpreendeu a rondonense. “Muitas destas foram, inclusive, doadas pela Secretaria Municipal de Agricultura”, expõe.

Para Cleunice, cuidar do meio ambiente e mantê-lo limpo é preservar a saúde. “É uma maneira de combater as doenças e ainda exercer um compromisso enquanto cidadão de cuidar dos espaços”, enaltece.

Cleunice Novais: “É um lugar de admiração. Os vizinhos trazem os amigos para conhecer, tirar fotos e aproveitar. Isso é gratificante” (Foto: Bruno de Souza/OP)

Legado infinito

Infelizmente, em setembro de 2021, o idealizador do trabalho voluntário, Ruy Novais, faleceu em decorrência de complicações da Covid-19. No entanto, ele partiu deixando um legado inestimável. “No fim do ano decorei para comemorar o Natal com amigos e vizinhos. Em cada planta, flor e fruta eu vejo um toque dele. É uma marca que vai ficar para sempre de cuidado, prevenção e exemplo para os nossos filhos e netos sobre a importância de preservar o meio ambiente”, enfatiza.

Comprometimento

Cada morador tem sua maneira de se envolver. Sempre há novas ideias e o espaço cada vez fica mais incrementado e bonito.

Um dos vizinhos comprometidos com a ação é o casal Silmara Pazini e Gercinei Ramos. A empresária e o arquiteto perceberam a necessidade de auxiliar no trabalho voluntário quando começaram a construir a casa deles no bairro, em 2017. “Vimos que tinha muito mato, grama alta, aranha, cobra e quase nenhuma segurança para as pessoas. Foi quando fizemos a limpeza do lote e o plantio de árvores nativas”, conta Silmara.

“Quando viemos morar no bairro, as ruas não tinham asfalto, era pedra irregular. Quando chovia não havia escoamento adequado e toda a água se acumulava naquele espaço. Foi feito aterramento e depois o plantio de grama e árvores. Plantamos mais de 60 mudas de árvores nativas. Em muitas mãos, conseguimos transformar a realidade deste espaço, antes usado como depósito de entulho e lixo. Agora, todo mundo cuida e está lindo. Virou até atração, e não só dos moradores do bairro, mas também de pessoas que ficam sabendo do local e vêm tirar fotos. Fim de semana sempre tem muitas famílias tirando fotos, ciclistas que passam por ali e aproveitam o cenário para fazer um registro, amigos dos vizinhos que também aparecem para curtir o local”, acrescenta a empresária.

Casal Silmara Pazini e Gercinei Ramos: “Trabalho de muitas mãos transformou esse lugar, que antes era depósito de lixo. Agora, todo mundo cuida e está lindo” (Foto: Arquivo pessoal)

Variedade de frutas

A ênfase no plantio foi em mudas frutíferas e ipês, de acordo com Silmara, além de árvores históricas, como o pau-brasil. “Mantemos tudo cortadinho e baixo para que não haja animais peçonhentos. É uma forma de cuidar e a sensação é de bem-estar”, frisa.

O local já conta com diversas variedades de frutas, reflexo de oito anos de cuidado e dedicação. São bananas, acerola, pitaia, figo, amora, limão, goiaba, manga, lima, carambola, araçá, maracujá, seriguela, pitanga, graviola, tangerina, abacate, maçã e pêra. “Os passarinhos e os quatis vêm se alimentar e, às vezes, nem vemos as árvores dando fruto”, salienta a empresária.

Local conta com diversas variedades de frutas, reflexo de oito anos de cuidado e dedicação de vizinhos voluntários (Foto: Arquivo pessoal)

Sempre alerta

Todos os dias sempre há alguém plantando, regando ou cuidando do local. A intenção é deixar a região da reserva ambiental limpa e sem entulhos. “Quando aconteceu o último temporal, há duas semanas, toda a vizinhança se reuniu para limpar a sujeira trazida pelos fortes ventos”, exemplifica Silmara.

Foto aérea da reserva ambiental, onde fica o cantinho atração do bairro (Foto: Arquivo pessoal)

O vendedor Rodrigo Mello é outro vizinho que está sempre alerta quando o assunto é cuidar do bairro e do cantinho da reserva ambiental. Ele soube do trabalho voluntário por meio de um grupo de WhatsApp. “Alguns vizinhos moradores antigos do bairro já haviam iniciado a limpeza de lixos e entulhos e plantio de árvores onde é considerada área pública. Nesse grupo, conversamos sobre a necessidade de limpeza do local, onde acaba acumulando plásticos e demais objetos trazidos pelo vento e que podem acumular água”, relata.

Para ele, o projeto é sobre ter uma área de uso comum, bem como um lugar de interação entre vizinhos e a criançada, “uma vez que no projeto consta bancos e prevê a instalação de balanços infantis”, pontua.

Cleunice Novais e Silmara Pazini, vizinhas e parceiras no cuidado com o cantinho que consideram pra lá de especial (Foto: Bruno de Souza/OP)

Espaço virou point para apreciar a natureza e fazer fotos (Foto: Arquivo pessoal)

Rua ganhou um novo visual depois que os vizinhos “abraçaram a causa”: de um local de depósito de entulho, o cantinho da reserva ambiental se tornou atração (Foto: Arquivo pessoal)

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