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Marechal Conflitos familiares

Conselho Tutelar registra aumento nos atendimentos durante a pandemia

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Entidade rondonense tem tido que driblar as dificuldades encontradas, já que muitos órgãos parceiros estão trabalhando em regime de prioridades e por meio virtual. Conflitos familiares seguem como principal demanda, seguida de evasão escolar (Foto: O Presente)

Desde março de 2020, as dinâmicas de convivência familiar se alteraram em decorrência da pandemia do coronavírus: mais pessoas trabalham de casa, alunos estão estudando remotamente e saídas não são recomendadas. Em vista disso, muitos órgãos públicos sentiram na pele a influência dessas mudanças de comportamento das pessoas, como é o caso do Conselho Tutelar (CT).

Visando garantir os direitos e deveres de crianças e adolescentes, bem como orientando e aconselhando pais e responsáveis na tutela dos menores, o Conselho Tutelar de Marechal Cândido Rondon registrou aumento no número de atendimentos realizados, de acordo com o coordenador Jaimer Tasso.

A equipe de conselheiros rondonenses da gestão 2020/2023 tomou posse no início do ano e logo teve de lidar com a adversidade do coronavírus em seus trabalhos.

“Estamos vivendo um ano diferente. Começamos bem, dentro da normalidade e em março as coisas começaram a mudar com a pandemia. Nos primeiros meses, nosso atendimento era em grande parte por pedidos de vagas em centros de Educação Infantil. Com a chegada da pandemia e até o atual momento, mudaram muitas situações”, relatou Tasso ao O Presente.

Coordenador do Conselho Tutelar de Marechal Rondon, Jaimer Tasso: “Passamos por um momento difícil e todo mundo está tenso, ninguém sabe o que acontecer e dificuldades surgem a cada momento. Nem todas pessoas conseguem ter clama e controle para lidar com a situação, o que reflete em problemas de convivência” (Foto: O Presente)

 

REGIME DE PRIORIDADES

O conselheiro coordenador conta que uma das principais modificações na dinâmica de trabalho diz respeito a alguns órgãos que deixaram de atender presencialmente e adaptaram suas demandas. “O Fórum fechou presencialmente e atende de modo virtual, o que foi um pouco dificultoso para nós. Então, realizamos o encaminhamento no Projudi (Processo Judicial Digital). O IML (Instituto Médico Legal) de Toledo recebe atualmente só casos prioritários ou de urgência, como estupro de vulnerável, sendo que antes encaminhávamos várias ocorrências, como lesão corporal”, expõe, emendando que os boletins de ocorrência on-line da própria delegacia também foram incrementados no método de trabalho em algumas situações.

 

CONFLITOS FAMILIARES

Conforme Tasso, os atendimentos envolvendo conflitos familiares seguem como principal demanda e crescente neste período pandêmico. “Mães vêm nos procurar para aconselhamento sobre filhos que não obedecem, estão rebeldes, depressivos, não saem do quarto ou estão dependentes do celular”, exemplifica.

Segundo ele, aos conselheiros cabe um trabalho de intermediação. “Conversamos com os filhos e com os pais. Posteriormente, realizamos os encaminhamentos cabíveis. Se o menor estiver com algum tipo de vício, entorpecentes ou afins, encaminhamos ao CAPs (Centro de Atenção Psicossocial). Em casos de transtornos psicológicos, encaminhamos ao Cras (Centro de Referência de Assistência Social). Em outras situações, encaminhamos ao Creas (Centro de Referência Especializado em Assistência Social)”, detalha.

 

EVASÃO ESCOLAR

Do mesmo modo como acontecia anteriormente à pandemia, quando o Conselho Tutelar era ativado para atender estudantes que deixavam de comparecer presencialmente às instituições de ensino, na modalidade virtual essa demanda continua acontecendo pelo órgão, perdendo somente para os casos de conflitos familiares. “Em âmbito municipal, é preciso buscar os materiais e devolvê-los na escola. Já nos colégios estaduais é preciso acompanhar as aulas on-line. Quando os alunos não fazem isso somos acionados pela escola e fazemos uma intermediação junto aos pais, verificando o que está acontecendo”, explica o coordenador.

Segundo ele, ocorrem muitas orientações no que diz respeito à evasão escolar. “Mesmo na modalidade on-line ou com atividades remotas há faltas e descontos para quem não participa. Há possibilidade de perder o ano se as crianças deixarem de realizar as atividades”, frisa.

 

AGLOMERAÇÕES

Outros atendimentos pontuais e em menor quantidade continuam acontecendo por parte do CT rondonense. “Acompanhamos casos de agressão na UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Somos requisitados também por parte da Polícia Militar em casos de aglomeração de pessoas envolvendo crianças e adolescentes. Verificamos o que ocorreu, procuramos pais ou responsáveis e damos sequência nos encaminhamentos”, expõe.

 

PROBLEMAS FRONTEIRIÇOS

Tasso revela que, por Marechal Rondon estar em área de fronteira, são frequentes os atendimentos envolvendo menores e o transporte de ilícitos. “Nossas forças de segurança realizam as apreensões e nos acionam quando há menores envolvidos. Cabe ao Conselho localizar os pais do menor e, caso não dê, encaminhar à cidade de origem”, salienta.

 

INFLUÊNCIAS DA PANDEMIA

Conforme recente reportagem de O Presente, Marechal Rondon registrou crescimento no número de casos de violência contra a mulher durante a pandemia, em grande parte em ambientes domésticos. Como consequência do isolamento social, todo o ambiente familiar é atingido pela problemática e a violência pode se expandir para crianças e adolescentes. “O convívio intensificado acaba gerando conflitos em todos os sentidos, principalmente nas casas. As pessoas ficam mais tempo juntas do que eram acostumadas e aí começam as divergências familiares. É algo recorrente e que tem aumentado. Pais e mães entram em conflito e o filho sofre com isso, seja com violência física, emocional ou psicológica”, evidencia Tasso, emendando: “Além disso, aumentou a frequência e a quantidade de ingestão de bebidas alcoólicas e entorpecentes nas família, o que agrava a situação nas residências, podendo resultar em casos de agressão”.

O conselheiro diz que a pandemia também ocasionou um crescimento no número de casais se separando, o que resulta na negociação da guarda dos filhos. “Se for ver, o índice de separação de casais aumentou bastante. É uma cadeia que acaba gerando problemas para os filhos. Orientamos os casais e, às vezes, é pouca coisa e conseguimos resolver na conversa. A questão prioritária é entrar em consenso sobre a guarda da criança. A partir do momento que não há concordância, o caso vai para a Justiça e não cabe mais a nós”, destaca.

 

RENDA COMPROMETIDA

Outra consequência da pandemia de coronavírus é o aumento da tensão entre pais e filhos em decorrência de problemas financeiros, haja vista que demissões se intensificaram neste período. “Esse é um agravante com grande presença em Marechal Rondon, mas temos muitas entidades que ajudam as famílias nos momentos dificultosos, e esse apoio faz diferença”, enfatiza.

O que acontece, segundo Tasso, é o aumento da pressão e insegurança no núcleo familiar. “Passamos por um momento difícil e todo mundo está tenso, ninguém sabe o que vai acontecer e dificuldades surgem a cada momento. Nem todas as pessoas conseguem ter calma e controle para lidar com a situação, o que reflete em problemas de convivência”, aponta.

 

ATENDIMENTO NORMAL

O Conselho Tutelar do município rondonense está atendendo normalmente, tanto pelos disques 100 ou 181 como pelo telefone fixo (45) 3254 2273 e celular de plantão (45) 99935-2136, 24 horas por dia. “Reforço uma de nossas bandeiras: o combate à pedofilia. Caso as pessoas saibam de alguma coisa, denunciem que vamos atrás. Essas situações violadoras de direitos são inadmissíveis. Levamos a sério cada denúncia e verificamos todas elas”, garante.

 

O Presente

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