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Marechal Entrevista ao O Presente

Copagril projeta dobrar produção de frango e entrar no mundo da piscicultura

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Diretor-presidente da Copagril, Ricardo Chapla: “A produção de peixe sempre está no nosso radar. Aliás, até já temos área disponível para construir um abatedouro futuramente, mas não temos prazo definido. E automaticamente, se vai aumentar a produção de carnes, vamos precisar aumentar as indústrias de produção de ração” (Foto: Joni Lang/OP)

Os planos da Copagril para os próximos anos são audaciosos. A cooperativa com sede em Marechal Cândido Rondon e atuação na região Oeste do Paraná e Sul do Mato Grosso do Sul chega aos seus 50 anos em 2020 com propostas pra lá de ousadas. Começar a produção de peixes e duplicar a produção de carne de frango são algumas delas.

Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente, o diretor-presidente, Ricardo Chapla, falou do novo ambiente político no Brasil, da recuperação do agronegócio em 2019, destacou mudanças no modelo de gestão da Copagril e revelou os planos da cooperativa para os próximos anos. “Chegamos em um dos melhores finais de ano para o agronegócio no Brasil”, destacou. Confira.

 

O Presente (OP): Qual balanço o senhor faz de 2019, tanto do agronegócio como da Copagril?

Ricardo Chapla (RC): Podemos dizer que estamos chegando em um dos melhores finais de ano para o agronegócio no Brasil. O ano passado foi difícil, especialmente para quem tem a parte pecuária, como nós temos. Infelizmente, na nossa área de atuação, Paraná e Mato Grosso do Sul, tivemos uma perda muito grande na safra de verão, perdemos a metade. E isso, evidentemente, faz falta para todos, para o produtor e para a cooperativa. É um faturamento que você poderia ter e não teve, mas, mesmo assim, nós vamos fechar o ano com um faturamento maior do que o ano passado e com um resultado muito melhor. Isso é muito importante para nós. Iniciamos 2019 com a mudança de governo. A gente tinha expectativas, mas não sabia o que iria acontecer. Havia receio, mas podemos dizer que estamos chegando ao final do ano com um dos melhores resultados para o agronegócio e para a cooperativa.

 

OP: A que o senhor atribui esses resultados tão positivos?

RC: Vários fatores têm proporcionado no mínimo manter o faturamento e até crescer. Nós participamos mais do mercado, e a Copagril, dentro de seus negócios, teve crescimento. Outra parte que também proporcionou isso é a evolução do preço das carnes. Como trabalhamos com um volume grande de carne de frango e temos produção de suínos, isso nos ajudou na evolução do faturamento. São dois fatores que nos ajudaram. Estamos felizes porque nós, queira ou não queira, crescemos dentro de todos os negócios que a Copagril tem. As atividades tiveram um crescimento dentro do mercado como um todo.

 

OP: O que a China tem a ver com essa evolução?

RC: A China tem muito a ver. A gente, como ser humano, não quer que ninguém tenha nenhum tipo de desgraça, mas o que aconteceu na China para nós foi muito benéfico. Eles tiveram uma perda muito grande na produção de suínos com doenças que eliminaram um volume elevado de animais (40% do rebanho). A China sozinha produz e consome a metade ou mais dos suínos do mundo. Eles tiveram essa infelicidade da peste suína africana, o que provocou uma corrida maior para eles poderem se abastecer com carne, especialmente carne suína, mas de frango também. Hoje está saindo um volume maior de frango do Brasil para a China, e com preços melhores. Esse, eu diria, é o principal fator da mexida (no preço) das carnes, o fator China, isso é o que influenciou.

 

OP: Atualmente, a Copagril comercializa seus produtos principalmente para qual país?

RC: Hoje, na parte de carne de frango, nós exportamos o maior volume para China e Japão. Enviamos carne também para outros inúmeros países, mas são compras menores. Os mais significativos são esses dois.

 

OP: A Copagril planeja aumentar o plantel de suínos devido à implantação da nova indústria da Frimesa de abate de suínos em Assis Chateaubriand?

RC: Como 2018 foi um ano muito ruim, tivemos que segurar o planejamento, tanto é que também foi segurado o investimento (na planta industrial), mas agora as projeções que temos é de que vai se retomar o investimento no início do ano que vem por parte da Frimesa. Automaticamente, estamos retomando o crescimento da nossa suinocultura. Então, vamos ter, sim, oportunidades para produtores que já são iniciadores e que querem ampliar. Alguns já estão com projetos, alguns já estão em andamento. Tendo mais leitões, vão vir oportunidades para investimento em crechários e terminação. Hoje, nosso sistema tem pouco mais de 300 associados que estão envolvidos na suinocultura.

 

OP: E a ideia é chegar a quanto?

RC: Em número de produtores e associados nós não temos uma estimativa, mas em número de produção sim, porque muitos dos que estão hoje vão ampliar, mas, claro, terão oportunidades para novos também, sempre atendendo à avaliação e aos critérios que nós temos. Mas isso envolve várias questões. Cada produtor tem sua maneira, seu jeito e sua capacidade de investimento. Tudo isso tem que ser levado em consideração, mas nós já estamos bem adiantados.

 

OP: A Copagril tem promovido uma reestruturação nas equipes e no modelo de gestão, fatores que, inclusive, repercutiram na comunidade. Há que se devem tais mudanças?

RC: Nós somos uma grande empresa, fazemos muitas atividades, lidamos com produções, industrializações, varejo, enfim. E é evidente que precisamos inovar, buscar caminhos diferentes, inclusive na gestão. A gestão que se tinha há alguns anos servia, mas hoje já não serve, temos de modificá-la. O próprio mercado impõe isso. Nós nunca desprezamos nem vamos desprezar ninguém que tenha feito parte da Copagril, mas começamos e estamos dentro desse processo (mudança nas equipes) desde o ano passado e ainda não terminamos. Às vezes não é tão fácil trabalhar a cabeça das pessoas. Algumas se adaptam e aceitam as mudanças, mas outras não, e isso é natural do ser humano. Nos últimos anos nós visitamos muitas universidades no mundo, onde observamos e buscamos ideias do que está vindo pela frente. A velocidade das mudanças está cada vez maior e vai acontecer, independente se as pessoas querem ou não. Como grande empresa que somos, precisamos estar atentos. Temos mudanças muito significativas dentro da empresa, mas sempre olhando para ela ser inovadora e competitiva dentro do mercado.

 

OP: Em setembro a Copagril adquiriu a Sperafico Agroindustrial, indústria de óleo de soja com sede em Marechal Rondon. Quais os planos para essa unidade?

RC: Eu gostaria de não falar sobre esse assunto ainda, pois estamos tramitando com o processo judiciário. Não temos nada claro ainda, por isso não nos pronunciamos, mas quem sabe na semana que vem já poderemos falar sobre esse assunto. O que podemos dizer é que a Copagril arrematou a indústria no leilão e o processo está na mão do Judiciário.

 

OP: E as perspectivas para 2020?

RC: A perspectiva para o ano que vem é totalmente diferente do que foi, por exemplo, de 2018 para 2019. Estamos otimistas que vamos iniciar 2020 de maneira diferente. Estamos esperando muitas coisas positivas em termos de ajustes no nosso país. Consequentemente, há possibilidade de termos crescimento da economia, e isso mexe nos investimentos. Este ano iniciamos meio desconfiados, esperando o que iria acontecer, mas agora podemos dizer que chegamos no final do ano com resultados bons e muito otimismo para 2020.

 

OP: Quais os projetos e investimentos da Copagril para os próximos anos?

RC: Sempre vai ter investimento, não tem como parar. Às vezes se acelera mais ou menos, com investimentos maiores ou menores. Quando a maioria deles é pequeno, as pessoas muitas vezes nem percebem, mas nós temos projeções para os próximos anos de investimentos bastantes significativos, bastante altos. No ano que vem haverá investimentos mais pontuais, deve ter algo no frigorífico, temos que investir na ampliação de alguns setores lá. Devemos colocar em funcionamento um novo supermercado em Eldorado, no Mato Grosso do Sul, talvez até antes da Páscoa. Há outros investimentos menores, mas são coisas essenciais, como substituição de equipamentos, modernização de alguma unidade de recebimento de grãos. Falando em mais prazo, sem ser prazo determinado, temos coisas grandes. A Copagril tem projeção de dobrar ou mais do que dobrar o frigorífico de aves. Essa é uma projeção para os próximos anos. Nós não estipulamos prazos, vai depender de várias coisas, mas isso é certo que vai ter. Temos a ideia de desativar uma unidade de recebimento e construir uma nova, dentro de sua área de atuação, por questões de logística, de funcionabilidade, questões de licenciamento. Isso tudo está dentro da nossa projeção para os próximos anos. Em Rondon, os dois supermercados serão ampliados. Queremos aumentar o número de clientes, apesar de estarmos muito felizes com a clientela que nós temos. Temos também, nas atividades de suinocultura, a precisão de crescer na produção, junto com nosso associado. Estamos em pleno projeto de ampliação da unidade de recebimento de Oliveira Castro (Guaíra), por exemplo, na secagem, especialmente de milho. Temos várias unidades também projetadas para os próximos anos e vamos modernizar as que já temos. Todos os anos a Copagril vai ter vários milhões de investimentos. A hora em que nós implementarmos efetivamente nosso projeto de duplicação do nosso abatedouro – falamos duplicação, mas vai ser mais do que isso -, haverá mais oportunidades para os associados e produtores que queiram ter uma atividade a mais ou para aqueles que já têm, ampliar. Aí teremos novos investimentos em aviários e assim por diante. Uma coisa puxa a outra, e nós precisamos ter a industrialização para poder propiciar essa oportunidade para os associados. Temos projeções muito grandes para os próximos anos, mas não estipulamos prazos, porque são vários fatores que levamos em conta. Nós temos vários interesses em parcerias que, no futuro, podem acontecer. Precisamos estar atentos ao mercado como um todo e dentro das possibilidades que alguns setores podem nos oferecer.

 

OP: Isso diz respeito à produção de peixes, de filé de tilápia?

RC: Peixe não está descartado, sempre está no nosso radar. Aliás, até já temos área disponível para isso, se for o caso, ao lado do que nós temos hoje o abatedouro de aves.

 

OP: Área para uma planta de abate de peixes?

RC: Sim. Para construir o abatedouro futuramente, mas não temos definido o prazo. E automaticamente, se vai aumentar a produção de carnes, nós precisamos aumentar as indústrias de produção de ração.

 

OP: Recentemente foi anunciado o encerramento das atividades da Copagril Futsal. Por que desta decisão?

RC: O projeto futsal quando nasceu tinha uma finalidade e podemos dizer que ele cumpriu a finalidade que tinha. A Copagril definiu por parar com o futsal profissional e focar na AACC, onde temos crianças que estão em diversas escolinhas. No ano que vem pretendemos aumentar a atenção a essas crianças, a esses projetos. Nós sentimos que muitas crianças não teriam oportunidade nenhuma sem esses projetos, e hoje elas estão lá. O futsal profissional, na nossa avaliação e decisão final, cumpriu aquilo para que foi criado na época. Isso não quer dizer que não pode ser retomado, mas no ano que vem não. No ano que vem a Copagril vai completar 50 anos de fundação e funcionamento e queremos ter ações voltadas mais diretamente ao quadro social, ao quadro funcional, clientes e a essas milhares de crianças. O foco da Copagril vai ser esse.

 

OP: A decisão de encerrar as atividades do futsal foi para colocar mais recursos financeiros e de pessoal nas escolinhas e outras atividades sociais dos 50 anos ou o futsal, que é um ramo de atuação totalmente diferente da cooperativa, tem gestão e custos complicados?

RC: Na verdade o futsal não é o negócio da Copagril, e nós queremos focar mais nos negócios da Copagril. Nada contra. Se alguém em Rondon quiser montar uma equipe, vai ter o apoio da Copagril, mas a gestão do futsal não é tão simples assim. Isso acabava tirando o foco de muitas pessoas da cooperativa. Gostamos muito de futsal, futebol ou voleibol, enfim, eu particularmente gosto de esporte. A cooperativa é uma sociedade de pessoas que preza o bem-estar das pessoas, então sempre vai ter o nosso apoio, como tem hoje. Às vezes as pessoas nem sabem, mas a Copagril ajuda a ginástica rítmica, ajuda voleibol, ajuda basquetebol, ajuda várias outras modalidades, além daquelas que estão na AACC. O futsal nos deu alegrias, e alguns momentos de não tanta alegria (risadas), mas é normal. O futsal não é o negócio da Copagril. Então, nós vamos focar estrategicamente nos negócios da Copagril, mas nada contra o futsal nem contra nenhum profissional.

 

OP: Como líder cooperativista, que está sempre envolvido em eventos importantes e viajando para vários países, como o senhor avalia o governo federal hoje? O Brasil está no caminho certo? Podemos esperar grandes melhorias na economia?

RC: A linha do governo, na nossa opinião, é a correta, observando com o que temos visto em outros países do mundo. O Brasil é talvez um dos países mais ricos do mundo em questões naturais, mas é pobre. Então tem coisa errada. A gestão pública brasileira é muito ruim, muito fraca, mas agora pegou uma nova linha. Há muitos anos se implantou, na verdade, um socialismo, e isso em lugar nenhum no mundo serve. Precisamos valorizar o capital, porque as pessoas dizem que não têm emprego, mas só vai ter emprego se alguém tiver capital, investir e gerar emprego. O Poder Público virou um inchaço. Há muitas pessoas que vivem sem trabalhar, com bons salários, e outros trabalham muito pouco. Na nossa avaliação, temos a melhor equipe de ministros dos últimos anos. São pessoas qualificadas e que não têm, digamos assim, conchavos ou interesses políticos. Por outro lado, infelizmente, temos um Congresso que trava muito. Se nosso Congresso não fosse travar todas as vezes que trava, o país já estaria bem mais avançado. Achamos que a população brasileira, na grande maioria, vai cada vez mais pressionar e os congressistas terão de rever sua forma de agir. Tem muito congressista que ainda hoje não percebeu que a população quer mudança. Aquela velha política tem que acabar, temos que ter uma visão diferente das coisas. Nós, como contribuintes, estamos cansados de pagar cada vez mais impostos. Em primeiro lugar, tem que enxugar a máquina pública, de cima até embaixo. Essa estrutura leva a custos demasiados e não sobra dinheiro para investimento. Se nós tivéssemos uma estrutura mais enxuta, sobraria dinheiro para investir. E se o Poder Público investir, o privado também investe. Um problema é o Judiciário se envolvendo (no governo), querendo legislar, o que está errado. Hoje os ministros (do STF) têm uma opinião, amanhã têm outra. Prende um dia, solta depois. E aí o negócio é realmente complicado. Temos que querer produzir, querer evoluir em todos os sentidos. A parte privada está fazendo sua parte. O Poder Público age em algumas situações, em outras não; precisa evoluir. Felizmente, estamos vendo que esse ano, com os novos governos em nível federal e estadual, está havendo coisas muito positivas com esses dirigentes, que têm uma cabeça um pouco diferente do que governantes tinham no passado recente. A gente espera que realmente nós possamos superar as dificuldades. O Brasil está no caminho certo.

 

Diretor-presidente da Copagril, Ricardo Chapla, em visita ao O Presente: “Nós nunca desprezamos nem vamos desprezar ninguém que tenha feito parte da Copagril, mas começamos e estamos dentro desse processo (mudança nas equipes) desde o ano passado e ainda não terminamos” (Foto: Joni Lang/OP)

 

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