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Marechal Queda no consumo

Crise na saúde começa a preocupar cadeia do leite

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(Foto: Sandro Mesquita/OP)

A quase estagnação da economia brasileira, principalmente no último mês, causada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19), acendeu o sinal de alerta para a bovinocultura de leite em toda a região Oeste do Paraná.

Algumas medidas de prevenção à doença, como isolamento social e o fechamento de boa parte do comércio, comprometeram as vendas de produtos alimentícios, o que já começou a afetar todo o setor leiteiro.

Em uma das pontas, o produtor rural, preocupado com o preço e o destino da produção. No meio a indústria, que vê o aumento contínuo dos estoques. E na outra extremidade o varejo, supermercados e mercearias que perceberam o consumidor mais receoso, levando para casa apenas o essencial.

Segundo o presidente da Cooperativa Agroindustrial Leite Oeste (CooperMilch), produtor Alceu Bergmann, o problema está sendo sentido direta e indiretamente. “Muitos supermercados venderam menos, empresas, comércios, bares e restaurantes foram fechados e atenderam menos a população”, comenta, acrescentando que isso diminuiu o consumo principalmente de lácteos refrigerados, como queijos, que correspondem por mais de 30% da alocação do leite nas indústrias.

De acordo com Bergmann, antes mesmo da pandemia algumas indústrias apresentavam dificuldades, pois não podiam aumentar o valor do leite e seus derivados por conta da baixa no poder de compra da maior parte população. “Quando sobe um pouco o preço o consumidor acaba não levando além do essencial. Não compra derivados, como queijo e iogurte”, menciona.

O diretor executivo da Frimesa, Elias José Zydek, diz que a situação piorou com a paralisia do mercado causada pelo fechamento de estabelecimentos comerciais e o isolamento das pessoas por conta da pandemia. “Principalmente o que era consumido em restaurantes e lanchonetes, que praticamente teve o consumo paralisado. Este é o maior problema na cadeia do leite”, salienta.

Conforme Zydek, a margem do lucro da rede varejista, ou seja, supermercados e afins, é muito alta. Na opinião dele, seria necessário o varejo diminuir sua margem, principalmente em época de crise, para que não só o produtor e as indústrias arcassem com o prejuízo que a crise vem causando. “Preços menores possibilitariam um consumo maior”, aponta.

 

CUSTOS DE PRODUÇÃO

Além da preocupação com a comercialização, os produtores de leite também precisam ficar atentos à elevação do custo de produção.

Segundo Bergmann, houve aumento considerável inclusive nos preços dos medicamentos usados nos animais. “Muitos produtores saíram da atividade nesse momento devido aos custos que deixam a atividade não mais rentável. A conta não fecha, encarece demais e alguns produtores com altos investimentos reduzem, acabam secando animais com seis meses de prenhez. Ao invés de ordenhar mais um mês, o animal de baixa produção vai para o abate, pois geralmente quem produz menos tem um escore corporal maior”, explica.

O presidente da CooperMilch comenta que os produtores estão receosos em relação ao preço do milho usado para fazer silagem. Ele lembra que muitos produtores aumentaram o plantel de animais nas propriedades porque havia comida suficiente. “Os produtores vinham com um rebanho altíssimo na propriedade e cinco ou seis anos com boa produção de milho safrinha na região”, enaltece.

Para Zydek, o maior desafio dos produtores neste momento é tentar baixar o custo da produção para driblar a crise. “Tentar baixar ao máximo possível o custo da produção, mesmo que isso implique em redução do volume produtivo, até que essa crise passe. Quem sabe, oferecendo menos alimentos concentrados como rações e complementos”, sugere.

É claro que as despesas dos produtores não se resumem somente à ração dos animais. As contas costumam não fechar quando outras despesas são somadas, como a energia elétrica, (principalmente para produtores que têm os animais confinados), mão de obra, minerais, produtos farmacêuticos, diesel, doses de sêmen e por aí vai.

 

ESTIAGEM

Outra preocupação dos produtores de leite é com a estiagem. A falta de chuva após o plantio do milho safrinha provocou o crescimento desuniforme da lavoura, o que deve impactar na qualidade e no preço do milho usado na silagem.

De acordo Bergmann, com a possível redução da produção do milho safrinha, o preço do milho deve aumentar e, consequentemente, o custo da produção. “O milho foi plantado em janeiro e pegou bem o momento de estiagem na florada, mas, vamos ver o que vai acontecer”, salienta.

Para o presidente do Sindicato Rural Patronal de Marechal Cândido Rondon, agropecuarista Edio Chapla, este ano está se mostrando bastante atípico para o produtor de leite no que diz respeito à produção de volumoso, tanto como silagem (milho), bem como feno e também aos produtores que fazem o manejo de pastoreio rotativo divididos em piquetes.

Na ensilagem de planta inteira de milho, o produtor talvez tomou a decisão de fazer menos forragem do milho verão safra 2019/2020 por causa do preço do milho estar muito valorizado no mercado. “O produtor quis aproveitar o preço. Agora começa a se preocupar, pois muitas áreas de milho segunda safra sofreram a estiagem, diminuindo o porte da planta e consequentemente o volume de massa para ensilar”, enfatiza.

Segundo Chapla, além de atrasar o plantio do milho safrinha, a falta de chuva também prejudicou a produção de feno, já afetada pelas altas temperaturas. “O déficit hídrico nos seus ciclos, em algumas áreas, chegou a 40%”, menciona.

 

REFLEXOS AOS PRODUTORES

O cenário desfavorável reflete no produtor de leite, que já enfrenta dificuldade para receber pela produção dentro do prazo. “Algumas empresas já estão com dificuldades no pagamento na nossa região. Tem produtores sem receber o pagamento do mês de março. São exceções, mas tem”, conta o presidente da CooperMilch.

“Estamos vendo muitas empresas atrasando o pagamento do leite, ou pedindo prorrogação do prazo, o que causa uma grande preocupação para os produtores”, reforça Zydek.

Conforme ele, no sistema cooperativista, essa situação não aconteceu. “As cooperativas ainda estão conseguindo manter os pagamentos em dia aos produtores”, afirma.

De acordo com Bergmann, a grande dúvida do produtor nesse momento é se a indústria continuará fazendo a recolha do leite nas propriedades. “Algumas empresas já falam que depois do dia 20 provavelmente vão suspender a coleta caso as vendas de queijo e leite longa vida não cresçam”, revela. “É cedo para avaliar, mas sérios problemas podem vir por aí”, amplia.

 

PROJEÇÕES

Fazer qualquer projeção para o futuro relacionada à cadeia leiteira é difícil, diante de tantas incertezas que o mercado encontra, destaca Chapla. Na visão dele, o desafio do produtor é bem complexo, pois precisa achar um equilíbrio na receita da produção, com as despesas, que apresentam custos elevados. E o preço do leite, frisa, não acompanha as altas destes itens. “Temos os custos elevados no que diz respeito à produção de forrageiras como o milho e o farelo de soja, os quais fazem parte da formulação das rações”, aponta.

Segundo Chapla, o setor leiteiro, assim como outros setores da alimentação, são voláteis. “Nós não sabemos o que está por vir. Falando de leite, às vezes temos as informações de uma forma e amanhã ou depois a coisa difere. O mercado varia muito, piora e melhora muito, dependendo do consumidor”, observa.

O presidente da CooperMilch está otimista quando se trata de projeções futuras para a cadeia da bovinocultura leiteira. “O produtor sempre vai produzir leite. É tradicional, o bastão passa de pai para filho nas propriedades e o filho vai continuar na atividade. Já tem as instalações, o plantel de animal está pronto”, opina o produtor.

Ele considera que todos os setores da economia passam por dificuldades e o leite tem vantagem de ser um produto praticamente de primeira necessidade. “O consumo não para, principalmente as crianças, que são grandes consumidoras, e não há o que substitua”, evidencia Bergmann.

Zydek faz uma previsão não muito otimista para os meses de abril e maio em função do baixo consumo e principalmente por causa do confinamento das pessoas, se porventura esta situação persistir. “Temos que apertar o cinto, baixar custo de produção e tentar todos juntos na cadeia produtiva, atravessar essa fase que é bastante difícil”, considera.

Ele diz que felizmente a pandemia do novo coronavírus não durará para sempre. “Conforme vai diminuindo, principalmente o apavoramento da população e voltando ao normal, certamente teremos a recuperação do consumo, mas temos a certeza que ela será lenta”, prevê o diretor executivo da Frimesa.

 

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