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Marechal Tumor ósseo

Do drama do diagnóstico à batalha pela cura, rondonense fala sobre apoio ao filho na luta contra o câncer

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(Foto: Divulgação)

Pular, brincar e explorar o mundo ao seu redor é o sonho de todas as crianças. E assim era com Lucca Geib Prass, um rondonense bastante ativo e serelepe, que aos nove anos descobriu uma doença que alterou completamente a sua vida e a rotina de toda a sua família.

“O Lucca sempre foi uma criança extremamente ativa. Brincava, andava de bicicleta, corria, nadava no rio. Pode-se dizer que usou e abusou do corpo. Era uma criança de muita força. Enfatizo isso porque a partir do primeiro contato que tivemos com a oncologista, ele foi para uma cadeira de rodas”, conta a professora Débora Simone Geib, mãe de Lucca, que em abril do ano passado foi diagnosticado com osteossarcoma, um tumor ósseo maligno que normalmente acomete os ossos longos, das pernas e braços, mas pode aparecer em qualquer outro osso do corpo.

Em alusão ao Dia Internacional de Combate ao Câncer Infantil, lembrado na última terça-feira, 15 de fevereiro, Débora deu seu depoimento ao Jornal O Presente para falar da batalha que travou ao lado do filho. “É um câncer maligno que pode ocasionar metástase se a criança sofrer alguma fratura. A cadeira de rodas é justamente para evitar isso, tendo em vista que há casos em que a criança sofre uma fratura em um simples descer da cama”, conta.

O que chama atenção é que apesar de Lucca ter sido bastante ativo, antes de descobrir o câncer ele não apresentou fratura. “Ele brincava demais e se queixava de dores pelo menos umas três vezes por mês, mas ainda assim continuava brincando e correndo. Sempre achei que fosse por causa de algum tombo ou batida”, relembra Débora.

Até que um dia o rendimento de Lucca baixou. Ele não era mais o mesmo. “A gente andava de bicicleta ou saía para caminhar e ele mancava ou pedia para voltar porque estava com a perna doendo. Ele não estava mais dando conta de realizar atividades que antes fazia em dobro”, relata.

Diante da situação, Débora marcou uma consulta. O médico, contudo, avaliou se tratar de uma dor do crescimento, já que Lucca era uma criança alta para a sua idade. Foi realizado um raio-x, que não diagnosticou nenhuma alteração.

 

A descoberta

Na época, Débora fazia um curso de massagem e usava o filho de cobaia. Certa vez, ela percebeu inchaço no joelho de Lucca e agendou consulta com um ortopedista, que pediu uma ressonância. Desta vez, foi observada uma alteração. “Lucca fez o exame na parte da manhã e às 14 horas meu telefone tocou, quando eu estava no trabalho. Era a secretária do ortopedista falando que o médico precisava falar comigo e gostaria que o pai estivesse junto”, recorda.

Na conversa, nas palavras da professora, o médico “tirou o mundo dos meus pés”. “A conversa foi tensa, difícil. Fiquei assustada e sem chão”, resume, que agradeceu a sinceridade e as orientações do médico. “Eu preciso que você saia daqui e vá procurar um oncologista. Você não tem tempo de ir para casa e pensar o que precisa ser feito”, foram estas as palavras exatas, comenta a rondonense.

Desnorteada, naquela semana Débora teve que contar com pessoas de confiança para pensarem por ela e tomarem algumas decisões. “Uma amiga da área da saúde me orientou, deu dicas e clareou algumas resoluções. Os meus amigos apareceram na hora difícil. Muitas pessoas ajudaram e me deram apoio. Até hoje passam na minha casa ou, quando não, mandam mensagens perguntando como estamos”, comenta.

 

O tratamento

De acordo com o Ministério da Saúde, o tratamento do câncer em uma criança leva uma média de seis meses a dois anos, dependendo do tipo de doença. A partir daí, começa a fase de controle, que dura em torno de cinco anos. No caso do Lucca, o osteossarcoma precisa de um protocolo longo de quimioterapia. Ao todo, são 18 ciclos em que o paciente fica internado no hospital. Ele já fez 15 sessões. “Desde abril de 2021, ele fica internado a cada 14 ou 21 dias, a depender dos exames, da imunidade, do fígado e de como o corpo reage e aguenta a medicação”, expõe Débora.

E novamente Lucca se mostra o menino forte que sempre foi. “Em nenhum momento ele caiu. Tenho certeza que Deus está conosco nesta caminhada. Tenho minha espiritualidade e Ele se mostrou muito presente desde o primeiro momento. A imagem que tenho quando estou arrumando as malas para ir ao hospital é que eu carrego a mala numa mão enquanto seguro a mão do Lucca com a outra. E do outro lado está Deus segurando a mão dele, indo conosco para mais um internamento”, ressalta a mãe, que segue a linha sistêmica e busca amparo também na medicina alternativa. “Faço técnicas de terapia e acredito que contribuem para deixar ele bem”, avalia.

Lucca descobriu um osteossarcoma (tumor ósseo) no ano passado e desde então faz tratamento na União Oeste Paranaense de Estudos e Combate ao Câncer (Uopeccan) – Hospital do Câncer de Cascavel (Foto: Divulgação)

 

Amor de mãe

Débora é professora e trabalhava o dia inteiro. No entanto, a partir do dia do diagnóstico do filho não retornou mais para a escola. “Estou afastada desde estão. Encaminhei um atestado o qual explica que não tenho condições de estar numa sala de aula”, aponta.

Ela não tem dúvidas de que o amor incondicional de mãe é responsável pelo desempenho positivo no tratamento de Lucca. “É essencial a mãe estar presente. Eu tenho certeza que este meu acompanhamento tão de perto influenciou nas respostas positivas ao tratamento”, acredita.

Fora da sala de aula, Débora se define, agora, como uma mãe dona de casa. “Tive que aprender, pois sempre me dediquei muito ao trabalho e tudo mudou de uma hora para a outra a partir de uma situação totalmente delicada”, salienta, acrescentando que se vê executando muito bem este papel.

A rotina de Lucca é bem regrada. Em casa a alimentação é balanceada, os horários dos remédios são seguidos à risca, assim como a quantidade de água a ser ingerida. “A higiene e a limpeza da casa também são altamente cautelosas. Lucca é suscetível a pegar qualquer infecção, então tudo o que entra aqui em casa é higienizado antes”, menciona.

Com saudades da sala de aula, Débora se vê retornando à atividade profissional. “As médicas já estão sinalizando a necessidade de eu retornar e do Lucca voltar para a escola. A hora que eu precisei parar eu parei e agora é a hora de retornar. Vou exonerar um concurso público para abrir a minha própria escola de contraturno. É uma opção que me fará ficar mais próxima do meu filho. É uma necessidade de mudar o meu profissional para estar ao lado dele”, revela.

O pequeno rondonense passou de uma vida ativa para a cadeira de rodas: ele já fez 15 sessões de quimioterapia (Foto: Divulgação)

O sentimento

Medo, angústia, insegurança. É uma mistura de sentimentos, mas a maior é a tristeza. Ela conta que os primeiros 14 dias, após o diagnóstico, foram os mais difíceis. “Passei 14 dias chorando após o primeiro internamento. Daquele tempo eu recordo apenas flashes, de pedir colo para os meus pais de madrugada, pois era o único momento em que eu podia desabar. Na frente do Lucca eu precisava ser forte”, expõe.

Os dias foram passando e as conversas com a médica do rondonense amenizando a situação e tornando os sentimentos mais fáceis. “Eu entendi que precisava estar ao lado do meu filho e que ele estava bem. Quem estava sofrendo era eu. Assim passei a enfrentar a situação com outro discernimento”, enaltece.

A paciência também foi um aprendizado. “Eu queria resolver os problemas do mundo, mas as coisas não se resolvem do dia para a noite”, pontua a rondonense.

Após quase um ano de tratamento, ela conversou com as enfermeiras. “Falei que não sei mais viver sem elas, sem as famílias e tudo o que eu passei neste último ano. A tristeza se transformou em alegria”, relata.

O que vai ficar na mente dela agora são os sorrisos das crianças sempre tão seguras de que tudo vai ficar bem. “O mundo não sabe a força que uma criança tem. Elas são mais fortes do que nós imaginamos, mais que os adultos. Toda a tristeza e a angústia que eu sentia se transformaram em alegria, força e fé. O Lucca está bem, forte e tiramos muitas coisas boas dessas vivências e experiência”, enfatiza.

Débora Simone Geib com o filho Lucca: “Toda a tristeza e a angústia que eu sentia se transformaram em alegria, força e fé. O Lucca está bem e tiramos muitas coisas boas dessa experiência” (Foto: Divulgação)

 

Diagnóstico precoce é importante

O Instituto Nacional de Câncer (Inca), vinculado ao Ministério da Saúde, recebe a cada ano cerca de 250 casos novos de câncer pediátrico, cuja maior parte requer tratamento ambulatorial.

O câncer pediátrico é, hoje em dia, uma doença muito curável. Nos países com renda alta, mais de 80% das crianças com câncer vão ser curadas. No Brasil, o índice de cura oscila em torno de 75% e varia de acordo com a região do país.

A taxa é um pouco mais baixa do que nas nações desenvolvidas porque a maioria das crianças chega ao Inca com a doença mais avançada, o que interfere na possibilidade de diagnóstico mais cedo.

O câncer pediátrico tem maior incidência em meninos do que em meninas, mas ainda não foi identificada a razão.

O primeiro ano depois que termina o tratamento é o que apresenta maior risco de a doença voltar, mas, depois, à medida que vai passando o tempo, o risco vai diminuindo bem.

O Dia Internacional do Combate ao Câncer Infantil foi criado em 2002 pela Childhood Cancer International (CCI) e simboliza uma campanha global para conscientização da sociedade sobre o câncer infantil, visando externar apoio às crianças e adolescentes com câncer e suas famílias.

 

Estimativas

Para este ano, a estimativa do Inca é de cerca de 8,5 mil casos novos de câncer infantil no Brasil, sendo 4,3 mil do sexo masculino e 4,2 mil do sexo feminino.

O câncer mais frequente em crianças e jovens brasileiros é a leucemia, como ocorre em todo o mundo, seguido de tumores do sistema nervoso central e linfomas. Para cada tipo de câncer tem uma faixa etária de maior incidência. Por exemplo, as leucemias acometem mais crianças de um a quatro anos de idade, o mesmo acontecendo com os tumores do sistema nervoso central. Já os linfomas têm uma característica bimodal, com picos em crianças até quatro anos e adolescentes de 15 a 19 anos de idade.

Em relação ao retinoblastoma, tipo de câncer que afeta o sistema intraocular em crianças com idade entre dois e cinco anos, trata-se de um câncer raríssimo, afetando três crianças em cada um milhão.

O Ministério da Saúde ressalta também o neuroblastoma (tumor de células do sistema nervoso periférico, frequentemente de localização abdominal); tumor de Wilms (tipo de tumor renal); tumor germinativo (das células que originam os ovários e os testículos); osteossarcoma (tumor ósseo); e sarcomas (tumores de partes moles).

 

Sinais de alerta

Pais e responsáveis devem ficar atentos aos sinais de câncer infantil, porque o diagnóstico precoce é importante para aumentar a chance de cura do paciente. Em crianças e adolescentes, esse fator dobra de relevância, já que os tumores costumam crescer rapidamente devido às mutações celulares.

Alguns desses sintomas são perda de peso contínua incomum; dores de cabeça na parte da manhã, que podem ser seguidas de vômito; inchaço ou dor persistente nos ossos ou articulações; protuberância ou massa no corpo; aparência esbranquiçada na pupila do olho ou mudanças na visão; febres recorrentes sem causa aparente; hematomas e sangramentos frequentes; cansaço prolongado.

 

Morte

O câncer já representa a primeira causa de morte por doenças entre crianças e adolescentes de um a 19 anos de idade no país, cerca de 8% do total, informa o Ministério da Saúde, com base em dados do Inca.

O ministério adverte, no entanto, que com o tratamento adequado a maioria dos pacientes infantojuvenis terá boa qualidade de vida. Por isso, queixas das crianças ou sinais de anormalidade devem ser levados em consideração para avaliação de um profissional de saúde e para o diagnóstico precoce. Quanto mais cedo iniciar, maiores são as chances de cura.

 

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