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Marechal EJA

Educação de Jovens e Adultos tem resultados expressivos em Marechal Rondon

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(Foto: Sandro Mesquita/OP)

Com os documentos em mãos e muita disposição na busca pelo conhecimento, Ângela da Silva, de 41 anos, aguardava ansiosa para assinar sua matrícula no sistema público de ensino para retornar à sala de aula. “Pretendo voltar a estudar para ficar mais fácil arrumar um emprego”, revela a dona de casa.

Casada e mãe de dois filhos, Ângela se matriculou para cursar o Ensino Fundamental, após 15 anos longe da escola. “Uma amiga minha voltou a estudar e arrumou um bom emprego e isso me incentivou a voltar”, contou ao O Presente.

Ela comentou que a inspiração para o retorno à escola veio também da filha de 11 anos e do apoio do esposo. “A minha família apoia muito e isso foi importante para meu retorno”, resume.

Ângela integra um grupo de pessoas cientes de que nunca é tarde para perceber que a educação é a maneira mais concreta de transformação, tanto pessoal quanto profissional. Esses alunos fazem parte das turmas do programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Colégio Estadual Paulo Freire, em Marechal Cândido Rondon.

“Retornar para a escola é um despertar. Alguns despertam mais cedo, enquanto outros levam mais tempo para ver que a escola transforma”, destaca Ana Regina Schueigerti, diretora do colégio.

Além do ensino regular nos períodos da manhã e tarde, o Colégio Paulo Freire oferta Ensino Fundamental para alunos do EJA Fase II no período da tarde e à noite a escola atende exclusivamente alunos do EJA do Ensino Fundamental e Médio.

O colégio é o único com Ensino Fundamental no período noturno e atende 347 alunos do EJA, incluindo aqueles que frequentam as aulas em municípios vizinhos.

“Para fazer o EJA, o aluno precisa ter acima de 15 anos para o Ensino Fundamental e para o Médio acima de 18 anos”, menciona a diretora.

Segundo ela, durante a pandemia houve um crescimento no número de pessoas que querem se matricular no EJA. “A procura aumentou em função da possibilidade de fazerem as aulas de forma on-line”, relata.

A diretora ressalta a importância das ferramentas on-line no ensino, especialmente durante a pandemia, porém, salienta que a internet não consegue preencher todas as carências no aprendizado dos alunos. “Que é essa transformação, o contato social e aprender algumas questões que somente um ser humano pode proporcionar”, evidencia.

Atualmente as aulas acontecem de forma híbrida, com a divisão escalonada semanalmente, a exemplo do sistema regular de ensino. “O aluno pode optar pela forma mais adequada para ele, mas o que está se delineando pelo governo estadual é que as aulas sejam totalmente presenciais até o fim do ano”, revela Ana Regina.

Ângela da Silva, que se matriculou nesta semana para retornar à sala de aula: “Sem estudo, hoje em dia, não se consegue mais nada” (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

MATRÍCULAS

As matrículas para turmas do EJA no Colégio Paulo Freire estão abertas, mas o número de vagas está limitado. Ainda restam algumas vagas para os semestres 1 e 3, mas para os semestres 2 e 4 as vagas já foram quase todas preenchidas.

A diretora diz que o semestre ao qual o aluno será inserido é definido de acordo com a série que a pessoa fez no ensino regular. “Conforme a porcentagem de frequência dele na escola será o semestre que ele vai estudar. Se ele tiver o 6º e 7º completos, vai ser matriculado no 4º semestre”, explica.


Diretora do Colégio Estadual Paulo Freire, Ana Regina Schueigerti: “Retornar para a escola é um despertar. Alguns despertam mais cedo e outros levam um pouco mais de tempo para perceber que a educação transforma” (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

AVALIAÇÃO

Cada aluno carrega consigo uma particularidade a respeito dos motivos que o levaram a abandonar os estudos. São histórias de vida que não necessitam de julgamento, mas, sim, de um olhar atento dos professores e ouvidos abertos a escutar cada relato, cada circunstância de suas trajetórias.

“Os professores fazem um acolhimento para tentar compreender o que levou a pessoa a deixar a escola e mostrar o que é a escola hoje”, pontua a diretora.

Segundo ela, os educadores realizam um estudo através de atividades para fazer um nivelamento entre os alunos. “Isso é feito para compreender o que o aluno tem de conhecimento e o que ele precisa complementar”, expõe.

A diretora ressalta que pelo fato dos alunos do EJA serem pessoas com idades mais avançadas, eles trazem aprendizados de vida que precisam ser valorizados. “Partimos daquilo que o aluno já conhece, para então aprofundarmos e darmos os caminhos pra eles”, salienta.

 

DESISTÊNCIAS

A evasão escolar sempre foi um dos principais problemas para o sistema público de ensino em todo o Brasil.

No ensino regular o abandono escolar está quase sempre associado ao descaso de algumas famílias em relação ao acompanhamento do aprendizado dos filhos. No entanto, dentro do EJA essas pessoas não são mais adolescentes. Todas, ou a grande maioria, têm trabalho, afazeres diários e a responsabilidade de pôr na mesa a refeição da família.

De acordo com a diretora do Colégio Paulo Freire, em muitos casos, as prioridades sociais são outras e a educação acaba ficando em segundo plano. “Na maioria das vezes esse é o principal motivo de desistência dos alunos. Se a pessoa tiver que optar entre sustentar sua família ou estudar, é claro que a maioria opta pelo sustento”, frisa.

 

NOVO MODELO

De acordo com Ana Regina, uma nova matriz curricular está em fase de adequação nas escolas estaduais, a qual determina que o Ensino Fundamental seja concluído em dois anos. “As disciplinas foram divididas em quatro semestres, ou seja, em dois anos o aluno conclui até o 9º ano”, informa.

Com a mudança na matriz curricular, ela comenta que o Ensino Médio será concluído em três semestres. “Estamos com a primeira turma dessa nova matriz que começou esse mês”, aponta.

 

EJA FASE I

Para muitos alunos que desejam retomar os estudos, o caminho para o reinício começa na Escola Municipal Bento Munhoz da Rocha Neto, em Marechal Rondon. A instituição de ensino atende alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no município, etapa que abrange do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental.

Segundo a coordenadora do EJA Fase I, Margareth Béttega, atualmente a escola atende 104 alunos do EJA e as matrículas para o segundo semestre estão abertas. “Estamos no processo de abertura de turmas e os alunos podem vir a qualquer momento para fazer a matrícula”, expõe.

A diretora da Escola Bento Munhoz da Rocha Neto, Cerleny Smaniotto, acredita que a pandemia afastou os alunos que ainda têm receio de voltar para a sala de aula devido ao medo da doença. “Em época de pandemia, estamos na busca por alunos, pois assim como os pais dos pequenos têm medo de mandar os filhos para a escola, eles também têm medo de frequentar as salas de aula”, considera.

A diretora ressalta a importância de todos os cuidados relacionados à prevenção, como higienização, distanciamento e uso de máscara na escola. “A maioria dos alunos (do EJA) já tomou a primeira dose da vacina e agora, com a segunda dose, acredito que muitos devem retornar”, opina.

Diretora da Escola Bento Munhoz da Rocha, Cerleny Smaniotto: “Atualmente, o EJA Fase I conta com duas turmas na Escola Bento Munhoz da Rocha Neto e quatro Ações Pedagógicas Descentralizadas (APEDs) nas escolas municipais” (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

QUALIFICAÇÃO

A ascensão profissional é o principal motivo para os alunos retornarem para a sala de aula. “Por que se eles não têm uma escolaridade boa, não conseguem evoluir dentro da empresa em que trabalham”, enaltece a coordenado do EJA Fase I

Segundo ela, outros alunos se matriculam na escola para aprender a ler e escrever. “Ou é para conseguir fazer a carteira de motorista ou então para poder trabalhar com uma determinada máquina”, relata.

Margareth cita ainda casos de pessoas que precisam se afastar do trabalho em virtude das condições de saúde e precisam de recolocação no mercado de trabalho em outras áreas que exijam menos esforço físico. “Essas pessoas vêm buscar esses conhecimentos para mudar de profissão”, menciona.

A rondonense Rosinete Machi dos Santos acorda às quatro horas da manhã para trabalhar e há cerca de um mês decidiu retornar para a escola, de onde ficou afastada por mais de 15 anos. “É cansativo, mas vale a pena, pois já aprendi muito na escola”, enfatiza.

Ela conta que teve o primeiro filho muito cedo, aos 16 anos, e desde então a prioridade passou a ser a família. “Desde o começo eu só pensei nos meus filhos e agora que já estão crescidos eles dizem que eu preciso me preocupar comigo também”, comenta.

Ela compartilha que o desejo para o retorno à sala de aula partiu principalmente dela devido à necessidade profissional. “E também por causa dos meus três filhos que pediam para eu voltar a estudar”, revela.

Rosinete frequenta a 4ª etapa do Ensino Fundamental na Escola Bento Munhoz da Rocha e em breve deve concluir os estudos. No entanto, ela afirma que não pretende parar por aí. “Assim que eu terminar aqui, vou para a outra escola e pretendo terminar o Ensino Médio. Não vou desistir tão cedo”, conclui.


Coordenadora do EJA Fase I, Margareth Béttega, da Escola Bento Munhoz: “Não é só conhecimento que os alunos buscam. Eles querem melhorar a autoestima, uma ressocialização e a aceitação dessa mudança de vida deles” (Foto: Sandro Mesquita/OP)


“Os três querem me ajudar e a gente se diverte muito quando estamos estudando juntos em casa”, diz Rosinete Machi dos Santos, referindo-se aos filhos de 16, 13 e dez anos (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

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