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Marechal Até novembro

Indústria rondonense cresce 1,5% no valor adicionado fiscal em 2020

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Com abertura de nove aglomerados industriais, setor encerrou 2020 superando as dificuldades da crise gerada pela pandemia de Covid-19 e emplacando investimentos na casa de R$ 650 milhões em Marechal Rondon (Foto: Divulgação)

Um modelo de produção que se mostrava eficiente desde as revoluções industriais teve de ser repensado em 2020. Diante de um vírus que se alastrava de pessoa para pessoa, o modelo de produção em linha, com trabalhadores lado a lado, de uma hora para outra se transformou em um fator de risco tanto para os próprios colaboradores quanto para a sociedade em geral. Nessa e em outras circunstâncias, a pandemia fez com que o setor industrial, tanto quanto muitos outros, tivesse que dar um passo para trás e observar a sua situação.

Mesmo com as adversidades, dados da Secretaria Estadual de Fazenda (Sefa), por meio de nota técnica elaborada pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), apontam uma maior participação da indústria de Marechal Cândido Rondon no valor adicionado fiscal. Enquanto em 2019 os números do setor industrial rondonense foi de R$ 622.982.859, até 25 de novembro de 2020 passaram para R$ 632.465.857, um crescimento aproximado de 1,5%.

Para o então secretário municipal de Indústria, Comércio e Turismo, Sérgio Marcucci, os números refletem o bom desempenho da indústria em 2020. “Em 2019, tivemos um fechamento de indústrias considerável e isso não aconteceu no ano passado. Inclusive, tivemos a abertura de nove indústrias”, enaltece, acrescentando: “É positivo perceber que as grandes indústrias seguem investindo no município. Em uma análise que realizei, considerando 2019, 2020 e dois anos subsequentes, os recursos empregados pelos grandes industriais em Marechal Rondon somam cerca de R$ 650 milhões”.

Marcucci ressalta que a característica da região favorece o setor industrial. “Não padeceram tanto, pois uma grande porcentagem das indústrias é ligada ao agronegócio, principalmente na transformação de proteína animal e vegetal. Nessa cadeia, as indústrias que prestam serviços a elas também são favorecidas”, destaca.

Segundo dados da secretaria, entre pessoas físicas e jurídicas, o município rondonense possui 195 indústrias de médio e grande porte, ou seja, com a classificação nacional de atividades econômicas (Cnaes) em indústria, sem contar microempreendores individuais ou pequenas indústrias.

Então secretário de Indústria, Comércio e Turismo, Sergio Marcucci: “Em Marechal Rondon as indústrias não padeceram tanto, pois uma grande porcentagem é ligada ao agronegócio, principalmente na transformação de proteína animal e vegetal” (Foto: Joni Lang/OP)

 

PREVISÕES FRUSTRADAS

O vice-presidente da Indústria da Associação Comercial e Empresarial de Marechal Cândido Rondon (Acimacar), Maicon Raupp, relembra que 2020 iniciou com boas expectativas, contudo a Covid-19 mudou um pouco as direções de planejamento. “Em janeiro tudo apontava para um crescimento industrial em nível municipal e nacional. As apostas eram para bons resultados no ano passado, mas, com a chegada do coronavírus, estas previsões não se concretizaram, restando dúvidas aos empresários”, expõe.

Para ele, os protocolos adotados para contenção da pandemia impactaram diretamente nas indústrias. “Devido à condição de aglomerar menos pessoas, houve a redução da produção e, consequentemente, o faturamento também diminuiu. A falta de matéria-prima também se fez presente e está se normalizando aos poucos”, comenta, acrescentando que também foi registrada menor demanda para o setor industrial. “Levados pela incerteza do mercado, muitos clientes das indústrias fecharam suas portas por não suportar tanto tempo parados”.

Por outro lado, ele acredita que quem atravessou esses momentos de adversidades conseguiu muitos aprendizados. “Fez com que saíssemos do comodismo, aprendêssemos a reagir em novas situações, nos reinventássemos e buscássemos alternativas. Esse aprendizado vai ficar para os próximos anos, nos deixando mais fortes”, pondera.

 

DESABASTECIMENTO

Conforme Raupp, é difícil apontar um setor no ramo industrial que tenha seguido dentro da normalidade, pois todos, de alguma maneira, foram atingidos pela pandemia. “Mesmo assim, o empresariado rondonense é muito dinâmico e muitos procuraram alternativas para reduzir os efeitos em suas indústrias”, salienta.

Segundo ele, um desabastecimento sentido por vezes em alguns segmentos abastecidos pela indústria se deve a uma antecipação realizada pelos industriais. “Não se sabia ao certo o que iria acontecer e a ideia foi não produzir com a mesma dimensão, pois o desemprego e a redução do consumo poderiam afetar logo a cadeia produtiva. Todavia, a construção civil, por exemplo, seguiu trabalhando e isso causou a falta de insumos para a indústria de transformação. Creio que até a metade de 2021 o fornecimento esteja normalizado, se não tivermos alterações no quadro da pandemia”, considera.

Vice-presidente da Indústria da Acimacar, Maicon Raupp: “Devido à condição de aglomerar menos pessoas, houve redução da produção industrial e, consequentemente, o faturamento também diminuiu” (Foto: Divulgação)

 

2021

Para o ano que acaba de iniciar, o vice-presidente da Indústria da Acimacar tem boas expectativas. “Acompanhando as notícias e análises de especialistas, a projeção é de crescimento da economia e retomada do crescimento da indústria. Espero que isso aconteça e tudo possa voltar ao normal o mais rápido possível, aliados com a imunização da população, pois ela trará mais segurança a todos, aumentará o consumo, proporcionando a retomada do crescimento das indústrias e, consequentemente, de vagas de emprego”, projeta.

 

AUMENTO DE 15% NAS VENDAS

Atuando no setor industrial há dez anos com a empresa Coresul Tintas, Scharles Abegg garante que o ano de 2020, mesmo com a pandemia assolando o mundo, foi bom para seu empreendimento. “A construção civil, considerada atividade essencial, não parou, e com as pessoas passando mais tempo em casa, aumentaram as reformas em residências. Além disso, com o início da pandemia, muitas empresas aumentaram seus estoques de produtos, a fim de garantir produto e preço”, menciona.

Por esses e outros fatores, comparando 2019 e 2020, o industrial percebeu um aumento de 15% nas vendas. “Vale comentar que esse aumento já era consolidado nos dois primeiros meses do ano passado, pois o mercado da construção civil já estava aquecido”, pontua Abegg.

Scharles Abegg, que atua há dez anos no setor industrial no ramo de tintas, está otimista para 2021: “Acredito que teremos dificuldades no primeiro semestre, mas a torcida é para que nos recuperemos” (Foto: Divulgação)

 

RESPOSTAS RÁPIDAS

Segundo ele, as incertezas foram sentidas com a ascensão do coronavírus na região. “Nos questionávamos se iríamos aumentar o estoque e garantir produção para mais tempo e, simultaneamente, duvidávamos sobre se teríamos vendas ou não. Nós decidimos aumentar o estoque, e acertamos, garantimos produção por 60 dias”, comenta.

A rápida tomada de decisão, conta Abegg, não impediu que outros obstáculos surgissem ao decorrer do ano. “Em junho, tivemos dificuldade com embalagens, que dobraram de preço e demoravam até 100 dias para a entrega. No mercado nacional, essa foi uma problemática, pois algumas indústrias deixaram de produzir enquanto outras seguiram e precisavam desses materiais. Faltaram produtos no mercado nacional e, por outro lado, as exportações estiveram em alta”, relata, acrescentando que sua indústria sentiu em peso a alta no dólar: “30% dos componentes utilizados na produção de tinta são importados e cotados em dólar”.

Mesmo com as incertezas do mercado já no início da pandemia, Scharles Abegg decidiu aumentar o estoque, garantindo a capacidade produtiva da indústria. Meses depois, contudo, a falta de embalagens o alcançou (Foto: O Presente)

 

CONFIANÇA

O industrial rondonense afirma que a pandemia fez com que ele visse a importância de relações de confiança, mesmo tratando-se de economia. “O aprendizado foi imenso. Nossos fornecedores não nos deixaram na mão e isso fez diferença em momentos de falta de material. Podemos dizer que cumprimos com as expectativas, atendemos nosso cliente satisfatoriamente e com o menor prejuízo possível. Terminamos o ano de forma equilibrada”, avalia.

Abegg faz parte dos 70% dos industriais que estão otimistas para o ano que se inicia, segundo pesquisa da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). “Acredito que teremos dificuldades no primeiro semestre de 2021, mas a torcida é para que nos recuperemos e o mercado de tintas volte ao normal”, projeta.

 

DESEQUILÍBRIO DAS DEMANDAS DE INSUMOS FOI O GRANDE VILÃO DA PANDEMIA

Em âmbito regional, constatou-se que as indústrias sofreram, de certo modo, menos que o comércio nestes meses de pandemia. “As restrições de acesso ao público nas indústrias foram mitigadas por planos de contingenciamentos, considerando que a maioria das indústrias já tem acesso restrito ao público. Isso, todavia, não trouxe rupturas no contato com clientes e distribuidores, utilizando-se do meio virtual”, avalia o vice-presidente da Fiep, cascavelense Édson José de Vasconcelos. “Os atendimentos virtuais, na minha opinião, serão um caminho sem volta. A agenda de modernização dos canais de venda e distribuição entra em 2021 com muita força”, opina.

Com os planos de contingenciamento, muitas indústrias tiveram seus estoques chegando ao limite máximo. “Diante disso, tiveram que readequar turnos e a capacidade produtiva. Percebemos que essa situação se equilibrou rapidamente. Os empresários tiveram pouco tempo para tomar decisões, mas o fizeram”, aponta Vasconcelos.

Apesar das circunstâncias, ele vê o potencial transformador da pandemia. “Ela obrigou todos a entender uma nova realidade de restrições e convívio social. Além da ascensão dos relacionamentos virtuais, outros níveis, como o emprego, a logística e a relação entre demanda e estoque mínimo, também foram remodelados e romperam com problemas que antes se mostravam intransponíveis”, avalia.

Vice-presidente da Fiep, Edson José de Vasconcelos: “A pandemia obrigou todos a entender uma nova realidade. Além da ascensão dos relacionamentos virtuais, outros níveis também foram remodelados e romperam com problemas que antes se mostravam intransponíveis” (Foto: Divulgação)

 

MUDANÇA DE ARES

O vice-presidente da Fiep afirma que se observados os anos de 2019 e 2020 é possível perceber uma mudança de ares positiva. “Há uma tendência de compras locais e regionais de forma consciente. Aparentemente, surgiu uma maior percepção sobre a importância em manter o emprego local e favorecer a distribuição de renda. Existe essa necessidade para um equilíbrio, principalmente em momentos críticos. O saldo elevado no consumo de produtos regionais e nacionais já é percebido, porém não podemos perder essa chance de melhorar ainda mais a consciência sobre o tema”, frisa.

 

VILÃO

Para o vice-presidente da coordenadoria geral da Fiep, bragadense Reinaldo Scherer, o desequilíbrio das demandas de insumos foi o grande vilão da pandemia. “Isso foi percebido em especial no ramo de embalagens e materiais para construção civil”, considera, enfatizando: “Mesmo para o setor mais prejudicado ou para aquele que passou pela pandemia sem muitos arranhões, 2021 traz boas expectativas. Isso vale para a indústria de modo geral”.

Vice-presidente da coordenadoria geral do Fiep, Reinaldo Scherer: “Mesmo para o setor mais prejudicado ou para aquele que passou pela pandemia sem muitos arranhões, 2021 traz boas expectativas. Isso vale para a indústria de modo geral” (Foto: Divulgação)

 

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