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Marechal Mercado retraído

Influenciado pelo aumento das taxas de juros e pela quebra da safra, setor imobiliário desacelera em Marechal Rondon

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(Foto: Divulgação)

Depois de momentos áureos, inclusive durante a pandemia, o mercado imobiliário começa 2022 enfrentando turbulências. “De outubro do ano passado até agora o mercado não está mais tão aquecido como no início da pandemia e decorrer de 2020, que foi um ano muito forte. Estão ocorrendo negócios e atendimentos a clientes, porém não igual como foi há um ano e meio, quando o mercado estava muito bom. As coisas estão mais restritas, há uma procura menor por imóveis e a perspectiva para 2022 não é das melhores”, avalia o presidente do Núcleo Imobiliário de Marechal Cândido Rondon, Michel Silva.

Segundo ele, o momento de recuo é influenciado pelo aumento das taxas de juros e pela quebra vivenciada no setor agropecuário. “Essa já é a terceira frustração de safra e isso afeta diretamente o cenário do setor imobiliário. Também tivemos um novo aumento da Selic”, expõe, emendando: “Quando há safras boas a gente não sente muito a pressão das altas taxas, porque o agronegócio movimenta muitos recursos na região”.

Um dos reflexos da crise no agronegócio é a vinda de agricultores para morar e investir em imóveis na cidade. “Pequenos agricultores acabam vendendo as propriedades e vindo para a cidade para investir em imóveis de locação. Hoje a gente tem sentido esse impacto e vai sentir ainda mais nos próximos meses, porque era agora que começava a circular esse dinheiro e não vai acontecer. Esperamos que com a colheita do milho safrinha haja uma melhora no mercado”, declarou ao O Presente.

Presidente do Núcleo Imobiliário de Marechal Rondon, corretor de imóveis Michel Silva: “Estamos sentindo o mercado não mais tão aquecido como no início da pandemia e decorrer de 2020, que foi um ano muito forte. As coisas estão mais restritas” (Foto: Divulgação)

 

“Boom” na locação de imóveis

Apesar da retração no setor, o segmento de locação de imóveis tem sido um ponto alto do movimento neste começo de ano. “Está havendo um ‘boom’ na procura de imóveis para locação. Em algumas regiões, faltam imóveis para alugar”, aponta Silva.

Segundo ele, as regiões com maior demanda são do Boa Vista e da Vila Gaúcha por conta da localização, vantagens dos bairros e emprego. “Quem mais busca imóveis para locação são famílias que vêm de fora para trabalhar aqui. Os imóveis mais requisitados são para renda baixa, de até R$ 900 de aluguel”, menciona, comentando que os valores dos aluguéis são reajustados conforme o IGP-M: “Há um balanceamento de 50% da taxa, que gira em 15% e 20%”.

Retorno das aulas presenciais e oportunidades de trabalho atraem novos moradores a Marechal Rondon (Foto: Bruno de Souza/OP)

 

“Locamos tudo”

Para o corretor de imóveis Roberto Thomé (Beto), a demanda de imóveis para locação não foi diferente. “Locamos tudo o que estava vago”, relata. Assim como Silva, o empresário frisa que o reajuste não acompanha integralmente o IGP-M, mas que se dá de forma conciliadora entre locatários e proprietários.

Segundo ele, há diversos perfis de clientes, mas um tem se destacado. “Notamos muitos dentistas vindos de outras cidades e Estados, pois clínicas dentárias foram abertas e isso trouxe novos profissionais à procura de apartamentos para locação. Também locamos imóveis para diversas empresas que estão fazendo obras para o município, alocando de operários até engenheiros”, detalha.

A corretora de imóveis Márcia dos Santos Batschke, por sua vez, atribui o aumento na procura de locais para locação ao retorno presencial das universidades, bem como a vinda de pessoas para trabalhar em Marechal Rondon. “Procuram imóveis com aluguel até R$ 1 mil”, informa.

Corretor de imóveis Roberto Thomé (Beto): “O diferencial está sendo a procura por casas de alto padrão por alguns empresários locais e outros vindo de fora” (Foto: Bruno de Souza/OP)

 

Movimento de investidores

O presidente do Núcleo Imobiliário diz que outras demandas do setor têm surgido com menos intensidade que a de locação. “A venda sempre acontece mesmo em períodos de recessão e inflação, o que muda é o perfil. Aquela comercialização normal, de pessoas querendo comprar o primeiro imóvel, vai ficar um pouco recuada. Agora há mais clientes investidores em busca de oportunidades”, observa.

A procura por imóveis em períodos de desaquecimento do setor, ressalta Silva, é um bom negócio quando se analisa a situação a longo prazo. “Essa tendência de queda no mercado financeiro é provisória e uma hora isso se ajusta. Há redução na Selic e o mercado começa a ter liquidez. Esse olhar para adiante é visível na construção civil de Marechal Rondon, que continua aquecida, porque na hora que o mercado normalizar já vai ter mercadoria disponível. Não pode perder o ‘time’, porque os imóveis hoje levam no mínimo seis meses para serem construídos, no caso de uma casa simples”, enaltece.

Thomé destaca que a procura por casas segue sendo superior à de apartamentos. “O diferencial está sendo a procura por casas de alto padrão por alguns empresários locais e outros vindo de fora”, expõe.

 

Áreas mais procuradas

Como corretor de imóveis, o presidente do Núcleo revela que a Vila Gaúcha é uma área também procurada para esse perfil de cliente. “As nossas regiões com mais demanda são muito esporádicas, depende da demanda do cliente e os motivos pessoais dele. Higienópolis e Primavera, por exemplo, têm procura por questão de valores, já que a região é mais em conta. No Boa Vista se popularizaram os loteamentos, ainda há uma boa procura, mas há poucos terrenos e muitas áreas já construídas. Com o investimento da Unimed, a região do Loteamento Roda D’Água também teve uma procura muito forte por imóveis”, comenta.

Márcia, por sua vez, diz que a compra de casas e apartamentos é uma demanda sempre presente e o Bairro Boa Vista é o mais procurado entre as negociações da corretora. “Tem toda infraestrutura, mercados, posto de saúde, creches, escolas e é um local de fácil acessibilidade ao centro de Marechal Rondon”, salienta.

Corretora de imóveis Márcia dos Santos Batschke: “O setor agrícola interfere na geração de riquezas na região e as últimas quebras têm reflexo perceptível” (Foto: Bruno de Souza/OP)

 

Preço

O aumento dos preços dos imóveis foi de, em média, 10% no último ano e, segundo Márcia, há uma retração para novos investimentos no mercado imobiliário. “O setor agrícola interfere na geração de riquezas na região e as últimas quebras têm reflexo perceptível. Por outro lado, o parcelamento mensal de acordo com a capacidade de renda, reservas próprias e recursos do FGTS que o comprador possui tornam possível programar com segurança o projeto de comprar uma moradia”, avalia.

Os imóveis de loteamentos tiveram reajustes do valor na base de 15%, aponta Thomé. “Além disso, a alta das obras de infraestrutura foi superior a 50%, mas não conseguimos repassar todos os custos. Outros imóveis variam de acordo com a avaliação de cada empresa, mas podemos notar que existem diversos anunciados acima do valor de mercado. Se o imóvel não vende em no máximo seis meses, está acima do valor”, considera.

 

Adequações do Novo Plano Diretor

O novo Plano Diretor foi aprovado em 2021 e anima o setor imobiliário rondonense. Márcia enfatiza que as mudanças são perceptíveis, enquanto Thomé afirma que as novas orientações vão melhorar o aproveitamento ordenado dos imóveis em Marechal Rondon. “A questão da nova exploração dos terrenos, utilizando sua localização, zoneamento e cálculo demográfico, sem limites de altura, para mim foi a melhor alteração”, enaltece.

Silva entende que a reformulação do Plano Diretor abordou pontos que tendem a favorecer o mercado imobiliário local. “Houve algumas alterações bem necessárias, como o fracionamento de área do terreno com uma metragem mínima para casas conjugadas, o ajuste de expansão do perímetro urbano, o que favoreceu bastante as indústrias no eixo entre Marechal Rondon e Quatro Pontes, o aumento da faixa para a construção de edificações verticais, o ajuste das normativas relativo aos distritos e a preservação do Arroio Fundo. Então, são questões que favorecem o mercado e trazem investimentos para o município”, opina.

 

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