Fale com a gente

Marechal Mais de 300 milímetros

Janeiro chuvoso não reverte crise hídrica em Marechal Rondon

Publicado

em

Previsões de chuva seguem até os primeiros dez dias de fevereiro (Foto: Sandro Mesquita)

Chove lá fora – e bastante nas últimas semanas, diga-se de passagem -, mas em casa não tem água! Essa tem sido a reclamação de muitos rondonenses, que não viram o janeiro chuvoso surtir efeito no abastecimento de água em suas residências. Por sinal, em alguns momentos do mês faltou água em determinadas localidades até mesmo em dias não previstos no cronograma de racionamento.

Do primeiro dia do ano até quinta-feira (28) choveu 295 milímetros em Marechal Cândido Rondon – até este domingo (31) já chega a 355 milímetros – e a previsão para o município, segundo o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), é de que as chuvas se estendam até a primeira dezena de fevereiro.

 

RESULTADO FUTURO

Conforme o diretor-executivo do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), Gerson Luiz da Silva, as chuvas expressivas registradas em janeiro não interferem automaticamente na rede de abastecimento de água do município, como as pessoas imaginam. “Não é tão simples assim. Ter muita chuva não significa que temos muita água disponível. Nossos poços são profundos, de 80 a 100 metros, e esse montante de água leva um tempo até chegar ao lençol freático, de dois a quatro meses. Ou seja, o resultado vem futuramente”, pontua.

Segundo ele, o sistema de abastecimento hídrico rondonense é composto atualmente por 17 poços e cinco captações superficiais, nascentes.

 

TURBIDEZ PREJUDICA

As captações superficiais, aponta o dirigente, sentiram um volume maior de água. “Há um pequeno problema quando acontece muita chuva ao mesmo tempo. Como as nascentes são superficiais, por cima da superfície terrestre e com drenos diretamente na terra, a água fica marrom. Não dizemos água suja, mas, sim, túrbida. Mesmo que os reservatórios subterrâneos estejam cheios, há muita turbidez e não podemos utilizá-la assim”, explica.

Segundo ele, leva de dois a três dias para que a água atinja uma turbidez razoável. “É preciso que a água assente para que possamos levá-la ao laboratório. Nesse intervalo, não há captação mesmo que os reservatórios estejam com capacidade máxima. A chuva é boa, mas traz essas consequências nas captações superficiais”, pondera.

Silva diz que a produção maior gerada pela chuva traz água com alta turbidez, não sendo possível aproveitá-la. “Isso, muitas vezes, não é entendido pela população”, lamenta, emendando que em comparação com os poços artesianos, estes não têm esse problema, pois a água chega aos lençóis freáticos filtrada devido à profundidade.

 

TRANSTORNOS

Esse intervalo até que a água assente gera, conforme o diretor, falta de abastecimento em alguns locais. “Há regiões em que o abastecimento provém das captações e acontece esse transtorno. Nos bairros Botafogo, Barcelona e Augusto, por exemplo, o abastecimento se dá pela captação 4, no Higienópolis, onde há problemas sérios de turbidez”, exemplifica.

Silva afirma que a turbidez é, de certa forma, inevitável. “Temos vegetação em volta da captação, mas, ainda assim, os drenos são no barro”, expõe.

Diante destas características do abastecimento de algumas regiões, ele menciona que é feito um “remanejamento” de água. “Ajudamos o abastecimento com água dos poços e, ainda assim, por vezes não é suficiente, tanto que neste fim de semana (dias 23 e 24) houve falta de água”, comenta. “Nesta semana decidimos fazer uma nova interligação para levar mais água à região abastecida pela captação 4 para que os moradores dependam menos dela”, informa.

 

PRODUÇÃO x CONSUMO

De acordo com o diretor do Saae, Marechal Rondon não consegue manter estoque de água suficiente em reservatório para abastecimento de dois ou três dias devido à relação existente entre produção e consumo. “Hoje produzimos 13 mil metros cúbicos diariamente, mas é uma água que chega e automaticamente é consumida. Consumimos 13 mil metros cúbicos de água por dia”, detalha.

Ele diz que o reservatório possui recursos hídricos suficientes para passar o dia, mas conforme entra água, ela é jogada na rede para consumo, sem encher o reservatório.

 

RACIONAMENTO CONTINUA

Diante disso, o dirigente ressalta que o racionamento hídrico prossegue no município, sem previsão de ser suspenso.

Desse modo, a região I, que compreende parte do centro e os bairros Boa Vista, Vila Gaúcha, Ana Paula e parte do São Lucas, tem racionamento nas segundas, quartas e sextas-feiras. Na região II, que contempla parte do centro e os bairros Alvorada, Espigão, Líder, Marechal, parte do Botafogo, parte do Higienópolis, parte do São Lucas, Primavera, São Francisco e Universitário, o racionamento ocorre nas terças, quintas-feiras e sábados. Em ambas as regiões a suspensão no abastecimento acontece das 20 às 08 horas do dia seguinte, com retomada gradativa.

 

ECONOMIA DE ÁGUA

Mesmo com o abastecimento controlado, Silva reforça a vigência do sistema de aplicabilidade variada. “Em janeiro não fizemos o racionamento em alguns períodos devido à quantia de água que possuíamos. Depende muito do consumo, da produção e das condições meteorológicas”, destaca.

Segundo ele, a chuva contribui para uma maior economia de água. “Quando chove a população não lava veículos, calçadas e afins, não consumindo tanta água. Por outro lado, percebemos nos poucos momentos de sol que o uso deixa de ser cuidadoso”, relata.

 

ETAs

A fim de amenizar os problemas hídricos de Marechal Rondon, o Saae tem trabalhado para a implantação de uma Estação de Tratamento de Água (ETA) de caráter emergencial, a qual será implantada no Arroio Fundo e terá capacidade de 30 litros por segundo, captando o total de 2,4 milhões de litros por dia. “Para funcionar, deve levar ainda de dois a três meses. Tudo depende dos trâmites burocráticos. Estamos levantando todos os projetos para instalação, compra da área e do equipamento. Estamos nesse processo de licitação. Tratamos atualmente com o IAP (Instituto Ambiental do Paraná) a permissão para retirar a água e utilizar a área, pois fica próxima ao manancial”, informa Silva.

Para solucionar o problema da falta de água em longo prazo, a autarquia rondonense possui o projeto de outra ETA, também no Arroio Fundo, mas com capacidade superior. “Seriam 150 litros por segundo, totalizando 12,9 milhões de litros de água. Os projetos estão encaminhados para a equipe de avaliação da prefeitura e depois serão mandados para a Câmara de Vereadores. Há ainda o processo para adquirir a área e iniciar os trabalhos”, menciona.

 

PERFURAÇÃO DE POÇOS

Também em caráter emergencial, o diretor lembra que o Saae se empenhou na perfuração de poços em 2020. “Três poços verteram água, sendo que um deles já está em funcionamento e outros dois estão em fase de projetos para instalação de energia elétrica e rede adutora. A empresa contratada para instalação pediu um tempo, pois precisa que pare de chover uns dias para realizar os trabalhos. Provavelmente, a partir de fevereiro começam as instalações de eletricidade e, depois disso, vem ainda uma equipe até o dia 15 fazer o teste de vazão. Realizado o teste, trabalharemos na rede que vem do poço até o reservatório. É preciso que pare de chover para dar andamento nos trabalhos. Leva de dez a 15 dias para fazer a vala, precisando de autorização dos agricultores por onde a rede vai passar. Então, depois de instalada a rede de energia elétrica, leva de 30 a 40 dias para incorporação”, detalha.

Diretor-executivo do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), Gerson Luiz da Silva: “Ter muita chuva não significa que temos muita água disponível” (Foto: O Presente)

 

2020 FOI O ANO MAIS SECO DOS ÚLTIMOS 31 ANOS EM MARECHAL RONDON

Segundo dados pluviométricos do Saae, choveu 1.343 milímetros em Marechal Rondon no ano passado, índice que colocou 2020 como o ano mais seco da história recente do município – últimos 31 anos (de 1989 a 2020).

Apesar da estiagem histórica de 2020, Marechal Rondon teve ainda outros cinco anos com precipitações inferiores às do ano passado. Os dados foram computados desde 1965 e apontam o ano de 1978 como o mais seco da história rondonense, com apenas 998 milímetros de chuva. Na sequência aparece 1985, quando foram registrados 1.219 milímetros. Ocupando o terceiro lugar no ranking de ano mais seco está 1988, quando choveu 1.306 milímetros; em quarto lugar está 1977, com 1.322 milímetros; em quinto 1967, com 1.332 milímetros; e, por fim, em sexto lugar, 2020.

 

CHUVAS EM JANEIRO

Por falar em 2020, para que as chuvas registradas no mês de janeiro deste ano – cerca de 295 milímetros até agora – entrem para a história rondonense, o fim de semana terá que ter muita água caindo do céu para quebrar os recordes registrados até então no primeiro mês do ano no município.

O maior índice até aqui ocorreu em janeiro de 1995, quando choveu 420 milímetros, seguido de janeiro de 2018, ano em que Marechal Rondon somou 392 milímetros de chuva.

Na sequência estão janeiro de 1990 (374 milímetros), janeiro de 1977 (349 milímetros), janeiro de 2003 (324 milímetros) e janeiro de 1997 (303 milímetros).

(Arte: O Presente)

 

O Presente

Clique aqui e participe do nosso grupo no WhatsApp

Copyright © 2017 O Presente