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Marechal Saldo positivo

Mandiocultura encerra 2020 com oscilações no consumo e remuneração equilibrada

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(Foto: Divulgação)

Pão de queijo, tapioca, amidos, papel e papelão. Nesses e muitos outros produtos há a utilização do amido de mandioca, principal destino da produção de mandioca no Oeste do Paraná. Atualmente, o Estado paranaense corresponde a 69% da produção de amido de mandioca e, especificamente no Paraná, a região Oeste responde a 17% da produção estadual, consumindo, por outro lado, cerca de 30 mil toneladas de amido de mandioca na indústria oestina.

Uma cultura rústica e que não se intimida com a estiagem, a mandiocultura encerra 2020 passando por oscilações nos preços, mas, ainda assim, entregando bons resultados para seus produtores. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil produziu cerca de 19 milhões de toneladas em 2020 e mesmo com a pandemia impondo algumas dificuldades logísticas para o seu cultivo, o faturamento compensa ao agricultor.

“Eu queria colher uma área de mandioca que tinha em abril/maio, mas estava tudo parado, sem venda de fécula e com o preço lá embaixo. Por fim, acabei colhendo apenas em novembro, quando o preço já estava muito melhor”, relata o mandiocultor rondonense Nilson Vorpagel, conhecido como Neco, que planta na sua propriedade na Linha Arroio Fundo e em pequenas áreas nos arredores.

Ele planta mandioca há mais de dez anos e aposta nas vantagens da cultura. “A mandioca rende mais, mesmo em áreas pequenas, e o plantio é mais em conta do que se plantar milho ou soja, culturas mais populares. Além disso, a cultura é pouco afetada pela falta de chuvas”, destaca, reconhecendo também os pontos negativos: “A desvantagem principal é a necessidade de mexer a terra quando vai colher. Quando há muita umidade, o caminhão na lavoura acaba compactando o solo. Frente a isso, tenho o costume de plantar milho depois para dar palhada e renovar a terra”.

Com expectativa de que o preço da mandioca se mantenha nos patamares atuais, Vorpagel pretende colher em janeiro para poder plantar o milho safrinha na sequência. “Espero que o valor da tonelada se mantenha”, expõe.

Produtor Nilson Vorpagel entremeio à lavoura de mandioca de dois meses e meio: há mais de dez anos no ramo (Foto: O Presente)

 

PRODUTIVIDADE EM MARECHAL RONDON

De acordo com estimativa de área de plantio da Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento (Seab), Marechal Rondon vem cultivando nos últimos três a quatro anos a média de 500 alqueires de mandioca por ano. “Nós temos a mandioca de primeiro ciclo, colhida com a variação de dez a 14 meses, e a mandioca de dois ciclos, colhida de 18 a 22 meses. A mandioca de um ano tem produtividade média de 60 toneladas por alqueire e a mandioca de dois anos dobra de produção, sendo 120 toneladas por alqueire”, menciona o técnico agrícola da Agrícola Horizonte e da Horizonte Amidos e membro do conselho técnico da Associação Técnica das Indústrias de Mandioca (Atimop), Sigmar Herpich.

 

MERCADO DURANTE A PANDEMIA

Segundo ele, a mandiocultura foi afetada pela pandemia de Covid-19 em termos de consumo e, consequentemente, trouxe variações ao preço médio. “O Brasil consome uma média de 45 mil toneladas de amido de mandioca por mês. De janeiro a março, o consumo foi dentro da normalidade. Nos meses de abril e maio sentimos o impacto do coronavírus no consumo. Como a doença se intensificou nesses dois meses, houve parada de produção por parte de algumas indústrias, fechamentos de restaurantes e hotéis e, consequentemente, houve uma diminuição, ficando na faixa das 38 mil toneladas mensais. Ou seja, houve uma queda de sete mil toneladas no consumo”, aponta.

Nos meses seguintes, Herpich diz que a diminuição foi recompensada. “Em junho, julho e agosto o consumo voltou ao normal. Em setembro e até a primeira quinzena de outubro houve um aumento expressivo no consumo. A população, talvez por estar mais em casa, consumiu mais pão de queijo e tapioca, alimentos queridos do brasileiro. Nesse período, o consumo do amido de mandioca aumentou dez toneladas, chegando a 55 mil toneladas mensais”, detalha.

Os preços, conforme o técnico agrícola, naturalmente acompanham as variações de consumo. “Iniciamos o ano com R$ 450 por tonelada na mandioca com amido 25%, sendo esse um teor médio de amido pela qual o preço é divulgado. Quanto maior o amido, maior a remuneração do produtor. De R$ 450, passou para em torno de R$ 350 no auge da safra, o que é normal nos meses de junho, julho e agosto. Em setembro e até a segunda quinzena de outubro, além do consumo intensificado, nós passávamos por um período de seca que dificultava a colheita e o preço chegou a R$ 550 por tonelada. Depois, voltou ao normal, sendo R$ 468 por tonelada, o patamar atual”, mensura.

Técnico agrícola da Agrícola Horizonte e Horizonte Amidos e membro do conselho técnico da Atimop, Sigmar Herpich: “Não está um preço excepcional, mas cobre os custos de produção e sobra uma boa margem para o mandiocultor” (Foto: Divulgação)

 

IMPACTOS

Para Herpich, o principal impacto da pandemia na mandiocultura foi a oscilação do consumo. “Mesmo que por um lado hotéis, restaurantes e aeroportos, locais onde muito se comercializa alimentos feitos a partir do amido de mandioca, deixaram de comprar o ingrediente, as residências passaram a consumi-lo mais e conseguiram compensar”, analisa.

Já para o produtor de mandioca, ele avalia que a pandemia não influenciou-o grandemente. “A vida no campo continua. Não há como parar a lavoura e os estágios da cultura seguiram”, comenta.
Quanto às indústrias, o profissional menciona que houve adaptações. “Elas tiveram que se adequar aos protocolos municipais e estaduais, tendo que cobrir funcionários quando se fez necessário, mas sem grandes impactos de modo geral à mandiocultura”, salienta.

 

BOA MARGEM AO PRODUTOR

Conforme o membro da Atimop, o produtor de mandioca da região vê com bons olhos o preço pago pela cultura. “Não está um preço excepcional, mas com o valor é possível remunerar os custos de produção e ter uma boa margem de sobra para o mandiocultor”, ressalta.

O que acontece muitas vezes, destaca ele, é a comparação do preço da mandioca com as culturas que a substituem. “Comparativamente com os valores altos do milho e da soja, a mandioca não acompanhou o preço, mesmo porque o amido da mandioca é um produto de consumo interno do brasileiro. A exportação é baixa e ficou em torno dos 2% em 2020”, explica, acrescentando: “É diferente da soja e milho, que, em função da desvalorização cambial e do alto consumo mundial, tiveram os preços aquecidos”.

Comparada ao milho e à soja, a mandioca tem um faturamento menor, contudo, é considerada uma cultura mais “rústica”, que não se abate com a estiagem (Foto: O Presente)

 

ANO BOM

Na opinião de Herpich, 2020 foi um ano bom para o produtor de mandioca. “Ele foi bem remunerado e encerra o ano animado. Está contente, porque conseguiu fazer o plantio em um período praticamente normal. Por ser rústica, a lavoura de mandioca dificilmente é afetada pela estiagem, apenas no plantio, mas não falhando nesse momento, depois que nasceu ela ‘vai embora’. Ou seja, a mandioca tem poucos danos devido à falta de chuvas se comparada com outras culturas”, enfatiza.

 

2021

Ele prevê um 2021 dentro da normalidade para a mandiocultura. “Tal qual como foi 2020, devemos seguir com esses níveis”, projeta.

Segundo o técnico agrícola, a cultura da mandioca é favorecida com a alta do preço do milho. “Em algumas aplicações no mercado de amido pode ser usado tanto o amido de milho quanto o de mandioca. Como o amido de milho está caro, o amido de mandioca tende a se manter em bons níveis, o que também favorece o mandiocultor”, finaliza.

 

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