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Marechal Porto Mendes/Mercedes

Moradores avisam: movimento pró-desmembramento vai continuar

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Porto Mendes: distrito de Marechal Cândido Rondon (Foto: Joni Lang/OP)

 

O áudio que circulou em grupos de WhatsApp e foi divulgado pela imprensa recentemente, no qual a prefeita de Mercedes, Cleci Loffi, se dirige ao empresário rondonense Pedrinho Hohmann, informando retornar de Curitiba onde esteve trabalhando para buscar a legalidade do processo de desmembrar o distrito de Porto Mendes, hoje pertencente a Marechal Cândido Rondon, e anexá-lo ao município de Mercedes, teve grande repercussão não somente em Marechal Rondon e Mercedes, mas em toda a região.

Nele, a prefeita cita uma conversa com o deputado estadual Marcel Micheletto, que estaria disposto a entrar com um projeto na Assembleia Legislativa a fim de realizar um plebiscito para que a população de Porto Mendes possa escolher se quer continuar pertencendo a Marechal Rondon ou se deseja passar para o município de Mercedes.

Comunidade-chave envolvendo o assunto, Porto Mendes está no centro das discussões. Em entrevista à reportagem de O Presente, empresários do distrito afirmaram que o movimento pró-desmembramento está na etapa inicial, embora reunião para tratar do assunto já tenha acontecido, e garantem que irão seguir adiante com o propósito.

Entre os principais motivos para tal iniciativa, os entrevistados se queixam de que apesar de possuir uma praia artificial, o distrito – que antigamente foi uma potência econômica – foi abandonado pelas administrações municipais há décadas, sendo que a localidade que possui em torno de 3,5 mil a 4 mil moradores nem sequer possui galeria de águas pluviais, apenas duas ruas asfaltadas. Em suma, segundo eles, a falta de investimentos e da justa aplicação dos royalties proporciona o descontentamento dos moradores e vislumbra a transferência do território ao município vizinho.

 

PROJETO EMBRIONÁRIO

O empresário Pedrinho Hohmann, para quem a prefeita de Mercedes destina o áudio que se tornou polêmico, é um dos líderes do grupo formado por cerca de dez pessoas, entre elas agricultores, empresários, professores, que trabalha no sentido de concretizar o projeto de desmembramento de Porto Mendes de Marechal Rondon e sua transferência ao município de Mercedes.

“A nossa queixa não é de agora, este prefeito (Marcio Rauber) até trabalha por Porto Mendes, mas há vários anos os pedidos daqui não são atendidos. O real objetivo era emancipar Porto Mendes e criar um município, porém, como dizem não ser possível, convidamos a prefeita Cleci para uma reunião e revelamos para ela a vontade de anexar o distrito ao município de Mercedes. Estamos a 18 quilômetros da sede de Mercedes e 32 de Marechal Rondon. Este é um ponto favorável; o outro é a representatividade. Elegemos um representante, que mora na cidade, e se pertencermos a Mercedes podemos eleger em torno de dois ou três vereadores, mas isto será uma consequência”, destaca Hohmann.

Ele expõe que a reunião que contou com a presença da prefeita aconteceu em meados de outubro de 2018, sendo que depois disso o grupo não teria se reunido oficialmente, apesar de eventuais conversas sobre o assunto. “Nós temos 3,5 mil moradores na sede e no interior e há muito tempo lutamos por melhorias, mas continuamos abandonados. Foi então que conversamos com a prefeita de Mercedes, pois a tendência é de que Mercedes invista mais recursos no nosso distrito. A comunidade local já se divide entre Mercedes e Marechal Rondon quando se fala em comércio”, menciona.

Conforme o empresário, a infraestrutura fica devendo muito no distrito, pois apenas duas ruas estão asfaltadas, a Avenida Capitão Heitor Mendes e outra rua, e falta muito a ser feito, segundo ele, apesar dos significativos royalties arrecadados pelo município rondonense. “As outras são imundas, abandonadas, quem mora encontra dificuldades. Porto Mendes precisa de muitas melhorias. Outros prefeitos prometiam, os anos passaram e nada aconteceu. Agora falam em R$ 12 milhões de investimento total no distrito, mas não sei se vai acontecer. Isto deixa a gente desacreditado. Não queremos nada individual, contudo melhorias no coletivo. Se for plebiscito, abaixo-assinado, nossa luta será, sim, para pertencer a Mercedes, para conseguir atendimento melhor. Agora é apenas um embrião, porque está no começo para saber o que é preciso e quais os meios legais”, enaltece Pedrinho.

 

Porto Mendes possui em torno de 3,5 mil a 4 mil moradores (Foto: Joni Lang/OP)

 

BUSCAR MEIOS LEGAIS

Claudecir Menegotto, agricultor, proprietário da Loja Belíssima e presidente da Comunidade Católica no distrito turístico, lembra que a população possui várias queixas. “Resido aqui faz mais de 20 anos e sempre ouço promessas, só que Porto Mendes continua praticamente igual, mal e mal se mantém a praia artificial. Fazem promessas há anos, vem dinheiro para isso e aquilo, mas não sei o que acontece porque não tem sequer galeria de água pluvial. Vários agricultores estão descontentes, então pensamos que a partir desta mudança Porto Mendes vai ganhar mais, deve ser melhor atendido”, enaltece.

Ele menciona que a prefeita de Mercedes participou da reunião e se mostrou surpresa com esta vontade e disse lutar junto de nós por este projeto. “O nosso descontentamento é antigo com os prefeitos, eu mesmo investi bastante aqui, seja na agricultura ou na empresa, mas a prefeitura deixa a desejar. Agora vamos ter de analisar a possibilidade de anexar Porto Mendes ao município de Mercedes. Pelo que foi visto tem como, então é preciso saber os caminhos certos para concretizar”, enfatiza Menegotto.

 

PROMOÇÃO DO DEBATE

Conforme o empresário Júlio Podkowa, da JF Materiais de Construção e Construtora, que reside na sede de Marechal Rondon e possui empreendimento em Porto Mendes, durante vários mandatos pouco foi realizado em termos de investimentos e respaldo à localidade diante do que que ela e sua comunidade merecem. “Estamos promovendo um debate, cujo maior objetivo é o crescimento da localidade e a vinda de investimentos, ou seja, o bem comum ao distrito e a toda comunidade. Hoje boa parte das pessoas já se dirige a Mercedes ao invés de ir a Marechal Rondon para fazer compras justamente pela questão logística”, revela o empresário.

Segundo Podkowa, desmembrar Porto Mendes de Marechal Rondon e anexar a Mercedes tende, inclusive, a aumentar a representatividade política do distrito. “Mas a principal questão é a atração de recursos, seja na praia artificial ou nas demandas básicas, a exemplo de infraestrutura, entre outras. Sempre ouvimos falar que é uma localidade turística, por isso entendemos ser possível fazer melhor”, pontua.

 

POTENCIAL ECONÔMICO

O empresário Bruno Konieczniak, do Porto Iguaba e da Cervejaria Alken Bier, diz que está há 15 anos com a pousada, todavia o descontentamento da comunidade existe antes disso. “A gente vê Mercedes progredir e Marechal Rondon acredito não enxergar Porto Mendes como um distrito com potencial econômico forte, seja no comércio, na agricultura e no turismo, ou seja, meios que geram renda e impostos, isso fora os royalties”, frisa. “Faltam investimentos em todas as áreas. Sou dos meios turístico e industrial, investimos muito em Porto Mendes. Na parte da cervejaria, cuja obra foi iniciada em 2015, não recebemos ajuda, mas foi bonito a prefeitura fotografar. Não temos nada contra a atual administração, pois a falta de um olhar para Porto Mendes vem de muito tempo. A vila sempre foi abandonada, mas em época de eleição fazem umas coisinhas para inglês ver. Hoje nem galeria pluvial existe. É preciso investir, criar um distrito turístico bonito, no qual as pessoas que chegam de fora vejam com bons olhos e elogiem. Nós recebemos pessoas de outras cidades e vários Estados, como Foz do Iguaçu, Londrina, Maringá e de São Paulo e 50% a 60% dos turistas falam: ‘vocês têm um lugar maravilhoso, mas por que a vila está assim?’”, relata Konieczniak.

O empresário reconhece que as administrações municipais não devem ser as únicas culpadas, visto que, segundo ele, os moradores do distrito também precisam se conscientizar. “A população precisa se ajudar e fazer algo bacana para as pessoas de fora elogiarem, enquanto a prefeitura deve fazer o papel dela como gestora”, pondera.

“Estamos procurando os meios legais e se for preciso vamos realizar mais reuniões para definir sobre abaixo-assinado, plebiscito, o que for necessário. Este grupo de pessoas está unido e a comunidade também porque o objetivo é o melhor para Porto Mendes, a todos os moradores. Algumas pessoas tomaram frente desta questão e pensam no melhor para o distrito”, evidencia.

 

Parque de Lazer Anitta Wanderer é um dos principais atrativos de Porto Mendes (Foto: Joni Lang/OP)

 

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