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Marechal Dia fatídico

Quatro anos depois do tornado, rondonenses contam histórias de superação

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(Foto: Joni Lang/OP)

Dezenove de novembro de 2015. Enquanto para muitas pessoas foi um dia normal, como qualquer outro, para os rondonenses ele ficou marcado na história. Foi o dia em que a natureza mostrou sua ira e causou destruição em uma parte do município, tanto na sede como no interior.

Foram em torno de dez minutos de medo e aflição, depois de a tarde ensolarada ter sido tomada por nuvens escuras, chuva forte e rajadas de vento.

Com o tornado de escala F1, cuja velocidade oscilou de 115 a 180 km/hora, árvores foram arrancadas por completo, veículos ficaram danificados, casas e empresas destruídas, telhados arremessados. O resultado foi R$ 90 milhões em prejuízos, 5,5 mil cidadãos afetados e danos em 1,4 mil residências e 70 empresas. Em torno de 30 pessoas resultaram com ferimentos, todavia sem gravidade e felizmente nenhuma vida foi ceifada.

Dezenove de novembro de 2019. Quatro anos depois, a reportagem de O Presente lembra da tragédia de maior impacto no município contando a história de pessoas que levaram anos para se recuperar dos prejuízos causados naquele dia fatídico.

 

CATÁSTROFE

Sócio-proprietário da Rodocar, oficina que presta serviços de chapeação, Carlos Alberto Rauber (Melinha) foi um dos rondonenses que viu, além da sua empresa, sua casa destruída com a força dos ventos. Ele lembra que na tarde de 19 de novembro de 2015 levantou um vento forte com nuvens escuras de forma estranha. “A coisa se agravou e a gente percebeu que o vento aumentava de intensidade trazendo poeira e muita sujeita, algo que até então eu não tinha visto na vida”, conta. “Não foi possível fazer nada. Tentamos fechar a porta da empresa para evitar danos, mas foi tão rápido que o estrago se tornou inevitável. São catástrofes e todos nós estamos vulneráveis a estas intempéries climáticas, porém não imaginamos que vão acontecer. Nós vimos as movimentações das pessoas e tão logo percebemos a destruição nos escondemos com a finalidade de nos proteger. Apesar dos feridos e estragos materiais, graças ao bom Deus todas as vidas foram preservadas, o que é o mais importante”, amplia.

Melinha destaca que a oficina estava repleta de veículos, algo em torno de 20 automóveis, que foram danificados. “Alguns carros estavam prontos e seriam entregues aos clientes no dia seguinte. Em inúmeros veículos o estrago foi maior porque as paredes caíram, sendo que quatro deles resultaram em perda total. Nossa empresa não possuía seguro para os bens, contudo os veículos sim, de modo que a seguradora indenizou os proprietários. Já outros carros nós tivemos de arcar do nosso bolso com o prejuízo”, revela.

Ele comenta que a empresa decidiu adquirir um dos carros danificados que possuía seguro contra terceiros, uma vez que pertencia a uma pessoa humilde. “Os outros 15 veículos foram todos reparados com o passar do tempo. A minha residência situada nos fundos da empresa foi completamente destruída pelo tornado. Era infiltração e estrago de tudo que era lado. No dia 20 de novembro, data posterior ao tornado, eu, minha esposa Cláudia e os funcionários tivemos a exata noção da gravidade. Foi aí que o desespero pegou em cheio porque nos demos conta de que não existia mais nada: nem empresa e nem casa. Era tudo ruína”, menciona.

 

RETOMADA

Melinha comenta que ele e sua esposa Cláudia buscaram forças para superar o ocorrido. “Pedimos ajuda para que Deus nos concedesse calma para retomar a nossa vida. Amigos vieram conversar conosco. Recebemos apoio moral e ajuda de inúmeras pessoas. Lógico que a perda financeira foi frustrante, pois o baque se aproximou de R$ 500 mil na época. Havia seguro na casa e na empresa, todavia a apólice era clara e cobriu 30% do valor contratado, ou seja, nós arcamos com 70% do prejuízo”, lamenta.

Ele menciona que uma cláusula do seguro garantiu cobertura de aluguel residencial por cerca de um ano. “A família do Valdi Tierling, da Tropical Cabines, deu suporte para nos instalarmos na empresa deles para retomar os nossos trabalhos. No primeiro mês trabalhamos exclusivamente na restauração dos carros danificados, depois fizemos contrato de aluguel de seis meses, conversamos e estendemos até janeiro deste ano. Eu e minha esposa abrimos mão da questão residencial para investir todo esforço para reconstruir a Rodocar, tendo retornado à sede da empresa em janeiro deste ano”, expõe, destacando que o barracão antigo media 450 metros quadrados e com a decisão por investir na empresa foi ampliado para 850 metros quadrados. “Atualmente temos um ambiente mais adequado à nossa equipe e aos clientes”, amplia.

Melinha relata que a filha, que na época tinha dez anos, passou por problemas devido ao ocorrido. “Ela era bastante nova e como a dimensão do estrago foi grande, era compreensível. Tivemos ajuda da igreja, de familiares, amigos e hoje não temos dificuldade nenhuma quanto a isso. Esse triste acontecimento nos tornou lapidados, pois amadurecemos na questão de vida e estamos colhendo muitas coisas boas. Entendemos que o ser humano tem valor muito maior do que tudo na vida da gente, como os bens. Encontramos caminhos para superar aquela perda e percebemos que Deus quer o nosso bem mesmo nessas situações difíceis”, enaltece.

 

DESOLADOR

A moradia da zeladora Marli Lúcia Bohrer foi outra que acabou destruída pelo tornado. “Eu estava em uma empresa quando tudo aconteceu. Retornei logo depois do ocorrido. Me assustei ao ver minha casa sem telhado, que foi totalmente arrancado, além de enxergar as casas dos vizinhos com muitos estragos, bem como empresas”, menciona.

Assim como a casa de Marli, que está localizada na Rua Helmuth Priesnitz, ao lado da Rodocar – no acesso ao Anel Viário, a residência da mãe dela também foi danificada com o tornado. “Por ser idosa hoje ela mora nos fundos da minha casa”, expõe.

Marli conta que o tornado arrancou telhado, vigas, destruiu o forro e mais algumas partes da casa. “Choveu dentro e molhou tudo. Nós queríamos cobrir com plástico, lona, mas o vento não deixava”, salienta.

Marli destaca ter recebido ajuda de um empresário e de amigos dele, além de conhecidos seus, bem como da prefeitura, que entregou mantimentos como cesta básica nesse período. “Gastei em torno de R$ 20 mil durante dois anos para refazer a minha casa. Hoje ainda arrumo algumas coisas, a exemplo de um dos banheiros, mas felizmente tenho conseguido refazê-la honrando os pagamentos”, enfatiza.

A rondonense salienta que hoje em dia qualquer mudança de tempo, surgimento de nuvens carregadas no céu ou registro de vento são motivos de preocupação. “Fico assustada. Por outro lado, sou grata ao ver como as pessoas se importam com os outros, são solidárias e procuram ajudar. O apoio dos rondonenses foi marcante durante o período do tornado e isso foi importante para a gente superar essa fase”, ressalta Marli.

 

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