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Marechal Atividade em potencial

Região Oeste tenta decolar no cultivo de flores

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(Foto: Ana Probst)

Não precisa ser primavera para elas serem protagonistas. Sim, as flores, e suas cores, estão sempre em destaque, onde quer que estejam. O que pouca gente sabe é que o Paraná é um grande produtor destas belezas da natureza. A maioria das cidades produtoras estão nas regiões Norte, Oeste e Noroeste do Estado. As principais são Cascavel, Marialva, Peabiru, Maripá, Campo Mourão e Uniflor, que, juntas, detêm um Valor Bruto do Produto de R$ 51,6 milhões. Além de serem uma ótima fonte de renda para os agricultores, a maioria familiares, as flores viraram também chamarizes para turistas.

Em Maripá, por exemplo, a principal festa do município, que reúne produtores de peixes e orquídeas, chega a atrair 30 mil pessoas todos os anos, em agosto.

A maioria dos moradores, em especial da região, faz questão de prestigiar o evento para conferir de perto as belezas das orquídeas e, claro, escolher alguma espécie para levar para casa. A tarefa mais difícil é sair com apenas uma ou duas nas mãos.

No município, as orquídeas estão por toda a parte. Nas casas dos moradores, nas praças, nos nomes de festas, logradouros. Não é à toa que o slogam de Maripá é “Cidade das orquídeas”.

A história toda começou em 1993, a partir de uma campanha com os estudantes para amarrar plantas de orquídeas nas árvores espalhadas pela cidade. Era uma homenagem à emancipação do município, que aconteceu em 1990. A prática se popularizou e hoje são 12 produtores, responsáveis por 46% da produção paranaense. Por ano, a cidade produz 100 mil unidades de orquídeas.

 

Hábito europeu

O hábito de cultivar e ter flores em casa ou em espaços públicos vem da cultura europeia. Como a região Oeste foi colonizada especialmente por descendentes de europeus, essa tradição se mantém.

“Sobretudo, os alemães e italianos costumam ter jardins floridos em casa, bem como prezar por espaços públicos gramados, ornamentados e arborizados”, expõe a coordenadora do Grupo de Estudos em Fruticultura e Floricultura (GEFF) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Fabíola Villa.

Todavia, observa ela, além de um hobby, o cultivo de flores e plantas ornamentais pode se tornar lucrativo. “É uma atividade financeira viável e rentável”, afirma.

Começo difícil

A agricultora Evandra Maria Rupolo Benetti, de São Miguel (Toledo), comercializa flores desde 2004, quando começou a trabalhar com o cultivo de copos-de-leite. Ela tem um canteiro de 800 metros quadrados e produz desde 2005. “Eu não imaginei que iria tão longe. No início sofri muito, pois não tinha assessoria. Aprendi tudo sozinha, acertando e errando”, contou ao O Presente.

Atualmente, ela investe em estrelicia, angélicas, lavandas e também começou a fazer testes com girassol. “Os copos-de-leite são cultivados em solo úmido com irrigação e tela sombrite. A colheita é feita todos os dias pela manhã ou a cada dois dias, dependendo da demanda da produção. Já as outras culturas são feitas em solo normal e sem cobertura, sendo feita a colheita quando há venda”, expõe Evandra.

Ela diz que trabalha sozinha na produção. “Manutenção, limpeza, colheita, classificação e entregas. Faço tudo sozinha. Dedico metade do meu tempo para a atividade das flores e a outra metade para a casa, família e ajudo meu marido nas outras atividades da propriedade (lavoura, piscicultura, suinocultura). Faço de tudo um pouco. Do bruto ao delicado”, relata.

Para a produtora, o trabalho é prazeroso. “É um trabalho rentável, uma ótima oportunidade de fonte de renda”, menciona, acrescentando que o público consumidor vai desde moradores da região a donos de restaurantes, lojas e floriculturas. “Comercializo para quem quiser. Não importa a quantidade. A maior parte da produção eu entrego em residências, restaurantes, estéticas, floriculturas e decoradores. Para fora de Toledo cobro taxa de entrega. Algumas pessoas retiram na propriedade, mas são poucas. Os pedidos podem ser feitos via WhatsApp (45 99817-0512), Messenger ou Instagram (@evandramariarupolo)”, comenta, acrescentando que os valores oscilam de R$ 10 a R$ 20 a dúzia.

Evandra afirma que plantar flores é uma atividade lucrativa quando comparado investimento e lucro. “Oitocentos metros quadrados de flor são mais rentáveis que 800 metros quadrados de soja ou milho. O problema da flor é que os trabalhos são todos manuais. E tem também os altos e baixos da produção e comercialização. Por exemplo, agosto é o mês que mais floresce, mas o mês que menos tem festa. Já os meses de dezembro e janeiro não têm flor, mas têm muita festa”, aponta.

Copos-de-leite cultivados por Evandra Benetti são comercializados principalmente para donos de restaurantes, lojas e floriculturas (Foto: Ana Probst)

 

Agricultora Evandra Benetti, de São Miguel (Toledo): “Plantar flores é uma da uma atividade lucrativa quando comparado investimento e lucro. Oitocentos metros quadrados de flor são mais rentáveis que 800 metros quadrados de soja ou milho (Foto: Ana Probst)

 

Por onde começar?

Para o cultivo doméstico é necessário pouco para começar. Basta um kit de jardinagem simples, com pá, cultivador, regador, tesoura de poda, alguns vasos, mudas ou sementes, que pode ser facilmente adquirido em casas agropecuárias, gardens ou floriculturas.

Já pensando em escala comercial as necessidades são maiores, como, por exemplo, ferramentas adequadas, material de irrigação, espaço adequado para cultivo, casa de vegetação dependendo da espécie, material propagativo e insumos de qualidade. “Não se pode esquecer da necessidade de estudar bem a espécie a ser cultivada, bem como o mercado ao qual se destinam as flores, pois na floricultura os ciclos são curtos”, ressalta a coordenadora do GEFF.

 

Incentivo

Na Unioeste, o incentivo ao cultivo de flores se dá por meio de cursos, dias de campo, além do que é ensinado nas disciplinas relativas à floricultura e a plantas ornamentais durante a graduação e pós-graduação em Agronomia. “Nessas ocasiões são passadas técnicas de cultivo, elucidadas dúvidas e mostrados dados que comprovam a rentabilidade e a possibilidade de ganhos com a produção de flores. Assim, ocorre a estimulação para cultivos domésticos ou em nível comercial”, explana Fabíola.

Ela diz que muitos produtores procuram a Unioeste em busca de orientação. “Os produtores nos procuram no intuito de saber como produzir, se precisa de estufa, se determinada espécie é melhor de plantar em vaso ou em canteiros protegidos”, comenta.

Na opinião da professora, o Oeste do Paraná pode se tornar um polo produtor de flores, mas nunca vai ultrapassar a produção de grãos. “A produção de flores é uma alternativa de renda ao pequeno e médio produtor”, observa.

Segundo a docente, na região as orquídeas são as mais cultivadas, principalmente em vasos. “Já para as hastes há um grande desenvolvimento do gladíolo, ou palma de santa rosa, que é uma cultura rústica e precisa de poucos produtos para aplicação, bem como a estátice, que também é rústica e se adapta bem às condições de clima e solo da região”, informa, ampliando: “Além disso, há as flores tropicais, como a ave do paraíso e a helicônia, que têm boa aceitação no Oeste, além das flores de corte e o copo-de-leite como flor de raso ou haste de corte para fazer arranjo”.

GEFF da Unioeste Marechal Rondon cultiva 20 espécies de flores

Marechal Cândido Rondon conta com o Grupo de Estudos em Fruticultura e Floricultura da Unioeste (GEFF) desde 2016, quando houve a necessidade da criação do setor para dar suporte às atividades de pesquisa, bem como às aulas práticas do curso de Agronomia.

Atualmente, o grupo produz flores de corte, flores de vaso e plantas ornamentais. Toda a produção é destinada à pesquisa e em estudos como adubação, densidade de plantio, manejo, técnicas de propagação e conservação pós-colheita. “Além das pesquisas realizadas pelo grupo, as flores também são utilizadas em arranjos para ornamentação de eventos da universidade e, quando há um excedente de flores, são utilizadas para embelezar e dar vida aos ambientes internos da Instituição”, ressalta a professora Fabíola.

As flores são produzidas em dois ambientes telados, com 320 e 225 metros quadrados, uma casa de vegetação de 80 metros quadrados, além de uma área a campo com 0,5 hectare, localizada na Fazenda Experimental Professor Doutor Antônio Carlos dos Santos Pessoa, localizada na Linha Guará, interior rondonense.

Além da área de 0,5 hectare, a nova localização do setor de floricultura terá também uma casa e um pequeno galpão que darão suporte às atividades da equipe. A expectativa é que possam ser adicionadas de cinco a dez novas espécies de cultivo nos próximos dois anos, de acordo com as demandas dos estudantes e da sociedade.

Em 2022 o setor de floricultura será transferido para uma nova área, também localizada na Fazenda Experimental da Unioeste, na Linha Guará. O objetivo da transferência é facilitar e tornar mais dinâmicas as atividades do grupo, visto que a nova área se encontra lateralmente ao setor de fruticultura, também de responsabilidade da professora Fabíola Villa e no qual o grupo GEFF trabalha.

O GEFF cultiva aproximadamente 20 espécies de flores. São elas: estátice, copo-de-leite, gladíolo, girassol, lavanda, helicônia, tango, áster, estrelitzia, hemerocale, crisântemo, rosa, rosa-do-deserto, bastão-do-imperador, gengibre ornamental, alpínia, calla, suculentas, flor-de-cera, buxinho e podocarpo.

Flores produzidas pelo Grupo de Estudos em Fruticultura e Floricultura da Unioeste são utilizadas em pesquisas e aulas práticas do curso de Agronomia (Foto: Divulgação)

Coordenadora do Grupo de Estudos em Fruticultura e Floricultura (GEFF) da Unioeste, Fabíola Villa, com equipe do GEFF na fazenda experimental da Linha Guará: estação de cultivo protegido (Foto: Divulgação)

 

Em 2022 o setor de floricultura será transferido para uma nova área, também localizada na Fazenda Experimental da Unioeste, na Linha Guará: objetivo é tornar mais dinâmicas as atividades do GEFF (Foto: Divulgação)

 

Setor da floricultura teve 10% de aumento no faturamento

No decorrer do ano, a floricultura é lembrada, principalmente, em datas comemorativas. Aniversários, dia das mães, dos namorados, bodas de casamento e muitas outras ocasiões especiais. Em 2020, mesmo em meio à pandemia da Covid-19, a atividade teve um crescimento de 10% no faturamento, segundo o Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor).

Os números compreendem desde a produção até as vendas por atacado e varejo. Foram R$ 9,6 bilhões em comercialização apenas no último ano. Essa evolução é registrada desde 2012, quando o seguimento movimentou R$ 4,8 bilhões. Para 2021, a expectativa é de crescimento entre 2% e 5%, uma estimativa reduzida devido ao coronavírus.

Ainda de acordo com o instituto, 50% da produção é de plantas ornamentais. O restante é divido em flores de corte, flores em vasos e outros serviços.

Conforme dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são oito mil produtores de flores e plantas ornamentais em todo o Brasil. São cultivadas cerca de 2,5 mil espécies, com aproximadamente 17,5 mil variedades.

Há 60 centrais de atacado (como as cooperativas, por exemplo), 680 atacadistas e prestadores de serviço e mais de 20 mil pontos de varejo. São cerca de 15,6 mil hectares de área cultivada, o que coloca o país no oitavo lugar entre os maiores produtores de plantas ornamentais do mundo.

 

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