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Roubos aumentam 66% de um ano para o outro em Marechal Rondon

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Furtos e roubos foram motivos de debates por diversos momentos no primeiro semestre deste ano em Marechal Cândido Rondon. Não à toa, pois os números da criminalidade assustam e justificam a sensação de insegurança vivida pela comunidade.

De acordo com dados divulgados pela Polícia Militar (PM), de janeiro a junho foram registrados 65 roubos, contra 39 ocorridos no mesmo período do ano passado, caracterizando um aumento de 66,67%. Em contrapartida, o número de furtos apresentou uma sensível diminuição, passando de 285 nos primeiros seis meses de 2016 para 272 no mesmo período deste ano, queda de quase 5% nas ocorrências dessa natureza.

Conforme o comandante da 2ª Companhia de Polícia Militar de Marechal Cândido Rondon, capitão Valmir de Souza, a polícia não usa um comparativo de um ano para outro para falar de criminalidade, visto que é difícil estabelecer um parâmetro dizendo que em determinado período a criminalidade aumentou e isso foi motivado por um fator específico. Segundo ele, a criminalidade de um ano para outro não fornece parâmetros confiáveis para que se faça uma análise geral. “De um ano para outro, podemos ter fenômenos pontuais que irão influenciar na prática dos crimes, que foi o que percebemos neste ano. Pessoas que iniciaram na prática do crime, continuaram realizando esses crimes até serem detidas, ou seja, pessoas que voltaram a cometer delitos após ficarem presas por determinado período”, destaca Souza.

De acordo com o capitão, do ano passado para este é preciso pontuar que houve redução de efetivo, além de dificuldades técnicas para poder realizar o policiamento. “Em vista disso, se formos falar em números brutos, do ano passado para este a criminalidade tende a ter um aumento considerável”, salienta.

 

Alvos preferidos

Abril e maio deste ano foram os meses que mais tiveram registros de roubos no município, 26 e 14, respectivamente. Os alvos escolhidos pelos criminosos em sua grande maioria foram os pequenos comércios. “A vulnerabilidade desses locais, a falta de segurança e o pouco fluxo de pessoas, aliados aos horários em que os crimes foram cometidos, podem ter sido fatores predominantes para os bandidos. Logo começamos a perceber que as características dos crimes eram as mesmas e que poderiam ser os mesmos envolvidos”, menciona Souza.

Pelo fato de Marechal Rondon ser rota de contrabando e descaminho, os furtos e roubos ocorridos no município podem ter ligação com o tráfico de drogas, visto que muitos furtam ou roubam determinados produtos, bens ou objetos para trocar por drogas. “Toda essa conjuntura pode estar ligada não somente com o tráfico, mas se pensarmos que o criminoso também troca os produtos de furto ou roubo por cigarros e bebidas, isso também seria um fator diretamente ligado, assim como a própria ganância e a satisfação dos interesses e dos anseios pessoais”, expõe o comandante da PM. “Há vezes em que o tráfico está ligado aos furtos e roubos, mas que sempre o objetivo é a troca por drogas, isso eu acredito que não”, completa.

 

Trabalho incansável

Souza define o trabalho da Polícia Militar frente às últimas ocorrências de furtos e roubos como incansável. “Não paramos nem mesmo quando os índices de criminalidade estão menores. Claro que quando esses percentuais forem menores, nós iremos nos ater a outros tipos de trabalho, que demandem uma maior atenção”, frisa.

O capitão ainda ressalta a união de esforços entre as polícias Militar e Civil, que trabalham em conjunto a fim de diminuir a criminalidade no munícipio e coibir a prática de ilícitos. “A Polícia Civil sempre nos apoia irrestritamente com as informações colhidas, com isso estamos conseguindo desenvolver um trabalho mais ampliado”, enfatiza.

Segundo o comandante, todo trabalho que a PM realiza é visando a segurança pública e o interesse da coletividade. As ações são desenvolvidas com um foco específico, a fim de combater determinados ilícitos que começam a sair da “curva”. “Se há uma tendência de crimes e essa tendência não está sendo observada, nós iremos atuar para que isso diminua. Se tivéssemos problemas com homicídios, iríamos atuar especificamente para que esses crimes fossem cessados, da mesma forma que temos problemas com furtos e roubos e estamos desenvolvendo ações específicas para que possamos coibir essas práticas. As ações da PM são voltadas para os crimes que começam a se sobressair”, ressalta Souza.

Ele diz que a PM espera conseguir diminuir os índices que aumentaram do ano passado para esse. “Isso é uma tendência, mas esperamos que com o trabalho efetivo que estamos realizando consigamos diminuir e ter, ao longo do segundo semestre, patamares mais tranquilos para que as pessoas possam estar mais ambientadas e tranquilas em suas próprias casas”, salienta.

 

Reincidência x impunidade

Por parte dos criminosos, Souza percebe que a ideia de impunidade gera um fator de reincidência muito grande. No entanto, a reincidência não é penal, mas sim policial, ou seja, pessoas que se envolvem em circunstâncias policiais por um determinado número de vezes e não são julgadas. “Quando os policiais prendem alguma pessoa, ela não será condenada apenas através dos depoimentos dos policiais militares, isso não é autoridade da PM. A polícia faz a prisão, mas se todo o processo penal não for cumprido, se não houver defesa contraditória e não haver o devido processo legal, no sentido de se aprofundar as provas que foram apresentadas, e essa condenação for gerada apenas pelo fato dos policiais militares colocarem seus depoimentos não podem responsabilizar os policiais por isso”, exemplifica. “A culpa não é da PM que fez a prisão, ela fez seu papel. Se a lei diz que tráfico é crime e a pessoa foi presa nessa configuração criminal, ela deve ser julgada e condenada por essa situação. Não cabe aos policiais militares serem responsabilizados por todo processo. Cabe a eles apresentarem as provas do flagrante”, acrescenta.

 

O que é mais importante?

Se por um lado houve aumento no número de crimes, também foi verificado um maior número de acidentes de trânsito com mortes em Marechal Rondon. Sobre isso, o comandante da PM comenta que a partir do momento em que os números de furtos e roubos se sobressaíram, a polícia teve de abdicar de realizar um trabalho de policiamento de trânsito mais efetivo, para voltar a atenção para os crimes que estavam ocorrendo. “Muitas vezes as pessoas não conseguem perceber que em um trabalho de bloqueio de trânsito nós estamos tirando de circulação também os criminosos, impedindo que eles cometam os delitos com esses veículos, como foi verificado na semana passada, quando um casal foi preso após praticar dois arrombamentos e utilizando como meio de locomoção uma motocicleta”, evidencia.

Sustentando sua tese, Souza diz que nos últimos dias ocorreram três mortes devido a acidentes de trânsito, mas nenhuma por latrocínio, ou seja, roubo seguido de morte. “O que é mais importante para a polícia: evitar as mortes ou evitar os roubos e os furtos? Essa é uma pergunta que não tem uma resposta simples. Nós não queremos que os crimes aconteçam, é o patrimônio das pessoas que estão sendo dilapidados, juntamente com o trabalho e o esforço pessoal de cada um. No entanto, por outro lado, a vida é importante e no trânsito também se perdem vidas, e muito mais vidas inocentes do que em uma briga de bar, por exemplo”, compara.

 

Para o crime não há idade

O número de jovens e adolescentes que entram para o crime cresce a cada dia em todo o Brasil. Em Marechal Rondon, grande parte dos furtos e roubos desse primeiro semestre teve o envolvimento de menores. “Verificamos que a participação de adolescentes é uma tendência geral. Claro que precisamos analisar caso por caso, visto que muitas vezes o adolescente se expõe muito mais que um adulto, até mesmo pela ideia errônea de que ele não será responsabilizado”, avalia Souza.

Para o capitão, isso reforça a questão da possibilidade e importância do município ter um Centro de Socioeducação (Cense). “Hoje há na sociedade uma ideia do encarceramento como algo ruim, mas, por outro lado, a medida se mostra efetiva e também responsável pela reabilitação de pessoas”, opina.

 

Insegurança

A coordenadora da Cooperativa de Agentes Ambientais de Marechal Rondon (Cooperagir), Caroline Bünzen, foi uma das vítimas de assalto à mão armada neste ano no município. A ação criminosa foi registrada no início da tarde do dia 25 de abril. No momento do assalto, Caroline, acompanhada de outros funcionários, realizava o pagamento dos cooperados. O valor de

R$ 40 mil foi levado pelos assaltantes. “O assalto durou cerca de três a cinco minutos. Todo mundo saiu correndo. O segurança saiu em direção à rua e eles entraram, pegaram o dinheiro do caixa e foram embora”, relata Caroline, acrescentando que os criminosos estavam armados e até mesmo efetuaram um disparo contra a parede.

Mais de dois meses depois do assalto, o medo e a insegurança continuam assombrando Caroline, bem como as pessoas que presenciaram a ação dos criminosos. “Está sendo bem difícil, estamos tentando abrir contas em bancos para os cooperados, para fazermos o pagamento via depósito”, conta Caroline, destacando que durante esses dois meses os pagamentos foram realizados com acompanhamento e escolta policial.

Após o assalto, a segurança do escritório foi reforçada com câmeras e alarmes. “Agora fica aquela insegurança, parece que você vai no banco e sempre tem alguém te seguindo. Não saímos mais sozinhas do escritório e sempre abrimos quando tem mais alguém por perto, para termos mais segurança. Eu por diversas noites não consegui dormi”, revela Caroline.

A proprietária do mercado e da panificadora Gula Gula, Nelsi Salete Maltauro, também compartilha da insegurança vivida pelos rondonenses. O seu mercado, localizado na Rua Sete de Setembro, foi alvo de um assalto à mão armada no mês de maio deste ano e também de um arrombamento, no último dia 22. Na ocasião do assalto, somente a funcionária estava no mercado. O criminoso teria entrado no local, fazendo menção de estar armado e, após dar voz de assalto à atendente, exigiu o dinheiro que havia no caixa.

Já o arrombamento foi praticado por um elemento que usava capacete para esconder o rosto. Ele estourou a porta de vidro do mercado e furtou uma gaveta do caixa, que não continha dinheiro, e algumas carteiras de cigarros.

Para Nelsi, o que fica é a insegurança e a incerteza de estar trabalhando, mas não saber como o dia terminará. “Além disso, o sentimento é de revolta, porque você não quer nada além da possibilidade de estar exercendo sua atividade comercial”, declara a empresária, que ressalta que não é somente a própria vida que é colocada em risco, mas também a de todos os funcionários.

Com dois estabelecimentos, Nelsi conta que paga um segurança armado para ficar na panificadora, visto que lá o movimento é maior e o horário de trabalho é estendido. “No entanto, eu gostaria que os responsáveis pela nossa segurança e as autoridades do Poder Público esclarecessem o que está sendo feito para combater essa criminalidade no município. Como cidadã, eu tenho direito de saber”, questiona.

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