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Aos oito meses de idade, Luciano Tibério foi acometido pela poliomielite, patologia causada pelo póliovírus, que ataca as células nervosas do cérebro e da espinha dorsal – responsáveis por controlar os músculos voluntários envolvidos em movimentos como caminhar. Em uma pequena porcentagem das pessoas atingidas, a infecção pode levar à paralisia permanente e, desde pequeno, Tibério tem como companheiras suas muletas, mas que 42 anos depois não tiraram sua independência. “Tenho paralisia só da perna esquerda, não fui acometido de forma tão grave, mas preciso do auxílio das muletas e tenho um aparelho na perna para poder apoiar e caminhar. Tenho meu carro, minha esposa, uma vida social bacana, sou totalmente independente e todos podem fazer isso, é só questão de querer”, expõe.

O auxiliar administrativo abre esta reportagem como forma de mostrar que não ouvir ou enxergar, possuir limitações intelectuais ou motoras, não são empecilhos para que pessoas com deficiências façam parte do mercado de trabalho. “Tenho 20 anos de carteira assinada, alguns anos trabalhei na informalidade, mas vejo que nesses últimos 20 anos, que foi quando tive o primeiro registro na Carteira de Trabalho, a consciência dos empresários e da sociedade mudou muito e vem evoluindo a cada dia, mas ainda tem muito a melhorar. Contudo, não coloco como se a culpa fosse da empresa ou do empresário. Não existe nenhum culpado, nem o deficiente nem o empresário. Existe uma questão de modernidade, de globalização, onde a gente está sendo inserido”, opina.

Apesar de ter nascido em Assis Chateaubriand, Tibério já se considera um cidadão rondonense por residir no município há 13 anos – mesmo período que faz parte do quadro de colaboradores de uma cooperativa local. O rondonense conta que começou a trabalhar aos 12 anos vendendo cachorro-quente e, posteriormente, como funcionário terceirizado dos Correios em sua cidade natal, por meio de uma associação de deficientes de Cascavel a qual era afiliado.  “Depois de sete anos trabalhando como caixa, passei no vestibular em Marechal Rondon e, como minha namorada já residia aqui, vim morar no município, onde casei, constitui minha família e acabei virando um cidadão rondonense”, comenta. 

Hoje, além de responder pelas áreas de transportes, segurança e rescisões da Unidade Industrial de Aves (UIA) da Copagril, o assistente administrativo também coordena todos os jogos da equipe de futsal que leva o nome do município na parte de segurança, organização, caixa, entrada e saída de público. “É uma grande responsabilidade levando em conta o que o time representa”, menciona.

Fazer acontecer

Incluir as pessoas com deficiência no mercado de trabalho não permite apenas que, assim como outros cidadãos, elas tenham um salário, mas também que tenham a oportunidade de conviver socialmente, já que o exercício profissional traz consigo a interação com outras pessoas, o sentimento de cidadão produtivo, a possibilidade de fazer amizade e estreitar relacionamentos e até mesmo de melhorar o status perante a sua própria família.

Apesar disso, Tibério pontua que, assim como para os idosos, aidéticos e homossexuais, para os deficientes não será de um dia para o outro que a inclusão vai acontecer, permitindo que todos tenham acesso a tudo de forma igualitária. “É preciso moldar o pensamento e a consciência e a pessoa que faz parte disso se sentir na vontade de ser inserido no mercado de trabalho. Muitas vezes nós mesmos nos isolamos, pois mercado de trabalho em si tem bastante para o deficiente, mas nem sempre o deficiente está disposto a entrar no mercado de trabalho”, pontua. “Eu participo de uma equipe de handebol em cadeira de rodas e já convidei vários colegas para vir trabalhar comigo, mas a maioria não quer porque recebem um benefício do governo e acham que aquilo está bom para o resto da vida. São muito acomodados”, complementa.

O rondonense opina que, atualmente, não é a parte do empresariado que está faltando com as pessoas com deficiência, mas, sim, os deficientes que não estão buscando as oportunidades que o mercado está disponibilizando. “Se eu quiser sair daqui, teria outros trabalhos em outras empresas. Já fui convidado, mas estou em uma posição confortável, tenho 13 anos de empresa, um cargo de chefia, com diversas responsabilidades e principalmente adoro o que eu faço, e é isso o que me motiva a continuar aqui”, diz. “O deficiente muitas vezes se impõe a limitação, não é a sociedade que o limita. Se a gente quiser fazer alguma coisa, a gente vai conseguir”, afirma.

Obrigatoriedade

Conforme o artigo 93 da lei federal nº 8.213 de 1991, empresas que possuem mais de 100 colaboradores são obrigadas a preencher de dois a cinco por cento dos cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas com deficiência de acordo com a proporção de trabalhadores que empregam.

Todavia, não são apenas empresas de médio e grande porte que precisam abrir espaço para incluir deficientes físicos, mentais ou intelectuais, auditivos e visuais no mercado de trabalho. “Esporadicamente, se alguma empresa encontrar alguma pessoa com deficiência que supra sua necessidade, é possível que a contratação ocorra, mas normalmente não é desta forma que as empresas que não precisam cumprir com a Lei das Cotas atuam”, aponta o gerente do Sistema Nacional de Emprego (Sine) de Marechal Rondon, Arli Neodi Costa (Pereira).

Na última sexta-feira (29), a Agência do Trabalhador aderiu ao “Dia D” da Inclusão Social e Profissional das Pessoas com Deficiência e dos Beneficiários Reabilitados do INSS, uma iniciativa do Ministério do Trabalho que objetiva oportunizar a pessoas com deficiência o ingresso no mercado de trabalho e às empresas que integrem este público em seu quadro de funcionários.

No município, 20 vagas estavam disponíveis para empregar pessoas com qualquer tipo de deficiência – sendo algumas exclusivas para este público. O resultado é oriundo de um trabalho desenvolvido pela equipe do Sine durante todo o mês de setembro, que envolveu a visitação das empresas que precisam cumprir com a Lei das Cotas e também entidades que atendem pessoas que possam cumprir com essas vagas. “No Dia D, encaminhamos 15 pessoas para preencher essas vagas, que participaram de uma recepção especial aqui no Sine”, explica. “Isso, porém, não significa necessariamente que todas elas terão êxito na busca pelo emprego, já que apesar das vagas contemplarem pessoas com deficiência, o trabalhador precisa estar apto a exercer a função de acordo com as exigências da empresa”, lembra Pereira.

Confira a matéria completa na edição impressa desta terça-feira (03).

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