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Marechal Suinocultura em perigo

Suinocultores independentes de Marechal Rondon incorporam medidas para diminuir produção

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(Foto: Sandro Mesquita/OP)

Com capacidade de alojar sete mil animais, a propriedade JMJ precisa “conter” a produção de suínos diante das dificuldades vivenciadas pela suinocultura independente. “O setor está passando por momentos bem complicados, principalmente em função do aumento do custo de produção”, afirma a suinocultora Jenifer Gish, da Granja Gish, localizada na Linha Neuhaus em Novo Três Passos, distrito de Marechal Cândido Rondon.

A decadência do setor, para além dos elevados custos de produção, é um reflexo dos investimentos feitos durante períodos promissores da suinocultura nacional. “A peste suína atingiu a China há cerca de quatro anos e, naquele momento, os produtores fizeram investimentos no setor aqui no Brasil, o que aumentou a produção tanto em quantidade quanto na melhora dos resultados. A grande quantidade de animais que temos hoje tinha a China para escoamento da produção. Por fim, o país chinês está se restabelecendo e os suinocultores brasileiros ‘perderam’ esse mercado”, menciona.

 

Mercado interno não absorve

Como consequência, Jenifer explica que o mercado interno não tem conseguido absorver a oferta de suínos. “Nosso consumo per capita hoje está em torno de 18,75 quilos e não consegue absorver todo esse excedente. Os consumidores internos estão com o poder de compra muito baixo e isso impacta na saída da produção”, pontua, acrescentando que é preciso abrir espaço para o consumo da proteína suína. “Hoje você encontra carne suína, tipo picanha, em torno de R$ 15. A carne suína está mais barata e é uma boa opção, além de ser muito nutritiva, porque também tem pouca gordura”, destaca.

Da Granja Gish, no distrito rondonense de Novo Três Passos, suinocultora Jenifer Gish: “Os custos de produção estão em torno de R$ 750 por animal e a venda tem acontecido a R$ 4 ou R$ 4,5/quilo. Então, acaba acumulando um prejuízo de R$ 350 por cabeça” (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

Prejuízo de R$ 350/animal

Combinando a falta de mercado com os custos de produção elevados, a suinocultora pontua que a alternativa é vender o animal o mais cedo possível. “Os custos de produção estão em torno de R$ 750 por animal e a venda tem acontecido a R$ 4 ou R$ 4,5/quilo. Então, acaba acumulando um prejuízo de R$ 350 por cabeça. Assim, quanto antes o suinocultor vender o animal menor é o prejuízo dele”, pontua.

A equação entre comercialização e custo de produção só deve melhorar com uma boa safra, de acordo com Jenifer. “Esperamos que a safra que está sendo implantada não sofra com eventos climáticos prejudiciais para que a gente consiga reduzir os custos de produção”, amplia, emendando que o farelo de soja é um dos ingredientes presentes na alimentação do suíno e está caro. “Tudo é dolarizado”, reforça.

 

Mudanças na produção

Para amenizar os impactos, a Granja Gish tem implementado algumas medidas na produção. “Mudamos as dietas, reduzimos o peso do abate e diminuímos o número de matrizes. O peso dos animais para abate era de 130 quilos, está em 115 quilos e buscamos diminuir mais ainda. Quanto às matrizes, vamos diminuir em torno de 15%”, detalha.

As medidas, segundo ela, deveriam ser incorporadas por todos os suinocultores para que o ramo se mantenha viável em médio e longo prazo. “Não é só o suinocultor independente que vem sofrendo, mas também as integrações e os demais segmentos da área lidam com esses mesmos problemas”, enfatiza.

Granja Gish deve diminuir número de matrizes em 15% como medida protetiva de controle da produção (Foto: Raquel Ratajczyk/OP)

 

“Haverá uma redução forçada da produção”, afirma diretor-executivo da Frimesa

Dificuldades da suinocultura também respingam na produção cooperada. Diretor-executivo da Frimesa destaca medidas em âmbito produtivo, governamental e varejista para superação da crise

O problema da suinocultura afeta produtores independentes, mas as cooperativas já sentem uma mudança nos ares. “A Frimesa vende 80% de seus produtos suínos no mercado interno e 20% no mercado externo. Atuamos majoritariamente no pequeno e médio varejo, onde a estabilidade de demanda e preços é melhor. Mesmo assim sentimos uma queda no consumo em algumas linhas de produtos”, expõe o diretor-executivo da Frimesa, Elias Zydek, pontuando que os preços caíram tanto no mercado interno quanto no externo.

A crise na suinocultura, atribui ele, é gerada pelo alto custo da produção, devido aos preços elevados dos grãos, e por uma demanda reduzida. “Essa realidade atinge todos da mesma forma, mas sofrem menos aqueles que estão dentro de uma cadeia produtiva integrada, como é o caso das cooperativas”, ressalta.

 

Impacto também em outros países

Além do Brasil, outros países produtores de suínos também se veem diante do cenário desafiador. “A China ter perdido 40% da produção e se recuperado disso em três anos fez com que a produção crescesse exageradamente nos países exportadores, aumentando a oferta. Agora essa produção maior sofre com a queda nos preços de um lado e aumento dos custos no outro. Nossa avaliação é de que haverá uma redução forçada da produção baseada na capacidade de resiliência dos atores, no Brasil e na região”, considera.

 

Como superar a crise?

Ao Jornal O Presente, Zydek reforça que é necessário ajustar a produção ao tamanho da demanda externa e interna, e não aguardar que o mercado force essa mudança. “É preciso reduzir custos via produtividade e eficiência, adotar alternativas na alimentação dos suínos e avançar no status sanitário do plantel. No país é importante que os estoques de milho e farelo de soja sejam mantidos em nível suficiente para as cadeias produtivas da proteína animal. No varejo, é preciso diminuir as margens de ganho para que o consumidor aumente o consumo interno e viabilize todos que investiram na produção e industrialização dos produtos suínos”, enfatiza.

Diretor-executivo da Frimesa, Elias Zydek: “A China ter perdido 40% da produção e se recuperado disso em três anos fez com que a produção crescesse exageradamente nos países exportadores, aumentando a oferta. Agora essa produção maior sofre com a queda nos preços de um lado e aumento dos custos no outro” (Foto: Divulgação)

 

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