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Marechal Entrevista ao O Presente

Unioeste almeja retorno presencial em novembro

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Diretor do campus da Unioeste de Marechal Rondon, Davi Félix Schreiner: “Esse é o aprendizado que tiramos da pandemia: não fazemos uma sociedade ou uma vida privada sozinhos, precisamos uns dos outros. Se a solidariedade e a visão da ciência tivessem prevalecido desde o princípio, não teríamos essa quantidade de mortos” (Foto: O Presente)

Na reta final do calendário acadêmico de 2020, a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) se prepara para um possível início do ano letivo de 2021, em novembro, com aulas presenciais. “Com o avanço da vacinação de toda a população e com a diminuição dos casos e transmissão do coronavírus, esperamos retornar integralmente com as atividades acadêmicas presenciais”, deseja o diretor do campus rondonense, Davi Félix Schreiner.

Ao O Presente, Schreiner fez uma avaliação das atividades entremeio à pandemia de Covid-19, adiantou novidades que estão em andamento e revelou projetos prestes a saírem do papel, como o Centro de Saúde e Atividades Físicas, Centro de Apoio de Produção Acadêmica e a especialização de Conciliação e Arbitragem para formados em Direito. Confira.

 

O Presente (OP): Depois de tantos desafios em virtude da pandemia, o ano letivo 2020 da Unioeste entra na reta final. Qual avalição pode ser feita? É possível dizer que foi o ano mais difícil da história da Unioeste, diante das limitações e restrições causadas pela Covid-19, entre tantos outros aspectos?

Davi Félix Schreiner (DFS): Foi um ano muito difícil para toda a comunidade acadêmica. A universidade teve que se reinventar de modo a propiciar continuidade das atividades de ensino, pesquisa, extensão e de prestação de serviços à comunidade. Quando adotamos as aulas remotas, professores e alunos se fizeram, e se fazem, presentes simultaneamente. Ao mesmo tempo, essa forma de ensino propiciou a gravação das aulas e a disponibilização delas em até 48 horas. Assim, os alunos têm mais um recurso para os seus estudos. A universidade debateu de forma aprofundada essa forma de ensino e iniciamos com 20% da carga horária em cada curso. Depois, ofertamos integralmente as aulas do curso, exceto as cargas horárias de atividades práticas. Iniciamos com as aulas remotas na pós-graduação, haja vista que já existia uma legislação da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e internamente criamos uma legislação também. Ao mesmo tempo, muitos dos professores tiveram que se preparar para manejar a plataforma Microsoft Teams, utilizada na Unioeste. Simultaneamente às aulas remotas, possibilitamos aos alunos que continuassem fazendo as pesquisas nos laboratórios dos três centros do nosso campus, o que exigiu um protocolo. Na parte da gestão, houve a necessidade de adaptação de horários para continuidade das atividades administrativas e essenciais, assim como as estações experimentais, que em nenhum momento paralisaram suas ações. Deve-se agregar aos limites enfrentados o impacto que se causou em toda a comunidade acadêmica, bem como na população. Nossa geração nunca enfrentou uma pandemia antes disso e, portanto, tivemos que lidar todos juntos com essa nova conjuntura. Em diversas dimensões estamos mais fortalecidos e hoje temos uma visão bem mais aprofundada, além de nos portarmos com maior organização, funcionalidade e cuidados necessários. Não deixamos de proceder com a realização de bancas de mestrado e doutorado a nível de graduação. Inclusive, realizamos a colação de grau de turmas. A universidade não paralisou as atividades, continuou com parte delas presenciais e parte de modo remoto.

 

OP: Qual é a expectativa para o ano letivo 2021, que inicia em novembro? Há chances de começar de forma presencial para todos os cursos?

DFS: Estamos com expectativa de voltar presencialmente com todas as atividades, mas isso depende da conjuntura que viveremos no mês de novembro. Com o avanço da vacinação de toda a população e com a diminuição dos casos e transmissão do coronavírus, esperamos retornar integralmente com as atividades acadêmicas presenciais. A forma do retorno em novembro está sendo discutida internamente nos cinco campi e na reitoria. Do mesmo modo que fizemos antes de implementar as aulas remotas, discutimos agora como será o retorno integral às atividades presenciais, mas não sabemos ainda se será de modo híbrido ou totalmente presencial desde o início. Esperamos que possa ser totalmente presencial, porque é essa a essência da universidade. Não vemos a hora de termos salas de aulas ocupadas, alunos utilizando os espaços da universidade e tudo mais que ela pode oferecer para a formação dos profissionais.

Diretor do campus da Unioeste de Marechal Rondon, Davi Félix Schreiner: “Deveremos retomar o ensino presencial com a incorporação de meios tecnológicos que contribuam para a melhoria da qualidade do ensino presencial. Este é um ganho importante, porque se percebeu que o ensino pode se beneficiar muito de recursos tecnológicos, propiciando maior qualidade de formação” (Foto: O Presente)

 

OP: Com o atraso no calendário acadêmico, haverá período de férias em dezembro, janeiro e fevereiro ou deve acontecer uma pausa menor nas atividades? Tem algo previsto neste sentido?

DFS: Deveremos ter um pequeno intervalo em outubro, apenas para terminar o registro de notas e as matrículas. Em novembro já iniciamos, são apenas alguns dias. Da mesma forma, só teremos intervalo no final de dezembro, retornando em janeiro as atividades letivas.

 

OP: Qual é o percentual de servidores, professores e bolsistas do campus rondonense da Unioeste já vacinados contra a Covid-19?

DFS: A vacina foi oportunizada a todos os docentes, funcionários, inclusive terceirizados, estagiários e bolsistas, sejam residentes, técnicos, de programas, de pós ou de atendimento à comunidade, atuando em convênios e presencialmente na universidade. Acreditamos que a totalidade tenha se vacinado, visto que tiveram a oportunidade. Talvez haja um ou outro profissional que não tenha se imunizado por razões diversas, mas acreditamos que quase a totalidade tenha sido imunizada.

 

OP: Neste período de pandemia, houve muita evasão escolar, em especial na rede estadual. Isso também foi registrado no Ensino Superior, no campus rondonense da Unioeste? Muitos acadêmicos desistiram de cursos, trancaram matrícula?

DFS: A evasão escolar é um tema bastante complexo e que envolve múltiplas dimensões. Evidentemente, a pandemia é um dos aspectos que precisa ser considerado. Ela já vinha sendo sentida há alguns anos, contudo foi mitigada com assistência estudantil e outros meios. Agora, a evasão escolar precisa ser medida pelos alunos que teremos com a realização do vestibular em comparação ao número de alunos que efetivamente se matricularão. Está sendo encaminhado um levantamento aos alunos sobre essa questão e outras para subsidiar políticas universitárias. No que se refere à evasão, no campus de Marechal Rondon não sentimos durante a pandemia um grande impacto.

 

OP: A Unioeste realizou neste fim de semana o vestibular. Foi registrada procura menor pelos cursos no campus local? Houve um aumento ou o número de inscritos para Marechal Rondon se manteve aos de antes da pandemia?

DFS: Verificou-se no vestibular uma diminuição no número de inscritos em toda a universidade, uma questão que ainda precisa ser avaliada, pois envolve diferentes fatores.

 

OP: Os impactos da Covid-19 são notórios nos mais variados setores. Qual avaliação o senhor faz dos reflexos gerados na comunidade acadêmica neste um ano e quatro meses de pandemia?

DFS: A pandemia gerou diversos impactos, desde psicológicos até a forma da organização e da rotina das pessoas. Entre os aspectos impactantes, a crise gera necessidade de enfrentar problemas que não se tinham anteriormente, desde a mudança de uma cultura e comportamento no que se refere ao cuidado e à prevenção ao vírus. Esta mudança de comportamento e cultura já foi incorporada em boa parte da comunidade acadêmica. Gerou um impacto no modo de se olhar a concepção da universidade e a necessidade de incorporarmos meios tecnológicos no âmbito do ensino presencial. Embora a universidade tenha como regime um ensino presencial, evidentemente trabalharemos muito mais do que antes com recursos tecnológicos nas atividades letivas, bem como no que concerne à organização burocrática, administrativa e da gestão na universidade. A utilização de recursos tecnológicos garante maior velocidade na transmissão de informações, um contato mais ágil e promove economia do ponto de vista da estrutura da universidade. Ainda assim, o regime presencial vai ser mantido na nossa universidade. Claro que as atividades remotas são importantes e parte delas vão continuar incorporadas à prática do ensino e aprendizagem, contudo não oferece a mesma riqueza do ensino presencial. Não tivemos grandes limites no ponto de vista do acesso à internet, porque a universidade disponibilizou smartphones ou notebooks para os alunos. A dificuldade foi sentida em alguns momentos no funcionamento da internet. Nesses casos nem sempre o problema está na instituição, mas sim na rede de internet que temos disponível na região. Essa é uma dificuldade, porque a rede não alcança certos lugares em que os alunos residem.

 

OP: Aulas híbridas, remotas, trouxeram dificuldades para muitos estudantes. Será possível sanar esses impactos, que, de certa forma, limitaram e comprometeram o ensino-aprendizagem? Ou teremos uma geração, como dizem por aí, com um vácuo na formação?

DFS: É uma questão que não pode ser respondida de forma apressada, mas precisa sim ser avaliada com profundidade e bastante zelo para que possamos trabalhar contra os eventuais prejuízos e no sentido de nós propiciarmos ações para a melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis.

 

OP: O senhor consegue visualizar o pós-pandemia, em especial nas universidades?

DFS: No pós-pandemia, a vivência desse problema deve continuar a fazer parte das preocupações da humanidade, sobretudo no sentido de mudar uma cultura, de investir mais na ciência e propiciar pesquisas para prevenção de novas pandemias. O impacto no mundo da ciência será bastante grande. Se até antes da pandemia o volume de recursos para pesquisas que identificavam o surgimento de graves doenças diminuiu consideravelmente, com a pandemia esse tipo de investimento pelos países deve aumentar substancialmente. No cotidiano das pessoas, organizações e empresas, a pandemia deve impactar no surgimento de novas relações de trabalho. Deve haver mudanças no ponto de vista cultural das populações com incremento de tecnologias, hábitos de melhor higiene e uma preocupação constante com investimentos públicos que diminuam a desigualdade social. Na universidade, deveremos retomar o ensino presencial com a incorporação de meios tecnológicos que contribuam para a melhoria da qualidade do ensino presencial. Este é um ganho importante, porque se percebeu que o ensino pode se beneficiar muito de recursos tecnológicos, propiciando maior qualidade de formação.

 

OP: O reitor declarou em recente entrevista ao O Presente que o calendário acadêmico vai demorar quatro anos para voltar à normalidade, com aulas iniciando em fevereiro e terminando em novembro. O senhor partilha da mesma opinião?

DFS: Vai demorar até que consigamos equacionar o calendário acadêmico dentro do período do ano letivo, haja vista o período em que apenas parte da carga horária foi ministrada de forma remota. Não é possível precisar quanto tempo vamos levar, mas certamente vamos de dois a três anos para que colocarmos na normalidade o ano letivo.

 

OP: Hoje, melhor do que em 2020, é possível avaliar com mais propriedade e visualizar as consequências da pandemia. Que lição tirar desse tempo de dificuldades? O que vai ficar de bom?

DFS: Hoje trabalhamos de forma bem mais sistematizada, organizada e com maior tranquilidade em relação à pandemia, mas isso não significa menor preocupação no que diz respeito às práticas de prevenção da transmissão do vírus. Nesse momento temos iniciada a segunda fase da vacinação para muitas pessoas e precisamos redobrar os cuidados, porque a pandemia não está sob controle ainda. Temos uma possível tendência de queda na medida em que a população é vacinada, mas como se vê há o surgimento de outras variantes. Então, é preciso continuar tendo cuidado. Talvez uma palavra que sintetize o momento que vivemos é solidariedade. No início da pandemia havia muita informação desencontrada, fake news e politização de uma questão que deveria estar acima de qualquer cunho ideológico. Trata-se da saúde das pessoas e na medida que cuido da minha saúde estou cuidando da saúde do próximo. E assim se faz uma rede de solidariedade e de uns com os outros. Esse é o aprendizado que tiramos da pandemia: não fazemos uma sociedade ou uma vida privada sozinhos, precisamos uns dos outros. Se a solidariedade e a visão da ciência tivessem prevalecido desde o princípio, não teríamos essa quantidade de mortos pela pandemia.

 

OP: Há alguma novidade para o campus de Marechal Rondon?

DFS: Queremos inaugurar nesse semestre o Complexo de Laboratórios do Centro de Ciências Agrárias. Além disso, o Centro de Convivência está em fase avançada e, quiçá quando os alunos retornarem presencialmente, possamos juntos inaugurar esse espaço importante e aguardado na universidade. Também estamos em fase final dos projetos para licitar, ainda neste semestre, o Centro de Saúde e Atividades Físicas, que engloba academia de musculação, de ginástica, laboratório de anatomia humana, sala de danças e vestiários. Será um complexo para atender não só a universidade, como também a comunidade por meio de projetos de extensão. Como novidade, estamos em fase de implantação do Capa (Centro de Apoio de Produção Acadêmica), muito importante para a graduação, pós e comunidade. Merece destaque também a aprovação, junto à Justiça Estadual, para ministrarmos o curso de Conciliação e Arbitragem, com instalação de um espaço para o funcionamento da câmara, o que abre um maior espaço de atuação para os formados no curso de Direito.

 

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