Fale com a gente

Municípios Renúncia em Quatro Pontes

“A pessoa que vai me substituir na Câmara está preparada”, afirma Vilma Karkow

Publicado

em

Foto: Joni Lang/OP

O Presente

Com dois mandatos consecutivos ocupando uma cadeira no Legislativo de Quatro Pontes, a professora aposentada Vilma Karkow (PPS) oficializou na última segunda-feira (02) sua renúncia ao cargo de vereadora. A primeira legislatura de Vilma foi em 2012, pelo PSDC, quando foi eleita com 134 votos. Há dois anos, foi novamente conduzida ao cargo, pelo PPS, com 154 votos.
Com a decisão anunciada, a ex-vereadora já não participou da última sessão da Câmara, ocorrida no mesmo dia em que anunciou sua renúncia. Ao que tudo indica, a suplente imediata, Nelsi Neitzke, deverá ser empossada na segunda-feira (09) para assumir o cargo de Vilma.

Município como Prioridade
Eleita pelo grupo de oposição ao atual prefeito João Laufer (MDB), a ex-vereadora expõe que tanto ela quanto os outros três vereadores que atuavam no grupo de oposição da Casa de Leis sempre votavam com consciência e a favor da comunidade, sem se preocupar com grupo político-partidário. “Dificilmente se votava contra algum projeto apresentado na Câmara, pois analisamos a importância do tema e colocamos como prioridade o município”, declara.
De forma muito inteligente, explica ela, na Câmara quatro-pontense é realizado um trabalho de grupo, especialmente por considerar que o atual presidente da Câmara, vereador César Seidel (Canela) (DEM), é ponderado e coerente. “Não tem porquê votar contra algo que é importante para município”, menciona.
Antes de ingressar na vida política, Vilma atuou por 33 anos como professora e expõe que candidatou-se a vereadora com a intenção de ajudar as pessoas. “Entrei com uma expectativa grande e com muitos sonhos, como tudo o que fiz na minha vida: para ajudar as pessoas, principalmente quem bate na minha porta pedindo orientação ou conselhos”, comenta. “Entretanto, consegui fazer muito pouco e fui me frustrando ao longo desses mais de cinco anos, ainda mais nos últimos meses, quando percebi que a gente não tem força, não tem poder de ajudar e intervir pelas pessoas. Muitas vezes não somos ouvidos”, enaltece.

Mãos Atadas para a Saúde
Para embasar a decisão de renunciar ao cargo no Poder Legislativo, Vilma explica que, entre os motivos, está a intenção de tratar de problemas de saúde que demandarão de um longo período de tratamento. “Também tenho questões familiares e vejo que preciso dar mais atenção à minha família”, revela.
Todavia, destaca Vilma, o fator determinante para a tomada da decisão foi a revolta com o setor da saúde em todo o Brasil. “Isso é algo que me deixa aflita, pois vira um efeito cascata. Parte do governo federal, vem ao estadual e chega no município com pessoas batendo na porta da gente pedindo ajuda, pedindo socorro e a gente se sentindo de mãos atadas sem poder fazer nada. Esta é a minha maior angústia, pois ouvimos mentiras de muitos políticos”, lamenta.
A ex-vereadora diz que a indignação com a política nacional acaba refletindo diretamente em outras esferas. “Não posso dizer que não somos atendidos. Temos um secretário de Saúde que corre e tem uma equipe muito boa”, exalta.
Ela enfatiza que o problema no âmbito da saúde é que “sempre estoura no ponto mais fraco”. “No munícipe, que ‘paga o pato’, apesar de eleger deputado estadual e federal”, pontua, emendando: “Muitas situações que aconteceram no município nós tentamos intervir em Curitiba e Brasília para ajudar a solucionar os problemas, mas a resposta é sempre a mesma: ‘não temos vagas’, então nós ficamos de mãos atadas. Isso para mim é muito frustrante”.
A situação determinante para que Vilma decidisse de uma vez por todas deixar a vida pública foi o incidente ocorrido com um jovem quatro-pontense que resultou com sérias queimaduras no corpo. Ela expõe que a dificuldade em conseguir um leito de hospital especializado para a recuperação do rapaz fez com que ela se sentisse incapaz. “Pesou muito porque ele é de uma família muito querida por mim. Vi esse menino crescer, foi meu aluno e sei que é de uma família humilde e batalhadora. Nesta semana o pai do jovem foi a Londrina e agora ele (rapaz) não corre mais risco de morte, mas foi uma luta. O secretário de Saúde se desdobrou, os colegas vereadores tentaram. A gente se desgasta e chega um ponto em que não tem mais força. Eu já estava inclinada a sair, sendo este episódio a gota d’água. Foi o que me fez decidir renunciar”, revela Vilma.

Conselhos
Por se tratar de algo impactante, especialmente em um município com pouco mais de cinco mil habitantes, Vilma conta que antes de se retirar da política conversou com familiares e amigos próximos e pensou muito sobre a decisão. “Minha filha viu que eu estava começando a apresentar problemas de saúde, então o conselho foi esse. Tenho irmã e parentes que me ajudaram nesse período, por isso tenho gratidão a essas pessoas”, cita.
Ela fala que passou meses avaliando e refletindo sobre a atitude de renunciar. “Conversei com pessoas próximas, pedi sugestão, opinião e todos recomendaram que eu deveria fazer o que o meu coração desejava. Penso que a pessoa que vai me substituir na Câmara está preparada. Confio nela”, afirma.

Sem Retribuição
A ex-vereadora também diz sentir-se mal por receber o salário de vereadora e “não poder fazer praticamente nada”. “Não estou retribuindo por esse valor que estou recebendo”, pondera, acrescentando que outro vereador do município também manifestou estar angustiado com a política a ponto de renunciar.
“Saio com o coração muito triste. Acredito que a grande maioria dos eleitores, conforme manifestado na mídia e nas redes sociais, compreende as minhas razões. As pessoas deixaram palavras dizendo estar comigo independente da minha decisão. Muitos entendem a minha angústia, percebem o andar da carruagem e sabem que gostaríamos de fazer muito mais pela comunidade”, reforça. “Desejo muito sucesso para quem assumir no meu lugar, a todos os vereadores pela parceria e um agradecimento aos meus eleitores. Estou à disposição como voluntária e enquanto cidadã”, finaliza Vilma.

Copyright © 2017 O Presente