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Municípios Ensino domiciliar

Aprovado em Guaíra, homeschooling ainda não é pauta em municípios da microrregião

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Sem discussões sobre a adoção do ensino domiciliar nos municípios, secretários de Educação da região acreditam que demanda seria pequena, considerando que instituições conseguem atender com qualidade no ensino tradicional (Foto: Sandro Mesquita/OP)

Atendendo a cerca de 0,4% do total de estudantes, o homeschooling, listado como uma das prioridades do ano para o governo Bolsonaro, está na pauta da Câmara de Deputados e deve ser votado ainda neste semestre.

Traduzido como ensino domiciliar, o homeschooling acontece quando os pais assumem a educação escolar dos filhos e o termo se popularizou com a pandemia, pois as famílias assumiram maior participação no ensino e aprendizagem formal dos filhos.

O projeto de lei sobre o assunto estipula que os pais precisam possuir Ensino Superior completo e certidões criminais negativas para a condução da educação do filho. Mesmo no homeschooling, os alunos teriam que cumprir com os conteúdos previstos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e seriam submetidos a avaliações para verificar a aprendizagem, conforme a proposta. O texto indica que o estudante continuaria matriculado nas instituições de ensino durante o ensino domiciliar.

 

PROJETO SANCIONADO NA REGIÃO

Apesar de ser praticado em mais de 60 países, o homeschooling ainda gera polêmicas. Com um passo à frente nas discussões, Guaíra se juntou ao grupo seleto de três prefeituras do Brasil a terem sancionado o ensino domiciliar. O prefeito Heraldo Trento afirma que tem a “consciência tranquila” sobre a sanção. “É uma questão polêmica, mas não é uma coisa nova, porque muitos países já têm”, ressalta.

Ao O Presente, ele frisa que a administração municipal aguarda por deliberações em nível de Paraná, ainda que esteja sancionado municipalmente. “O Ensino Fundamental é responsabilidade do município, mas estamos vinculados ao regramento da Secretaria Estadual (de Educação, SEED). É preciso ter regulamentações, senão cada município faria algo diferente do outro? Não, tem que ter um regramento”, pontua.

A demanda para o ensino domiciliar existe, segundo Trento, e atende alunos que não se encaixam nem na escola tradicional nem na especial. “O homeschooling adequa, respeita e universaliza definitivamente a questão do ensino. Tem determinadas situações que precisam ser assistidas por essa metodologia”, considera.

Para saber a que passo andam as discussões envolvendo o homeschooling em outros municípios, além de Guaíra, a reportagem do O Presente entrevistou secretários de Educação da microrregião. Confira.

 

MARIPÁ

“Durante a pandemia, modificou-se a forma de ensinar, nos reinventamos e, consequentemente, surgiram algumas tendências, como o homeschooling. É difícil avaliar, pois é um modelo novo e não o conhecemos bem, mas percebemos uma grande dificuldade durante o período remoto. Um ponto positivo é a atenção diferenciada, pois em casa a atenção é exclusiva do aluno e há possibilidade de um estilo de aprendizado próprio, adequado ao que domina na criança. Por outro lado, limita-se a quantidade de informação oferecida a essa criança em casa, há ausência de professores qualificados e currículo planejado, com metodologias de ensino confiáveis e socialização. Uma criança educada em casa não interage com outras crianças e nem vivencia experiências em grupos. Não vejo como positiva a instalação em Maripá, pois temos estrutura adequada e profissionais capacitados. Claro, essa é a realidade que nós vivemos, não de todos. Ainda não tivemos procura para essa modalidade, mas, se implantado, pode sim surgir procura. Famílias com situação financeira mais favorável, com dificuldade em enviar o filho para a escola ou a liberdade de ensinar seus valores próprios, posições políticas e morais, sem intervenções, podem ser motivos para adesão da modalidade”, avalia o secretário de Educação, Cultura e Desportos de Maripá, Jony Neilton Zils.

Secretário de Educação, Cultura e Desportos de Maripá, Jony Neilton Zils: “Não vejo como positiva a instalação em Maripá, pois temos estrutura adequada e profissionais capacitados. Ainda não tivemos procura para essa modalidade” (Foto: Divulgação)

 

NOVA SANTA ROSA

“A demanda pelo homeschooling é pouquíssima, para não dizer zero, porque não há disponibilidade de tempo dos pais para ensinar e nem de dinheiro para custear uma professora particular. A educação se dá, conforme (Lev Semenovich) Vigotsky, através da construção do conhecimento em conjunto com o outro. A escola é um lugar de manifestação da diferença e se organiza pelo princípio da igualdade, um local privilegiado para o desenvolvimento socioemocional e cognitivo. Durante a pandemia, observamos o quanto é difícil para os pais e o quanto as crianças sentiram falta da convivência; inclusive, crianças entraram em depressão por conta do isolamento. Criança precisa se relacionar com colegas para aprender a conviver socialmente. É difícil imaginar uma criança sem a convivência do ambiente escolar ao longo de seu desenvolvimento”, destaca a secretária de Educação e Cultura de Nova Santa Rosa, Nilza Gerling.

Secretário de Educação e Cultura, Nilza Gerling: “A demanda pelo homeschooling é pouquíssima, para não dizer zero, porque não há disponibilidade de tempo dos pais para ensinar”

 

QUATRO PONTES

“O homeschooling privilegia a mobilidade geográfica dos pais, flexibiliza os horários e a rotina da criança e preserva valores morais, culturais, religiosos e ideológicos da família. Estas são algumas das motivações para o homeschooling, além de inibir o contato das crianças com algumas situações impróprias da escola, como o bullying. O ensino domiciliar tem lados positivos e negativos, mas o ensino na escola presencial com certeza é o mais produtivo e completo, pois, além do conteúdo, há interação entre colegas e professores, regras a seguir, convívio em grupo e respeito ao próximo. Eu sou contra essa forma de ensino. Em Quatro Pontes não discutimos esse assunto, mas tivemos experiências com a pandemia e não foi fácil. Com o retorno das crianças, percebemos dificuldades na aprendizagem e o quanto este ano vai fazer falta na vida escolar da criança. Ele pode ser usado em casos de pandemia ou situações específicas, mas a melhor forma de ensino é na escola”, considera a secretária de Educação, Cultura e Esportes de Quatro Pontes, Araceli Basso Tauchert.

Secretária de Educação, Cultura e Esportes de Quatro Pontes, Araceli Tauchert: “Eu sou contra essa forma de ensino. Em Quatro Pontes não discutimos esse assunto, mas tivemos experiências com a pandemia e não foi fácil” (Foto: Vanderleia Kochepka)

 

MERCEDES

“O ambiente escolar é fundamental para o desenvolvimento do educando. A pandemia é um exemplo dessa situação, pois os alunos perderam o convívio diário com colegas e professores, o que afetou a socialização do estudante. Isso é ruim. Socializar com alguém cria relações, conexões, conhecimento de realidades diferentes da sua, fundamental para a formação de qualquer pessoa. O convívio com os demais gera a aceitação. Para o bom desenvolvimento do estudante, é condição básica o acompanhamento diário de um educador formado na respectiva área que está educando”, pontua a secretária de Educação de Mercedes, Juciane Brum.

Secretária de Educação de Mercedes, Juciane Brum: “Para o bom desenvolvimento do estudante, é condição básica o acompanhamento diário de um educador formado na respectiva área que está educando” (Foto: Guilherme Heinzen)

 

ENTRE RIOS DO OESTE

“O homeschooling pode prejudicar o aprendizado. Vivenciamos isso em decorrência da pandemia da Covid-19. Um ponto positivo é que a família seria mais comprometida, pois sabemos que são poucas as que se envolvem com o ensino e desenvolvimento dos filhos. Algo contrário é que a criança deixa de conviver em sociedade, os pais não têm formação pedagógica para desenvolver o conteúdo e o aluno deixa de interagir, bem como opinar em diversas situações, afetando o pensamento crítico. Não há discussões para implantação em Entre Rios do Oeste e acredito que não se tornaria viável, pois, sendo um município pequeno, conseguimos atender aos alunos com qualidade. Acredito que aqui não haveria demanda”, opina o secretário de Educação de Entre Rios do Oeste, Ilvo Herrmann.

Secretário de Educação de Entre Rios do Oeste, Ilvo Herrmann: “Não há discussões para implantação em Entre Rios e acredito que não se tornaria viável, pois, sendo um município pequeno, conseguimos atender aos alunos com qualidade” (Foto: Patrícia Porto)

 

PATO BRAGADO

“Entre os pontos favoráveis está o respeito às especificidades, como famílias que se mudam bastante e têm complicações para matrícula em uma instituição. Outros casos são por necessidades específicas que não seriam contempladas pela instituição regular de ensino e acabam se resolvendo no homeschooling. Por outro lado, não frequentar uma instituição de ensino priva o aluno da diversidade e democratização que a escola apresenta. O questão é que estão tentando abrir o homeschooling como uma ferramenta geral, como se fosse apenas outra modalidade de ensino. A maioria das escolas optou pelo ensino remoto na pandemia e observamos que pais não conseguem dar conta do ensino da mesma forma que a instituição. Há certa dificuldade para repassar o conteúdo em casa, enquanto na instituição há o professor e as rotinas. Vamos ter de observar de forma pontual. Na região temos como tradição o ensino regular e há dificuldade dos pais em trabalharem em casa com as crianças. Não me parece uma forma tão frutífera para ser adotada como modalidade de ensino, contudo, deve haver essa opção para realidades excepcionais. É preciso regulamentar essa modalidade nos casos em que poderia ser funcional, sem prejudicar as crianças”, avalia o a secretário de Educação e Cultura de Pato Bragado, Junior Ivan Bourscheid.

Secretário de Educação e Cultura de Pato Bragado, Junior Ivan Bourscheid: “Na região temos como tradição o ensino regular e há dificuldade dos pais em trabalharem em casa com as crianças. Não me parece uma forma tão frutífera para ser adotada” (Foto: Divulgação)

 

MARECHAL CÂNDIDO RONDON

“Ainda não tenho uma opinião totalmente formada sobre o homeschooling. Em alguns países ele já é adotado, porém no Brasil precisaria ser bem pensando, considerando a condição financeira das famílias, a escolaridade dos pais e a socialização destas crianças, dentre outros aspectos. Conforme os defensores do modelo, a organização da rotina escolar seria facilitada no ensino domiciliar, pois o tempo de estudo diário pode ser melhor moldado que na escola regular. Os pontos contrários do modelo seriam a falta de interação social, um possível aumento nos casos de violência doméstica, com a identificação prejudicada pelo pouco contato com terceiros, e sem um bom planejamento curricular também pode haver prejuízos. Hoje não há discussão sobre o homeschooling em Marechal Rondon, mas caso seja regulamentado pelo governo federal pode ser que a adesão aconteça na nossa região, inclusive aqui. Acredito que haveria demanda pelo homeschooling, tanto que alguns municípios já dispõem do modelo, porém, há discussões sobre a legalidade das leis municipais referentes. Recentemente, a discussão voltou ao Congresso e vem ganhando corpo. Se aprovada, a regulamentação deve ser complexa e, num primeiro momento, atenderá a grupos mais conservadores, com motivos religiosos e políticos para deixar a escola regular”, entende o secretário de Educação de Marechal Rondon, Fernando Volpato.

Secretário de Educação de Marechal Rondon, Fernando Volpato: “Hoje não há discussão sobre o homeschooling em Marechal Rondon, mas caso seja regulamentado pelo governo federal pode ser que a adesão aconteça na nossa região, inclusive aqui” (Foto: Divulgação)

 

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