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Municípios Controle da praga

Cigarrinha do milho traz preocupação aos produtores da região

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A temida cigarrinha pode colocar em risco um momento ímpar da agricultura paranaense, quando o grão está bastante valorizado, permitindo a capitalização dos produtores (Foto: Divulgação)

No pódio das pragas mais temidas pelos agricultores atualmente, a cigarrinha do milho (Dalbulus maidis), inseto tinhoso que se esconde no cartucho da planta, inoculando agentes que causam doenças, tem mobilizado frentes de ação e colocado produtores em alerta.

De 2019 para cá, o Paraná tem registrado um número assustador de lavouras infestadas pela cigarrinha, que pode levar à redução significativa da produção, resultando, em alguns casos, em prejuízo de até 100%. Diante deste cenário, a performance histórica da safra 2019/2020, quando o Estado colheu 15,5 milhões de toneladas do cereal, pode não se repetir na temporada atual. Pior, a temida cigarrinha pode colocar em risco um momento ímpar da agricultura paranaense, quando o grão está bastante valorizado, permitindo a capitalização dos produtores.

Mas nem todas as cigarrinhas do milho são prejudiciais e infectantes, destaca o engenheiro agrônomo do Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR) do Paraná (antiga Emater), Anderson Luis Heling. Segundo ele, ainda não há, contudo, um instrumento que, a campo, permita identificar se o inseto em questão está infectado ou não.

De acordo com o profissional, uma das soluções para o controle da praga é a adoção de medidas conjuntas de manejo, o que não é muito observado no Oeste paranaense. “Há certa dificuldade de se estabelecer um vazio de milho em nossa região. Temos a presença de plantas de milho quase o ano todo”, pontua.

Em entrevista ao O Presente, Heling faz uma análise do cenário da cigarrinha na região. Confira.

 

O Presente (OP): Qual é o cenário da cigarrinha na região Oeste hoje? Há muitos casos e registros de prejuízos?

Anderson Luis Heling (ALH): A cigarrinha está presente na ampla maioria das lavouras de milho da região. É importante ressaltar que nem todas as cigarrinhas são infectantes, porém, ainda não há uma ferramenta prática a campo que possa auxiliar na identificação de quais estão infectadas e quais não estão.

 

OP: A cigarrinha por si só não é capaz de causar prejuízos significativos. O problema está nas doenças que ela carrega e transmite às plantas sadias. Quais são os maiores problemas registrados?

ALH: As cigarrinhas são responsáveis por transmitir os enfezamentos, que são dois: o enfezamento vermelho e o enfezamento pálido, além da risca do milho ou raiado fino. O enfezamento vermelho é causado por um fitoplasma (Maize bushy stunt phytoplasma) e os sintomas são o avermelhamento e/ou amarelecimento das folhas, geralmente começando pelas bordas, perfilhamento e proliferação de espigas pela planta. O enfezamento pálido é causado por um espirroplasma (Corn Stunt Spyroplasma) e os sintomas são plantas com encurtamento dos entrenós e, consequentemente, redução do porte, estrias cloróticas que se iniciam na base das folhas, coloração avermelhada das folhas, brotos axilares, enfraquecimento do colmo e proliferação de espigas. A risca do milho ou raiado fino é causada pelo vírus Maize rayado fino virus (MRFV) e o sintoma é formação de pequenos pontos cloróticos que podem coalescerem e evoluir formando linhas ao longo das nervuras.

Engenheiro agrônomo do Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR) do Paraná (antiga Emater), Anderson Heling: “A cigarrinha está presente em praticamente todas as lavouras de milho implantadas. No entanto, apenas a presença das cigarrinhas não implica na transmissão das doenças” (Foto: Divulgação)

 

OP: Em qual porcentagem aproximada das lavouras da região se percebe a presença da cigarrinha?

ALH: A cigarrinha está presente em praticamente todas as lavouras de milho implantadas. No entanto, apenas a presença das cigarrinhas não implica na transmissão das doenças.

 

OP: O que mais preocupa no momento sobre a cigarrinha do milho? Por que, tempo atrás, se convivia quase que pacificamente com o inseto e hoje há uma guerra contra ele?

ALH: Os danos causados apenas pela cigarrinha não chegam a ser de grande importância econômica para o produtor rural, no entanto, o que fez com que ela ganhasse o papel de uma das principais pragas na cultura do milho é a sua capacidade de transmissão dos enfezamentos e risca do milho. Estas doenças podem causar perdas de até 100% da produção, dependendo do estágio fenológico em que a planta foi infectada.

 

OP: Em nota técnica emitida pela Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), no final de fevereiro, foi divulgado o aumento significativo na quantidade de inseticidas aplicados nas lavouras de milho para controle da cigarrinha no Estado. Na região, desde que a cigarrinha voltou a causar problemas, observou-se que os produtores estão usando mais inseticidas nas lavouras?

ALH: Até pouco tempo atrás, o cuidado químico nas lavouras de milho era necessário para controle de percevejos e lagartas. Com o avanço das doenças transmitidas pela cigarrinha, se fez necessário o controle destas. O produtor rural deve se atentar que o aumento de aplicações por si só não indica que o controle está ocorrendo. É preciso buscar orientação técnica; fazer uso de produtos registrados e recomendados em receituário agronômico, optando por produtos com eficiência comprovada para o controle das cigarrinhas; e adotar tecnologia de aplicação que permita aos produtos utilizados atingir os efeitos desejados. O mais importante é empregar vários métodos de controle de forma conjunta para que assim possa haver um controle efetivo das cigarrinhas na lavoura.

 

OP: Qual é o conselho que o senhor dá aos produtores, considerando que o controle com inseticidas não é tão efetivo, visto que a praga precisa se alimentar da planta para entrar em contato com o inseticida e morrer, mas, quando ela morde a planta, já transmite as doenças?

ALH: O produtor rural deve pensar no controle das cigarrinhas de forma integrada quanto aos métodos de controle. Começando pela colheita de milho anterior da lavoura, que deve ser feita de maneira eficiente, evitando perdas de grãos que podem vir a germinar e abrigar as cigarrinhas na entressafra. Aquelas plantas voluntárias que venham a germinar devem ser eliminadas da lavoura. O planejamento de semeadura das lavouras, se possível, deve ser realizado de forma sincronizada, a fim de evitar a ponte verde entre lavouras mais velhas para as lavouras mais novas. De preferência, é recomendado utilizar híbridos com maior tolerância aos enfezamentos, além de diversificar e rotacionar os próprios híbridos. As sementes utilizadas podem ser tratadas com inseticidas que controlem as cigarrinhas nos primeiros dias após a emergência das plântulas. É preferível  evitar a semeadura próxima de áreas com a ocorrência das doenças transmitidas pela cigarrinha. O uso de inseticidas deve ser feito quando necessário e, quando possível, optar por inseticidas à base de Beauveria bassiana ou Isaria fumosorosea, porque possuem residual de maior controle.

 

OP: Há pesquisas demonstrando que ações combinadas, como o senhor mencionou, e adotadas em nível regional, como plantio sincronizado e rotação de cultivares, podem ter bons resultados. Isso está sendo realizado em nossa região?

ALH: Há certa dificuldade em estabelecer um vazio de milho em nossa região, visto que os produtores dependem da produção do grão para fabricação de ração, empregada nas mais diversas criações, e também do milho silagem. Deste modo, temos a presença de plantas de milho quase durante o ano todo.

 

OP: Entre fevereiro e março ocorre o pico populacional da cigarrinha. Então, o milho plantado agora fica mais suscetível, pois encontra um campo cheio de cigarrinha. Diante dessa problemática, qual é a expectativa para a safrinha de milho?

ALH: A semeadura do milho se encontra quase que totalmente concluída na região, visto que chegamos ao fim do período zoneado para semeadura. O produtor deve pensar o manejo de forma integrada e sempre realizar o monitoramento da sua lavoura. Agora, com as lavouras já implantadas, o agricultor deve ficar atento ao período em que o tratamento de sementes vai efetivamente estar fazendo o controle. Em caso de chuvas de maior intensidade este tratamento perde eficiência e é preciso monitorar os sintomas apresentados na lavoura e arredores. Quando necessário, deve se realizar o controle químico das cigarrinhas com inseticidas. É importante ressaltar que o controle das cigarrinhas não passe de 40 dias após a emergência das plantas, pois depois desse período não são observadas vantagens para o controle dos patógenos a campo.

 

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