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Cooperativas abrem mercados para a agricultura familiar na região

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(Fotos: Divulgação)

Se por um lado a agricultura familiar possui papel fundamental na produção de alimentos no Brasil, por outro, cada dia mais se depara com um mercado competitivo e burocrático, no qual os pequenos produtores, por vezes, enfrentam dificuldades.

Em todo o país, as propriedades rurais movidas com mão de obra familiar encontram forças junto às cooperativas. Nessa forma de organização, os associados se unem para escoar a produção, conseguir negociações melhores e preços mais convenientes. Questões burocráticas, econômicas e até mesmo práticas são sanadas por meio do cooperativismo, haja vista que os agricultores têm à disposição uma gama de serviços.

Diante da necessidade de produção de alimentos cada vez maior, o momento é visto como uma “nova onda do cooperativismo da agricultura familiar”. O cenário é positivo tanto para cooperados quanto para cooperativas, considerando que ambos se favorecem por meio da cooperação.

O Estado do Paraná possui 179 pequenas cooperativas de agricultura familiar, segundo informações da Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento (Seab). Na região Oeste, três principais entidades se destacam no ramo: a Cooperativa dos Agricultores Familiares de Toledo (Cofatol); a Cooperativa Agrofamiliar Solidária dos Apicultores da Costa Oeste do Paraná (Coofamel), com sede em Santa Helena; e a Cooperativa de Agroecologia e da Agricultura Familiar (Coperfam), com sede em Quatro Pontes.

 

CRESCIMENTO NOTÁVEL

Mesmo diante da crise do mel de 2019 e da recuperação gradativa do setor em 2020, o presidente da Coofamel, Antonio Henrique Schneider, afirma que a procura pela integração na cooperativa tem aumentado. “Temos aproximadamente 260 sócios e esse número vem aumentando ano a ano. O cenário não estava bom, mas a cooperativa vem crescendo e a cada período entram mais associados do que saem”, expõe.

Segundo ele, cerca de 55% dos associados são provenientes da agricultura familiar. “Estes têm aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e nota do produtor. O restante está desenvolvendo a nota e se capacitando para fazer parte, oficialmente, da agricultura familiar”, pontua.

Para Schneider, a sociedade tem voltado os olhos ao cooperativismo e, consequentemente, novos mercados se abrem. “Isso se deve aos produtos da agricultura familiar. Esse é o grande lance, conseguimos honrar com o pequeno agricultor e seu produto diferenciado”, evidencia.

 

FRACIONAMENTO E EXPORTAÇÃO

Com a união dos cooperados, a Coofamel atua em duas principais frentes de trabalho. “Nós compramos o mel dos associados e vendemos de duas formas: em tambores para exportação ou fracionado com a nossa marca própria. Também fazemos a distribuição da merenda escolar, temos parceria com o município e com o Estado, onde fazemos parte do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)”, destaca o presidente da entidade.

Na última safra, a Coofamel comercializou 230 toneladas de mel, média de 45 quilos por colmeia. “Temos produtores que entregam até dez toneladas, outros entregam um balde. Poderíamos dizer uma média de 500 quilos, mas é variável”, mensura.

Apesar da sede ser localizada no município santa-helenense, o presidente da Coofamel diz que a abrangência da cooperativa envolve toda a região Oeste, com destaque para Marechal Cândido Rondon, e tem se expandido para a região Sudoeste, principalmente em Capanema.

Presidente da Coofamel, Antonio Schneider: “A sociedade tem voltado os olhos ao cooperativismo e, consequentemente, novos mercados se abrem. Isso se deve aos produtos da agricultura familiar” (Foto: Divulgação)

 

CERTIFICAÇÃO DE PRODUTOS

Schneider considera que a venda de produtos certificados, com selos de qualidade de agricultura familiar, é a principal dificuldade do setor. “O mercado é dominado por grandes indústrias e, consequentemente, cada vez mais os produtos são industrializados. A agricultura familiar, por sua vez, trabalha com um produto único, com sabor diferenciado e qualidade excepcional. Por obstante, isso esbarra na legislação requerida para poder vender os produtos”, menciona, emendando que o Selo Arte e outras medidas do governo estadual têm colaborado com o pequeno produtor.

Como um provável efeito da competitividade defasada, o presidente da Coofamel percebe a manutenção das famílias no campo como outra problemática que precisa de atenção. “Para isso acontecer, elas precisam aprender novas maneiras, pois, muitas vezes, o pequeno agricultor não consegue se manter na agricultura convencional. O governo e as entidades devem trabalhar na capacitação das famílias e, principalmente, dos filhos dos agricultores para que essas agroindústrias familiares se mantenham e gerem lucro”, opina.

 

UNIÃO DE FORÇAS

Da mesma maneira que as abelhas se organizam, a união dos apicultores é fundamental para o bom funcionamento da cooperativa, salienta Schneider. “No cooperativismo acontecem compras coletivas, busca-se auxílio técnico e, acima de tudo, une-se a produção, que majoritariamente é artesanal e feita de forma simples. Esse é o grande poder que o cooperativismo tem: organiza a produção da agroindústria e faz com que chegue em grandes centros em escala comercial”, enfatiza.

 

CANALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO

A Cofatol, de Toledo, possui 240 cooperados atualmente e, de acordo com o presidente da cooperativa, Elirio Cavaleri, o número está em constante aumento. “São todos pequenos agricultores. Nos ramos de pecuária bovina, peixes, lácteos, fruticultura e olericultura”, pontua ele, enaltecendo que as integrações da entidade se espalham por toda a região Oeste.
A cooperativa foi fundada em 2010 e, ao longo dos anos, o crescimento tem se mantido estável. “Iniciamos com a quantidade mínima de 12 cooperados e terminamos o primeiro ano já com 30 agricultores. De lá para cá, crescemos, em média, 20% a cada ano e neste último em um percentual um pouco superior”, frisa.

Na visão de Cavaleri, o cooperativismo gera aos agricultores melhores condições entremeio ao mercado competitivo. “A cooperativa é o principal meio de canalização da produção dos pequenos agricultores, fazendo com que superem o seu maior desafio: a conquista de novos mercados. Em virtude da pandemia, por exemplo, a cooperativa não tem conseguido aumentar as vendas”, pontua.

 

Presidente da Cofatol, Elirio Cavaleri: “Crescemos, em média, 20% a cada ano e neste último em um percentual um pouco superior” (Foto: Divulgação)

 

PROCURA DUPLICADA

Em Quatro Pontes, a Coperfarm presta assistência a 174 associados e, nas palavras do presidente Herberto Lamb, “a procura está em ascensão”. “De 2019 até hoje, o número de associados praticamente dobrou. Todos os cooperados são agricultores familiares e 93% deles possuem Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), portanto, têm recursos especiais do governo e recursos bancários mais subsidiados”, explica.

Reunindo produtores de hortaliças, polpas de frutas, panificados e da fruticultura, a cooperativa trabalha com a fabricação de doces de frutas e industrialização de mandioca em mesa, expõe Lamb. “A Coperfarm abrange a região Oeste e Noroeste do Paraná com associados de 35 municípios. Além disso, há produtores integrados do Sul do Mato Grosso”, detalha.

Presidente da Coperfarm, Herberto Lamb: “Os agricultores familiares enfrentam certo descrédito em cooperativas de grande porte. Começam a acreditar nas cooperativas de porte menor, onde participam ativamente das decisões” (Foto: Divulgação)

 

COMERCIALIZAÇÃO DE ALIMENTOS SAUDÁVEIS

Na análise do presidente da cooperativa quatro-pontense, por meio de uma divisão de tarefas, cabe à entidade comercializar enquanto cabe ao agricultor produzir. “Os produtores nos procuram para se associar e acreditam no nosso trabalho”, afirma, acrescentando que a importância é prestigiada quando as compras governamentais dão preferência ao ramo: “Atendemos em torno de 85 escolas com merenda escolar. Estamos pleiteando pela Seab um projeto para atender Centro de Referência em Assistência Social (Cras) e Centro de Referência Especializada em Assistência Social (Creas). Na semana passada, por exemplo, foram cerca de 30 toneladas de produtos entregues”, informa.

 

GRANDES COOPERATIVAS

Lamb considera, assim como Schneider, a manutenção do agricultor no campo como um dos desafios. “Além disso, há falta de mão de obra. Como uma solução, a cooperativa consegue recursos a juros baratos ou de 0% para agricultores se equiparem”, observa.

No entendimento dele, os pequenos produtores, por vezes, vivenciam experiências negativas no cooperativismo de larga escala, o que não acontece nas entidades locais. “Os agricultores familiares enfrentam certo descrédito em cooperativas de grande porte, pois elas trabalham com foco no agronegócio. As famílias começam a acreditar nas cooperativas de porte menor, onde participam ativamente das decisões”, destaca.

 

NOVAS COOPERATIVAS

O dirigente da cooperativa quatro-pontense acredita que a onda do cooperativismo na agricultura familiar é uma realidade, inclusive, segundo ele, incentivada grandemente. “A partir dos anos de 2005 surgiram muitas cooperativas da agricultura familiar. São muitas lutas e desafios para as novas cooperativas sobreviverem, porém, ao mesmo tempo, o Governo do Paraná e seu secretário da Agricultura (Norberto Ortigara) fornecem bastante incentivo para as cooperativas de agricultura familiar se fortalecerem”, menciona.

 

MAIOR PROCURA

O consumidor, ressalta o presidente da Coofamel, contribui com essa cadeia quando opta por produtos certificados da agricultura familiar ao invés dos industrializados. “O alcance da agricultura familiar tem aumentado. O consumidor procura produtos de origem e quando falamos no pequeno produtor a rastreabilidade é facilitada, mostra-se o modo de fazer. A agricultura está tendo vez”, enaltece.

Para Lamb, como vivenciado na cooperativa, os órgãos governamentais incentivam a agricultura familiar e orgânica. “Dessa maneira, temos lugar de venda e os alunos recebem alimentos de qualidade. Os consumidores também cada vez mais procuram alimentação saudável vindos da agricultura familiar”, conclui.

 

APOIO DE R$ 31,5 MILHOES NO PARANÁ

Até dia 05 de julho, cooperativas de pequenos produtores e associações da agricultura familiar podem participar do chamamento público do Programa de Apoio ao Cooperativismo da Agricultura Familiar no Paraná (Coopera Paraná). A iniciativa visa selecionar projetos de negócios pensados pelas entidades que receberam recursos de sustento, totalizando R$ 31,5 milhões nas propostas aceitas.

O chamamento oportunizará a realização de ações de assistência técnico-gerencial, capacitação de dirigentes, técnicos e quadro social, e promoção à comercialização e acesso a mercados. Dessa maneira, o Coopera Paraná tem como objetivo fortalecer a competitividade e oportunizar a presença da agricultura familiar no mercado.

De acordo com o edital, os projetos das associações devem oscilar entre R$ 100 mil e R$ 250 mil e de R$ 100 mil a R$ 600 mil para cooperativas.

 

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