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Municípios O maior inquilino do Paraná

Luiz Donaduzzi se propõe a pagar aluguel de três mil apartamentos para quem construí-los no Biopark

Apartamentos serão para acomodar bolsistas. Meta é constituir uma fundação capaz de distribuir 100 mil bolsas de estudos, atraindo estudantes de um raio de oito mil quilômetros, capaz de suprir toda a América do Sul

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Luiz Donaduzzi: "O Biopark é um oceano azul ainda. Já coloquei R$ 250 milhões do bolso nisso. Apenas 5% dos parques tecnológicos do mundo são viáveis. O Biopark estará entre eles porque, ao invés de comprarmos iates ou carros de luxo, estamos colocando milhões de reais no projeto" (Foto: Divulgação)

Apartamentos serão para acomodar bolsistas. Meta é constituir uma fundação capaz de distribuir 100 mil bolsas de estudos, atraindo estudantes de um raio de oito mil quilômetros, capaz de suprir toda a América do Sul

O industrial Luiz Donaduzzi, do laboratório de medicamentos que leva o sobrenome dele, também é o idealizador e maior entusiasta do Biopark, o parque tecnológico instalado em Toledo.

Entusiasmo é a palavra. Era ele, pessoalmente, que divulgava no Show Rural uma oferta nunca vista por aqui, e talvez em lugar nenhum. Donaduzzi aproveitou o fluxo do evento para convidar construtoras e investidores a produzir apartamentos no Biopark com garantia de aluguel.

Em outras palavras, Donaduzzi se propõe a pagar aluguel de nada menos que três mil apartamentos construídos por terceiros no Biopark. A paga é R$ 850 de locação para imóveis de 46 metros quadrados. “Já coloquei R$ 250 milhões nisso”, disse o empreendedor na longa entrevista que concedeu ao Pitoco no Show Rural.

Os apartamentos cujos aluguéis são pagos por Donaduzzi vão acomodar dois estudantes bolsistas cada. Fazem parte das bolsas de estudos ofertadas pelo Biopark a moradia e o custo zero na mensalidade. A meta de Donaduzzi e da esposa Carmen é constituir uma fundação capaz de distribuir 100 mil bolsas de estudos, atraindo estudantes de um raio de oito mil quilômetros, capaz de suprir toda a América do Sul.

O Biopark atraiu 169 empresas, sendo quatro universidades (incluindo o curso de Medicina da UFPR, cujo campus foi construído e pago por Donaduzzi). A âncora mais recente do empreendimento é o hospital de alta complexidade da Unimed, que trará consigo uma vasta cadeia de clínicas e outras operações da área de saúde privada.

“Tenho certeza que o Biopark vai ser o maior parque científico e tecnológico do país, salvo que aconteça uma catástrofe”, afirma entusiasmado o maior inquilino do Paraná, quiçá do Brasil.

Acompanhe a entrevista concedida ao Pitoco pelo exemplar único de mecenas da educação no Oeste.

Pitoco: Até para Cascavel é complexo viabilizar shopping, montar um em Toledo é desafiante…

Luiz Donaduzzi (LD): O Biopark será um ecossistema de alto padrão de vida com 75 mil habitantes, cabe um shopping, sim. Será complementar as estruturas que já dispomos. Precisamos de um auditório para 600 pessoas aqui. O projeto do shopping prevê um anfiteatro para atender essa demanda. O conceito de shopping mudou. Os clientes querem entretenimento, salas de cinema, boliche, serviços, diversão e, principalmente, praça de alimentação. O projeto que desenvolvemos também atende essa questão. Em um raio de apenas algumas dezenas de quilômetros temos cidades importantes da microrregião de Toledo, como Palotina, Marechal Cândido Rondon e Assis. Essa proximidade somada com o público do próprio Biopark viabilizam o shopping.

Pitoco: O senhor se transformou no maior inquilino de Toledo, talvez do Paraná…

LD: Não sei se sou, mas convido os empreendedores e investidores da região para construir apartamentos no Biopark. Temos necessidade para ontem de apartamentos. Concluiu o imóvel, já está alugado. Pagamos o aluguel por até quatro anos. Todos os que já foram construídos aqui estão alugados. Eu pago o aluguel. Estou trazendo alunos de um raio de 300 quilômetros, asseguro moradia para todos. Não pagam para estudar e ainda vão receber a moradia, com dois alunos por apartamento.

Pitoco: E tem apê pronto pra todo mundo?

LD: Temos muitos apartamentos construídos por investidores e alugados. Temos outros 700 em construção, também por terceiros. Mas não é suficiente. Estou locando unidades no perímetro urbano de Toledo por que não ter suficiente no Biopark.

Pitoco: Qual a contrapartida do investidor?

LD: É muito simples. Ele compra o terreno e constrói os apartamentos. Por um determinado número de anos, eu alugo as unidades. O período em que pagarei o aluguel depende da condição da compra. Ambiciono trazer gente de um raio de oito mil quilômetros. Você imagina quantos apartamentos vou precisar?

Pitoco: Qual a dimensão da demanda neste momento?

LD: Lancei no Show Rural a oferta de locar três mil apartamentos. O empreendedor tem de zero a 14 anos para construir. O Biopark está explodindo, nos surpreende todo dia. Os resultados do ano passado são fantásticos. Estamos concluindo a urbanização do primeiro loteamento, e temos outros três em fase de projeto.

Pitoco: De onde vem essa demanda inicial?

LD: Conosco ou sem-nosco, o projeto vai avançar, pois foi construído amarrando todas as pontas. Só para a Prati Donaduzzi estou ofertando entre três e quatro mil bolsas para meus funcionários e filhos deles. E o que bolsa de estudo tem a ver com apartamento? Há dois fatores fundamentais na Pirâmide de Maslow: comida e casa. Ofertamos escola de excelência e boa moradia aos bolsistas.

Pitoco: Quanto o projeto paga de locação por apartamento?

LD: Pagamos R$ 850 para 45 metros quadrados. Estamos criando uma fundação, eu e a Carmem para captar recursos suficientes para bancar 100 mil bolsas de estudo.

Luiz Donaduzzi: “Só para a Prati Donaduzzi estou ofertando entre três e quatro mil bolsas para meus funcionários e filhos deles. E o que bolsa de estudo tem a ver com apartamento? Há dois fatores fundamentais na Pirâmide de Maslow: comida e casa. Ofertamos escola de excelência e boa moradia aos bolsistas” (Foto: Jairo Eduardo/Pitoco)

Pitoco: E quem paga essa conta?

LD: Eu e a Carmen. Sei que ninguém faz isso no Brasil, não nesta escala que estamos propondo. Tenho colaboradores com 25 anos na Prati, venho pensado há décadas o que fazer para puxar para cima essas pessoas, e o jeito de puxar, de assegurar a mobilidade social, é pela educação. Aí é preciso alguém por a mão no bolso…

Pitoco: Cite um exemplo de mobilidade social pelo processo que você propõe.

LD: O acesso a um universo de aprendizado, de ensino, de formação, é muito poderoso. Já é possível formar gente de TI em seis meses. Pego a manicure e transformo em programadora, ganhando para estudar no Biopark. Já de início parte de um salário de R$ 2,5 mil acima, com possibilidade de rápida ascensão no mercado formal.

Pitoco: Quando o senhor fala em por a mão no bolso, estamos falando de quanto?

LD: O Biopark é um oceano azul ainda. Já coloquei R$ 250 milhões do bolso nisso. Apenas 5% dos parques tecnológicos do mundo são viáveis. O Biopark estará entre eles porque, ao invés de comprarmos iates ou carros de luxo, estamos colocando milhões de reais no projeto.

Pitoco: O senhor está falando em 75 mil pessoas, é mais que Palotina, Marechal Rondon ou Assis…

LD: É ambicioso mesmo, mas não estamos concorrendo com ninguém. Independe das cidades. Elas não concorrem conosco e nós não concorremos com elas. Somos complementares.

Pitoco: O hospital da Unimed no Biopark está consolidado?

LD: A Unimed está fazendo aqui um hospital de alta complexidade que vai figurar no top 5 do Paraná. Atenderá um vasto raio geográfico que vai até o Sudoeste do Paraná, Guarapuava, Noroeste do Paraná na região de Umuarama. Atenderá casos mais críticos, que exigem especialidades médicas sofisticadas.

Pitoco: E traz toda uma cadeia de serviços no entorno…

LD: Uma parte desta cadeia no entorno de um grande hospital já está aqui dentro do Biopark com cursos universitários na área de saúde. Uma delas é a Universidade Federal do Paraná que está formando a segunda turma de médicos, com 360 alunos. Imagino dezenas de clínicas no entorno deste complexo de saúde, incluindo laboratórios de análises, centros de imagens e uma vasta cadeia. Temos a Prati investindo muito também na área de saúde com centros de equivalência.

Pitoco: Qual será o perfil médio dos moradores?

LD: Analisando a pirâmide etária brasileira, podemos vislumbrar uma cidade senior, moradores com mais de 50 anos. Serão várias faixas etárias, mas esta de pessoas maduras será bem significativa. Para esse público teremos um parque linear de 14 quilômetros, que permite aos idosos atividades físicas e todos os ganhos de uma cidade inteligente e tecnológica com ênfase em segurança.

Pitoco: Exatamente 40 anos atrás o senhor e a Carmen viveram em Nice, no Norte da França. Que aprendizados de lá são aplicados aqui?

LD: Lá produzimos teses. E as teses trazidas para a vida prática nos ensinam a trabalhar e se virar. Se não tivéssemos ido à França não teríamos fundado a Prati. Mas estaríamos, possivelmente, fazendo outras coisas interessantes na vida. A cada dia eu aprendo muito, estou permanentemente aberto ao aprendizado.

Pitoco: Em que medida o plano de negócios da Prati se diferencia do Biopark?

LD: A Prati não produziu uma cadeia em seu entorno porque verticalizamos: fábrica de embalagens própria, frota de transportes, engenharia… agora no Biopark vamos fazer diferente, ao invés de fabricar produtos, vamos trazer empresas. Continuo olhando 30 anos na frente, lógico que não estarei mais aqui, mas deixarei os alicerces bem sólidos.

Pitoco: Quando foi que vocês da Prati começam a cultivar a cannabis?

LD: Não cultivamos a planta. Tem que ter muito estudo clínico antes de tudo. Não é porque se trata de uma planta que é boa ou ruim. Veja o caso do confrei, uma erva bem popular. Pode até ser indicado para afeccções como anti-inflamatório e cicatrizante de feridas, mas tinha gente que colocava no chimarrão sendo uma planta altamente patotóxica! Pode ser a erva que for, eu não tomo se não tiver estudo clínico…

Pitoco: E a cannabis?

LD: A Prati e a GW, uma empresa norte-americana, fizeram os dois primeiros estudos clínicos do planeta. No Brasil somente nós, junto com a USP de Ribeirão Preto, que vinha desenvolvendo derivados da canabbis há duas décadas. Pagamos royalties para a USP, montamos laboratório, avançamos no canabidiol, medicamento extraído da canabbis. Avançamos para fase clínica, com crianças. O resultado é fenomenal: as crises de epilepsia caíram de 900 crises por mês para números ínfimos.

Pitoco: Tudo que envolve a maconha vem cercado de tabus. É um dificultador para trabalhar com a cannabis?

LD: Temos a molécula sintetizada, não dependemos de plantar cannabis. Importamos a molécula altamente purificada, sem THC, componente que dá o barato, ninguém quer esse efeito na criança. O processo não passa pela via metabólica da planta, sai por outra ponta. Já temos potencial de exportar, estamos registrando na Anvisa a forma sintética para atender amplo leque de patologias.

Pitoco: Produzir canabidiol no Brasil derruba o preço do medicamento?

LD: Trata-se de um produto caro, não tem como fazer preço baixo. E se surgir preço baixo tem que perguntar: qual a concentração de princípio ativo? O governo será cliente, vai pagar o tratamento num primeiro momento e dar escala de produção. Gostaria que o preço baixasse, mas há um custo gigantesco no processo.

Pitoco: O senhor costuma dizer que os métodos de educação tradicional faliram, pode explicar?

LD: Educação, como é aplicada, está falida, fadada a desaparecer. O formato vem lá da revolução industrial, uma criança atrás da outra, como se fosse uma linha produção. Isso acabou. Agora é metodologia ativa, o professor atuando em sala de aula como um autêntico líder, colocando os alunos para pensar soluções e equações de forma proativa. Precisamos encantar as crianças com matemática, química, física e biologia. A escola como está não consegue transmitir conhecimento, essa é a realidade, curta e grossa.

Pitoco: E quais as consequências já palpáveis desta falência metodológica?

LD: Ostentar um diploma universitário não coloca dinheiro no bolso do formado! O resultado dos vestibulares é muito claro. As universidades não conseguem mais fechar turma. As pessoas não acreditam mais na educação como ponto de partida para melhorar a vida financeira. Dois em cada três formados que chegam na Prati não agregam nenhum centavo em seus salários. Isso é um desastre!

O senhor costuma contar a história do coelho e do bisão para seus liderados… pode compartilhar?
Por que não? Tem quem abate um coelho e come inteiro sozinho. Tem quem mata coelho e distribui um pedaço para cada um da família e fica sem comer. Mas tem quem abate um bisão e todos ao redor que quiserem os pedaços terão. Prefiro essa última opção. Como empreendedor que assumiu todos os riscos, posso e talvez até devo ficar com a picanha do bisão, e mesmo assim consigo alimentar todos que estão ao redor. Digo com orgulho também em nome da Carmen e de minha equipe: Temos melhorado a vida de muita gente, de milhares de pessoas e suas família, e vamos prosseguir…

Luiz Donaduzzi: “As universidades não conseguem mais fechar turma. As pessoas não acreditam mais na educação como ponto de partida para melhorar a vida financeira. Dois em cada três formados que chegam na Prati não agregam nenhum centavo em seus salários. Isso é um desastre” (Foto: Jairo Eduardo/Pitoco)

Pitoco: Há muitos diamantes a ser lapidados pela educação…

LD: Estima-se que temos na população em idade escolar 1,5% de crianças com altas habilidades, com capacidade de aprender inglês em três meses, matemática ou capacidade artística extraordinária. Estamos formando uma escola aqui para esse público, pinçando bons profissionais no país para lecionar neste projeto, psicopedagogos, psiquiatras. É um contingente grande, talvez 300 mil crianças e adolescentes, cuja característica em ambiente escolar é mal compreendida, porque fazem suas atividades mais rápido que os colegas e ficam o restante do tempo incomodando.

Pitoco: Vale o investimento no “aluno problema” de altas habilidades?

LD: Vai custar caro, tenho bolso para isso, tenho dinheiro para isso. Se há autistas com altas habilidades, tenho como trazer esses alunos. Podem trabalhar muito bem a lógica, podem ser programador, atuar com TI, podem ser um grande músico, um designer. Trata-se de a escola permitir identificar onde estão as habilidades e desenvolvê-las. Estamos em uma das regiões mais ricas do Brasil. Temos que identificar talentos e nos tornar cidades do conhecimento. E podemos fazer isso sem excluir ninguém.

Pitoco: Alguns que estão lendo esta entrevista podem estar pensando: esse homem é um utópico, um sonhador…

LD: Humanos são terrivelmente egoístas, uma parte de nós são bandidos mesmo. Isso vem lá das cavernas, 100 mil anos atrás. Havia bandos de pessoas que colaboravam entre si, mulheres com as crianças, homens caçadores coletores. Mas havia outro time que queria saquear, roubar a prole do outro. Perceba, mesmo em meio a essas sociedades primitivas, tínhamos os altruístas, que querem fazer o bem, deixar alguma coisa, capazes de perceber que em poucos anos estaremos mortos, embora alguns não tenham percebido isso. E o que deixamos? Se haverá céu ou inferno é outra história, mas aqui na terra deixamos o quê? Vejo pessoas fúteis ou apegadas, deixando patrimônios enormes para família dilapidar. Os humanos não precisam de muita coisa material para atingir um determinado nível de felicidade.

Pitoco: Alguém pode dizer: dinheiro não traz felicidade; então passa seu dinheiro para mim e seja feliz…

LD: Pois é. Vou ter dois iates pra quê? Tem gente com cinco casas! Não tem como gerenciar cinco casas, duas talvez. Carro importado com essas estradas brasileiras? Hoje não tenho interesse nessas coisas, uma boa camionete é o suficiente. Juntar mais e mais não dá sentido para a vida, só irá produzir um sujeito fútil, insaciável e insatisfeito.

Pitoco: O senhor costuma contar a história do coelho e do bisão para seus liderados… pode compartilhar?

LD: Por que não? Tem quem abate um coelho e come inteiro sozinho. Tem quem mata coelho e distribui um pedaço para cada um da família e fica sem comer. Mas tem quem abate um bisão e todos ao redor que quiserem os pedaços terão. Prefiro essa última opção. Como empreendedor que assumiu todos os riscos, posso e talvez até devo ficar com a picanha do bisão, e mesmo assim consigo alimentar todos que estão ao redor. Digo com orgulho também em nome da Carmen e de minha equipe: temos melhorado a vida de muita gente, de milhares de pessoas e suas família, e vamos prosseguir…

“Educação, como é aplicada, está falida, fadada a desaparecer. O formato vem lá da revolução industrial, uma criança atrás da outra, como se fosse uma linha produção. Isso acabou. Agora é metodologia ativa, o professor atuando em sala de aula como um autêntico líder, colocando os alunos para pensar soluções e equações de forma proativa. Precisamos encantar as crianças com matemática, química, física e biologia. A escola como está não consegue transmitir conhecimento, essa é a realidade, curta e grossa”

Luiz Donaduzzi: “O Biopark é um oceano azul ainda. Já coloquei R$ 250 milhões do bolso nisso. Apenas 5% dos parques tecnológicos do mundo são viáveis. O Biopark estará entre eles porque, ao invés de comprarmos iates ou carros de luxo, estamos colocando milhões de reais no projeto”

“Pagamos royalties para a USP, montamos laboratório, avançamos no canabidiol, medicamento extraído da canabbis. Avançamos para fase clínica, com crianças. O resultado é fenomenal: as crises de epilepsia caíram de 900 crises por mês para números ínfimos”

Por Jairo Eduardo, jornalista e editor do Pitoco

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