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Municípios Migração de alunos

“Nossos colégios têm condições de atender a demanda”, afirma chefe do Núcleo Regional de Educação

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Chefe do Núcleo Regional de Educação de Toledo, José Carlos Guimarães: “Todo o investimento em tecnologias, toda a estrutura que foi e está sendo montada para que os alunos tenham aulas EAD vão ficar à disposição das escolas e dos professores. Podemos dizer que os impactos nestes aspectos serão muito positivos” (Fotos: Divulgação)

Entre os efeitos da pandemia de Covid-19 no setor educacional está a migração de milhares de alunos da rede privada de ensino para a rede pública. No Paraná, segundo o Sindicato das Escolas Particulares do Estado (Sinepe/PR), cerca de 8,5 mil estudantes mudaram de colégios particulares para a rede estadual de ensino nos últimos meses.

Diante do número expressivo, muitas pessoas têm questionado se o Estado vai dar conta de atender esse público.

“Sim, o Estado vai dar conta”, garante o chefe do Núcleo Regional de Educação de Toledo, José Carlos Guimarães. Segundo ele, os colégios têm condições de atender a demanda. “Caso seja necessário abrir mais salas de aulas e contratar mais professores, o Estado fará sem nenhum problema, mas neste momento não é o caso, não temos nenhuma escola pedindo abertura de novas turmas”, destaca.

Ao O Presente, Guimarães falou também sobre a participação dos estudantes da região nas aulas virtuais e revelou que apenas 7% não estão estudando. “O percentual de alunos que não está assistindo ou realizando as aulas é o mesmo de quando estávamos em aulas presenciais. Esses alunos que não estão frequentando as aulas, os colégios estão orientados a fazer o encaminhamento para o Conselho Tutelar e caso persistam em não retornar às aulas, serão tomadas as medidas cabíveis conforme determina o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e os pais serão responsabilizados”, enaltece.

Na entrevista, o chefe do Núcleo Regional de Educação também falou sobre como as famílias que tiram seus filhos da rede particular devem proceder para matriculá-los na rede estadual, comentou sobre a integração desses novos estudantes e fez considerações acerca do ano letivo. Confira.

 

O Presente (OP): O Paraná tem registrado a migração de milhares de alunos da rede privada de ensino para a rede pública – segundo o Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/PR), a estimativa é de cerca de 8,5 mil a nove mil estudantes. No Núcleo Regional de Educação de Toledo está havendo muita solicitação de mudança de aluno das escolas particulares para as estaduais?

José Carlos Guimarães (JCG): Desde o início da pandemia de Covid-19, a rede estadual de ensino adotou o sistema EAD. Por sinal, o Paraná está sendo referência nacional nesta modalidade. Tenho percebido que várias famílias com filhos na rede privada têm procurado a rede estadual. Não tenho como dizer em números, teria que fazer uma pesquisa por escola. Em contato com os diretores não temos problema de vagas em nenhum município. Em cidades maiores, como Toledo e Marechal Candido Rondon, por exemplo, temos vários colégios dando opção de escolha a essas famílias que buscam vaga. É motivo de muito orgulho ver que em meio a essa pandemia nossa rede está crescendo. Isso demonstra a qualidade das ferramentas disponibilizadas pelo Estado e pela Secretaria Estadual de Educação (Seed) e do trabalho que está sendo realizado por nossos diretores, pedagogos e toda equipe de professores.

 

OP: Com a mudança das aulas presenciais para aulas virtuais devido à pandemia, as quais são transmitidas pela televisão e/ou celulares, muitos alunos não aderiram à plataforma adotada pelo Estado e deixaram de realizar as atividades. Qual é a realidade do Núcleo Regional de Educação de Toledo, muitos alunos não aderiram aos formatos ofertados para dar continuidade ao ano letivo?

JCG: A Seed disponibilizou as ferramentas para as aulas EAD, Google Classroom, aulas pela TV, Aplicativo Aula Paraná, onde o aluno acessa gratuitamente os dados de internet, Youtube, onde as aulas ficam gravadas e aqueles que trabalham podem acessar no horário que puderem, além do material impresso que a família retira nos colégios para aqueles que não têm nenhum desses acessos. Temos percebido que essa situação de abandono por dificuldades de acesso não é uma realidade. O percentual de alunos que não está assistindo ou realizando as aulas é o mesmo de quando estávamos em aulas presenciais. São aqueles alunos que faziam matrículas e não frequentavam regularmente. Vale esclarecer às famílias que esses alunos que não estão frequentando as aulas, os colégios estão orientados a fazer o encaminhamento para o Conselho Tutelar e caso persistam em não retornar às aulas serão tomadas as medidas cabíveis, conforme determina o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), e os pais serão responsabilizados.

 

OP: Na sua opinião, por que muitos alunos deixaram de participar das aulas virtuais? Qual o perfil desses estudantes?

JCG: No primeiro momento as famílias não acreditaram que o sistema adotado era para valer. Talvez faltou informação, mas a Seed, num grande trabalho de divulgação através dos meios de comunicação, e o Núcleo Regional de Educação através das escolas repassaram as devidas orientações às famílias e todos, então, entenderam que o novo formato das aulas tem a aprovação do Conselho Estadual de Educação e do Ministério da Educação e substituirá neste momento de pandemia as aulas presenciais. Em nosso Núcleo Regional de Educação não temos um grande número de estudantes que deixaram as aulas. Um levantamento feito mostra que em torno de 7% dos alunos não estão estudando. Neste percentual temos os alunos adultos da EJA (Educação de Jovens e Adultos) e cursos técnicos subsequentes que fizeram a opção de não estudar. As crianças e adolescentes que não estão participando das aulas os responsáveis pelas escolas estão conversando com as famílias, fazendo encaminhamento para o Conselho Tutelar, e chega a aproximadamente 4%.

 

OP: Para o senhor, quais serão as principais consequências da migração de milhares de alunos de colégios particulares para a rede pública?

JCG: É difícil responder sem fazer uma análise ou pesquisa mais detalhada, mas podem ser vários motivos. Cito como exemplo a qualidade das aulas EAD que o Estado vem disponibilizando para os alunos da rede, gerando confiança para a sociedade. O Estado do Paraná é exemplo nacional nas aulas EAD e na disponibilidade das ferramentas.

 

OP: O sistema estadual de educação vai dar conta de atendê-los?

JCG: Neste momento, sim. É obrigação do Estado fornecer educação a toda criança e adolescente. Nossos colégios do Núcleo Regional de Educação estão preparados e têm condições de atender toda a demanda que está chegando para a rede.

 

OP: A rede estadual por vezes tem salas de aula com grande quantidade de estudantes. Com a incorporação desses alunos migrantes, a tendência é aumentar o número de estudantes por turma ou criar novas turmas? Isso também vai implicar na contratação de mais professores?

JCG: A Seed tem resolução que estabelece o número máximo de alunos por turma/série e nossa orientação é que as escolas/colégios sigam a resolução. Caso seja necessário abrir mais salas de aulas e contratar mais professores, o Estado, via Seed, fará sem nenhum problema. Nossa rede tem suporte para abertura de novas turmas, mas neste momento não é o caso, não temos nenhuma escola pedindo abertura de novas turmas.

 

OP: Diante do cenário atual, que, de certa forma, limita o aprendizado dos estudantes, é possível imaginar que eles não serão reprovados em 2020, mas terão dificuldades nas séries vindouras?

JCG: Estamos vivendo um momento diferente na educação do Paraná, Brasil e do mundo, mas não dá para fazer uma afirmação que o aluno está aprendendo menos. Os relatos nos mostram que aqueles alunos que acompanham as aulas, as orientações dos professores, estão aprendendo.

 

Chefe do Núcleo Regional de Educação de Toledo, José Carlos Guimarães: “É motivo de muito orgulho ver que em meio a essa pandemia nossa rede está crescendo. Isso demonstra a qualidade das ferramentas disponibilizadas pelo Estado e do trabalho que está sendo realizado por nossos diretores, pedagogos e toda a equipe de professores”

 

OP: É possível prever que no pós-pandemia haverá muita reprovação de alunos, considerando que muitos terão dificuldade de avançar sendo que tiveram o ano letivo anterior comprometido em termos de aproveitamento de aprendizado por causa das limitações das aulas virtuais?

JCG: Os alunos que acompanham estão aprendendo. Não acredito que possa comprometer o ano letivo em função das aulas virtuais. Nós temos na rede alunos que estudam e alunos que mostram dificuldades de comprometimento com a educação, mas isso acontece também no sistema presencial.

 

OP: Como as famílias que tiram seus filhos da rede particular devem proceder para matriculá-los na rede estadual? Devem se dirigir aos colégios ou há outros meios?

JCG: Existe uma ferramenta na rede estadual chamada CEVE. As famílias que têm intenção de matricular seus filhos na rede estadual podem entrar neste sistema e fazer o pedido da vaga ou podem ir até a escola/colégio que desejam a vaga e fazer a matrícula. Todas as escolas/colégios da rede mantêm plantão, se não puderem atender de modo presencial há os telefones de contato das pessoas responsáveis.

 

OP: Como acontece a integração desses novos estudantes que saíram dos colégios particulares e adentraram no sistema público nesse momento de distanciamento social?

JCG: Tanto nos momentos presenciais como no EAD a escola deve receber as famílias, falar do funcionamento, do regimento, da proposta pedagógica, da forma de avaliação, e neste momento de aulas virtuais, a equipe pedagógica das escolas orienta as famílias como usar as ferramentas disponíveis, faz o acompanhamento explicando como utilizar e acompanha até a família e o estudante dominá-las. O professor apresenta o aluno para a turma, já que cada professor realiza pelo menos uma meet por semana. Nossa orientação é sempre para que os professores não deixem de perder aqueles momentos de interação da turma, as brincadeiras, até mesmo as descontrações nos momentos de intervalo.

 

OP: De que maneira esse período de aulas em uma modalidade diferenciada pode impactar a educação a longo prazo?

JCG: Se olharmos só o conteúdo, alguns podem dizer que vai ficar a desejar. Mas se olharmos do lado das tecnologias e dos investimentos, podemos dizer que a escola ganhará muito e teremos um avanço que poderia demorar anos. Todo o investimento em tecnologias, toda a estrutura que foi e está sendo montada para que os alunos tenham aulas EAD vão ficar à disposição das escolas e dos professores. Podemos dizer que os impactos nestes aspectos serão muito positivos.

 

OP: Será possível concluir o ano letivo sem muitos prejuízos?

JCG: Acredito que sim.

 

OP: Há previsão de quando serão encerradas as aulas do ano letivo 2020?

JCG: O calendário previsto para o encerramento das aulas é 20 de dezembro.

 

OP: Há colégios e universidades em outros Estados anunciando que não retornarão com aulas presenciais neste ano. O senhor acha que isso também pode acontecer no Paraná?

JCG: A Secretaria Estadual de Educação segue as orientações da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). Portanto, é difícil precisar.

 

OP: Qual é a expectativa de retorno das aulas no Paraná, considerando que o Estado ainda está entrando no período crítico de Covid-19, tendo estudos prevendo o pico para o fim de agosto?

JCG: Não gostaria de falar em expectativa, pois, como já citei, depende da orientação da Sesa, e a Seed vai seguir as orientações da Secretaria da Saúde. Quando eles entenderem que é seguro retornar as aulas, nós retornaremos. Neste momento vamos pensar em cuidar bem da saúde de nossas crianças e adolescentes e seus familiares e de todos os envolvidos nas escolas.

 

OP: Vale a pena voltar com as aulas presenciais este ano?

JCG: Acredito que sim. A partir do momento que as autoridades de saúde disserem que é seguro, não tem porque não voltar. Sempre tenho dito em minhas falas com professores e comunidade escolar que o Governo do Paraná, através da Secretaria de Estado e Educação, tomou uma medida no momento que iniciou a pandemia pensando em não deixar nossos alunos perderem o ano letivo. Após quase 90 dias posso dizer que foi uma medida assertiva. Temos a grande maioria dos alunos na principal plataforma (Google Classroom), outros sendo atendidos pela TV e material impresso. É preciso entender que as aulas EAD foram criadas para esse momento; esse sistema não substitui o modelo de educação. Esse modelo está dando tão certo porque mesmo no EAD foi preservada a figura do professor como protagonista do sistema. Toda tecnologia e ferramentas contribuem para que o conhecimento chegue até os alunos, mas nada aconteceria se não fosse o professor. Esse ninguém substitui.

 

O Presente

 

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