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Novas geadas agravam perdas no milho safrinha

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(Foto: Sandro Mesquita/OP)

Nesta semana, mais uma vez os moradores do Oeste do Paraná foram surpreendidos por manhãs muito geladas e dias seguidos de geada.

Na região de Marechal Cândido Rondon, na segunda (19) e na terça-feira (20), a geada oscilou entre ocorrências intensas e fracas, com termômetros marcando -2°C nos distritos rondonenses de Iguiporã e Novo Três Passos no primeiro dia útil da semana.

Engana-se quem pensa que os novos fenômenos não irão influenciar no milho safrinha já abalado pelas geadas do fim de junho (dias 29 e 30). De acordo com o engenheiro agrônomo da Agrícola Horizonte, Renato Wiebrantz, a segunda ocorrência de geada intensificou as perdas da primeira.

“O primeiro evento de frio reduziu significativamente a área folhear do milho, prejudicando o enchimento de grão, pois sem fotossíntese não há energia e nem transferência de nutrientes para os grãos”, explica.

Segundo ele, a pouca área folhear remanescente foi perdida com a segunda geada. “Principalmente nas lavouras mais altas, as folhas mais protegidas, embaixo da espiga, foram atingidas. A geada não é parelha e uniforme, mas com a repetição do fenômeno pouco escapou”, lamenta.

Engenheiro agrônomo Renato Wiebrantz: “Se o tempo se manter seco e sem chuva, a qualidade dos grãos é favorecida. Por outro lado, se chover e tiver umidade, há uma atividade fúngica mais intensa e a qualidade piora” (Foto: Arquivo/OP)

 

1% COLHIDO

Na regional de Toledo da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), conforme informações do Departamento de Economia Rural (Deral), 427.822 hectares estão cobertos por milho segunda safra, dos quais menos de 1% foi colhido. “Inicialmente, a produção estimada era de 2,5 milhões de toneladas, mas dois fatores prejudicam o andamento da safra: estiagem e geadas”, resume ao O Presente o técnico do Deral, Paulo Oliva, indicando que na semana que vem o órgão deve lançar um relatório com as estimativas de perda contabilizadas.

Técnico do Deral, Paulo Oliva: “As lavouras de trigo também foram afetadas. A preocupação é que as áreas em fase suscetível serão maiores ao decorrer das semanas e, caso tenhamos quedas bruscas de temperatura, elas serão prejudicadas” (Foto: Divulgação)

 

TEMPERATURAS INFERIORES A 16°C

O milho é uma cultura de verão e foi adaptada para o inverno, salienta Wiebrantz, pontuando que em temperaturas abaixo de 16°C o processo de enchimento do grão é paralisado. “Aliado ao plantio atrasado, os dois fenômenos de geada e a perda de quase toda área folhear, as plantas que estavam enchendo o grão tiveram o processo inviabilizado”, aponta.

 

PRODUTIVIDADE

No que diz respeito às perdas, o engenheiro agrônomo diz que os danos mais consideráveis já haviam se estabelecido na primeira geada e nesta semana foi um novo impacto. “Milhos na fase verde tiveram perdas acentuadas, de 60% a 70%, e eram a maioria das áreas. Milhos no ponto de fazer silagem perderam pouco, entre 5% e 10%. Quanto a áreas que escaparam 100%, são poucas e são aquelas que tiveram o plantio concluído em fevereiro”, menciona.

Na produtividade, somente a estiagem, comenta ele, representou queda de 30% nas 82 sacas por alqueire projetadas inicialmente. “Com a geada, perdemos mais 50% a 60% da produtividade e estima-se 30 a 40 sacas por alqueire. À medida que as lavouras tenham sido plantadas mais tarde, as perdas na produtividade se agravam. Ainda podemos ter milho produzindo 80 sacas por hectare, mas apenas nas áreas plantadas até final de fevereiro”, ressalta, frisando que o tempo também influencia até o momento em que as máquinas efetivamente estiverem a postos para a colheita.

 

GRÃOS PEQUENOS E LEVES

A problemática da qualidade dos grãos também se agravou com as novas geadas, considera o profissional. “Além de diminuir produtividade, tamanho e peso do grão, preocupa o quesito grãos ardidos e brotados. Se o tempo se manter seco e sem chuva, a qualidade é favorecida. Por outro lado, se chover e tiver umidade, há uma atividade fúngica mais intensa e a qualidade piora”, expõe.

Milho já afetado pela estiagem não teve vida fácil: quatro dias de geadas no intervalo de 20 dias (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

ACAMAMENTO DO MILHO

Mais cedo do que se estimava, na próxima semana, final de julho, produtores ocasionais já devem colocar colheitadeiras para funcionar, informa Wiebrantz. Por outro lado, na maioria das áreas, segundo ele, as colheitas devem começar em peso a partir da primeira e segunda semana de agosto.

Ele chama atenção dos produtores à possibilidade de acamamento. “Como o milho perdeu a área folhear cedo, a cultura tenta naturalmente continuar o enchimento de grão removendo nutrientes do colmo e isso o enfraquece, que fica frágil e suscetível ao acamamento”, detalha, destacando que a torcida é para que, além do tempo seco e sem umidade, a colheita não sofra com ventos fortes e o acamamento seja evitado.

 

OUTRAS CULTURAS

Correspondendo a 39.635 hectares da Regional de Toledo da Seab, o trigo não passou ileso das geadas e a estimativa de 120.886 toneladas na safra foi afetada. “Três por cento da área total está em fase suscetível e é possível haver perdas pontuais ou até mesmo totais. A preocupação é que as áreas em fase suscetível serão maiores ao decorrer das semanas e, caso tenhamos quedas bruscas de temperatura, elas serão prejudicadas”, pontua Oliva.

Wiebrantz relata que havia lavouras de trigo já espigadas ou espigando, áreas que sofreram danos medianos a fortes. “Vinte dias depois, na segunda geada, mais lavouras de trigo estavam na fase crítica e foram atingidas”, expõe.

As pastagens, acrescenta o engenheiro agrônomo, não toleram o frio e foram grandemente afetadas, com a massa verde queimada pelas baixas temperaturas. “A mandioca cultivada na região é a cultura mais rústica e pode superar, rebrotando depois da geada”, salienta.


Colheita do milho safrinha deve se intensificar somente nas duas primeiras semanas de agosto. Produtor deve ficar atento ao risco de acamamento (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

Ciclos precoces e super precoces são alternativas aos produtores

Neste ano, o produtor lidou com o atraso no plantio do milho safrinha como consequência de outro atraso no plantio da soja em 2020, rememora Wiebrantz. Segundo ele, mesmo com o produtor se esforçando para ter rapidez na plantação tanto da safra verão como do milho safrinha ele não conseguiu evitar os impactos na produção.

“Há uma cadeia de produção de suínos e frango, bem como a atividade leiteira, que são fortes e demandam por insumos. Ou seja, mesmo se a época não é a preferencial, planta-se igualmente, porque é preciso pensar lá na frente, na necessidade do trato para a cadeia das carnes”, enfatiza.

 

PLANTAS PRECOCES

Sabendo que a janela de plantio é curta para ambas as culturas, o engenheiro agrônomo frisa que não há milagre, mas o agricultor pode agir na agilização das culturas para enfrentar o fenômeno seca e geada, principalmente. “É aconselhável antecipar tanto o plantio da safra soja verão quanto o milho safrinha para ganhar alguns dias. Cultivares mais precoces ou super precoces, evitando os ciclos longo e normal, podem representar um ganho de talvez dez dias na cultura da soja.

Substituindo os híbridos de milho com ciclos mais longos por ciclos precoces e super precoces, ganha-se outros dez dias. No total, seriam 20 dias de antecipação no milho safrinha se o produtor conseguir substituir”, contabiliza, emendando, todavia, que é indicado dividir os plantios entre variedades de ciclo precoce e super precoce, não investindo tudo na mesma duração.

Como aprendizado da safrinha em curso, o profissional destaca a importância de os agricultores se valerem de um seguro agrícola para garantir o reembolso dos investimentos. “Quando se tem seguro se investe com segurança”, assegura.

Mesmo com as substituições nos híbridos e cultivares, Wiebrantz reconhece que o que mais influencia é o tempo e torce para que o “La Niña não seja tão intenso como no ano passado”. “Seria de bom grado se tivéssemos um regime normal de chuva para iniciar o plantio da soja em meados de setembro. Nesse caso, beneficiaria grandemente a antecipação do milho safrinha para o final de janeiro e fevereiro”, projeta.

 

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