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Paraná Educação

14% dos alunos do ensino médio público no Paraná venderiam o voto por R$ 1 mil, aponta pesquisa

Foram ouvidos 10.952 alunos do ensino médio de 176 escolas públicas do estado, em outubro de 2017

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Foto: Agência Estadual de Notícias/Reprodução

Uma pesquisa do Ministério Público do Paraná (MP-PR) e da Secretaria Estadual da Educação (Seed) mostrou que 14,1% dos alunos do ensino médio público do estado afirmaram que venderiam o voto por R$ 1 mil. Outros 5,6% ficaram em dúvida e 8,3% discordaram parcialmente sobre a venda.

Por outro lado, 68,7% dos entrevistados concordaram parcial (38,4%) ou totalmente (30,2%) que “os políticos são todos corruptos”. A descrença dos jovens com os governantes, em média, ultrapassou a casa dos 70%.

O levantamento faz parte do programa Geração Atitude, que atua no incentivo à participação política e atitudes cidadãs entre os estudantes. Foram ouvidos 10.952 alunos do ensino médio de 176 escolas públicas do estado, em outubro de 2017.

Na avaliação do procurador Armando Antônio Sobreiro Neto, coordenador das Promotorias de Justiça Eleitorais do MP-PR, o percentual de afirmações admitindo a venda de votos foi alto.

“Isso revela que a compreensão da dimensão real da corrupção não é alcançada, limitada pelos efeitos da cultura da vantagem e da esperteza”, diz.

Segundo ele, não há compreensão por parte dos entrevistados de que a vantagem indevida recebida em disputa eleitoral vai custar muito caro quando os políticos corruptos assumirem o poder, principalmente em áreas “mais sensíveis”, como saúde, educação e segurança.

Sobreiro também indica aspectos positivos na pesquisa, como a indicação de que 53% dos entrevistados entendem que a educação política deveria estar presente nas escolas – embora haja resistência de 11%.

 

‘Problema muito grande’

A venda do voto foi descartada por 72% dos entrevistados. A estudante do ensino médio de um colégio de Jandaia do Sul, no norte do Paraná, Lara Vitória Marcomini, de 15 anos, que não participa de movimentos estudantis ou tem como prioridade o interesse pela política, critica a ideia.
“Eu não venderia o meu voto porque isso é crime. Tem que escolher o melhor candidato, aquele que tiver a melhor proposta”, afirma. Segundo ela, quando completar 16 anos vai fazer o título de eleitor, mesmo não sendo obrigatório para a idade.

Lara conta que, em geral, os amigos não costumam falar sobre política. Mesmo assim, não deixam de comentar sobre as melhorias no ensino que são necessárias. “Deveria ter mais aulas complementares de outras áreas, além do inglês e do espanhol”, avalia.

A jovem Ana Júlia Ribeiro, de 17 anos, que concluiu o ensino médio em uma escola pública de Curitiba no ano passado, ficou conhecida em outubro de 2016 após fazer um discurso defendendo a ocupação de estudantes em 850 escolas paranaenses na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep).

Ela participou da pesquisa e diz enxergar um “problema muito grande” sobre o percentual de alunos que venderiam o voto, assim como em relação ao desconhecimento deles sobre as instituições públicas.

O levantamento mostrou, por exemplo, que 41,2% dos alunos afirmaram não saber o que é a Constituição Federal, mesma porcentagem de jovens que não sabem o que faz um deputado. Além disso, 33% não têm ideia do que faz um juiz de direito.
“É complicado atribuir isso a um único fator. Tem falta de interesse, de conhecimento e até de tempo. Metade dessa galera de escola pública trabalha para ajudar a família”, indica.

A pesquisa apontou que mais de um terço dos estudantes contribuem com a renda familiar.

Para ela, ensina-se muito pouco sobre política e cidadania nas escolas. Quando completou 16 anos, ela conta que foi a única da sala em que estudava a fazer o título de eleitor.

“Tem gente que não entende que determinada atitude é corrupta. Para um jovem que está descrente e precisa colocar comida na mesa, pode não parecer tão absurda [a venda do voto]. Muitos nem sabem o que é corrupção ou tem uma ideia distorcida”, afirma.
Ana Júlia critica a burocracia e a dificuldade para a articulação política dos estudantes nos colégios. Segundo ela, que começa o curso de direito neste ano, a resposta que os alunos receberam “em um movimento de cidadania”, com a ocupação das escolas, foram bombas e cassetetes.
“Aprendi que cidadania é feita nas ruas, na participação política no sentido de cobrar, de acompanhar. É preciso pensar em quem vai votar, no teu colega ao lado, pensar no que é melhor para o coletivo”, afirma a jovem.

Apenas 5,54% dos entrevistados declararam participar ativamente dos grêmios estudantis, enquanto 13% participam “às vezes”, contra 81,4% de alunos que nunca participaram dos grêmios ou sequer sabem da existência como instância de representação dos estudantes.
Possibilidades

O promotor de Justiça Eduardo Cambi, coordenador do Geração Atitude, diz acreditar que o retrato encontrado nas instituições de ensino é um espelho da sociedade. “É preciso fazer algo para mudar o cenário cinza de algumas escolas”, afirma.

Ele conta que em visitas noturnas às escolas encontrou muitos alunos cansados por trabalharem o dia todo e professores desmotivados. O promotor avalia que o incentivo ao exercício da cidadania pode ajudar a alterar o quadro.

“A escola pode se aproximar mais dos problemas sociais e, ao invés de trabalhar com temas abstratos, ensinar, por exemplo, os alunos a usarem a Lei de Acesso a Informação e a fiscalizarem os portais da transparência”, sugere.

Cambi também afirma que os estudantes, ao participarem dos grêmios estudantis, dos conselhos escolares ou de outros espaços democráticos, deveriam contribuir com a gestão da escola, além de cobrar os diretores para que prestem contas de suas atuações e do uso do dinheiro público.

“Tais iniciativas poderiam melhorar o próprio ambiente escolar, refletir na qualidade do ensino e expandir para fora das escolas, atingindo os pais dos alunos e outros cidadãos a lutarem por seus direitos e por uma sociedade mais ética e justa”, indica o promotor.

 

Com informações G1

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