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Paraná

A capital da carne suína

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Já faz 14 anos que Entre Rios do Oeste realiza o Festival Nacional da Carne Suína como forma de celebrar o aniversário do município, comemorado em 18 de junho (domingo). Apesar de ser uma festa prestigiada pela comunidade de toda a microrregião, quem visitava o município antes de 2003 – primeiro ano em que o festival foi realizado – não encontrava nada no cardápio além de peixe.

Localizado na margem oriental da represa de Itaipu, por ser banhado pelo Rio Paraná e por outros afluentes, como o Rio São Francisco Verdadeiro, os pratos à base de peixe formavam o menu das festividades de aniversário do município, que até 2003 também era realizada em outra data – 18 de maio. “Utilizávamos alguma produção de tilápia local, mas espécies como pintado e dourado eram trazidas de fora de Entre Rios. Então manter o peixe como prato típico acabou tornando-se inviável”, relembra o ex-prefeito Elpidio Holzbach, que comandava o Executivo municipal no ano em que a alteração do prato típico e da data de aniversário aconteceram.

Na mensagem de exposição de motivos enviada à Câmara de Vereadores, o Poder Público destacava que as mudanças se originaram em uma série de discussões realizadas junto a diversas associações e entidades da sociedade civil organizada. “Percebemos, nas oportunidades em que foram realizadas as festas do município, que o mesmo (prato típico) não teve grande aceitação junto à população, bem como torna-se um prato bastante caro e de difícil aquisição”, diz o documento.

Holzbach conta que, pela suinocultura ter se tornado ao longo dos anos um referencial para Entre Rios do Oeste, concluiu-se que o Festival da Carne Suína seria melhor adequado para caracterizar o prato típico local. “Por conta da expressividade na produção de suínos no município, instituímos o festival como prato oficial. Seguindo a tradição de outros municípios: assim como Pato Bragado tem o cupim, Marechal Cândido Rondon o boi no rolete, Entre Rios passou a ter a carne suína como marca na gastronomia”, ressalta.

 

30 vezes mais

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualmente o município conta com 4.357 habitantes. De outro lado, a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) registra um plantel de 165.787 mil animais, entre matrizes, reprodutores, leitões, cria/recria e terminação, em um total de 204 propriedades. “São praticamente 30 vezes mais suínos do que o número de habitantes do município”, compara Elton Stein, produtor que assumiu os negócios da família há 13 anos.

Ele explica que, apesar da expressividade da produção entrerriense, a realidade do município é a mesma de outras cidades da região: enquanto a produtividade e o plantel de animais aumentam por conta do emprego de tecnologia e investimento nas granjas, o número de produtores diminui. “Os filhos acabam saindo da propriedade depois que os pais não têm mais condições de tocar o negócio da família, então vendem ou arrendam a propriedade e é por isso que notamos essa diminuição no número de produtores”, comenta.

Segundo Elenir Rabaioli Stein, que administra junto do esposo a propriedade que vende cerca de 65 mil leitões ao ano, o motivo por trás da saída dos filhos das propriedades seria a falta de incentivo, já que escutam muito dos familiares que a suinocultura dá prejuízo e muito trabalho. “Qual o filho que vai querer continuar trabalhando com aquilo que os pais passaram a vida toda reclamando?”, indaga. “Muito do que nós estamos fazendo hoje é o que o escutamos dos nossos pais, escutamos que isso dá certo, tivemos o incentivo, que talvez é muito fraco na agricultura. O filho não vai querer sofrer o que o pai está sofrendo. Nem que ele se dê mal em outra atividade, mas ele vai tentar mudar. Por isso a base deve ser forte para os filhos continuarem”, completa.

Por outro lado, os suinocultores avaliam que apesar das crises que assolam a produção suinícola, os produtores da região não “abandonam o barco”. “Mesmo no prejuízo eles não deixam a atividade. Pegam dinheiro no banco para conseguir investir na propriedade e se manter até que aconteça a retomada. São pouquíssimos que abandonam, especialmente porque a nossa região tem milho”, avalia Elton.

 

Crença

No vocabulário da família Stein, acreditar é a palavra de ordem. Segundo eles, um dos fatores para a expressividade da suinocultura em Entre Rios do Oeste é pelo pioneirismo de João Stein, pai de Elton, na atividade. “Viemos morar aqui em 1964 e na época ele já comprava suínos para levar a São Paulo. Nos anos 1970, ele começou a construir granjas e incentivar os demais produtores a entrarem na atividade, por isso vejo que hoje a suinocultura é forte no município. Os outros municípios talvez não tiveram um líder como ele”, observa.

Para Elenir, a insistência dos produtores – que tornou Entre Rios do Oeste um dos polos na produção de suínos na região – vem da crença das pessoas no próprio trabalho. “Nós acreditamos que nada é impossível. Temos uma missão, valores e visão e basta acreditarmos no nosso trabalho para alcançarmos nossos objetivos”, menciona.

Na visão do casal, a própria mudança do prato típico do município de peixe para suíno contribuiu para o aumento no consumo da carne, tendo em vista que em algumas regiões do Brasil o prato é pouco consumido. “Vem de uma crença dos antepassados que viam o porco solto fuçando na sujeira e elas têm isso ainda intrínseco e não evoluíram o pensamento, por isso não consomem o suíno”, opina Elenir. “Se hoje visitarem uma granja adaptada ao bem-estar animal, que se preocupa com o tratamento, a saudabilidade, com a retirada dos antibióticos e o incremento da homeopatia como nós estamos fazendo hoje, teriam uma visão como a nossa região tem, já que o Sul consome mais carne do que o restante do país”, completa.

 

Que vença o melhor

Há três anos, uma novidade deu o toque especial às comemorações do aniversário de Entre Rios do Oeste: o Concurso da Copa Suína, que neste ano chega a 3ª edição.

Conforme Inácio Schaefer, que ocupava o cargo de secretário de Indústria, Comércio e Turismo em 2015, quando ocorreu o primeiro concurso, a ideia de instituir um prato típico e fazer um certame para definir quem assou o melhor e mais saboroso prato à base de carne suína já vinha de alguns anos, porém, ninguém tomou frente. “Naquele ano acabamos encabeçando, porém o grande problema era que carne, qual corte do suíno preparar”, lembra, emendando: “Por alto até achamos que não iria vingar, mas começamos a reunir associações e entidades organizadas e preparar diversos cortes para degustação”.

Após o preparo de pernil, panceta, lombinho, entre outros cortes nobres que eram saborosos, mas não especiais o suficiente, um empresário sugeriu preparar a copa suína. “O Celso Resmini sugeriu e se dispôs a nos ajudar na preparação e acabou que na degustação as entidades aprovaram o sabor e a apresentação”, relembra.

Apesar de pouco conhecida, a copa nada mais é do que a sobre paleta do suíno, uma carne pura. “A nossa única preocupação era que ela demandava de algumas horas de fogo para assar, de duas a três, mas depois até achamos melhor para que a equipe ficasse mais tempo envolvida na preparação, com suas técnicas de preparo e segredos para o tempero”, comenta Schaefer.

No primeiro ano, 33 equipes participaram do evento, seguidas por 50 no ano passado. Neste ano, a expectativa é de ultrapassar o número.

 

Tudo pronto

De acordo com o presidente da Comissão Central Organizadora (CCO) da festa que celebra os 24 anos de Entre Rios do Oeste, Mayson Eberhardt, os preparativos para receber o público estão nos retoques finais. “Diferente dos anos anteriores, conseguimos neste ano adiantar os trabalhos no Parque de Exposições. Nas edições anteriores a organização do espaço acontecia na semana do evento e, nesta edição, estamos trabalhando desde a semana passada”, enfatiza.

A grande expectativa para esta edição é a volta do rodeio para o município. O início da atração acontece as 20 horas, logo após a abertura da ExpoRios, marcada para hoje (16), às 19 horas. “Toda a região está na expectativa para as provas do rodeio e também dos três tambores, que recebeu inscrições locais e regionais, e terá provas no sábado (amanhã, 17), às 19 horas, seguida pelo circuito do rodeio”, aponta.

A segunda etapa da prova de tambores acontece domingo (18), às 09 horas e a final à tarde, às 15 horas, seguida pelo rodeio. A parceria do Poder Público com a Associação Comercial (Acier) também disponibiliza aos visitantes acompanhar o rodeio de camarote, localizados nos bretes, local privilegiado em que pode ser vista a preparação dos peões. “Temos 20 camarotes que estão sendo comercializados a R$ 250 para os três dias, com capacidade para seis pessoas e sem consumação, e R$ 400 para o mesmo número de pessoas com consumação e dois litros de whisky”, aponta o presidente da Acier, Alexandre Stein.

Segundo ele, a expectativa é atingir e até mesmo ultrapassar o número de 15 mil visitantes nos três dias de evento. “É uma grande expectativa tanto para os empresários que poderão divulgar sua marca e comercializar seus produtos, quanto para aqueles que firmarão negócios futuros que acontecerão por conta da festa. É uma oportunidade tanto para os expositores locais quanto da região”, enfatiza. “Por conta do rodeio, que é um atrativo que abrange um público maior, esperamos mais visitantes do que na última edição”, complementa Eberhardt.

Por meio da Acier, a festa também terá neste ano um helicóptero que realizará voos panorâmicos por R$ 60, em um tempo mínimo de três a quatro minutos.

 

Cores e sabores

O café colonial será servido tanto hoje como amanhã, das 18 horas às 22 horas. As fichas estão sendo comercializadas antecipadamente a R$ 28 e na hora R$ 30. “Teremos também os eventos musicais. Na sexta-feira a Banda Savana fará a animação e, no sábado, o DJ Pinky além da dupla Jeann & Julio”, aponta.

No domingo, o ponto alto da festa está concentrado na gastronomia. Além do 3º Concurso da Copa Suína, no restaurante acontece o 14º Festival Nacional da Carne Suína, onde são servidos três pratos à base de suíno. “Há o Leitão à Entre Rios, copa suína e porco no tacho, além de outros acompanhamentos que podem ser degustados ao valor de R$ 25”, diz. “Nos quiosques acontece o concurso, lembrando que na parte externa também pode ser adquirida a carne bovina”, complementa Eberhardt.

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