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Paraná

Em tempos de crise, setor ceramista vive retomada das vendas

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Joni Lang/OP

Gradativamente o produto passa a ser colocado em maior escala à disposição de empresas de construção civil

 

A crise atravessada pelo Brasil nos últimos anos trouxe reflexos de toda ordem, ocasionando queda nas vendas, diminuição da produção, demissões e fechamento de empresas. Diferente da maior parte do país, que soma aproximadamente 13 milhões de desempregados, o Oeste do Paraná sente os efeitos prejudiciais em menor escala devido à força do agronegócio, possibilitando, inclusive, que algumas áreas se reabilitem em termos econômicos.

De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias de Cerâmicas e Olarias do Oeste do Paraná (Sindicer), Oscar Waldow, o setor atravessou uma crise séria nos últimos anos devido a um fator puramente político. A crise anterior foi em meados de 2009, depois a gente teve uma expansão que durou até 2015, mas no final desse mesmo ano as vendas começaram a ficar ruins. O período mais complicado foi no ano passado devido à queda das vendas na construção civil, sendo que no fim de 2016 foi sentida uma pequena melhora. Nas últimas semanas nós já tivemos de 20% a 30% de aumento na procura e nas vendas, expõe.

Trata-se de um sinal de recuperação – mesmo que a passos lentos – para o setor que viveu tempos de auge em termos de produtividade e vendas entre o fim de 2009 até 2015, impulsionado pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Neste período os empresários apostaram que as vendas seguiriam altas, porque quando estava bom o governo federal liberou muito dinheiro e motivou as empresas a investirem na área, mas logo depois veio a crise, aí quase todo mundo se endividou, menciona Waldow.

 

Produto sobrando

Segundo ele, a crise foi observada porque as indústrias ceramistas elevaram a produção de tijolos, uma vez que a tendência era de que o mercado seguiria aquecido entre o fim de 2015 e 2016, mas isso não se confirmou, pelo contrário, o consumo recuou. Como existia a previsão do mercado se manter aquecido, todo mundo fabricou o máximo, inclusive os fabricantes de telhas produziram menos para expandir ou entrar na área de tijolos, comenta, emendando que isso ocorreu porque muitos aviários passaram a ser cobertos com brasilit. Nesse período quem produzia 200 mil passou a produzir 400 mil tijolos ao mês, quem fazia 400 mil ampliou para 600 mil peças ao mês. Aí começou a sobrar estoque de tijolo e o mercado ficou inflacionado. Ainda hoje a oferta está maior do que a procura, salienta o presidente do Sindicer.

Waldow diz que apesar da retomada, o preço de venda ainda está abaixo do que deve ser recebido pelo produto. Para ele, na região de Foz do Iguaçu o valor pago é um pouco melhor, girando de R$ 0,48 a R$ 0,54 a unidade. Já na região de Marechal Cândido Rondon e Nova Santa Rosa o preço praticado pelas cerâmicas está na faixa de R$ 0,40 ou mais, em alguns casos. Na média das duas regiões, contudo, o preço para mil unidades varia de R$ 450 a R$ 580, dependendo do tipo do produto.

A Cerâmica Itaipulândia, de propriedade de Waldow, tem cerca de 400 mil a 500 mil peças no estoque apesar de o produto possuir certificado do Inmetro, além de ter garantia. As cerâmicas Itaipulândia e Havaí, de Santa Helena, são as únicas do Paraná com o selo Inmetro. Falta o povo se convencer de que é preciso utilizar um produto de qualidade, mesmo porque o custo do tijolo representa apenas de 2,5% a 3% do valor da obra. Muita gente economiza R$ 300 em uma obra de 120 metros quadrados e ao invés de utilizar um produto bom coloca outro de menor qualidade. Por outro lado, nós acreditamos que daqui em diante o mercado vai se tornar aquecido na construção civil e nas cerâmicas, enaltece.

 

Crescimento

O empresário Romário Schaefer, sócio-proprietário da Cerâmica Stein, de Entre Rios do Oeste, reforça que a crise vivida pelo setor ceramista foi motivada por interesses políticos. Quando se fala em crise, o primeiro setor que sofre é a construção civil, e é aí que entram as cerâmicas. A crise foi sentida mais naquela cerâmica que não oferece tanta qualidade, porque o cliente está mais exigente. Hoje ele quer bom preço e produto ótimo, com garantia, pontua.

Cinco anos atrás a Cerâmica Stein foi uma das primeiras do Paraná a conseguir a certificação exigida em todas as obras do programa Minha Casa, Minha Vida, denominada de Programa Setor de Qualidade (PSQ). Schaefer comenta que para manter as vendas no período de crise, a empresa optou em deixar o produto mais próximo devido aos custos envolvendo o frete. Com venda em todo o Oeste do Paraná, os maiores mercados estão nas cidades de Marechal Cândido Rondon e Toledo.

Nós sentimos uma melhora nas vendas a partir do fim do ano, quando a política deu um sinal mais positivo e, nesse ano, devido à boa safra que animou ainda mais. Março foi o mês que trouxe maior crescimento nas vendas, além do mais, nós esperamos expansão porque neste ano não tem eleição. As nossas perspectivas são muito boas, finaliza.

 

Adaptação

Após conseguir a certificação, a Cerâmica Stein implantou o sistema de biodigestor para gerar energia a partir do dejeto de suínos, além de instalar um forno contínuo e econômico, o que reduziu em cerca de 90% a emissão de fumaça na indústria. O empresário Romário Schaefer diz que quando a crise política surgiu, prejudicando todos os setores da economia, a cerâmica estava adaptada para enfrentar tal fase sem maiores problemas.

A cerâmica consome em torno de 60 mil quilowatts de energia elétrica ao mês, dos quais 23 mil são gerados através do biodigestor, reduzindo a conta para R$ 30 mil em média ao mês.

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