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Paraná

Suinocultor de Entre Rios do Oeste fatura mais com dejetos do que com a carne

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Arquivo pessoal

Biodigestor alimenta indústria instalada ao lado dos galpões para suínos

Em princípio a história parece estranha, mas o suinocultor Romário Schaefer, de Entre Rios do Oeste, interior do Paraná, está faturando mais com o biogás, produzido por meio dos dejetos suínos em um biodigestor, do quem com a carne suína. As três granjas com três mil animais em fase de terminação alimentam o equipamento, que produz biogás e é convertido em eletricidade. Em média, são 23 mil Kw/mês, energia suficiente para alimentar 40% da demanda de uma cerâmica que opera 24 horas por dia anexa à propriedade. A economia na conta de luz chega a R$ 30 mil por mês. Hoje ganho mais com o biogás do que com o suíno, conta o empresário.

Antes de implantar um sistema, entretanto, o produtor precisa dimensionar custos para saber se vale ou não a pena. Especialistas do setor que se reuniram dia 30 de março, em Toledo (PR), garantem que o biodigestor é economicamente viável apenas para algumas propriedades. Ou seja, a receita de Romário Schaefer não funciona para outros produtores.

A história de Schaefer na suinocultura já começou às avessas, no início dos anos 2000. Ceramista por natureza, viu no biogás uma oportunidade para reduzir os custos com lenha que sua indústria consumia. Para isso, no entanto, tinha que virar suinocultor. Por volta de 2002 eu comecei a ter falta de lenha para a cerâmica. Estava difícil. Daí alguém me falou: pode queimar o biogás, conta o empresário. Então comecei a criar o porco e fiz o biodigestor, lembra o produtor, que é integrado a uma agroindústria da região Oeste do Paraná.

No início, entretanto, explica Schaefer, o biodigestor não se mostrava tão promissor. No começo deu certo, mas depois o biodigestor parou de funcionar. Abandonei o projeto, lembra. Apesar da rentabilidade da carne suína, em 2012, porém, o produtor paranaense retomou o projeto. A necessidade de reduzir os custos com energia fez o produtor buscar novas parcerias e informações e acabar transformando os dejetos de três mil leitões em R$ 30 mil a menos na conta de luz. Queria resolver de uma vez o problema da luz e dessa vez deu certo. A energia que eu produzo atende 40% da necessidade da cerâmica. Isso significa R$ 25-30 mil de economia por mês, revela.

O Kw custa algo em torno de R$ 0,50. Se Schaefer produz 23 mil Kw/mês, a economia seria no máximo de R$ 11,5 mil. Um dos segredos para o entrerriense ganhar tanto está no tipo de contrato que ele tem com a Copel, modelo industrial. As tarifas são dife-

renciadas, mas, de acordo com ele, durante três horas por dia o custo é bem mais alto que o normal. Como a fábrica funciona 24 horas por dia, tem esse incremento na conta. No meu contrato, a energia entre as 18 e as 21 horas é dez vezes mais cara. Então eu não poderia usar nesse horário. O biogás me ajudou nesse sentido. Por isso consigo essa redução na conta, explica.

 

BIOFERTILIZANTE, ODOR, VETORES… OUTROS BENEFÍCIOS

A produção de energia elétrica funciona da seguinte forma: os dejetos suínos vão para uma lagoa coberta com uma lona, onde passam pelo processo de biodigestão anaeróbia, que produz o biogás. O material é levado até um gerador, que o transforma em energia elétrica, despejada na rede interna do estabelecimento. Depois disso, o substrato que gerou energia é usado como biofertilizante, enriquecendo de nutrientes os cinco alqueires onde Schaefer planta grãos e reduzindo os custos com adubação mineral. O que sai do biodigestor vai para a lavoura. Uso cerca de 80% para meus cinco alqueires. O restante distribuo para os vizinhos, menciona.

O produtor ainda cita benefícios indiretos que o biodigestor trouxe para o seu empreendimento, como redução do odor, que causava mal-estar aos trabalhadores, e controle de vetores na propriedade, indispensável para a sanidade suinícola. O biodigestor acabou com o mau cheiro e com as moscas. Só isso já é uma grande coisa, diz.

Nas contas do empresário, ainda em 2017 ele vai recuperar o investimento de R$ 300 mil feito no biodigestor. Em outubro vai fazer quatro anos que tenho o biodigestor. Com certeza foi um bom investimento. Vai se pagar em quatro anos, afirma. Ele orienta, entretanto, sobre os custos de manutenção – R$ 1,5 mil, no caso dele –  e riscos de investir em um equipamento como esse sem necessidade. No meu caso deu certo, mas cada caso é um caso. Tem que avaliar bem antes de investir, sugere.

 

QUANDO VALE A PENA?

Durante a primeira Jornada Oeste de Meio Ambiente – dejetos de suínos e aves: alternativas e inovações para a cadeia produtiva, realizada pela governança Oeste em Desenvolvimento, dia 30 de março, em Toledo (PR), profissionais debateram o uso de biodigestores como forma de eliminar problemas ambientais e gerar renda extra ao produtor. Entre os palestrantes, o engenheiro ambiental Felipe Marques, gerente de Mercado e Negócios do Centro Internacional de Energias Renováveis (Cibiogás), abordou a viabilidade econômica de biodigestores em diferentes modelos de produção. De acordo com Marques, em muitos casos a implementação do sistema na propriedade rural pode ser um equívoco. Uma boa alternativa é a construção em condomínio, sugere.

Segundo ele, a geração isolada de energia, com três mil suínos em terminação, leva em média 11 anos para ser amortizada, avaliando apenas o consumo médio de instalações desse porte. De acordo com o Cibiogás, com quatro mil suínos, o retorno do investimento acontece em dez anos. A conta fica mais cara quando o plantel é menor: 15 anos para dois mil animais e mais de 25 anos para mil animais.

Temos percebido muita gente dizer que o biogás é viável em qualquer circunstância e que qualquer suinocultor pode ter um biodigestor, só que a conversa não é bem essa. É preciso esclarecer alguns pontos importantes para tirar a ilusão de que sempre é possível, alertou. O produtor precisa equacionar o tamanho da propriedade, a geração de substratos, o uso de fertilizante, consumo de energia, entre outros fatores, para saber se é viável.

CONSÓRCIO BARATEIA INVESTIMENTO

Para que o retorno ocorra em menos tempo, a sugestão do gerente do Cibiogás é uma modalidade ainda pouco difundida no Brasil: a produção em consórcio, distribuída para terceiros, mesmo estes distantes do local onde a energia é produzida. Barateia o investimento e o retorno é bem mais rápido, comenta Marques.

Na simulação de modelo de negócio do Cibiogás, com 60% de investimento próprio e 40% dos consorciados, o tempo de retorno do investimento para mil suínos cairia de mais de 25 anos para 5,2 anos. Dois mil suínos, 4,5 anos; três mil, 3,4 anos; e quatro mil suínos, 2,9 anos. Conforme dados do Cibiogás, se o produtor investir 30% e deixar o restante aos consociados, quatro mil leitões fazem o investimento retornar em apenas dois anos.

Marques explica que o consórcio é um dos quatro modelos de negócios para a produção de biogás no Brasil – as outras são geração isolada, geração distribuída compensando internamente e geração distribuída compensando remotamente (mesmo CPF ou CNPJ). A geração distribuída compensando em terceiros é o consórcio. A parceria, lembra Marques, precisa ser documentada junto à distribuidora de energia local. O produtor entra com o biodigestor, por exemplo, e os consorciados investem no gerador. Em contrapartida, o consorciado tem determinadas garantias, como a produção constante, disse.

O palestrante alertou ainda para os custos de manutenção do sistema. É preciso também lembrar dos custos operacionais, como mão de obra, tempo, e não apenas no biodigestor e no gerador, pontuou.

 

POTENCIAL E PRODUÇÃO NO PR

De acordo com Felipe Marques, o Oeste do Paraná é a região que mais produz biogás com dejetos da agropecuária no Brasil, mesmo assim ainda há muito potencial a ser explorado. O Paraná é o Estado que mais produz biogás no Brasil e o Oeste concentra a maior produção no Estado, reforça.

Segundo o profissional, o Paraná poderia produzir mais de 400 milhões de metros cúbicos de biogás por ano, mas usa 10% desse potencial. Nosso papel é incentivar essa exploração e mostrar qual a melhor alternativa para cada agricultor, disse. A solução é transformar substratos em biogás e biometano e depois em energia térmica, energia elétrica e energia veicular. Tudo depende da realidade. Ainda vemos pouca gente fazendo negócio com biogás porque os arranjos de negócios precisam se desenvolver melhor. Novos modelos de negócios são essenciais para avanços do setor, acredita.

O produtor de Entre Rios do Oeste não revela seus balanços, mas afirma categoricamente que o negócio é sustentável: Hoje ganho mais com o biogás do que com o suíno. É um bom negócio em muitos casos.

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