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Política

Derrotada nas urnas, esquerda articula união para ter chances em 2018

Publicado

em

Marcello Casal JR
Ciro Gomes (PDT), um dos nomes da esquerda para 2018

O segundo turno das eleições municipais confirmou a onda negativa para os partidos de esquerda e centro-esquerda no país, sobretudo o PT. O resultado nas urnas reforçou a percepção de parte das lideranças desse espectro político-ideológico de que eles precisam estar unidos em 2018 em torno de um único nome para ter alguma viabilidade na sucessão presidencial. A candidatura do ex-presidente Lula, embora ele ainda tenha força eleitoral, é vista hoje como improvável. E o PDT lançou um nome para ser o candidato da já batizada Frente Ampla: o ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes.

A aliança está sendo constituída a partir dos partidos que integram a Frente Brasil Popular que é formada por movimentos sociais e pelo PT, PDT e PCdoB. Esse grupo articula ações como as manifestações do Fora, Temer, por exemplo. Os três partidos também atuam unidos na oposição ao governo federal no Congresso. Mas o bloco ainda não tem um caráter de coalizão eleitoral o que iria ocorrer com a Frente Ampla.

Movimento ao centro

A adesão à Frente Ampla de outras siglas de esquerda como o Psol e a Rede tem obstáculos. E lideranças da Frente Ampla, diante disso, se movimentam em direção ao centro para tentar agregar outros partidos, apesar de não desistir de conversar com as legendas mais à esquerda.

A Frente Ampla não é de esquerda, mas de centro-esquerda. Temos de ter partidos do centro para conseguirmos viabilidade, diz o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. Segundo ele, embora seja cedo para fechar qualquer aliança para a sucessão presidencial, os pedetistas já conversam com líderes de legendas como o PSB, o PRB e o PSD que hoje compõem a base aliada do presidente Michel Temer (PMDB).

Presidente nacional do PCdoB, a deputada federal Luciana Santos (PE) afirma que a Frente Ampla pode construir um programa nacionalista que atraia outros partidos, inclusive de centro. Ela aposta que o grupo tem chance na eleição de 2018 diante do cenário possível de que a direita, representada pelo governo Temer, não consiga estabilizar o país e promover a retomada do crescimento econômico.

Luciana Santos vê outras duas oportunidades para o grupo. Um deles seria a rejeição popular às medidas de Temer que retiram direitos da população (como a reforma da Previdência) e que promovem o corte de gastos sociais. A outra é a Operação Lava Jato, que ameaça comprometer a base aliada de Temer e o próprio governo. Sobre o nome do possível candidato, a presidente do PCdoB admite que Ciro é uma alternativa. E, embora ela considere que Lula possa inclusive vir a se tornar inelegível devido a uma eventual condenação judicial, o ex-presidente não é carta fora do baralho.

A Gazeta do Povo procurou a presidência do PT para comentar sobre a Frente Ampla. A assessoria do partido informou apenas que o partido tem agido de forma conjunta com o PDT e o PCdoB, mas que por ora não está discutindo a eleição de 2018.

Análise

O cientista político Mário Sérgio Lepre, da PUCPR, avalia que a esquerda terá de se reconstruir após as eleições municipais. Não só o PT, mas outros partidos desse espectro ideológico acabaram associados ao governo da ex-presidente Dilma Rousseff e, consequentemente, tiveram prejuízos eleitorais. Nesse sentido, a Frente Ampla pode ser uma alternativa interessante para essas siglas. Lepre considera difícil, porém, que o PT aceite o nome de Ciro Gomes.

Também cientista político, Doacir Quadros, do Grupo Uninter, afirma que a Frente Ampla pode ter uma função de mais longo prazo, mesmo que não vença em 2018: restabelecer a confiança da população nos partidos de esquerda.

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