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Dom João Carlos Seneme

De dona de casa ela se torna discípula missionária

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A Quaresma é o período em que nos preparamos para a Vigília Pascal, centro de nossa fé cristã. Neste dia, todos os cristãos renovam solenemente o Batismo através da profissão de fé, manifestando que querem continuar vivendo a vida segundo Jesus Ressuscitado. Por isso, nestes próximos domingos da Quaresma, os evangelhos retomam os símbolos do Batismo: água, luz e vida.  De modo especial, neste “domingo da samaritana” (3º Domingo da Quaresma), o Evangelho chama a atenção para o símbolo da água. O encontro de Jesus com a samaritana, à beira do poço, nos questiona profundamente: quais são as fontes que alimentam nossa vida espiritual? Onde encontramos a fonte de água viva que jorra eternamente? A samaritana encontrou em Jesus resposta para o sentido fundamental de sua vida. Neste domingo, o Evangelho nos oferece uma das cenas e diálogo mais tocantes do Evangelho. O encontro com a samaritana revela a profundidade do amor de Deus por toda a humanidade, de modo particular pelos pecadores. Jesus passa por uma região, Samaria, considerada lugar de hereges e pecadores, segundo a visão dos judeus. É uma longa história de ódio e rancor devido a questões religiosas. Os samaritanos são considerados impuros porque se uniram a povos estrangeiros. Jesus é um judeu, por isso a samaritana se escandaliza quando Ele lhe dirige a palavra: ela é mulher, samaritana e pecadora. De uma simples conversa inocente, a samaritana encontra o Salvador que transforma a sua vida. Ela experimenta a total acolhida, sem discriminação, ódio ou rancor, mas a oferta de uma vida nova. Jesus pede para dar; pergunta para responder; sente sede para se oferecer como água viva. Com esta dinâmica de contrastes, Jesus propõe uma religião nova e um culto novo: culto ao Pai em espírito e verdade. O Espírito dará a conhecer qual é o culto que tem sentido: conhecer o Deus verdadeiro e adorá-lo como Pai. Os judeus e os samaritanos criaram um deus a sua maneira, que justifica seus ódios e rancores. Jesus propõe Deus-Pai que acolhe, ama, não condena e propõe uma vida nova. Vamos prestar atenção no pormenor do “cântaro” abandonado pela samaritana, depois de se encontrar com Jesus. O “cântaro” significa e representa tudo aquilo que nos dá acesso a essas propostas limitadas, falíveis, incompletas de felicidade. O abandono do “cântaro” significa romper com todos os esquemas de procura de felicidade egoísta, para abraçar a verdadeira e única proposta de vida plena. Agora ela é uma nova mulher, portadora de algo mais valioso, que dá sentido novo a sua vida.A mulher samaritana, ferida pela vida, é transformada através do encontro com o Ressuscitado. De dona de casa ela se torna discípula missionária do Messias. Agora ela pode voltar para o seu povo sem ser rejeitada por ele. Isto revela que a fé cura todas as nossas feridas e nos dá de volta a dignidade perdida. Além disso, com o seu testemunho de fé ela contagia outros: “Nesta aldeia muitos creram n’Ele pelo que contara afirmando que lhe tinha dito tudo o que fizera”. “Esta experiência de Deus não é fruto de nossos trabalhos e esforços. Devemos dar espaço ao Espírito na vida e no coração, em nossas celebrações e na comunidade cristã. A Igreja de nossos dias deve escutar atentamente também hoje as palavras de Jesus à samaritana: Se conhecesses o dom de Deus! Quando nos abrimos à ação do Espírito Santo, descobrimos essa água viva prometida por Jesus, que se converte dentro de nós em manancial que jorra para a vida eterna” (Pe. José Antônio Pagola).
* O autor é bispo da Diocese de Toledo
revistacristorei@diocesetoledo.org

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