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Dom João Carlos Seneme

“Destruí este templo, e em três dias eu o levantarei”

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Nossa caminhada quaresmal continua. Acompanhamos Jesus no deserto e descobrimos que também ele enfrentou as tentações que nos ameaçam e as forças do mal que nos afastam de Deus.  Com Jesus no monte da transfiguração, ouvimos a voz do Pai que o confirmava como o Filho amado e nos mandava escutá-lo e segui-lo no caminho da oferta de si mesmo para nos garantir vida plena.

As leituras do tempo da Quaresma retomam os grandes temas da iniciação à vida cristã: o batismo, a fé, a caridade, a vida nova, usando imagens, como a água, a luz, as curas, as ressurreições. Tudo para nos ajudar a aprofundar esta realidade nova que a ressurreição de Cristo realizou em nós. Os mandamentos (primeira leitura) são uma exigência da vocação humana, reencontrada com a ajuda do amor de Deus. A moral cristã não é fruto da sabedoria humana, ela está fundamentada em nossa inserção na Páscoa de Cristo. 

Hoje o evangelho (Jo 2, 13-35) coloca Jesus no templo de Jerusalém. É véspera da Páscoa, Jerusalém está cheia de peregrinos. Há muito comércio, mercado barulhento, venda de animais para os sacrifícios e os cambistas trocando moedas nas bancas. A reação de Jesus é surpreendente! Expulsa todos os vendedores e cambistas com um chicote, joga pelo chão o dinheiro e derruba as bancas e declara: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio”. Qual seria o significado deste relato que aparece em todos os evangelhos?

Jesus conhecia profundamente o Pai misericordioso e não podia aceitar tranquilamente que sua imagem e sua casa fossem tão deturpadas. Sacerdotes, vendedores e cambistas estavam atrás de dinheiro e de lucro. A ganância e o poder parecem sobrepor à oração e comunicação com Deus. Se a espiritualidade está poluída, onde o povo de Deus vai se alimentar? Por isso Jesus se revolta.

No diálogo entre Jesus e os judeus que lhe pedem explicações pelo gesto, Jesus responde identificando o templo com o seu corpo: “Destruí este templo, e em três dias eu o levantarei”. É normal que os judeus não tenham compreendido nada, mas para os cristãos das primeiras comunidades que ouviam estas palavras depois da Ressurreição, a mensagem é clara e profunda. Tudo aquilo que se fazia através do templo: os ritos de sacrifício, ou seja, a busca da comunhão com Deus e do perdão dos pecados, agora acontece através do corpo de Cristo, que foi consumido na morte e na ressurreição foi glorificado. De agora em diante a salvação se encontra em Jesus. O verdadeiro santuário é o corpo de Jesus que foi destruído, mas Deus, no seu imenso amor, transformou este fato injusto em ocasião de vitória sobre o mal e a morte.

 Expulsemos os “vendilhões, as vacas e bois” que há em cada um de nós.  Somos templos vivos, e é isso que celebramos. Jesus é o Messias crucificado. Ele se tornou um novo templo onde todos podem encontrar graça e misericórdia. Ele nos conduz ao Pai. Sejamos referenciais de santidade a cada dia, sendo zelosos no que fazemos, no que falamos ou pensamos, buscando a santidade no amor, sendo exemplos em tudo, para glória de Deus.

A Campanha da Fraternidade 2024, “Fraternidade e amizade social”, Vós todos sois irmãos e irmãs nos recorda que Deus nos fez seus filhos e filhas. Somos todos irmãos e irmãs! Sua eterna criatividade nos fez únicos. Portanto, diferentes. Contudo, nossas diferenças no ser, no pensar e no agir não nos podem dividir ou separar. Nossas diferenças são riquezas, oportunidades de crescimento, encaixes de comunhão! Por meio do diálogo, construamos harmonia entre nós, sejamos construtores da cultura do encontro (Texto-base CF 2024, n. 133).

Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo

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