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Dom João Carlos Seneme

Jesus, levantado na cruz, nos deu a vida eterna

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O evangelho de João foi o último dos evangelhos a ser escrito e, por isso, apresenta discursos mais elaborados, caracterizados por uma linguagem dualista: Deus-mundo; luz-escuridão; crer-não crer; verdade-mentira, consequência da proximidade com o pensamento grego.

O texto de deste fim de semana é a segunda parte do diálogo que Jesus mantém com Nicodemos, conhecido como um fariseu rico que se aproxima de Jesus mostrando abertura à sua mensagem e reconhecendo-o como mestre pelas obras que realiza.

Na primeira parte do diálogo, Jesus lhe diz que não basta entender o que Jesus diz, mas que é preciso nascer da água e do espírito para entrar no Reino dos céus. Na segunda parte, correspondente ao evangelho de hoje (Jo 3,14-21), Jesus esclarece o que isso significa.

A resposta recorre à imagem do Antigo Testamento da serpente levantada por Moisés no deserto, e a associa ao seu mistério pascal, diante do qual quem crê tem a vida eterna.

Jesus revela o plano de salvação que Deus traçou para a humanidade. Através do seu amor infinito, Deus enviou o seu Filho ao mundo para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna. Os que creem são os filhos da luz que fazem as obras da luz, as obras do Reino de Deus.

O Filho não veio para julgar ou condenar ninguém, mas quem não reconhece Deus nas obras de Jesus permanece nas trevas, agindo contrariamente aos valores do Reino. Preferem a escuridão e se incomodam com a luz que ilumina seu modo de vida.

Vale esclarecer que o mundo, no evangelho de João, é um símbolo do ambiente hostil que se cria em torno de Jesus, mas não significa que o mundo seja mau. Pelo contrário, Deus amou tanto o mundo que enviou o seu Filho, diz o texto bíblico. Ou seja, neste lugar amado por Deus podem ser realizadas as obras da luz ou as obras das trevas e isso depende dos seres humanos que acreditam em Jesus e no seu jeito de viver o evangelho ou não acreditam Nele, mostrando isso através da rejeição do que Jesus disse e fez.

O texto termina se referindo à verdade como fidelidade, aceitação, lealdade. Portanto, a verdade se realiza nas obras e são elas que dão testemunho da fé em Jesus.

Mais uma vez, neste tempo de Quaresma, tempo de conversão e de mudança, somos convidados a fixar nosso olhar em Jesus para ser iluminado por sua luz e agir em coerência com nossa fé. Em sintonia com os ritos penitenciais próprios da Quaresma, Deus nos pede mais ações de amor, misericórdia, acolhimento, perdão, reconciliação, fidelidade e justiça.

Somos solicitados a neutralizar as obras das trevas que tão facilmente muitos no mundo apoiam, justificando-se que as coisas não podem mudar ou que não temos nada a ver com isso.

É urgente sair da passividade diante da injustiça, do silêncio diante às exclusões, do conformismo diante da violência, do desinteresse pelo destino dos pobres, ou seja, de tudo o que é hostil aos valores do Reino.

A caminho da Páscoa, vamos nos aproximar da luz de Jesus para que ele nos inspire a desfazer discórdias e efetivar a amizade social entre todos.

Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

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