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Dom João Carlos Seneme

Felizes os pobres em espírito porque deles é o Reino dos céus

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Há bens muito valiosos que a riqueza humana não pode comprar. A primeira leitura nos fala da sabedoria como um desses bens, na verdade, é o único bem verdadeiro. O Evangelho nos apresenta um jovem que quer seguir Jesus, mas está ocupado com seu dinheiro e seus medos, não sabe compreender o valor da sabedoria evangélica, encarnada no chamado de Jesus para segui-lo. O jovem perde a oportunidade e, com ela, o horizonte de uma nova vida, não mais sujeita às leis do cálculo e da utilidade, mas gratuita e fecunda.

O texto inicia com um homem correndo que se ajoelha diante de Jesus e lhe pergunta o que fazer para chegar à vida eterna. No transcorrer do texto saberemos que se trata de alguém rico, mas insatisfeito, que busca mais e sabendo que Jesus é um grande mestre se aproxima buscando respostas para suas questões existenciais. Jesus o acolhe e diz que o único Mestre verdadeiro é Deus, só Ele pode dar a salvação.

O homem responde que tem observado todos estes mandamentos desde a sua juventude. Mas tudo isso ainda não o faz feliz, precisa de algo mais. Neste instante, Jesus o olha com amor e revela a misericórdia do Pai. O homem tem tudo o que os padrões da época indicavam como “felicidade”: poder, dinheiro, respeito e mesmo fazendo tudo o que está prescrito nos mandamentos não é feliz.

O amor de Jesus por este homem sedento o faz propor-lhe algo novo. A primeira coisa a fazer é não ser escravo de suas posses e o bem-estar que elas trazem: “vai, vende tudo o que tens”. A segunda é ajudar os pobres: “dá aos pobres e terás um tesouro no céu”. O último passo é o seguimento: “vem e segue-me”. O evangelho nos diz que o homem franziu a testa, levantou-se e foi embora triste porque era muito rico e se deu conta que era muito apegado aos bens e incapaz de renunciar a eles.

A lição do evangelho é que a salvação oferecida por Deus é dom, não podemos “comprá-la”. O amor de Deus é gratuito. Ninguém pode pensar que vai conseguir a herança eterna com base em suas posses, poder, capacidade intelectual, mérito ou recompensa. Para entrar no Reino é necessário um coração simples, desapegado e livre. Não há aqui uma condenação à riqueza, mas que devemos colocá-la em seu devido lugar: ela não é fim, mas meio. Jesus também deixa claro que é muito difícil largar as riquezas, deixar tudo e segui-lo.

Os discípulos que ainda deixaram compreenderam completamente o que significa seguir Jesus. Eles pensam como tudo mundo: quem tem bens é abençoado por Deus. Para esclarecer Jesus apresenta uma comparação chocante: “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus”! É muito difícil. Mas ele acrescenta: “Para os homens é impossível; não para Deus; tudo é possível para Deus”. Sempre haverá a esperança.

Nossa Senhora Aparecida nos ajuda a caminhar sempre na direção de Deus sem medo: “Ó minha Senhora, ó minha Mãe, eu me ofereço todo a Vós, e em prova de minha devoção para convosco, eu vos consagro neste dia e para sempre os meus olhos, meus ouvidos, minha boca, meu coração e inteiramente todo o meu ser. E porque assim sou vosso, ó incomparável Mãe, guardai-me e defendei-me como filho e propriedade vossa. Amém”.

 

O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

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