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Dom João Carlos Seneme

Jesus se admirava da incredulidade deles

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Jesus retorna a Nazaré, sua cidade natal, e, pela segunda vez, eles o veem com distância e desconfiança. Já acompanhamos, nos domingos anteriores, quando Jesus volta para casa, depois de escolher os doze apóstolos, multidões que o procuram que nem tem tempo para comer. Seus parentes, preocupados com o Ele, tinham ido buscá-lo porque achavam que estava fora de si. Agora seus vizinhos e conhecidos não confiam em sua sabedoria ou nos gestos que faz, porque lhes falta a fé para acreditar n’Ele.

São Marcos, desde o início, apresenta Jesus como o Filho de Deus, o Messias que veio libertar a humanidade. A boa nova anunciada por Jesus exige fé, adesão e confiança. O texto nos mostra que eles veem somente o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão. É difícil para eles aceitar que um trabalhador como eles, com mãos calejadas, filho da mesma terra, com parentes conhecidos pode ter sabedoria suficiente para ensinar algo de novo! Segundo eles, Jesus é muito próximo para ser portador de alguma novidade. Para eles Deus não pode se manifestar na fraqueza e na fragilidade. Torna-se um grande empecilho quando recusamos esta realidade, facilmente perdemos a oportunidade de descobrir o Deus que vem ao nosso encontro e de acolher os desafios que Ele nos apresenta. “Não podia fazer ali nenhum milagre. E estranhou a incredulidade deles”.

A Palavra de Deus é sempre atual, é como a “chuva que cai do céu e para lá não volta sem fecundar a terra e a fazer germinar (Is 55,10).

Este episódio reflete a realidade de muitos cristãos de hoje. Somos obrigados a admitir que também entre nós Jesus não realiza muitos prodígios e que sua Palavra fica, muitas vezes, impedida de agir porque não temos fé e confiança suficientes para compreender que Deus está agindo e que precisamos de mudar nosso modo de pensar para acolhê-lo em nossas vidas e realidades. Isto se deve à atitude de fechamento a Deus e aos seus desafios. O encontro com Deus pode nos levar a lugares onde não queremos ir, a ver coisas que não queremos ver. Preferimos, muitas vezes, ficar comodamente instalados em nossas certezas e preconceitos: os nazarenos decidiram que saibam tudo sobre Deus e que Deus não podia estar no humilde carpinteiro que eles conheciam tão bem.

Outro ensinamento vem da atitude de Jesus: Ele não desanima diante da falta de fé e desconfiança: “Curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos e percorria os povoados das redondezas, ensinando”. Pois, para Ele, o que importa é fazer a vontade do Pai, ser fiel aos planos que o Pai lhe confiou e implantar o Reino. O testemunho que Deus pede de nós, muitas vezes, acontece em meio a incompreensões e oposições. É nestes momentos que a fé vem em nosso socorro e nos faz fortes para continuar nossa missão de discípulos missionários. A atitude de Jesus nos convida a nunca desanimar nem desistir: Deus tem os seus projetos e sabe como transformar um fracasso num êxito. Cabe a cada um de nós aprender a ser livre e humilde. Quando queremos cooperar na obra de Deus e nos deixamos penetrar pelo Espírito de Jesus, então descobrimos que Deus age em nós e que a obra que fazemos é Dele. Só assim vamos aprender a ser menos egoísta e iniciar um processo de transformação pessoal que incidirá em mudar o mundo ao nosso redor.

* O autor é bispo da Diocese de Toledo

 

revistacristorei@diocesetoledo.org

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