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A revolução dos bichos

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Moratto com seu mascote e foto do hospital ao fundo: 2º maior mercado do planeta (Foto: Divulgação)

O avô do Totó, primo-irmão do lobo, vivia na floresta. Domesticado pelo Sapiens, passou a acompanhar bandos humanos de caçadores e coletores. Milênios depois, foi para uma pequena casinha, no vasto quintal de uma família urbana.

Na evolução dos fatos, o Totó veio para dentro da residência das pessoas e virou membro da família. Em síntese, essa é a linha evolutiva dos cães. E também o fenômeno que explica o bilionário mercado aberto para empreendedores de diversas matizes: do “tiozinho” que passeia com os cães ao veterinário. Sem dizer da Estrelinha do Céu, especializada em rituais fúnebres para despedida dos pets, incluindo velório e cremação.

Há 106 pets shops e 41 clínicas veterinárias em Cascavel. A maior rede do setor, a Petz, com 130 lojas, acaba de se instalar aqui.

Empreendedor do ramo, o médico veterinário Marcelo Moratto percebeu a força da turma de quatro patas na vida das pessoas. “Pense uma pessoa solitária, que se aposentou antes dos 60 anos, ou casais que sofrem da síndrome do ninho vazio, quando os filhos batem asas e voam. O tutor (dono) logo percebe que aquele animalzinho cria uma ocupação, um jeito de preencher vazios, pois o pet depende de o tutor sair da cama, de fazer uma caminhada. É um senso de responsabilidade que fará bem a esses jovens senhores de qualquer idade”, explica Moratto.

O setor em que o veterinário atua vai bem, obrigado. Cascavel é uma das cidades mais bem servidas do Paraná, tanto na especialização dos profissionais como na estrutura disponível. Clínicas e hospitais veterinários da cidade – cada vez mais assemelhados a estruturas hospitalares para humanos – possuem três tomógrafos de última geração, mesma capacidade instalada da capital, Curitiba.

O salto do próprio Moratto, de estagiário a empreendedor, também ilustra a vitalidade do segmento. A clínica dele, Vida Pets, foi transformada em hospital e acaba de ampliar a estrutura de atendimento de 300 para quase mil metros quadrados.

São 30 profissionais, dez deles veterinários, atuando 24 horas por dia. Engana-se quem pensa que só “cachorro de grife” usufrui destas estruturas sofisticadas. Dois em cada três gatos ou cachorros atendidos são da famosa marca “sem raça definida”, que antes do politicamente correto conhecíamos por “vira-latas”.

Hospitais como o Vida Pets oferecem aparelhos de ultrassom, raio-X digital, exames de sangue, central de internamento, centros cirúrgicos, atendimento odontológico e até suíte para o tutor dormir no mesmo ambiente em que o bichinho está internado.

Quando o lendário George Orwell escreveu “A Revolução dos Bichos”, certamente não imaginava um significado alternativo para o título do livro: os pets no centro do universo familiar sapiens, preenchendo o vazio afetivo em um mundo de solidões acompanhadas.

 

BANCADA CANINA

As urnas de 2020 latiram, miaram e gorjearam. Três “vereadores cachorros” emergiram delas. O corretor de imóveis Cleverson Sibulski é uma “zebra que late”. Poucos analistas o incluíam na lista dos eleitos. As páginas dele na rede social revelam o motivo do sucesso nas urnas. Ele criou um grupo de protetores, atuou na castração e no resgate de bichos e ajuda gente a encontrar cãezinhos e gatinhos perdidos.

Outra eleita pela causa é a professora Beth Leal, orgulhosa integrante da bancada pet na Câmara de Cascavel.

Mas o “cachorreiro” mais conhecido mesmo é Serginho Ribeiro. Com quase 2,7 mil sufrágios, Serginho figurou entre os três mais votados. Há 25 anos ele realiza o Rocão, show de rock na Praça do Country, com recursos destinados para a causa animal.

 

OS CHATOLINOS DO ZAP

Na pré-história das redes sociais no Brasil, estamos falando de uma década e meia atrás, reinavam absolutos o MSN Messenger e o Orkut. Era uma febre. A tal “Colheita Feliz”, do Orkut, colocou milhões maratonando na frente dos computadores em uma era pré smartphone e Netflix.

2011 marcou o começo do fim do Orkut. Naquele ano, o Facebook tornou-se a rede social mais popular. Porém, a rede pioneira ficou na história. Brasileiros eram 51% dos usuários de todo o planeta. Por que então o Orkut afundou? Entre outros fatores, por conta dos “chatolinos”.

Muitos usuários se utilizavam da rede para enviar correntes de oração, autoajuda, o famoso “bom dia!”, persistente até hoje. Lembro-me que um famoso esquema de pirâmide passou a disfarçar suas intenções convencendo as pessoas a postar cards em seus perfis no Orkut, vide casos do BBom e Telex-Free.

Como jacu escasseia, mas não acaba, o Orkut naufragou, mas os chatolinos permanecem na superfície das telas multicoloridas. Seguramente você conhece um deles. É fácil identificá-los. Os mais chatos entre os chatos enviam diariamente conteúdos pelo WhatsApp, no esforço incansável de doutriná-lo para projetos políticos de extremistas tapados.

Você clica no aplicativo do zap, cedinho, ainda na cama, e o chatolino já está lá, dentro do seu quarto. Ele acredita que tem uma missão divina: catequizar pessoas, resgatar almas para seu ídolo político, para o semideus que está acima do bem e do mal.

O chatolino é disciplinado. Todo santo dia ele passa o pano no semideus, ou enfrenta de forma destemida os adversários do ídolo. Se precisar se utilizar de fake news, sem problemas. O chatolino não se importa, afinal, embora ele não entenda bem o que significa isso, “os fins justificam os meios”.

Convém olhar no espelho e perguntar: – será que já estou doutrinado? Será que já faço parte da turma de chatolinos e não percebi? Não estou sendo inconveniente em minhas mensagens e postagens? E meus amigos, por bondade ou piedade, são incapazes de me dar um toque e me colocar no meu devido lugar?

Será que não estou sendo chato escrevendo sobre chatolinos? Ok, chato é bom porque não rola. Não vai mais rolar papo com chatolino. Bloqueie-os sem cerimônia. Lugar de doutrinação é na seita do Chapeludo e do Malacheia.

Chatolino: pendure os panos e os trapos, guarde sua adoração fanatizada para você, e seja feliz com seu santo dos pés de barro!

 

Por Jairo Eduardo, editor do Pitoco

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