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Geral Sars-CoV-2

Estudo da Unicamp alerta para possível reinfecção com variantes da Covid-19 “menos preocupantes”

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(Foto: Divulgação)

Um estudo realizado pelo Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes da Universidade de Campinas (SP) identificou quatro casos de reinfecção pela Covid-19 em profissionais da saúde que atuam no Hospital de Clínicas (HC). As novas infecções, porém, foram causadas por variantes consideradas de “não preocupação”, o que traz um alerta sobre a possibilidade de contrair o vírus novamente mesmo em cenários onde as linhagens mais agressivas estejam controladas.

De acordo com o professor do Instituto de Biologia e coordenador do laboratório, José Luiz Módena, são categorizadas como de “não preocupação” as linhagens do Sars-CoV-2 que não apresentam mutações capazes de gerar uma maior transmissibilidade ou letalidade. Dentre os pacientes analisados no estudo, as variantes encontradas foram a B1128 e B1133, que circulam no Brasil desde 2020.

Variante P.1 representa 73,9% das amostras da regional de Campinas analisadas em estudo
“Chama atenção que elas têm uma mutação numa região terminal na proteína de superfície que não é de preocupação, mas que pode, porventura, estar envolvida no mecanismo de escape dos anticorpos formados contra os vírus que circulavam antes. É um relato, então estamos mostrando que pode acontecer, provavelmente é um evento muito raro, mas que temos que monitorar”, afirma Módena.

 

“Driblando” a resposta imune

O estudo, publicado pela revista Emerging Infectious Diseases, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, indica que é possível um paciente ser reinfectado por uma linhagem semelhante à da primeira vez em que contraiu o vírus, não sendo necessária a interferência de uma variante nova e mais agressiva.

“Uma das coisas que a gente hipotetiza é que esse vírus consegue interferir com a nossa capacidade de gerar uma resposta imune prolongada, pelo menos numa parte das pessoas, interferindo, inclusive, com a capacidade do nosso corpo de formar células imunológicas de memória”, analisa.

Módena destaca que o fenômeno pode ocorrer principalmente entre aqueles que têm alta exposição ao vírus, como é o caso dos profissionais de saúde. Além disso, o docente afirma que, nos quatro casos analisados, os pacientes tiveram sintomas leves, mas ainda podiam disseminar o vírus para outras pessoas.

 

Reinfecção comprovada

Para comprovar que os casos envolvidos na pesquisa tratavam-se, de fato, de reinfecções, a equipe do laboratório trabalhou com amostras que foram colhidas em um intervalo de pelo menos 45 dias entre a primeira e a segunda infecção. Além disso, as quatro pacientes tiveram um teste molecular e sorológico com resultado negativo entre os dois exames.

Foram analisados testes de quatro mulheres, sendo três enfermeiras e uma colaboradora do HC, com idades entre 40 e 61 anos. Todas apresentaram sintomas brandos nas duas infecções e nenhuma precisou ser hospitalizada, sendo que apenas uma tinha bronquite crônica. Veja detalhes na tabela abaixo.

 

Características das quatro pacientes envolvidas no estudo

Paciente 1 Paciente 2 Paciente 3 Paciente 4
Comorbidades Nenhuma Bronquite crônica Nenhuma Nenhuma
Hospitalização Não Não Não Não
Sintomas na 1ª infecção Febre, dores de cabeça, calafrios, espirros, coriza e dores musculares Febre, tosse, dores musculares, dor ao engolir, coriza, diarreia e perda do paladar Congestão nasal, coriza, tosse e perda do paladar Febre, dor de cabeça, dores musculares, coriza, tosse seca, vômitos e mal-estar
Sintomas na 2ª infecção Dor de cabeça, congestão nasal, perda de olfato e paladar e dor ao engolir Tosse, dores musculares, dor ao engolir, perda de olfato e diarreia Dor ao engolir, espirros, coriza, diarreia e perda de olfato e paladar Dor ao engolir, tosse seca, dores musculares, mal-estar, coriza e dores de cabeça
Tempo entre o início dos sintomas 55 dias 170 dias 131 dias 148 dias

Ainda segundo os pesquisadores, todas as trabalhadoras de saúde envolvidas no estudo continuaram a utilizar o mesmo tipo de equipamentos para proteção individual (EPIs) após se recuperarem da primeira infecção, conforme recomendado pelo Ministério da Saúde.

“Temos aprendido muito e conseguido, em partes, diminuir o impacto da doença, mas se as pessoas e os governos não remarem para o mesmo lado, por mais que a ciência faça, esse problema ainda vai persistir. As pessoas precisam continuar conscientes de que devem se cuidar, porque isso é um ato de respeito com o seu corpo, mas também com os outros e com as pessoas que você ama”, finaliza o pesquisador.

 

Com G1

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