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Metade das mulheres com câncer de mama ainda morrem devido à doença

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Arquivo/OP
Em Marechal Rondon, a mamografia é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e voltada para mulheres a partir de 38 anos: são 56 cotas mensais

 

Mesmo no século da informação, milhares de mulheres ainda morrem anualmente por falta de conhecimento ou iniciativa de realizar exames preventivos para câncer de mama. No país, em torno de 16 mil mortes são registradas por ano devido à doença.
Apesar da ampliação do acesso à internet, mídias e serviços de saúde, cerca de 50% das mulheres diagnosticadas com a doença acabam morrendo. Isso ocorre, segundo o médico oncologista do Centro de Oncologia de Cascavel (Ceonc), Luiz Militão, porque a realidade da maioria das mulheres é de uma condição humilde ou limitada, em que as informações sobre a importância e gratuidade da prevenção ficam à margem de sua consciência.
O profissional reconhece que a maior parte da mídia tem divulgado que as chances de cura têm aumentado, mas, segundo ele, isso não é verdade. “A maioria do nosso povo é miserável, não tem como adquirir a informação”, comenta.
Ele destaca que o diagnóstico precoce é fundamental para que a mulher atingida pela doença faça parte da outra metade que alcança a cura. “Os casos de morte ocorrem quando a doença já está em um estágio mais avançado”, pontua.

O potencial de morte depende do tamanho da lesão quando ela é identificada, além dos gânglios positivos existentes embaixo dos braços, que indicam que a doença já migrou para lá. “Nestes casos, as chances de morte são maiores”, garante.

Diagnóstico
Conforme o oncologista, o diagnóstico deve ser feito por meio de exame com médico clínico geral e por meio de mamografia de rotina. “Mesmo nas pacientes que não possuem nada palpável”, salienta.
O autoexame deve ser feito com frequência pelas mulheres, apalpando as mamas buscando identificar eventuais nódulos (bolas), retrações da pele (quando ela entra na mama) e alterações no mamilo (úlcera, ferida ou secreção na auréola ou no bico do seio). “Mas não se deve confiar somente neste tipo de exame, pois podem haver lesões que nem ela e nem o médico conseguem identificar pelo toque e que só aparecem em uma mamografia”, expõe.
Retrações ou alterações do mamilo já podem ser indícios fortes de que possa ser um câncer. “Quando aparece na pele da mama normalmente é uma doença mais avançada já, mas cada doente é diferente e precisa ser analisado”, expõe.
O profissional frisa que identificar a doença precocemente muda a chance de vida da pessoa. “As chances de cura são de 90% quando se identifica o problema logo no início, quando a lesão é tão pequena que somente é identificada pela mamografia. Já quando a doença é externada na mama devido a um nódulo grande, a chance cai para 20%”, calcula.

Idade
O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo e o mais comum entre as mulheres. A cada ano, cerca de 22% dos casos novos de câncer em mulheres são de mama, segundo estudos do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
De acordo com Militão, a doença pode aparecer em mulheres de todas as idades, mesmo antes de ter mama desenvolvida. No entanto, o mais comum é que ela apareça entre os 50 e 60 anos de idade, principalmente após a entrada na menopausa. “Mas há muitas mulheres com cerca de 35 a 45 anos que têm câncer de mama também”, acrescenta.

Mamografia
A orientação do médico especialista é de que a mamografia seja realizada a cada dois anos por mulheres acima dos 50 anos. “Alguns estudos ainda apontam que se deve fazer uma mamografia anual a partir dos 40 anos”, aponta.
Segundo a diretora da Unidade de Saúde 24 Horas de Marechal Cândido Rondon, Rosane Ost, a mamografia é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e voltado para mulheres a partir de 38 anos. “São 56 cotas mensais. Para fazer o exame, basta agendar uma consulta, obter a recomendação médica e marcar a data do exame, sem custo para a pessoa”, explica.
A mamografia é uma espécie de raio-x feito na mama. Para que o exame tenha uma boa qualidade, a mama precisa ser comprimida para ficar achatada ao ponto de o aparelho identificar se existem pequenas lesões. O procedimento gera algum desconforto, porém, é considerado um mal necessário.

Fatores de risco
Dentre os fatores de risco para a doença, expõe Militão, estão reposição hormonal devido à menopausa, casos de câncer de mama na família, obesidade, já ter tido algum tumor (predisposição), além de não ter filhos. “A doença é causada principalmente por um estímulo hormonal, o estrogênio, encontrado no organismo da própria mulher, pelo usado para controle da menopausa ou aquele que fica acumulado no corpo da mulher obesa”, explica.

Nestes casos, a recomendação profissional é que as mulheres em alguma destas categorias devem começar a fazer exames de rotina mais cedo, por volta dos 35 anos. “A mulher que nunca teve filhos geralmente teve maior estímulo de estrogênio interno e, portanto, maiores chances de incidência de câncer de mama”, expõe.
De acordo com ele, quanto à alimentação, não há fatos comprovados de que possam interferir no desenvolvimento do câncer. O fumo também não está associado diretamente à doença.

Tratamento
O tratamento do câncer de mama é baseado em três procedimentos: cirurgia, radioterapia e quimioterapia. “A maioria das pacientes passa pelos três, sendo que a cirurgia geralmente inclui a retirada de parte da mama”, afirma o médico.
O uso de hormônios também é frequente, de uma maneira profilática, para evitar que apareça um novo tumor, acrescenta.
A retirada total da mama é necessária, segundo Militão, quando a retirada do tumor causa uma deformação tão grande que não convém deixar somente uma parte da mama. Isso ocorre nos casos em que a doença está avançada e o nódulo proporcional ao tamanho da mama. “Um tumor muito próximo do mamilo também dificulta a preservação mamária”, complementa.
Quando a doença se ramifica no organismo, mesmo com tratamento, o médico afirma que o tempo de vida reduz. “A chance desta paciente estar viva daqui a um a dois anos é muito pequena, mas não há como prever o tempo de vida das pessoas”, pontua.

Depois da experiência, a vida nunca mais foi a mesma
Perder os cabelos e parte da mama é provável. Somente não é permitido perder a esperança da cura. Para a rondonense Idinês Angelina Herpich, assim como para a maioria das mulheres, a experiência do câncer de mama vivida em 2008 foi inesquecível e até hoje ainda faz brotar lágrimas. “Depois da doença, a minha vida nunca mais foi a mesma. Passei a valorizar as pequenas coisas da vida e deixar outras de lado, pois a saúde é o que mais importa”, declara.
Ela tinha 45 anos quando descobriu o tumor, a partir do toque realizado pela médica ginecologista. “Foi uma surpresa. No início não consegui assimilar, mas depois quando me dei conta caí em choro”, relata.
O nódulo tinha 1,5 centímetro e foi confirmado que era maligno. “Decidi retirar. Fiz duas cirurgias, quatro quimioterapias e 33 radioterapias. O tratamento é muito agressivo. Fiquei fraca, passava mal, foi uma fase muito sofrida da minha vida”, assegura.
Ela garante que o choque de identificar a doença, a perda de cabelos e de parte da mama mexem muito com a autoestima da pessoa. “A gente fica com o emocional muito abalado. Mas é preciso muita força, já que é uma luta constante pela saúde e pela vida”, expõe.

Renascimento
Do indício do problema ao final do tratamento foram cerca de nove meses de dedicação à saúde. Depois do período sugestivo, Idinês praticamente renasceu. “Agradeço muito a Deus por ter me dado mais uma chance de viver”, frisa.
Após a fase crítica, ela conseguiu fazer uma cirurgia para reconstituição da mama.
O que sobrou da doença são as lembranças do sofrimento, união familiar ainda maior e a dedicação à saúde, além do reforço da fé. “Com apoio da família, dos amigos e por Deus é possível alcançar a cura”, atribui.

Medo
Depois que o caso foi dado como positivo, amigas e pessoas próximas de Idinês procuraram fazer exames preventivos. “Uma delas constatou que também estava com câncer”, diz.
Ela acredita que muitas mulheres deixam de fazer o toque e a mamografia por receio de terem um diagnóstico positivo. “Muitas têm medo de descobrir aquilo que não querem, mas é importante identificar o quanto antes para aumentar as chances de cura”, recomenda.
Atualmente Idinês se sente feliz por ter conseguido superar a fase difícil. “Hoje me sinto vitoriosa por ter dado a volta por cima”, conclui.

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