Fale com a gente

Geral Ajuda, mas não soluciona

Raquetes elétricas que “torram” mosquitos são efetivas contra a dengue?

Aparelhos emitem um choque de baixa voltagem quando um mosquito fica preso em suas telas. Corrente elétrica de 0,005 amperes é inofensiva para seres humanos ou animais

Publicado

em

(Foto: Divulgação)

Um estalo agudo e, depois, silêncio. Quando um mosquito fica preso nas telas de uma raquetinha elétrica o sentimento geral é de satisfação. Em meio ao recorde histórico de casos de dengue no Brasil, cada inseto executado pelo choque de 0,005 amperes emitido pelos equipamentos é motivo de alívio.

Mas a sensação satisfatória com o pleno funcionamento da traquitana não pode substituir outros cuidados na luta contra o Aedes aegypti. A raquete elétrica, (infelizmente, diriam seus fãs), não é garantia de erradicação de todos os mosquitos.

Populares e baratos, esses dispositivos costumam ser bastante utilizados em casas de praia, de campo ou em regiões com muitos insetos em geral, mas eles possuem limitações que barreiras químicas (como repelentes) ou físicas (roupas e telas) não enfrentam.

“Mata mosquito? Mata. Mas ela [a raquete elétrica] é efetiva como uma medida de controle? Não”, alerta a professora da USP Maria Anice Mureb Sallum, que atua na área de taxonomia e ecologia de mosquitos vetores de agentes infecciosos há mais de 45 anos.

“Se é um lugar que tem muito mosquito, a pessoa vai ter que passar o dia inteiro correndo atrás. O que é impossível”, comenta a professora.

Como elas funcionam?

O princípio básico todo mundo conhece: as raquetes elétricas matam o mosquito com um choquinho. Eles não atraem os insetos, nem repelem. Por isso, é preciso ficar caçando o alvo certo com elas.

Esses aparelhos possuem uma bateria interna e podem ser recarregadas na tomada. No comércio de eletrônicos custam a partir de R$ 20. As raquetes têm uma chave de liga e desliga, e um botão de acionamento no cabo: o mosquito só será eletrocutado se tocar na tela de metal enquanto o “raqueteiro” mantiver o botão acionado. Descrito assim, ao modo de “manual de instruções”, parece complicado, mas o funcionamento é bastante intuitivo.

Mas o que talvez nem todo mundo saiba é que esse choque é extremamente baixo. Em geral, a corrente elétrica é de cerca de 0,005 amperes, algo inofensivo para nós humanos ou animais menores, como um cachorro de porte pequeno, por exemplo.

Enio Kaufmann, professor de física do colégio Unificado de Porto Alegre (RS), explica ainda que esses aparelhos são formados por 3 telas de arame e a única energizada é a do meio.

Assim, quando o mosquito é “abatido” pela raquetinha elétrica, ele se choca tanto com a tela central quanto com a de um dos lados da raquete, fechando assim o circuito elétrico e recebendo o choque fatal.

“É a mesma característica de uma tomada, que tem uma parte energizada e uma parte neutra. Então, quando esse circuito é fechado é que a corrente passa e o mosquito morre”, diz Kaufmann.

Por isso, como o choque emitido pelas raquetes só afeta os mosquitos, o que é vital ter em mente é que, ao utilizar esses dispositivos ou quaisquer outros aparelhos elétricos, é importante manter distância de substâncias inflamáveis para prevenir acidentes.

Embora seja algo raro de acontecer, a faísca resultante do choque pode fazer algo pegar fogo.

São úteis ou não?

De forma clara: é óbvio que as raquetes elétricas são eficazes para matar mosquitos, mas o problema é que elas requerem habilidade para pegar e eletrocutar o inseto.

Assim, o desafio é quando a pessoa só percebe o bichinho, como o Aedes aegypti, o transmissor da dengue, após ele já ter picado, especialmente em áreas mais baixas, abaixo de 1,5 m. Nesse momento, se o mosquito estiver infectado com o vírus da doença, a transmissão já pode ter ocorrido no momento da picada e da salivação.

Para a proteção individual, a professora Maria Sallum explica que o que é mais recomendado mesmo é usar roupas compridas, tênis e meias, quem podem reduzir o contato com os mosquitos, mas, claro, pode ser algo desconfortável em climas quentes.

Por isso, os repelentes são uma das medidas mais eficazes nesses casos, especialmente aqueles com alta concentração de DEET, IR3535 ou icaridina.

E por que as raquetes são ‘satisfatórias’?

Quem já experimentou uma raquete elétrica dessas sabe como é satisfatório acabar com aquele mosquito irritante que insiste em nos incomodar com suas picadas.

E Arthur Danila, médico psiquiatra e coordenador do Programa de Mudança de Hábito e Estilo de Vida do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, sugere que essa satisfação pode estar relacionada à nossa natureza primitiva.

Ele explica que nossa agressividade pode ser entendida a partir de uma perspectiva evolutiva. Ela era muito útil para nos defender de predadores ou competir por comida. Então, quando matamos um mosquito, pode ser que estejamos liberando um pouco dessa agressividade guardada, nos dando uma sensação de controle sobre o ambiente.

“Considerando o contexto da dengue no Brasil e a ameaça que os mosquitos representam à saúde, essa ação pode ser psicologicamente justificada como um ato de proteção pessoal e coletiva, ampliando a sensação de realização e bem-estar ao contribuir para a diminuição do risco de uma doença grave”, diz Danila.

Ele também aponta que a sensação tátil e sonora da raquete elétrica reforça essa experiência. Ou seja, o som do “estalo” do mosquito é como uma confirmação auditiva do “sucesso” da ação, nos dizendo que fizemos um bom trabalho, e a sensação de apertar o botão e fazer o movimento nos dá a sensação de que estamos no comando.

Por isso, sentir esse pequeno prazer em matar mosquitos, especialmente em um contexto em que eles representam uma ameaça à saúde, não é necessariamente problemático do ponto de vista psicológico. Isso porque mosso cérebro adora receber recompensas, então quando matamos um mosquito, ele libera substâncias que nos fazem sentir bem.

No entanto, é importante que esse comportamento não se torne obsessivo ou cause prazer excessivo além da ação de proteção, pois isso pode indicar uma tendência à desinibição da agressividade de forma mais ampla, que poderia ser preocupante.

“Não há necessidade de se sentir culpado por encontrar alívio ou satisfação em um ato que, além de reduzir o desconforto pessoal, contribui para um bem maior, como é o caso do controle da população de mosquitos transmissores de doenças. Contudo, é sempre benéfico manter uma reflexão sobre nossas ações e emoções, assegurando que elas se mantenham dentro de um espectro saudável e socialmente responsável”, diz o médico psiquiatra.

Com G1

Clique aqui e participe do nosso grupo no WhatsApp

Copyright © 2017 O Presente