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Marechal Empoderamento feminino

Afinal, o que é uma mulher empoderada?

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Psicóloga Fátima Tonezer: “Empoderamento é a liberdade, a autonomia. É o seu direito em determinar o que você quer e como quer. É ser quem você quiser” (Foto: Daniel Felício/OP)

Mulheres fortes, livres e orgulhosas. Decididas e independentes. O empoderamento veio para estimular um sentimento durante anos negado a elas: o poder. A ressignificação do papel da mulher na sociedade trouxe autonomia sobre a própria vida, que atua de forma individual e coletiva.

Desde o início da história as mulheres foram colocadas como propriedades e objetos dos homens, pontua a psicóloga rondonense Fátima Tonezer. “Primeiramente do pai, depois dos maridos. Ainda hoje há países em que mulheres têm seus direitos suspensos. No Oriente Médio, em maioria, as mulheres não podem fazer muita coisa sem a permissão dos seus maridos, como viajar ou simplesmente abrir uma conta bancária”, exemplifica Fátima, que trabalha com terapia cognitiva comportamental e nos últimos 15 anos vem focando em um acompanhamento psicológico para mulheres que buscam emagrecer.

A psicóloga também cita o caso da ativista paquistanesa do Prêmio Nobel da Paz, Malala Yousafzai, que em 2015, aos 17 anos, chocou o mundo porque queria estudar e sofreu ameaças em seu   país de origem, já que o Paquistão não permite que as mulheres tenham acesso à educação. “É como se o único dever da mulher fosse desenvolver habilidades domésticas, ser bonita dentro do padrão para o seu marido e atender as necessidades deste”, ressalta.

Ela afirma que a sociedade evoluiu, mas que ainda há o mascaramento que as mulheres são objetos de enfeite. “É como se fôssemos ornamentos e que se esse ornamento não for bonito, ele é descartável. Para isso não acontecer, a sociedade aponta que as mulheres devem ser magras e jovens”, menciona. “É como se fôssemos proibidas de envelhecer, sendo que isto é algo natural do ser humano. O corpo mostra a nossa trajetória de vida”, amplia.

 

A imagem corporal e o esquema corporal

Ao nascermos não temos noção de nada. Com o passar dos anos as pessoas que estão ao nosso redor nos ajudam a descobrir nosso esquema corporal. A partir daí cada indivíduo passa a ter noção dos braços, pernas, orelha e demais membros.

Mas qual a diferença entre esquema e imagem corporal? Conforme Fátima, o conceito é basicamente o mesmo. A diferença é que, enquanto o esquema corporal é neurológico, a imagem corporal é subjetiva. “A imagem é a percepção, o sentimento e o pensamento de olharmos para o nosso corpo e atribuirmos coisas subjetivas que eu gosto e não gosto nele”, explica.

A profissional relata que estas questões são desenvolvidas desde a primeira infância. “A imagem corporal começa a aparecer aos três anos de idade, quando a criança começa a questionar as formas. É nesta fase que ela decide se gosta ou não do cabelo, dos olhos, do tom da pele. Conforme vai ficar mais velha, são acrescentadas mais informações e consertos que ela acha que devem ser feitos no corpo. É algo cruel”, explana.

Fátima chama a atenção para as famosas frases inocentes que as pessoas costumam falar para as crianças. “Geralmente os adultos falam que criança bonita é uma criança fofinha, gordinha. Não há a intenção de ofender, mas é algo que marca em dois sentidos. De um lado a criança que não está naquele padrão acha que seu corpo está errado por ser magra. Do outro, a criança que ouve que sua perna é ‘gordinha’ tem a imagem de que ela é gorda e que isso é insatisfatório”, frisa.

 

Meios de comunicação

Outro fator que contribuir para a distorção de imagem corporal é a televisão, revistas e, principalmente, as redes sociais. O Instagram, majoritariamente, é um simulacro da felicidade eterna. “É um celeiro de coisas irreais. Nós postamos uma foto com imagens manipuladas por aplicativos de beleza para deixar o nosso corpo da forma que queremos. Nisso, as pessoas acham que estamos felizes, mas quando vamos ver o perfil do outro, nós nos sentimos insatisfeitos com o nosso corpo, sendo que, muitas vezes, a pessoa fez o mesmo processo que eu para compartilhar uma foto”, salienta.

Tudo é um processo interno, afirma a psicóloga. É a própria pessoa que faz comparações dentro dela e sempre se desfavorece. “É um bombardeio de informações externas sobre o corpo feminino o tempo inteiro que faz com que elas criem essa insatisfação. É uma distorção de imagem corporal que gera uma aparência irreal inalcançável”, enfatiza.

 

De onde vem?

O empoderamento está ligado à consciência coletiva por parte das mulheres. “É a liberdade, a autonomia. É o seu direito em determinar o que você quer e como quer. É ser quem você quiser”, evidencia a psicóloga.

Quando a mulher pensa em mudar algo no seu corpo ela primeiramente deve pensar no que isto se atribui. É fundamental que elas tenham consciência do porquê querem mudar algo no corpo. “É por elas mesmas ou por causa de alguma regra imposta pela sociedade?”, questiona Fátima.

Família e amigos estimulam este pensamento. “O corpo é da mulher, mas todos querem dar pitaco. Sempre tem alguém para apontar o que ela precisa melhorar ou o que deve vestir, já que se andar sozinha à noite um homem sentirá que tem a liberdade de falar alguma cantada simplesmente por causa da roupa ‘inapropriada’”, expõe.

Fátima destaca a demonização de que para ser feliz a mulher precisa ser magra. “Corpo não é massa de modelar. O corpo sou eu e o empoderamento começa quando eu visto no meu próprio corpo”, aponta. No entanto, isto não significa que a mulher deva optar por não fazer dietas, tratamentos estéticos de emagrecimento e rejuvenescimento. “Claro que posso mudar o que me incomoda, mas mudar por mim”, salienta.

 

Irmãs amigas

Camufladamente a sociedade impõe uma rivalidade feminina. Até hoje é criado um pensamento de que a aceitação masculina é sinônimo de vitória. Dentro deste cenário entra a vertente do empoderamento chamada sororidade. Ou seja, a união e irmandade entre as mulheres.

A psicóloga diz que, muitas vezes, a mulher é a primeira a chamar a outra de gorda, feia ou relaxada. “Isso é incentivado pela sociedade machista e a gente não se dá conta de que isso é estimulado em nós”, comenta. “Em vez de fofocar sobre dietas, falar de uma amiga que engordou ou sobre quanto tempo de academia você fez a mais para eliminar aquele pedacinho de bolo que você comeu na sobremesa, deveriam começar a falar do que realmente importa. As qualidades, as competências de cada uma”, finaliza.

Psicóloga Fátima Tonezer: “Empoderamento é a liberdade, a autonomia. É o seu direito em determinar o que você quer e como quer. É ser quem você quiser” (Foto: Daniel Felício/OP)

 

 

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