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Marechal COLECIONADORES

Álbum de figurinhas da Copa do Mundo vira febre entre rondonenses

Em Marechal Rondon, grupos se reúnem para compra, troca e venda de figurinhas. Além de papéis com anotações do que falta, pessoas utilizam aplicativos de celular criados para a função

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Crianças, adolescentes, idosos, pais, filhos, avós. Não importa a idade nem o amor pelo esporte, o objetivo é o mesmo: completar o álbum de figurinhas da Copa do Mundo 2018. Para atingi-lo, eles fazem trocas em livrarias e na escola, combinam encontros em grupos de aplicativos de mensagens instantâneas e negociam compra ou venda. Além dos papéis com anotações do que falta, as pessoas utilizam aplicativos de celular criados justamente para a função.

A 45 dias do início do evento, que neste ano será sediado na Rússia, o fotógrafo Rafael Sturm, de 47 anos, está com as escalações das 32 seleções de futebol na ponta da língua.

Desde o lançamento oficial do álbum de figurinhas do Mundial, no dia 16 de março, o rondonense já completou dois exemplares e ainda não se deu por satisfeito. Ele também ajudou a completar um terceiro álbum para seu sobrinho, outro para um amigo e ainda auxilia diversas pessoas que também querem completar aquele que virou um símbolo das copas do mundo.

 

Herança de família

Para Rafael, a tradição de colecionar começou há muitos anos e foi herança de família. O primeiro álbum que ele completou foi o da Copa do Mundo de 1982, quando tinha 12 anos. “As figurinhas para completar o álbum vinham no chiclete Ping Pong. Então tinha que comprar o chiclete para ter a figurinha, e na época a quantidade também era menor, então se tornava mais prático”, lembra o fotógrafo, revelando que chegava a comprar chicletes e congelá-los para não perder as figurinhas. “Na época a figurinha mais difícil foi a de número 42, da Seleção Brasileira, estampada pelo jogador Roberto Dinamite. Ela, inclusive, foi a última figurinha que eu consegui colocar”, conta.

Porém, em 1978, antes das figurinhas da Copa, Rafael colecionava os cards do Campeonato Brasileiro, que também vinham em chicletes. “Você colecionava os cards e trocava com os amigos. Na época eu tinha entre oito e nove anos”, relembra.

Com os álbuns deste ano, Rafael soma quatro exemplares completos, sendo das copas de 1982, 1990, 2014 e 2018, respectivamente.

O intervalo de tempo entre as coleções se deve, segundo o rondonense, principalmente ao trabalho. “Em algumas copas anteriores, até mesmo por tempo e tudo mais, não consegui participar, mas em 2014 isso voltou com força total”, diz.

Rafael contesta o termo “modinha” e conta que a paixão em colecionar começou porque seu pai era um colecionador. Em meio aos seus álbuns, ele guarda o álbum de figurinhas da Copa do Mundo de 1970, feito pelo seu pai. “Ele não completou porque na época era muito mais difícil conseguir as figurinhas”, comenta Rafael, acrescentando: “Como a gente morava no interior, não tínhamos o acesso que temos hoje às figurinhas. Era apenas por meio dos chicletes”.

Mas a paixão de colecionador vai muito além de figurinhas de Copa. O fotógrafo também coleciona selos e moedas. “É algo de família. Meu pai sempre gostou, meu avô colecionava selos, e assim fomos passando de geração em geração”, revela. “É de família sempre estar colecionando alguma coisa”, completa.

Fotógrafo Rafael Sturm: “Meu pai sempre gostou, meu avô colecionava selos, e assim fomos passando de geração em geração. É de família sempre estar colecionando alguma coisa”

Encontros e interação

A expectativa de ver as páginas do álbum da Copa completas contagia crianças e adultos. O hábito de colecionar figurinhas, hoje, já é uma tradição, mas quando elas começam a ficar repetidas a única solução é trocar os cards. No trabalho, na escola, com amigos e familiares, vale tudo para conseguir o número desejado.

Por isso, em Marechal Cândido Rondon, os fãs de futebol estão se reunindo para trocar as repetidas e tentar completar o álbum 2018. O principal ponto de encontro dos colecionadores é em frente à Livraria Nota 10, localizada na Rua Santa Catarina, no centro da cidade, que também é um dos pontos de comercialização de figurinhas.

“Desde a Copa de 2014 começamos a fazer os encontros nesse local. De um em um o pessoal começou a se reunir e hoje estamos em um grupo muito grande”, comenta Rafael.

Os encontros seguem uma rotina quase inquebrável: todos os sábados de manhã.  Além da livraria, o grupo se reúne também no Subway, nas terças-feiras à noite.

Para organizar a quantidade de figurinhas que faltam ou são repetidas, os colecionadores recorrem basicamente a dois métodos: aplicativos de internet ou marcam os números em folhas de papel.

Além disso, Rafael explica que as trocas de figurinhas também são feitas ou combinadas através de um grupo no aplicativo WhatsApp, que hoje conta com cerca de 70 integrantes. “Conforme é necessário, nós combinamos e nos encontramos em outros lugares para fazer a troca. No grupo, cada um pode expor as figuras que precisa, como também as que tem sobrando. Isso facilita na hora da troca”, menciona.

No entanto, além do auxílio, os encontros também promovem a interação. “Nos encontros percebemos que há pessoas de todas as idades. Tem crianças fazendo sozinhas, outras ajudadas pelos pais, tem adultos fazendo sozinhos, assim como idosos. Nesse aspecto a interação é bem positiva”, salienta.

Sem barreiras

O rondonense enfatiza que paixão pelo colecionar e a troca das figurinhas ultrapassaram fronteiras. “Fazemos trocas intermunicípios. Tem uma menina que trabalha em Foz do Iguaçu durante a semana e vem aos finais de semana para Marechal. Quando vem, ela traz as figurinhas para fazer a troca”, expõe. “Há pessoas de Santa Helena e também de outros municípios, além das trocas online que fazemos”, complementa.

A interação e a expetativa de completar os álbuns são tão expressivas que, inclusive, durante a entrevista com nossa reportagem, Rafael separava figurinhas que seriam levadas para o Rio de Janeiro.

E tanto interesse faz sentido. Cálculos feitos por estatísticos mostram que um colecionador solitário – que não troca nem compra diretamente da editora – gastará cerca de R$ 2 mil para completar o álbum, que possui 682 figurinhas. Mas se ele trocar com outros torcedores, o custo pode diminuir.

 

Sensação única

Rafael completou dois álbuns de figurinhas em apenas 15 dias. A sensação em colar a última figurinha no álbum foi, segundo ele, emocionante. “Fui o primeiro a comprar o álbum em Rondon e, até onde eu sei, o primeiro a completar. Logo na primeira vez comprei três álbuns e quase 200 pacotinhos de figurinhas. Pela quantidade de figurinhas e por ser três álbuns não sobrou muitas figurinhas repetidas. Porém, chegou um momento que ‘travou’ e tivemos que começar as trocas”, declara.

Agora, o rondonense está em função de ajudar a completar outros seis álbuns. “Vou ajudando os outros e, conforme as pessoas precisam das figurinhas, elas me procuram”, relata.

O fotógrafo diz que montou um banco de figurinhas para ajudar todos que quiserem completar o álbum. Para isso, ele também diz que troca figurinhas até mesmo por aquelas que ele já tenha. “Isso faz as figurinhas rodarem”, expõe.

 

Figurinhas raras

Questionado sobre a existência de figurinhas tidas como raras, Rafael destaca que existem apenas figurinhas que têm menor proporção. “Só de jogadores são 580 figurinhas. Além dessas, tem as figurinhas dos estádios, cidades, as de abertura, algumas especiais e as dos legendários, que são todos os campeões do mundo. A tiragem não é menor, só que a proporção é menor, são 580 figurinhas para outras 80”, comenta.

No primeiro álbum completo do rondonense, a figurinha mais difícil de ser encontrada foi uma legendária, de número 674, marcada pelo título da Itália. No segundo álbum foi a número 3. “Vemos que agora uma figurinha que o pessoal está buscando bastante é a número 01, figura da taça. Ela está bem escassa”, revela.

Investimento

Para completar os dois álbuns, Rafael estima ter investido em torno de R$ 750, com toda a compra e troca de figurinhas. “Hoje, se você consegue comprar as figurinhas e não pegar nenhuma repetida, o álbum vai custar em torno de R$ 268, mas isso é quase impossível”, brinca.

Demonstrando sua grande paixão por colecionar, o rondonense revela que encomendou um álbum diferente, especial para colecionadores. “Ele (álbum) vem 200 pacotes de figurinhas, dois álbuns de capa dura, caixa e estojo. Na verdade, você compra as figurinhas, no valor de R$ 394, e os álbuns e a caixa vêm como se fossem brindes”, destaca.

 

Um hobby de família

O hobby de colecionar figurinhas da Copa serve como uma forma de reforço da aproximação familiar. O advogado e comerciante Adriano Sérgio Schneider, de 43 anos, e o filho Adriano Sérgio Júnior Schneider, de sete, estão completando o álbum da copa pela primeira vez. “Já tínhamos feito das Olímpiadas e do Campeonato Brasileiro em outras oportunidades”, contam.

Faltando 60 figurinhas para finalizar o álbum, eles avaliam que a maior dificuldade está em encontrar as figurinhas da primeira e última página. “Quando nós éramos crianças também fazíamos isso, e é legal porque eles interagem, conhecem pessoas diferentes e começam a exercitar o bom senso nas negociações”, expõe Adriano.

Apesar de ser a primeira vez, ele garante que pretende continuar fazendo isso nos próximos anos. “É uma forma de interação entre pai e filho e pretendemos fazer sempre pelo menos os da Copa”, afirma.

Rondonense Adriano Schneider com o filho de sete anos: “Quando nós éramos crianças também fazíamos isso, e é legal porque eles interagem, conhecem pessoas diferentes e começam a exercitar o bom senso nas negociações”

Confira a reportagem completa na edição impressa do Jornal O Presente desta terça-feira (1º). 

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