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Marechal Volta às aulas

“As expectativas para 2021 não são animadoras”, afirma diretor do Colégio Martin Luther

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Diretor do Colégio Evangélico Martin Luther, Ildemar Kanitz: “O meu posicionamento é de que as aulas presenciais voltem respeitando a opinião da família em desejar ou não voltar. Esse modelo de meia turma vir e outra não (modelo híbrido) vai gerar prejuízos pedagógicos, com certeza” (Foto: O Presente)

Dois mil e vinte foi um ano de provações. As superações vieram de todos os lados e aqueles que não se reinventaram ficaram para trás. O setor educacional, um dos mais impactados pela pandemia, precisou dar a volta por cima para lidar com tantas mudanças e adaptações no ensino-aprendizagem.

Na opinião de Ildemar Kanitz, diretor do Colégio Evangélico Martin Luther, de Marechal Cândido Rondon, os maiores prejuízos no ano letivo que acabou de chegar ao fim foram de cunho pedagógico e financeiro e ainda serão um desafio para o ano que vem.

Em entrevista ao O Presente, ele afirma que as expectativas para 2021 não são nada animadoras, pois as escolas em geral terão que trabalhar com um plano de recuperação do ano letivo anterior, estarão limitadas em termos de realização de atividades em contraturno escolar e com dificuldades para fazer novos investimentos.

Kanitz acredita que o ano letivo de 2021 comece com o ensino híbrido, formato que, na visão dele, não é o mais adequado, pois entende que vai gerar prejuízos pedagógicos. “O mais correto seria se todos os alunos que queiram ir fossem para a escola, desde que se tenham condições sanitárias. Quem não quiser que aguarde uma decisão diferente, o que eu acho que só vem com a chegada da vacina”, destaca. Confira.

 

O Presente (OP): Depois de um 2020 cheio de desafios e de meses sem aulas presenciais, quais são as expectativas para o setor educacional em 2021?

Ildemar Kanitz (IK): As expectativas para 2021 não são nada animadoras, principalmente por dois vieses: o pedagógico e o financeiro. No âmbito pedagógico, vemos o governo dizendo que as aulas presenciais não voltam no Paraná. Mesmo que voltem, é naturalmente uma dificuldade, pois cada escola terá que trabalhar com seu plano de recuperação do ano anterior. O segundo fator é financeiro, porque esse ano foi difícil. Mesmo com algumas economias pontuais com luz, água, material de limpeza e materiais impressos, houve prejuízo, pois, a escola não pôde oferecer programas de atividades extracurriculares a não ser nesse último mês, atividades que sempre fizeram parte do orçamento. Ainda há limitações, porque o modelo híbrido não permite atividades como futsal e judô, que acontecem no contraturno. Além disso, algumas famílias ainda têm dificuldades, então a escola atende de alguma maneira ou os pais colocam os filhos em escolas públicas. Acredito que o impacto financeiro de 2020 vai persistir. Cabe a cada instituição se adaptar. Nós, do Martin Luther, nos adaptamos a esse novo contexto, com menos investimentos, mas, ainda assim, não será um ano fácil.

 

OP: Como o senhor avalia o ano letivo de 2020? Quais são os maiores prejuízos e quais foram os benefícios, se é que teve algum?

IK: De forma geral, dependendo de cada instituição, os prejuízos foram de cunho pedagógico e financeiro e ainda serão um desafio para o ano que vem. No Martin Luther, o maior prejuízo foi financeiro. O prejuízo pedagógico aconteceu, mas não tanto devido ao modelo que nós escolhemos. Na Educação Infantil, até o 5º ano, tivemos algumas dificuldades, mas do 6º ano em diante, a maioria dos alunos do colégio, não tivemos muitos prejuízos pedagógicos. No Brasil e no mundo, as escolas que adotaram o mesmo modelo pelo qual optamos não tiveram muita dificuldade; foram as instituições com os melhores resultados acadêmicos. Eu me refiro ao modelo de aulas remotas ao vivo no horário de aula. É um modelo cansativo, mas que se mostrou positivo, diferente de outros modelos que só mandavam atividades ou faziam uma ou duas aulas gravadas por dia. Nesses outros modelos, a interação é prejudicada, e esse é um fator relevante para o aprendizado do aluno. No modelo que nós adotamos em 2020 os alunos interagiam o tempo todo com os professores, podiam interromper, perguntar, ver os colegas. Era uma aula normal, digamos assim, com cada um na sua casa. Isso rendeu bastante. Ou seja, no nosso maior nível não tivemos muito prejuízo pedagógico e, nesse sentido, há pouca coisa para recuperar depois.

 

OP: Considerando os fatores externos no meio educacional em 2020 e que devem permanecer em 2021, o que esperar em termos de desempenho escolar no próximo ano letivo?

IK: O bom andamento de 2021, bem como foi em 2020, depende de vários fatores. Primeiramente, é preciso considerar a política da escola, o modelo de ensino que ela usou. Em segundo lugar, se leva em conta o envolvimento e a capacidade que os professores tiveram em se reinventar; esse é um fator preponderante, na minha opinião. Tanto os professores como as escolas tiveram que se reinventar para ter os melhores resultados. Os docentes se reinventaram e repensaram suas aulas, encontrando formas diferentes e alcançando em algumas habilidades até mesmo resultados melhores do que no modelo presencial. Em terceiro lugar está a questão do envolvimento do aluno e da família. Esse é um fator importante na questão de ter resultado ou não, recuperar ou não. Vimos neste ano como alguns alunos tiveram dificuldades, mas a grande maioria conseguiu se envolver e se dedicar, se organizar com as dicas e orientações que a escola deu. “Foram fazendo” e isso foi importante.

 

OP: Muito se fala da possibilidade do próximo ano letivo iniciar na modalidade de ensino híbrido. Essa é a tendência?

IK: Eu acredito que essa vai ser a tendência. Enquanto não tiver vacina, nós não vamos ter alternativa a não ser essa do modelo híbrido.

 

OP: Enquanto algumas instituições de Ensino Superior do Paraná prorrogaram a previsão de início das aulas presenciais, o Estado de São Paulo mantém a decisão de começar o ano letivo de 2021 em fevereiro, com aulas presenciais, indiferente ao quadro da Covid-19. O senhor acha que outros governadores devem seguir a postura de Doria?

IK: As instituições superiores têm uma carga menor do que as escolas. Não cumprem dias letivos, mas, sim, carga horária. Então, elas podem começar as aulas mais tarde sem necessariamente ter um prejuízo. Por outro lado, as escolas de ensino básico precisam começar no dia 08 de fevereiro para poder cumprir até a segunda semana de dezembro os 200 dias letivos estipulados por lei. Na minha opinião, esse modelo de São Paulo é interessante no sentido de deixarem todos que quiserem ir à escola, porém mantendo a possibilidade de os alunos estarem em casa, assistirem às aulas e fazerem as atividades a distância. A família faz a escolha. Acho que esse modelo pode ser bem interessante desde que as escolas, logicamente, cumpram com o distanciamento e evitem o contato, além de todos os outros cuidados. O meu posicionamento é de que as aulas presenciais voltem respeitando a opinião da família em desejar ou não voltar. Esse modelo de meia turma vir e outra não (modelo híbrido) vai gerar prejuízos pedagógicos, com certeza. Então, o mais correto seria se todos os alunos que queiram ir, fossem para a escola, desde que se tenham as condições sanitárias. Quem não quiser que aguarde uma decisão diferente, o que eu acho que só vem com a chegada da vacina.

 

OP: O senhor acredita que a retomada das aulas presenciais só vai acontecer após a imunização da população?

IK: Eu acredito que sim. Acho que para voltar em um modelo presencial com todo mundo depende da imunização da população.

 

OP: Após um 2020 conturbado, no seu modo de ver os prejuízos educacionais, tanto na aprendizagem quanto na máquina institucional, devem ser sanados em 2021?

IK: No Martin Luther, com certeza, mas eu acho que algumas escolas não vão conseguir. No Brasil, muitas escolas não conseguirão compensar os prejuízos de 2020 em 2021, se considerar o modelo pedagógico utilizado, especialmente as públicas. No nosso colégio vamos conseguir recuperar com certeza, em virtude da metodologia e do método de trabalho que utilizamos. Em algumas turmas, em questão de dois ou três meses já estaremos ajustados pedagogicamente. Algumas turmas podem demorar mais. Nós criamos um modelo de recuperação ainda maior do que a escola já tinha para quem tiver dificuldades, com mais professores trabalhando. Logicamente isso tem um custo, mas trata-se de um investimento na educação do aluno.

 

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