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Marechal Celing

Curso ofertado em Marechal Rondon atrai estrangeiros para aprender português

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Coordenadora do projeto de Português para Imigrantes, Verônica Coitinho Constanty: “Dada a situação em que muitos imigrantes chegam ao Brasil, sem dinheiro e sem trabalho, o projeto sempre foi pensado para ser ofertado de forma gratuita. A ideia é ensinar a língua para que eles possam ir atrás de emprego, estudo e boas condições de vida” (Foto: Divulgação)

Há mais de cinco anos vivendo no Brasil, Lener Joseph, imigrante do Haiti, segue encarando um desafio: a língua portuguesa. Com passagem por Santa Catarina e atualmente morando em Palotina, Joseph encontrou em Marechal Cândido Rondon uma oportunidade para se aproximar do idioma do país que o acolheu. “Aprender português foi uma chave que abriu um portão para mim”, enaltece ele ao O Presente.

O haitiano é um dos alunos do curso de Português para Estrangeiros ofertado pelo Centro de Línguas (CeLing) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Segundo ele, o curso é bom e o “ajuda a falar um português gramatical”. “Meus objetivos ao aprender português são a naturalização e as oportunidades”, destaca o estrangeiro, que já perdeu oportunidades de trabalho por não saber a língua portuguesa.

 

HABILIDADES

Na língua crioula, “bon gou”. Em francês, “délicieux”. Por aqui, a palavra que Joseph achou mais legal é: “delicioso”.

Com 40 anos e bilingue, Joseph fala crioulo e francês. Ele considera o português um idioma difícil de ser aprendido. “Para me expressar em português preciso dominar quatro habilidades: ouvir, falar, ler e escrever. Ouvir me parece mais complicado”, conta.

Aos 40 anos, Lener Joseph mora em Palotina e cursou o primeiro módulo do curso de Português para Estrangeiros do CeLing, mas não poderá continuar os estudos devido ao trabalho nos sábados. “Aprender português foi uma chave que abriu um portão para mim”, enaltece ele, que conseguiu um emprego nesta semana (Foto: Divulgação)

 

TRABALHO VOLUNTÁRIO

Assim como Joseph, outros imigrantes ingressaram no curso de Português do CeLing no começo deste ano. De acordo com a coordenadora geral do Centro de Línguas e também coordenadora do projeto de Português para Imigrantes, Verônica Coitinho Constanty, o curso foi idealizado em 2019, no início das atividades do CeLing, mas passou a ser disponibilizado em 2021.

Desde o princípio, relata ela, a coordenação buscou recursos para viabilizar o curso. “Não tivemos retorno positivo sobre recursos para remunerar os docentes, então conseguimos professoras voluntárias. O projeto foi aprovado e hoje acontece com quatro professoras voluntárias, sem receber remuneração, que ministram as aulas com competência e profissionalismo”, elogia.

 

GRANDE DEMANDA

O curso de Português para Imigrantes é gratuito, acontece virtualmente e tem duração de três anos, até que o aluno chegue ao domínio pleno da língua. “Dada a situação em que muitos imigrantes chegam ao Brasil, sem dinheiro e sem trabalho, o projeto sempre foi pensado para ser ofertado de forma gratuita. A ideia é ensinar a língua para que eles possam ir atrás de emprego, estudo e conquistar boas condições de vida”, expõe ao O Presente a coordenadora.

“A demanda pelo curso foi surpreendente”, enaltece Verônica, informando que para o primeiro semestre houve 120 inscritos e que cerca de 80 alunos já concluíram o primeiro módulo. “Abrimos as inscrições para o módulo seguinte e mais turmas iniciantes. Tivemos em torno de 140 inscrições para esse segundo semestre”, aponta.

Além das aulas de português, os alunos têm aulas de história e participam de palestras sobre direitos dos imigrantes no Brasil, com palestrantes externos sobre assuntos de interesse aos estrangeiros. De acordo com a coordenadora, em prol do curso existe uma parceria entre o CeLing e as licenciaturas em Letras, Geografia e História. “Programas que chegam até a comunidade externa requerem o apoio e o trabalho de muitos, a começar pela dedicação dos docentes e alunos que contribuem nesses projetos, além do apoio do campus rondonense da Unioeste.

 

PERFIL DOS ESTUDANTES

A maioria dos estudantes são do Haiti e homens, revela a coordenadora. “Cogitou-se buscar o público feminino ou abrir turmas específicas, mas houve demanda também por parte de mulheres. Foi uma surpresa interessante”, ressalta Verônica.

Venezuelanos, cubanos, paraguaios, nigerianos, serra-leoneses, libaneses e alunos com outras nacionalidades também se beneficiam da iniciativa do CeLing.

On-line, o curso possibilita que pessoas de Marechal Rondon, da região e até de outros Estados participem. “A maior demanda é por estrangeiros que residem no município rondonense e na região de Palotina e Foz do Iguaçu. Temos também alunos em São Paulo e Rio de Janeiro”, destaca a coordenadora.

Conforme uma das professoras voluntárias, Aline Stenzel, o público é variado. “Enquanto uns chegaram há pouco tempo no Brasil, outros já estão no país há alguns anos”, menciona.

No que diz respeito ao aprendizado, Aline observa que os alunos homens demonstram maior facilidade para se comunicar em português do que as mulheres. “Muitas vezes, eles se inserem no mercado de trabalho antes delas e, por isso, têm mais oportunidades para praticar a língua”, observa.

 

ESTUDO E TRABALHO

Professores e alunos se reúnem por meio de chamada de vídeo e, semanalmente, cada turma tem duas aulas de 50 minutos. No primeiro semestre de 2021, foram ofertadas duas turmas de manhã e duas à tarde em todos os sábados. “Esse dia foi escolhido para ser acessível mesmo àqueles que trabalham”, compartilha Aline.

A professora diz que mesmo com aula aos sábados, conciliar trabalho e curso é uma dificuldade que os alunos enfrentam. “Infelizmente, alguns precisam deixar as aulas quando o horário do trabalho coincide com o do curso”, lamenta.

Após ter concluído o primeiro módulo, Joseph é um desses alunos que deixará o curso por trabalho. “Eu gostaria de continuar, mas trabalharei aos sábados”, comenta.

 

COOPERAÇÃO É FUNDAMENTAL

Ao passo que nos cursos convencionais a língua falada pelos estudantes é a mesma, no curso de Português para Estrangeiros nem todos falam ou compreendem a língua portuguesa. Segundo a professora, o português também é usado para comunicação nas aulas, contudo o contato requer jogo de cintura de ambas as partes. “Para os alunos que entendem pouco ou nada do português, conto com a ajuda dos próprios estudantes, que se auxiliam entre si quando são falantes das mesmas línguas. Como também falo inglês, francês e me viro no ‘portunhol’, traduzo algumas informações quando sinto necessidade. A cooperação entre professor e alunos é fundamental para a comunicação funcionar”, avalia.

Apesar disso, Aline garante que não há maiores problemas no ensino. “Comparando com o ensino de línguas para brasileiros, eu não diria que é mais complicado. Na verdade, aprendo muito com eles, que me ensinam como as expressões e estruturas linguísticas que estamos estudando funcionam nas línguas que eles falam”, conta.

Trabalho voluntário, como o da professora Aline Stenzel, tornam o curso de Português para Estrangeiros possível. Segundo ela, “a cooperação entre professor e alunos é fundamental para a comunicação funcionar” (Foto: Divulgação)

 

DISPARIDADE

O certificado de proficiência e, posteriormente, naturalização são alguns dos objetivos dos estudantes, menciona Aline. “Apesar do Brasil exigir um certificado de proficiência ou de um curso de português para naturalização, não é comum vermos ofertas de cursos para esse público”, lamenta ela, enfatizando que a Unioeste em Marechal Rondon presta um importante serviço ao preencher essa lacuna.

Ela salienta que o trabalho poderia ser ainda mais produtivo se contasse com apoio financeiro para fornecer material didático impresso aos alunos. “A maior parte deles assiste às aulas no celular e por isso não consegue acompanhar a chamada de vídeo e o material em PDF ao mesmo tempo”, relata.

 

CERTIFICAÇÃO E PROFICIÊNCIA

Como comprovação da proficiência em português como língua estrangeira existe o Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras), porém a Unioeste não é um centro aplicador da prova. O local mais próximo com oferta do Celpe-Bras é a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu.

Verônica diz que o CeLing implantará cursos de nivelamento e, a partir deles, o estudante não precisará começar necessariamente do nível iniciante. “Um módulo equivale de quatro a seis meses de curso. A certificação é emitida a cada módulo, desde que o aluno tenha 75% de frequência e média de aproveitamento superior a 70%. A avaliação acontece por meio de atividades ao longo dos módulos e, ao final de cada um, emitimos o certificado de acordo com o nível que o aluno estava frequentando”, explica.

 

PROJETO GRATIFICANTE

“Se no passado descendentes de imigrantes alemães ocuparam o território que hoje é Marechal Rondon, nos últimos anos outros imigrantes chegaram e estão chegando à região”, enfatiza a professora, enaltecendo que medidas como a do CeLing acolhem esse público e diminuem as dificuldades.

A coordenadora almeja que mais pessoas tenham conhecimento da existência do curso e usufruam da oportunidade. “É um projeto importante e gratificante. Temos retornos legais por parte dos alunos, que tratam a mim e às professoras com muito respeito e consideração”, evidencia.

Para este segundo semestre de 2021 as matrículas para o curso já encerraram, todavia, a coordenadora lembra que o período de inscrições acontece semestralmente.

Para mais informações sobre este e outros cursos disponíveis, o CeLing está on-line nas redes sociais e pode ser contatado pelo telefone (45) 99828-0359.

 

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