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Marechal Indústria de software

Falta de profissionais ainda afeta empresas de TI em Marechal Rondon

Arranjo Produtivo Local da Iguassu-IT registrou aumento de 36,5% no número de empresas da indústria de software. Entre os municípios analisados, Marechal Rondon foi o que menos cresceu na área

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(Foto: Andressa Trentin/OP)

Entre 2016 e 2021, houve crescimento de 40,8% no número de empresas ativas na indústria de software no Paraná, conforme levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Na região do Arranjo Produtivo Local (APL) da Associação de Empresas de Tecnologia da Informação do Oeste do Paraná (Iguassu-IT), entre os municípios de Marechal Cândido Rondon, Toledo, Cascavel, Medianeira e Foz do Iguaçu, a quantidade de empresas do setor aumentou em 36,5% no mesmo período.

Entre os municípios da APL, Marechal Rondon foi o que menos cresceu na área, com aumento de 15% no número de empresas. Na contramão, o município rondonense possui a maior taxa de maturidade nas empresas, com 73% atuando há mais de 3,5 anos no setor da tecnologia da informação (TI).

De acordo com o tesoureiro da Iguassu-IT, Nilmar João dos Santos, surgiram poucas empresas de TI justamente porque não havia formação profissional na área até 2021 e, consequentemente, poucos profissionais disponíveis.

No entendimento membro do Conselho de Administração setor Marechal Rondon da Iguassu-IT, Ademar Bayer, o empresariado rondonense tenta acompanhar o mercado de TI, mas sofre com entraves que prejudicam o crescimento. “A exemplo, nossa empresa tem produtos a serem desenvolvidos, porém nós não temos mão de obra para esta finalidade. O que mais falta são programadores de sistemas e desenvolvedores”, pontua.

Coordenador do núcleo de Marechal Rondon da Iguassu-IT, Ademar Bayer: “Os profissionais adquirem experiência trabalhando aqui e depois o mercado os absorve tanto para home office quanto para empresas de outros municípios. Isso faz com que nossas empresas não consigam se estruturar para pagar melhores salários, pois os colaboradores se valorizam e se vão” (Foto: Andressa Trentin/OP)

Formação

Santos relembra que por muito tempo estudantes que gostavam da área tinham que ir a outros municípios para estudar, onde por vezes permaneciam e deixavam Marechal Rondon. “Por vezes as próprias empresas, como no meu caso, têm formado mão de obra. Há também o Senac, mas a desistência é muito grande no decorrer dos cursos. Nas universidades, cerca de 90% dos acadêmicos não completam a graduação”, acrescenta Bayer, frisando que o “futuro do setor é negro” e uma mudança só é possível por meio da conscientização sobre as oportunidades presentes no ramo da tecnologia.

A realidade mudou neste ano e, em breve, o setor deve contar com rondonenses formados localmente. “O curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, do Isepe, começou neste ano, o que foi um alento para o setor no município. O curso abriu durante o ‘boom’ da demanda por programadores no mundo inteiro”, frisa Santos.

Tesoureiro da Iguassu-IT, Nilmar João dos Santos: “Em 2020, o Oeste do Paraná contratou 14.616 pessoas no setor de TI e demitiu 13.905, gerando um saldo positivo de 711. Em 2021, a rotação foi menor, com 9.581 contratações e 8.085 demissões, com saldo positivo de 1.496 empregos” (Foto: Andressa Trentin/OP)

“Fuga”

Conforme os rondonenses, a falta de mão de obra na indústria de software é um problema mundo afora. Apenas no Brasil, previsões da Brasconn/IDC apontavam que faltariam mais de 420 mil profissionais da área entre 2019-2024.

“A pandemia antecipou esta demanda. Como faltou programador no mundo todo, as empresas europeias e americanas passaram a contratar os melhores programadores daqui para trabalho em home office por US$ 5 mil por mês. As empresas daqui não têm como negociar e os preços das licenças de software são em real, não tem como cobrir a oferta”, evidencia Santos.

Bayer, por sua vez, destaca que até mesmo municípios maiores têm ofertado salários que atraem os profissionais rondonenses. “Os profissionais adquirem experiência trabalhando aqui e depois o mercado os absorve tanto para home office quanto para empresas de outros municípios. Isso faz com que nossas empresas não consigam se estruturar para pagar melhores salários, pois os colaboradores se valorizam e se vão”, considera o coordenador.

O resultado dessa “fuga” profissional é uma grande rotação de funcionários. “Em 2020, o Oeste do Paraná contratou 14.616 pessoas no setor de TI e demitiu 13.905, gerando um saldo positivo de 711. Em 2021, a rotação foi menor, com 9.581 contratações e 8.085 demissões, com saldo positivo de 1.496 empregos”, detalha o tesoureiro da Iguassu-IT.

Além de profissionais, a área tem necessidade de programadores formados e experientes, aponta Santos. “Para se formar um programador são necessários de dois a cinco anos de curso e um período de seis meses a dois anos de prática diária. Segundo o sensu universitário, nos cursos de tecnologia iniciam 40 alunos e se formam oito ou dez. As desistências têm as mais diversas causas, que vão de dificuldades de aprendizado até financeiras”, expõe.

Crescimento limitado

Ele reitera que as empresas de tecnologia rondonense têm seu crescimento limitado devido à falta de profissionais e, inclusive, deixa de assumir novos projetos por esse motivo. “As empresas adotam as mais diversas estratégias. Fazem parcerias para revender soluções de outros ao invés de desenvolver softwares; suspendem projetos de criação de novos produtos e focam nas vendas dos atuais; os próprios sócios ‘põem a mão na massa’ e abrem spin-offs (empresa para desenvolver o novo produto) em incubadoras e parques tecnológicos em outras cidades que têm maior oferta de mão de obra”, comenta o tesoureiro da Iguassu-IT.

Santos acrescenta ainda que o avanço das empresas rondonenses no ramo da TI depende de uma expansão do mercado. “Precisamos ter a oportunidade de vender para todo o Brasil, porque a demanda local não é suficiente. A proposta do setor sempre foi criar um ecossistema que crescesse, formasse pessoas e que surgissem novos empreendimentos, inclusive de tecnologia, mas enfrenta diversos desafios que precisam ser superados”, enfatiza, ampliando: “Os servidores públicos e políticos ainda têm medo de que o desenvolvimento tecnológico gere desemprego, sendo que o desemprego é gerado pelo desenvolvimento da tecnologia em outros lugares e em nosso município não. Cedo ou tarde as empresas, para se manter competitivas, precisarão comprar a tecnologia desenvolvida em outros lugares e não pelas pessoas que estão na região”.

Escassez de mão de obra gera competitividade para manter profissionais

Para o analista da Tryideas, Sidenei Steinbach, novas empresas surgiram e começaram a se expor no mercado de TI em Marechal Rondon. Além disso, ele destaca que empreendimentos não focados nesse ramo também iniciaram times de programação internos.

“Muitas oportunidades vão surgir no setor. Acredito que todas as empresas devem ter pessoas relacionadas com a área de TI, pois essa é uma transversal em qualquer ramo de atividade. Para se manterem competitivas, as empresas precisam estar bem relacionadas com a tecnologia, seja criando ou utilizando o que há disponível”, avalia.

Formação interna

Ele ressalta que a falta de mão de obra qualificada não é algo exclusivo de Marechal Rondon, mas, sim, do mundo todo. “Por ser menor, o município acaba não atraindo gente para morar aqui, principalmente os mais jovens, que desejam mais entretenimento e outras questões que cidades maiores proporcionam. Ainda assim, tem muito profissional bom em Marechal Rondon, mas todos já envolvidos em alguma atividade. O desafio é formar novos para aquecer este mercado”, salienta.

Enquanto não há novos profissionais sendo incluídos no mercado rondonense, Steinbach diz que fica a cargo das empresas oferecer formações internas. “Há uma vantagem competitiva e cria-se um espírito de equipe que promove a união, dificultando a perda de profissionais apenas para valores salariais”, opina.

Analista da Tryideas, Sidenei Steinbach: “Não é uma questão apenas de saber programar em alguma linguagem, mas sim de relacionar esse conhecimento com processos de gestão, ou ainda com regras de negócios que as empresas utilizam”

Criar do zero

De acordo com o analista, todas as áreas sofrem com a escassez de profissionais capacitados e engajados. “Em especial, nossa área teve um ‘boom’ devido à necessidade de inovação e digitalização das empresas. Consequentemente, houve escassez de mão de obra e maior competitividade entre empresas para reter bons talentos. Também não é da noite para o dia que um bom profissional se forma. Ele deve passar uma boa quantidade de horas se dedicando em aperfeiçoar seus conhecimentos para ser bem avaliado no mercado de TI”, observa.

No que diz respeito às funções profissionais, na indústria de software não há um roteiro de como as coisas devem ser feitas, diferencia Steinbach. “Geralmente esses profissionais estão envolvidos em criar processos, procedimentos e rotinas do zero. Então, não é uma questão apenas de saber programar em alguma linguagem, mas sim de relacionar esse conhecimento com processos de gestão, ou ainda com regras de negócios que as empresas utilizam para somente depois ser bem apreciado pelo mercado de trabalho”, expõe.

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