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Marechal 53 anos de história

Há mais de meio século nas ondas do rádio, “Gauchinho” relembra trajetória

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Com a carreira profissional ligada ao rádio, Manoel Ferreira Canabarro foi locutor de um dos programas mais populares da região, o “Nossa terra, nossa gente”, que ficou no ar por quase 20 anos pela Rádio Difusora. Atualmente ele apresenta o “Bom dia trabalhador”, na Rádio Comunitária” (Foto: Sandro Mesquita/OP)

Nascido em 1941 em Venâncio Aires, no Rio Grande Sul, Manoel Ferreira Canabarro, popularmente conhecido por Gauchinho, ganhou o carinhoso apelido ao longo de seus 53 anos de carreira profissional como radialista em diversas emissoras paranaenses.

Em entrevista ao Jornal O Presente, Canabarro relembra seu primeiro contato com os microfones.

Ele conta que desde criança sempre teve muita facilidade em se comunicar e aos 11 anos, quando era aluno no Seminário Cristo Rei, no município de Santo Ângelo, começou a fazer locuções para o Parque de Exposição Recreio Marajá. “Próximo ao parque existia a emissora ZYF6 Rádio Santo Ângelo. O pessoal da rádio ouviu, gostou e me convidou para participar. Entrei no programa ‘Gravetos do Passado’, de tradições gaúchas, que fez muito sucesso em toda a região”, recorda Gauchinho.

Depois de completar os estudos e servir o Exército, ele veio para Marechal Rondon, aos 19 anos, e trouxe consigo o sonho de voltar a trabalhar em rádio. Porém, a realidade não foi tão fácil como ele esperava. Ele diz que precisou trabalhar em diversos outros ramos até, em 1967, o diretor da recém-fundada Rádio Difusora Rondon, Antônio Maximiliano Ceretta, convidá-lo para trabalhar na emissora. E assim, Canabarro voltou a fazer o que mais gostava: viver o mundo do rádio.

O radialista comenta que trabalhou com o fundador da Rádio Difusora, Arlindo Alberto Lamb, considerado por ele um segundo pai. “No início não tinha energia elétrica em Marechal. A energia vinha de uma barragem no Rio Guaçu, na divisa com Toledo. Era comum acabar a luz, mas a rádio tinha um motor estacionário e sempre que caía a energia eu e o Arlindo ligávamos o motor a manivela para rádio não sair do ar”, recorda Gauchinho.

O locutor teve uma rápida passagem pela Rádio Educadora, e trabalhou por 33 anos na Rádio Difusora, sempre apresentando dois programas.

O primeiro foi o “Rancho Alegre”. “Eu fazia parte de um trio, em companhia de Caboclinho e Zé do Morro, que hoje se chama Gaúcho Altaneiro e tem um programa de rádio em Campo Mourão”, menciona.

Outros programas apresentados por ele e que tiveram longa duração foram o “Bom dia minha terra”, que fazia a abertura da programação da rádio, e o programa sertanejo “Chapéu de palha”, que entrava no ar sempre às 18 horas.

Os anos se passaram e no início da década de 1980, em companhia do então diretor da Difusora, Elio Winter, tiveram a ideia de criar o programa “Nossa terra, nossa gente” que se tornou um dos programas radiofônicos mais conhecidos na região.

 

PROGRAMA, FESTA E REVELAÇÃO DE TALENTOS

Em 1982 entrava no ar pela Rádio Difusora do Paraná o programa de auditório “Nossa terra, nossa gente”, apresentado por Canabarro.

A primeira edição aconteceu no Salão do Poeta, no ainda distrito de Pato Bragado. O evento foi um sucesso e reuniu quase duas mil pessoas.

O programa era transmitido aos domingos de manhã, ao vivo, pela rádio, sempre em um distrito ou cidade diferente.

A divulgação era feita pela rádio um mês antes dos eventos e quase toda a organização era por conta de Gauchinho. “A ideia era unir apresentações de músicos da região, com festas nas comunidades dos distritos de Marechal e cidades vizinhas e com isso encontrar novos talentos pratas da casa”, ressalta Canabarro.

 

Radialista Manoel Ferreira Canabarro, o Gauchinho, nas dependências da Rádio Comunitária Marechal, durante a apresentação do seu programa “Bom dia trabalhador” (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

PRODUÇÃO MUSICAL

No mesmo ano em que o programa iniciou, foi gravado nos estúdios da Rádio Difusora o LP “Nossa terra, nossa gente” com cerca de mil cópias. O disco foi produzido por Gauchinho, com músicas de alguns cantores que se apresentavam nos programas. Segundo Canabarro, o estilo musical mais tocado era o chamado “sertanejo raiz”, principalmente, durante a transmissão ao vivo do programa, que se estendia até o meio-dia. “Depois da transmissão começava a festa na comunidade, com almoço, bebida e, claro, muita música. Mas normalmente à tarde colocávamos músicas gauchescas e marchinhas alemãs”, conta.

As duplas ou trios musicais eram os mais comuns na época. Fizeram parte do LP “Nossa terra, nossa gente” as duplas Nênito e Nenê, Odacir e Edilon e Maturíe e Guairacá e os trios Viana, Valadares e Alfredinho, Zelinho, Zelita e Altamiro e Barrafunda, Barrazinho e Banquechi, entre outros músicos.

O programa “Nossa terra, nossa gente” continuou no ar por quase 20 anos, mas no ano de 2000, depois de receber convite para trabalhar como assessor de um advogado na cidade de Salvador, Canabarro se mudou para a Bahia, onde viveu por dois anos. E assim chegou ao fim um dos programas radiofônicos de maior sucesso na região.

 

ACIDENTE EM SETE QUEDAS

Apesar do programa “Nossa terra, nossa gente” sempre levar alegria e boa música às comunidades, Canabarro conta com tristeza que um dos momentos mais marcantes do programa foi dar a notícia do acidente que aconteceu em 17 de janeiro de 1982, quando uma das pontes das Sete Quedas, em Guaíra, cedeu e causou a morte de 32 pessoas. “Estávamos ao vivo com o programa quando veio a notícia e a minha vontade era de encerrar a programação, mas recebemos a orientação de continuarmos. Entrávamos com flashes ao vivo com informações sobre o acidente”, comenta.

 

CARÁTER SOCIOCULTURAL

Canabarro diz que o programa “Nossa terra, nossa gente” era uma grande festa e muitas pessoas confundiam o programa com o evento que acontecia sempre depois das transmissões.

O programa, na visão dele, ajudou muito no desenvolvimento de comunidades de distritos de Marechal e em municípios vizinhos.

Conforme o radialista, o programa não era visto apenas pelo aspecto musical, mas também pela ajuda às comunidades, pois um dos objetivos era arrecadar recursos financeiros.

“Sempre depois do programa começava a festa. Havia almoço e a venda de bebidas e toda a arrecadação era destinada à comunidade. O dinheiro era usado para construção ou reforma de igrejas, salões de festas e espaços comunitários”, salienta Gauchinho.

Ele recorda que muitas vezes as associações comunitárias procuravam a rádio para pedir que o programa “Nossa terra, nossa gente” fosse feito na comunidade, pois precisavam de recursos para melhorias no local. “Aí então eu e o presidente da associação íamos até as outras comunidades para convidar o pessoal para prestigiar o evento, além dos anúncios feitos na programação da rádio. Era uma integração muito grande entre as comunidades”, relembra o radialista.

 

Capa do LP “Nossa terra, nossa gente” lançado pela Rádio Difusora, em 1982 (Foto: Reprodução/Senaide Wolfart)

 

PROJETOS PARA O FUTURO

Atualmente, aos 78 anos, Gauchinho tem o programa “Bom dia trabalhador”, que vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 05 às 09 horas na Rádio Comunitária Marechal, onde está há quase 13 anos. O radialista enaltece que muitas vezes começa a transmissão com a frase: “Bom dia trabalhador, o programa que não copia, não é carbono, é um programa que faz”.

Dentro do programa “Bom dia trabalhador” existe o quadro “O homem e a terra”, com notícias e informações do Governo do Estado. E em seguida o quadro “Momento de devoção”, com mensagens religiosas, que está no ar há mais de oito anos.

Canabarro revela a intenção de fazer um programa aos moldes do “Nossa terra, nossa gente”. “Já era pra ter saído, mas ainda estamos organizando e definindo como será. Esperamos que dê tudo certo”, enfatiza.

A expectativa agora é que os planos do radialista se concretizem e ele continue por muitos anos, através das ondas do rádio, a levar alegria a todos seus ouvintes.

 

Contracapa do LP “Nossa terra, nossa gente” com fotos dos artistas que participaram das transmissões do programa (Foto: Reprodução/Senaide Wolfart)

 

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