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Marechal Força feminina

Mãe e filha, rondonenses cantam de galo na avicultura

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De dia é dona Dalair quem cuida das aves. À noite, quando Jheynifer volta do trabalho de uma cooperativa de crédito na cidade, é ela quem se responsabiliza pelos dois aviários (Foto: O Presente Rural)

O último Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2017, revela que em 12 anos houve um crescimento de 38% no número de propriedades rurais administradas por mulheres. Entre 2013 e 2017, o percentual de mulheres que ocupam cargos de decisão nos empreendimentos rurais passou de 10% para 31%, segundo a Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA).

A participação delas é cada vez maior em todos os elos da cadeia do agro. Levantamento da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina aponta que as mulheres representam 1,2 milhão do total de três milhões de associados.

Segundo pesquisa mais recente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), realizada com 300 mulheres que atuam no setor de agronegócio no Brasil, aproximadamente 30% dos cargos de gestão são ocupados pelo sexo feminino.

Para reconhecer e valorizar esse trabalho, o Jornal O Presente Rural conversou com mais de 40 mulheres que atuam no setor. Esta reportagem é sobre duas delas, mãe e filha. Conheça a história de Dalair Allebrandt Boroski e sua filha Jheynifer, que comandam a avicultura na propriedade da família, no interior de Marechal Cândido Rondon.

 

FORÇA FEMININA

Consertar o cano d’água que estourou, providenciar a manutenção dos equipamentos da granja, carregar toras e toras de lenha para manter o aquecedor funcionando, acordar três vezes por noite para observar a criação, no frio congelante ou no calor escaldante do Sul do país. Rotina pesada, encarada de frente por dona Dalair, viúva, chefe de família, produtora rural, e por sua filha Jheynifer, que tem no currículo o título de Miss Marechal Rondon (2014) e das unhas bem pintadas se revela uma guerreira do agronegócio.

Mãe e filha são avicultoras raiz, apaixonadas pelo que fazem. São as responsáveis pelos dois aviários que a família tem no interior rondonense. A região, uma das que mais produz frangos no Brasil, baseado na presença marcante de cooperativas agropecuárias, apresenta exemplos de mulheres que atuam na linha de frente da avicultura, dentro do galpão, no dia a dia das propriedades rurais.

Mas granjas exclusivamente dirigidas por mulheres são mais raras. Para não dizer exclusivamente, o filho de Dalair, Jonathan, moderadamente, ajuda com a lenha nos aquecedores, mas ela já reclama. “Ele até vai colocar lenha nos fornos, só que tem muita força. Coloca aquela lenha com uma vontade que detona aqueles fornos. Eu digo, coloca com carinho”, brinca a avicultora.

 

PIONEIRISMO

Dalair trabalha na avicultura há cerca de 40 anos. Uma das pioneiras da atividade no Oeste paranaense, casou-se com Haribert Boroski e teve dois filhos, Jheynifer e Jonathan. Depois de 37 anos casados, o destino levou Boroski precocemente, há pouco mais de dez anos. Desde então, Dalair e Jheynifer são as responsáveis pelos aviários. Jonathan ajuda, mas trabalha com caminhão, para terceiros, especialmente nas safras. “É o que ele gosta”, diz a produtora.

“Trabalho com avicultura desde que eu tinha 16 para 17 anos. Construímos o primeiro aviário na época da Sadia. Há cerca de 20 anos, quando entrou o frigorífico da Copagril (hoje Lar), colocamos aquele aviário no chão. Começamos tudo de novo. Hoje são dois galpões”, conta. “Eu e meu marido trabalhávamos juntos, até que ele teve um problema no coração. Ele acabou morrendo há cerca de dez anos, quando assumi sozinha os aviários. Foi por necessidade”, lembra Dalair.

Jheynifer, então com 18 anos, encarou a responsabilidade e acompanha a mãe até hoje. De dia é dona Dalair que cuida das aves. À noite, quando Jheynifer volta do trabalho de uma cooperativa de crédito na cidade, é ela quem se responsabiliza pelas duas granjas. “Ela me ajuda muito, ela é meu braço direito”, orgulha-se Dalair.

Todo o funcionamento da granja é de responsabilidade delas. Fazem parte das atividades adequar as instalações, receber os pintinhos, fornecer água e alimento, estimular os animais, recolher e destinar as aves mortas, manusear os equipamentos da granja, entregar os lotes, administrar os recursos financeiros, decidir por investimentos. Tudo é feito por elas.

A produção atual comandada por mãe e filha é de 34 mil aves por lote. São seis lotes ao ano, somando mais de 200 mil frangos anuais. Números que fazem aflorar o brio de Jheynifer. “Pra mim é um prazer enorme trabalhar na avicultura. Saber que estou contribuindo com a produção de alimentos do Brasil, contribuindo com o crescimento do país, colocando alimento nas mesas das famílias, é muito gratificante”, enaltece a jovem produtora de 28 anos. “Ela ama isso”, acrescenta dona Dalair, pautada em seus 57 anos de sabedoria.

 

De dia é dona Dalair quem cuida das aves. À noite, quando Jheynifer volta do trabalho de uma cooperativa de crédito na cidade, é ela quem se responsabiliza pelos dois aviários (Foto: O Presente Rural)

 

ROTINA DURA

O sucesso na produção é marcado por trabalho árduo. “Acordo às 05h30. Minha primeira viagem é para os aviários. Vou lá ver se está tudo certo. É tudo automático, mas sempre pode dar algum problema”, comenta a produtora. Na primeira passada do dia pelos galpões, relata Dalair, checa temperatura do ambiente, o funcionamento dos sistemas de água e ventilação, observa a saúde dos animais, entre outras situações.

Quando um novo lote chega, o trabalho é intensificado. “Até os sete dias a gente vai aos aviários de hora em hora para estimular os pintinhos a comer, beber e se movimentar”, menciona Jheynifer. “Se você não cuidar dos primeiros sete dias, pode abandonar o lote”, justifica a avicultora, destacando que na avicultura de corte esse período de desenvolvimento dos animais é fundamental para o resultado final da atividade, na hora de entregar ao frigorífico.

E não para por aí. “À noite, até os 20 dias do pintinho, a gente vai no aviário às 09 horas, à meia-noite, às 03 da manhã e às 05h30”, detalha Dalair. O objetivo é saber se tudo está funcionando corretamente, como ventiladores e sistemas de água. “Ser avicultora é bem trabalhoso”, considera.

Trabalho, aliás, em tempo integral. Durante a criação dos lotes, dona Dalair conta que sai do sítio raramente, desde que o filho esteja na retaguarda. “Quando recebo um novo lote eu saio muito pouco. Praticamente são 45 dias dentro de casa. Saio só para ir ao mercado quando o Jonathan está na propriedade. Não largo (a produção) sozinha. Pode acontecer uma pane na luz, por exemplo, e alguém precisa estar em casa para ligar o gerador”, comenta.

 

“O PINTINHO É TÃO MEIGO”

O trabalho, que exige esforço físico, capacidade técnica e uma boa dose de vocação, é feito com graciosidade por mãe e filha. “Cuido melhor dos pintinhos do que dos meus filhos”, diz a divertida avicultora. Em sua opinião, mulheres são mais sensíveis que homens no trato com os animais. “Conversando com minhas amigas que também são avicultoras, sempre digo que como a gente cuida dos filhos, a gente cuida dos pintinhos. Mas também, o pintinho é tão meigo”, confidencia Dalair.

A dedicação de mãe e filha é tamanha que no intervalo entre os lotes, quando as granjas estão despovoadas, elas sentem falta da rotina. “Chego até escutar o alarme da granja disparando. A gente dorme e acorda para ir nas granjas, mas lembra que não tem pintinho”, expõem aos risos as produtoras rondonenses.

Mãe e filha são exemplo de como a força de trabalho da mulher está diretamente ligada aos sucessivos bons resultados da avicultura e do agronegócio brasileiro.

 

Produção atual comandada por mãe e filha é de 34 mil aves por lote. São seis lotes ao ano, somando mais de 200 mil frangos anuais (Foto: Divulgação)

 

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